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História Seduzentes - Ao Compasso do Tambor


Escrita por: PetitGi

Notas do Autor


Ao Compasso do Tambor - Pocahontas


Gostaria de deixar registrado aqui meu pedido de desculpas aos leitores que comentaram no capítulo anterior pela minha demora em respondê-los; ainda estava em semana de provas, inclusive, nem deveria ter postado
Espero que me perdoem

Boa leitura:

Capítulo 42 - Ao Compasso do Tambor


Ao Compasso do Tambor

-Você viu os dois indo embora juntinhos? Tipo juntinhos mesmo! E tudo parecia partir do príncipe Ben – Evie disse em sussurros alarmados para Mal.

Era sábado de manhã e elas já estavam no vestiário colocando os maios escolares. Mal não se sentia lá muito confortável de amarelo, a cor oposta e complementar de seus cabelos já presos num coque, mas não podia negar que aquela cor realçava seus cabelos tanto quanto gritava por também ser realçada pelo mesmo.

Evie falava sobre a forma como o príncipe Ben saíra junto a namorada. Audrey e Benjamin saíram naquela manhã mais cedo, de braços dados, muito mais pertinho um do outro do que se fosse apenas um gesto cavalheiresco, em direção a um veículo com bandeirinhas reais. Para a princesa má, que já sabia – parte – do plano, aquilo parecia um retrocesso. Mal já tinha outra opinião sobre aquele acontecimento “inesperado” do casal real.

-Isso te preocupa, Evie? – Mal ajeitava o cabelo olhando seu reflexo no espelho. Tentava disfarçar seu sorriso, mas o desdém não se continha com facilidade. Ah Benjamin...

-Claro! Quero dizer... Argh! – Evie fechou os punhos ao resmungar; odiava a forma como Mal colocava suas convicções em dúvida; odiava a forma como Mal conseguia fazer com que ela se questionasse sem fazer muito – Se eles estão mais próximos quer dizer que o plano não vai andar como o planejado...

-Relaxa, princesa – disse Mal já vestindo o roupão, na maior despreocupação para desespero e raiva de Evie.

-Mas você não disse que...

-Eu disse. E vai acontecer exatamente como eu falei.

-Mas então...

-A calmaria sempre precede à tormenta, meu amor – disse escorada no batente da porta, encerrando o assunto tendo a última palavra – Agora, anda logo. Não quero me atrasar.

A menina estava levando muito a sério suas aulas de natação e não gostara de ter perdido um dia de aula. Aliás, todos os quatro estavam levando muito a sério; Mal, porém, tinha mais medo do que os demais, tinha mais motivos para temer aquele elemento.

O professor Benício estava ali, igualmente uniformizado, a expressão neutra, bem mais controlada – sem sinal de medo – do que daquela primeira vez.

-Bom dia – disse ele com sua voz grossa e indiscutivelmente charmosa. As meninas se arrepiaram da cabeça aos pés com aquele som.

-Bom dia, professor – responderam os quatro em desgosto, em diferentes tons e entonações de voz. Ficou claro, claríssimo que aquilo havia sido uma obrigação apreendida com os demais professores, algo não natural para nenhum deles, algo em que não acreditavam.

-Quero pedir algo a vocês antes de começarmos nossa aula – disse num tom firme, os olhos meio cerrados numa expressão pensativa – Quero que respondam “bom dia” apenas quando sentirem que o dia está sendo bom para vocês ou, se quiserem me desejar um “bom dia”.

-Então como devemos reagir? – perguntou Carlos.

-Como acharem melhor. Quero autenticidade. Gosto de autenticidade nos meus alunos, portanto, frases feitas não me convencem – esboçou um sorriso, apenas um repuxar de lábios.

-Gosto da sua forma de pensar – disse Mal num tom baixo, porém audível. Benício acenou positivamente para a garota, observando atentamente como os outros três olhavam para ela em sinal de respeito e logo em seguida concordaram com a amiga em frases e acenos.

Ela é a líder... pensou o homem.

-Vamos começar a aula. Por favor, deixem as toalhas e roupões nos ganchos a esquerda. Vamos começar o alongamento.

O alongamento em si não levava mais de 10 minutos. Não era necessariamente o mesmo das aulas de educação física; esses, Jay os sabia de cor, e fazia-os por impulso. Não era um esforço para nenhum dos quatro de qualquer forma copiar os movimentos de Benício.

-Vamos começar com os tríceps. Elevem o braço direito acima da cabeça como se quisessem tocar o teto – um osso estalou – Desculpem por isso – disse o professor com um sorriso ligeiro, as bochechas um tanto coradas – Eu mesmo não sou muito adepto da prática de alongamento mesmo sabendo que ela é importante – aquela honestidade arrancou risos e sorrisos dos quatro alunos – Vamos lá. Flexionem o cotovelo, aproximando a mão da nuca. Com a outra mão vamos puxar delicadamente, sem força – disse frisando a expressão olhando para Jay que já se movia de forma quase agressiva contra o próprio corpo – Contem até 10. Soltem. Relaxem. Agora o mesmo com o outro braço.

E descreveu novamente o que fariam. Os quatro, Jay principalmente, gostaram daquela forma de explicar o movimento do alongamento em si. Os demais professores de educação física esperavam apenas cumprir com a norma descrita em suas pranchetas, não pareciam se importar tanto assim se os alunos faziam o alongamento corretamente, afinal, aquela era a parte “menos importante da aula”. Os quatro gostaram daquilo, daquela atenção, daquele cuidado que o professor estava tendo. Não era por considerá-los tolos, nem por desconfiar que não havia algo assim na Ilha – o que realmente não havia – mas era para prepará-los para algo que temiam, deixar os corpos tão relaxados quanto aquecidos.

Alongaram os braços e ombros, as costas e as pernas. Sempre com a explicação suave de Benício. O professor conseguia ainda fazer com que seu tom de voz soasse descontraído, o que afastava qualquer possível constrangimento naquela situação.

-Vamos para dentro da água hoje. Quero que fiquem tranquilos. A piscina não é funda, deve bater na cintura ou quadril de vocês. E, de qualquer forma, estarei nela com vocês.

-Você também vai entrar? – o sussurro de Evie era muito charmoso; demonstrava muito de sua insegurança.

-Vou. Por isso, volto a pedir que se preocupem o menos possível.

Ele tirou, na frente dos alunos, a bermuda e a camiseta do uniforme, ficando somente de sunga. Era um corpo lindo, sarado, bronzeado. Evie mordiscou o lábio em prazer com aquela linda visão; Jay, tão fascinado quanto Evie, esfregava o queixo. Benício dirigiu-se para as duchas, molhando bem o corpo, logo sinalizando que eles deveriam fazer o mesmo. Disfarçando bem aqueles segundos de desejo por aquele corpo mais velho, um a um foram entrando nas águas mornas do grande chuveiro para então, lentamente, entrarem na piscina. Mal desceu as escadas segurando a barra com força, tanta força que os nós de seus dedos ficaram muito brancos, mesmo sua pele já sendo muito clara. O coração batia forte, como um tambor. Acalmou-se quando sentiu as mãos firmes do professor em sua cintura, seu tronco forte em suas costas. A voz sussurrada acalmava-a minimamente; “relaxe”, dizia ele.

Conforme ele havia explicado na primeira e única aula que eles tiveram, estavam na fase ambientação e adaptação com o meio. Precisavam conhecer o lugar onde estavam, se sentir minimamente confortáveis nele. Infelizmente adquirir segurança era muito pessoal e poderia levar muito mais tempo para ser adquirida. Ambientação e adaptação ao meio líquido, socialização, controle de respiração, sustentação na barra, equilíbrio, mergulho e imersões, flutuação... ainda passariam por muita coisa, mas a promessa era de que, se eles fossem bons alunos, entre 6-12 messes eles já saberiam nadar.

E foi nesse progresso que Mal se concentrou. O professor passou dinâmicas e brincadeiras entre conversas e descontrações; Benício sabia e conseguia tornar o ambiente prazeroso. Carlos conseguiu se permitir inclusive ajoelhar; a água quase cobrindo seu nariz. A ambientação não parecia mais tão ruim.

Era só o começo. E eles estavam indo muito bem.

 

 

Um passeio a cavalo. Simples e elegante. Previsível, pensou o príncipe-fera. Era normal saírem assim, apesar de não o fazerem já há algum tempo.

O casal de namorados havia dado uma passada rápida no palácio real para que trocassem suas roupas por vestes próprias para cavalgar: isso incluía calças e botas de montaria; ambos com camisas polo como se fossem praticar tal esporte. Muito elegantes, sem exageros. Ambos, ele e ela, com a expressão neutra, escondendo muitos segredos e arrependimentos.

Seguiram o caminho já traçado, o permitido e aconselhável para que suas altezas percorressem. Aquele sem riscos, desafios. Era rotineiro, fácil demais. Mesmo tendo tempo, Benjamin sentiu falta de algo mais. Seguiram a passo calmo, olhando a paisagem ao redor do castelo, a floresta não longe dali, e, alguns quilômetros a frente, o coreto onde eles costumavam se encontrar para conversar. Evitaram, porém, aquele lugar. Seguiram em direção aos limites da área verde, quase chegando a cidade em si.

Não desmontaram. Ficaram parados ouvindo a canção cantada por crianças cujos pais viviam no campo; apenas suas vozes eram ouvidas, não conseguiam vê-las: O enorme esturjão/Lá no rio vem viver/Se plantamos o feijão/Já é hora de colher. Sim, era tempo de colheita, mas tanto a princesa quanto o príncipe só sabiam pensar que aquilo era uma verdade absoluta: era hora de sofrer as consequências por suas escolhas, fossem elas justificadas, irracionais ou passionais.

... Do mesmo tipo que você mantém com Audrey...

-Tem tanto tempo que não saímos a cavalo – disse ela baixinho quando voltaram em passo lento, já caminhando, puxando gentilmente os animais pelas rédeas em direção ao estábulo. Benjamin percebeu o tom saudoso na voz da menina e não pode deixar de sentir falta daquele tempo bom que não voltaria mais.

-Verdade...

Acomodaram os animais, deram cubos de açúcar e saíram em direção aos jardins de rosas, onde poucos botões se mostravam belos. Aquele era o lugar favorito tanto de Audrey, quanto de sua mãe, a rainha Bela.

-Esse lugar ainda te agrada, alteza? – perguntou gentilmente, já puxando de forma cavalheiresca a cadeira para a namorada.

-Claro – disse com doçura olhando ao redor; o jardim parecia triste, como eles dois também pareciam estar – Você sempre acerta, querido. Por isso estamos tão bem.

Aquela afirmação pareceu falsa, e realmente era, e ambos sabiam disso.

 

Bela andava pelos corredores de seu palácio com a mente distante daquele chão de mármore e das longas cortinas das grandes janelas, dos quadros majestosos e imponentes de momentos importantes. Nem por isso deixava de acenar polidamente para um ou outro empregado que passava e sempre dobravam os joelhos em reverência a sua rainha.

A rainha estava muito elegante naquele fim de tarde de sábado. Seu vestido midi batia no meio de suas pernas; as mangas, no meio de seus braços num comprimento 3/4. Era de um tecido encorpado, liso – sem estampas ou interferência de bordados e rendas – num tom creme puxado para o amarelado. O decote em V talvez fosse até ousado para ela se não fosse o comprimento das mangas e da barra do vestido; por ele se via a correntinha fina do colar, um pingente discreto, uma pedrinha adorável. De demais acessórios, a rainha só usava sua aliança no anelar esquerdo.

Além da administração básica do reino, a mulher de traços gentis estava encarregada de quase todos os preparativos para a coroação de seu filho único. E era justamente esse personagem central que a preocupava, que estava deixando a rainha tão distraída e distante.

Olhando para fora, via a mudança de estação suave, as árvores, algumas apenas, tingidas de marrom e dourado, os tons quentes do outono em contraste com a queda ainda sutil de temperatura. Via crianças correndo pelos jardins cantando a mudança de estação, correndo, fugindo de suas mães...

Bela esboçou um sorriso triste.

Seu menino chegara com a namorada para uma tarde no jardim, mas o clima entre os dois jovens não parecia ser bom, apesar da máscara de cordialidade que ambos vestiam. Mas seu filho estava diferente, incomodado. Audrey também não parecia à vontade; a moça emanava uma tristeza não típica. Algo ali não estava certo; Bela só não compreendia o que levara o casal àquele ponto, nem mesmo se ela poderia ajudar aquelas duas crianças.

-Majestade! – assustou-se uma senhora já se curvando; afobadamente, esticando seu avental com as mãos nervosas – A senhora...

-Vim ver meu filho – disse com a voz suave e amável; continuou vendo de onde a mulher saíra – Benjamin lhe pediu algo?

-O jantar, majestade – disse, curvando-se outra vez – Ele disse não se sentir disposto... Ele...

-Continue.

-Ele não permitiu que eu entrasse para organizar o lugar – disse baixinho, curvando-se mais uma vez.

-Não se preocupe em trazer o jantar. O príncipe irá participar da refeição com sua família como de costume. Obrigada – e continuou andando em direção aos aposentos de seu menino.

Pedir o jantar... Mesmo quando “indisposto” seu filho jamais pedira para jantar em seu quarto. Era o momento da família; um dos raros momentos em que pais e filho se reuniam por um maior período de tempo. E não permitir que a mulher entrasse... Estranho... seu filho estava, no mínimo, estranho.

Assim que ela própria girara a maçaneta encontrou a sala íntima – uma antessala dentro dos aposentos reais; algum empregado uma vez sugerira chamar de apartamento particular devido as proporções do ambiente – normalmente impecável, cheia de livros e folhas avulsas; algumas peças de roupa também estavam jogadas, bem amassadas inclusive, sobre os sofás e poltronas. Bela reconhecia algumas das peças: todas presentes; embora não se lembrasse quem havia sido o benfeitor.

Continuando seu caminho até o quarto propriamente dito, a rainha encontrou seu filho com o peito nu, deitado de costas na cama. Seu braço erguia uma folha de papel que ele parecia ler atentamente; tão atentamente que mal percebera a chegada da mãe. Ou talvez não estivesse tão atento... Bela notou a forma como o rosto do garoto estava franzido. Ele queria se concentrar na folha, mas com certeza havia algo perturbando sua mente.

Benjamin estava diferente. Mostrava sinais de mudança desde o dia em que anunciara seu primeiro decreto real: trazer filhos dos vilões para aquele reino pacífico. Mas fora algo gradativo, suave, quase imperceptível num primeiro momento. Agora, porém, seu instinto maternal gritava. A cada fim de semana que passava desde a chegada dos quatro escolhidos, seu filho se mostrava de forma distinta ao habitual, às vezes mesmo por raros segundos, outras por longas horas. Às vezes melancólico, às vezes saudoso. Por vezes chegava hiperativo, outras até retornar ao palácio ele recusara. A rainha se questionava: aquilo seria a adolescência, o momento de rebeldia que todos viviam? Não achava que fosse.

-Nunca vi você ou este quarto de forma tão desleixada, Benjamin – ralhou a mãe, arrumando um porta-retrato caído. Uma foto dos três, todos sorridentes: Audrey, Ben e Chad.

-Mãe! A senhora me assustou – disse sentando-se; um joelho dobrado enquanto a outra perna estava estirada sobre o colchão. Seus cabelos estavam bagunçados, como se não vissem um pente há muito tempo; na realidade, ele estava bastante sexy, e “sexy” não era palavra com a qual Bela quisesse descrever ou mesmo pensar estar relacionada ao seu filho.

-Você também está me assustando – disse pegando outro objeto jogado no chão – Você está...

-Eu estava pensando em me desfazer de algumas coisas que não preciso, algumas roupas que eu não gosto, fotos velhas... – disse cortando a frase da mãe. Tinha alguma noção do que ela queria dizer por isso quis falar da bagunça.

-Aquela foto não tem nem dois anos, Benjamin – disse apontando para o que ela acabara de “consertar” naquela bagunça toda.

Bela ficou abismada com a forma com a qual o rosto do seu doce menino congelou. Os olhos dele frios como um mar invernal. Já vira os olhos azuis de seu marido daquela forma mais rígida, principalmente quando ele se comportava como uma fera, mas seu filho, seu Benjamin? Não, ele sempre fora doce demais para a vida terrena.

-Talvez eu não esteja pensando no tempo de forma tão física e objetiva – a voz foi igualmente impessoal; Ben nunca tratara a mãe daquela forma.

-O que vem acontecendo com você? – foi direto ao ponto; tão firme quanto ele – Por que decidiu que hoje não vai jantar com sua família? Sabe que este é o tempo em que passamos todos juntos...

-Quase não nos vemos mesmo, que diferença faria uma noite a mais? – Benjamin nunca falara daquela forma com sua mãe.

Bela recuou um passo; não esperava por aquela resposta tão verdadeira e por isso mesmo tão cruel.

-Então você realmente não quer estar comigo e com seu pai esta noite? – perguntou numa voz baixa, sentida.

-Não é bem isso – respondeu mais baixo; ainda era cedo para o remorso bater e ele com certeza bateria forte no peito do rapaz.

-Então por que você está agindo assim?

-Porque eu estou sobrecarregado de problemas; problemas que eu não quero descontar em ninguém minimamente relacionado a eles – respondeu rapidamente, de forma até petulante e muito, muito parecido com Mal.

Bela ficou em silêncio por longos segundos. Seus olhos castanhos fixos nos olhos verde azulados de seu filho.

-Você e Audrey terminaram? – perguntou com a voz neutra, pensando no clima estranho entre os adolescentes, nos retratos virados, nas cartas amassadas, roupas jogadas.

 -Não – disse, mas sua voz vacilou por meio segundo; o suficiente para que a mãe continuasse a fazer mais perguntas inconvenientes e dolorosas – Não, terminamos.

-Ela quer terminar?

-Eu não sei o que ela quer – disse sendo muito sincero; já de pé, de costas para sua mãe. Sinceridade não parecia funcionar naquele instante, já que a mãe continuou dizendo o que o menino não queria ouvir:

-Você quer terminar? – a rainha tinha a expressão carregada, parecia tão em dúvida quanto pesarosa ao perguntar. Bela observou a forma como as costas do menino ficaram tensas, a respiração devidamente presa sendo solta devagarinho.

-Mãe, acho que eu não quero discutir isso com a senhora...

-Por que não conversa com Chad sobre isso, então? Sempre foram muito amigos e talvez...

-Mãe! Quer parar? – disse de forma quase grossa.

-Quero te ajudar, meu amor. Você tem estado tão diferente, tão... eu sequer sei a palavra – na verdade, ela sabia sim qual era a palavra, mas ela não era fã da conclusão que chegara e, ao observar bem a reação de seu menino, tinha certeza de que Benjamin não reagiria de forma agradável ou mesmo passiva – Quero ver você como antes...

-Só que as coisas não vão voltar a ser como antes, mãe – desabafou derrubando outro retrato, fazendo o vidro quebrar; seu menino não parecia bem – Muita coisa aconteceu. Muitos erros e muitos machucados que não vão sumir tão cedo.

-Algum deles fez algo que...

-Mãe... – Ben suspirou, com os olhos enevoados de tristeza – Eu também errei... Acho que as coisas agora vão ficar turbulentas – sussurrou pensando no que ele estava se preparando para fazer assim que as aulas voltassem; precisaria ter sangue frio, ao menos assim ele pensava. Mas ele não desistiria, não conseguiria abrir mão dela... – Acho que eu ainda vou errar muito mais antes... antes de voltar a me sentir bem. Verdadeiramente bem.

O silêncio perdurou por algum tempo, até que a respiração dos dois ficasse audível; o coração do príncipe batendo de forma rápida quase ditando o ritmo, como o compasso de um tambor.

-Só não esqueça de quem você é – disse a mulher de forma sábia; em instantes ela voltou a ter a postura de rainha: voz firme e olhar inabalável – Agora arrume-se para o jantar.

E saiu do quarto do filho.

Bela sabia que algo estava acontecendo na vida de seu menino. Sabia que ele estava com problemas do coração: Audrey e Chad, talvez estivessem saindo do coração de Benjamin, mas a rainha não era tola. Havia algo mais. Alguém havia entrado ali, naquele doce e puro coração. Bela reconhecera vários sinais durante aquele último mês em especial: sorrisos sem motivo, distração constante, olhos brilhantes e bochechas ruborizadas... mas também olhos perdidos, tristes, como se sua paixão não fosse acessível...

Paixão... uma semente que hoje mostrava-se como um botão, quem sabe na mudança da estação... Ela agitou a cabeça, tentando expulsar o pensamento.

Tão jovem para já estar sofrendo com paixões...  mas lembrou-se que ele realmente estava na idade, e que ela nada poderia fazer além de cogitar quem seria a moça que conquistara seu filho.

 

 

Os quatro se reuniram no quarto dos meninos durante a noite. Mal mostrou tudo o que coletara da sala da Fada Madrinha. Carlos reagiu razoavelmente bem – muito melhor do que Mal esperava – com relação a sugestão de um terapeuta: quebrou alguns objetos inúteis antes de estilhaçar a TV. Jay não gostou de ver os vidrinhos espalhados pelo chão como diamantes falsos.

-Acho que não vale a pena mudar o programa – murmurou Carlos quando mais calmo; relativo ao aplicativo que vigiava os celulares dos quatro.

-Podemos continuar usando-o para ver o que eles querem fazer conosco – disse Evie de forma pensativa.

-Ah? – nenhum dos três entendeu.

-Eu quero dizer... por exemplo, ah, olhar o histórico. Você entende, Carlos? Ver o que eles procuram: conversas, fotos, áudios...

-Entendi... e gostei – piscou o bipolar.

-Acho que podemos ir além – disse Mal, apoiando-se com as palmas das mãos pressionadas contra a madeira lisa da mesa na qual todos se encontravam reunidos – Podemos duplicar esse programa patético de espionagem e colocá-lo em celulares falsos.

-Mas então nós trocaríamos de celular? – perguntou Jay.

-Não – Mal sorriu – Pensei em ficarmos com esses mesmos, assim não levantamos suspeitas sobre nada. Os celulares vigiados ficam trancados em nossos quartos e...

-Posso criar um outro programa para que possamos controlar os falsos celulares com os originais – animou-se Carlos.

-Parece perfeito – sorriu Evie – Finalmente vou me sentir a vontade com meu telefone – disse suspirando. Era horrível saber que outras pessoas tinham algum tipo de controle e vigia sobre algo que deveria ser privado, apenas “seu”.

-Isso faz parte de algum plano mais pesado, Mal? – perguntou Jay olhando ainda desacreditado para a televisão em pedaços.  A menina acenou com a palma da mão e os objetos, inclusive a tv, voltaram ao seu estado original. Jay sorriu satisfeito já ligando o videogame para testar o eletrônico recém restaurado. Não notou o colar da menina mais vivo.

-Não... ao menos não que eu tenho idealizado. É só um conforto extra. Acho que nós merecemos um pouco de liberdade e eu preciso manter minha magia sob controle e fora de vista.

Ninguém retrucou. Mal era a maior e melhor aposta que tinham para ataque e para defesa. Era a única que possuía o elemento mágico que desestabilizava aos demais. Não podiam saber da capacidade mágica da amiga... Mas ela precisava conhecer seus limites e aprimorar seus encantamentos e feitiços.

Preciso praticar mais... me conhecer mais... pensou já escorada na janela, olhando a noite gloriosa e misteriosa. Seu coração batia forte, como um tambor. O colar, brilhava forte como os olhos de sua mãe, tão quente quanto o Inferno.


Notas Finais


Por curiosidade - talvez um capítulo extra - qual a música do filmes Descentes 1 favorita de vocês?


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