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História Seduzentes - Música das Reclamações


Escrita por: PetitGi

Notas do Autor


Música das Reclamações - Dumbo

Capítulo 70 - Música das Reclamações


Música das Reclamações

No Salão Festivo, aos pouquinhos, porém bem sincronizados e dentro do horário vinham os principais alunos do 11º ano escolar. A diretora esperava-os prontamente acompanhada da professora de Corte e Costura; as duas mulheres com a postura bastante firme. A Fada Madrinha, porém, estava sofrendo com um incômodo, um pequeno mal-estar em seu íntimo. Nada que pudesse atrapalhar a aula, claro.  

A princesa de Aurora e Philip chegou primeiro, num passo suave e elegante. Apesar de estar vestida com esmero, naquele momento era o punho imobilizado pela melhor pulseira ortopédica que havia disponível na medicina que acabava por chamar mais a atenção.

A Fada Madrinha recordava bem de como no dia anterior a enfermeira-chefe informara de um acidente com uma aluna da alta aristocracia. Apesar dos primeiros socorros terem sidos feitos pela própria menina, e da enfermeira reavaliar o ferimento, a família preferira levá-la ao hospital para fazer exames mais aprofundados e o colégio acompanhara o processo disponibilizando um enfermeiro.

Muito educada, a princesa reverenciou as duas docentes ao entrar e se colocou parada no meio do salão a esperar os colegas ajeitando a postura.

Em seguida os cochichos chegaram antes mesmo de Jane que vinha de braços dados com Lonnie; as duas numa conversa íntima sussurrada e cheia de sorrisos com “q” de sensuais. Era interessante de ver ainda as meninas lado a lado: Jane tão mais clássica, enquanto Lonnie vinha sempre mais despojada. As duas meninas acenaram sutilmente para a princesa; mas nenhuma das meninas fez menção de se aproximar.

Quando Carlos e Jay chegaram com instantes de diferença, os dois com a postura bastante rígida e expressões faciais carregadas, o ar pareceu pesar de um jeito esquisito. A diretora não pode deixar de notar como os dois rapazes imediatamente focalizaram a pulseira ortopédica de Audrey, como imediatamente Jay cerrou os punhos, como Carlos ficou com um olhar mais intenso, mais insano; nem como a princesa evitou olhá-los.

Interessante.

O recente casal de namorados, Chad e Evie, chegou com o charme esperado dos dois: ele com uma das mãos nas costas da moça conduzindo-a no menor dos passos; ela completamente indiferente aos demais colegas. Apesar de estarem sorrindo belamente faltava luz nos olhos dos dois, notou a diretora.

Benjamin, muito educado, também esboçou reverências as docentes e deu sorrisos calorosos aos demais colegas de turma. Como Audrey, ajeitou a postura e esperou, não sem deixar a expressão vacilar por segundos ao notar a antiga namorada machucada.

Doug foi o último a chegar, bem em cima da hora, com a cabeça baixa e ajeitando os óculos sobre o nariz; evitando o olhar de todos, assim como evitava olhar para qualquer um.

Com a expressão o mais neutra possível, a autoridade máxima daquele colégio assustou-se com o quão dividida a sala estava; o quão separados os alunos se colocavam uns dos outros, mesmo aqueles que haviam crescido num mesmo lugar se viam distantes, mesmo Lonnie e Jane que estavam mais próximas. Parecia que a atividade viera em boa hora.

Mesmo assim, faltava algo...

Não.

Faltava alguém.

A Fada Madrinha viu o horário e mesmo depois de o segundo sinal bater ainda esperou mais longos dois minutos; muitos se remexeram inquietos com a demora em iniciar qualquer que fosse a atividade obrigatória.

E nada de Mal.

-Algum de vocês viu a Mal? – questionou a diretora olhando para todos, principalmente para os outros três que eram mais próximos da ausente. Notou com o canto dos olhos como a sua filha se manifestara incomodada.

-Ela estava no refeitório – disse Carlos friamente, porém olhando para trás sem entender a ausência da amiga.

-Bom, vamos ter que começar sem ela – disse ainda esperando ver a aluna adentrar no salão, olhando quase fixamente para a porta; claramente chateada pela ausência da garota. Voltou-se então para a professora que a acompanhava – Professora, por favor, queira tomar a palavra – delegou a função, sem olhar para ninguém especificamente; os olhos fixos ao relógio.

-Como na semana passada, hoje também se trata de mais uma atividade complementar de aproximação, dessa vez centrada um pouco além da confiança – começou a mulher – Vocês serão colocados a prova sobre como reparam nos colegas. A atividade vale nota e estará nos históricos escolares de vocês.

-Mas o que vamos ter que fazer? – questionou Chad, bastante afoito.

-Primeiro vamos dividi-los em duplas, senhor Charming – disse a professora com muita doçura, mas muita firmeza ao mesmo tempo.

-Não serão as mesmas de antes? – questionou Carlos com uma sensação esquisita na boca do estômago, não fazia sentido ser fome e a visita ao banheiro era recente, igualmente. De qualquer forma, ele não sabia se se tratava de uma sensação boa ou não.

-Não, senhor De Vil. O propósito dessas atividades é justamente a mudança das duplas, para que todos vocês tenham a oportunidade de trabalharem juntos – respondeu a Fada Madrinha – Vamos a lista então – disse erguendo a prancheta – Chad e Jay – o último não se aguentou e soltou uma risadinha fria, quase psicopata; Carlos com o canto dos olhos viu Evie desconfortável e o principezinho travar o maxilar – Benjamin e Carlos – o príncipe sorriu cordialmente para a diretora mostrando-se tranquilo com a decisão – Audrey e Evie – as duas meninas bufaram bem insatisfeitas – E Doug você vai fazer com a Mal – disse olhando para a porta mais uma vez – Assim que ela chegar, no caso – disse mais baixo – Jane vai ser do apoio, assim como Lonnie mais uma vez. As duas vão ajudar com as câmeras.

-Juntem-se – pediu a professora. E a relutância de duas duplas específicas foi gritante. Somente Ben e Carlos ficaram lado a lado tranquilamente. Lonnie e Jane já haviam se colocado ao lado da mesa com equipamentos de filmagem – Vamos – apressou a mulher.

Foi Chad quem teve de se mover já que Jay parecia lutar para se manter parado, os pés quase atolados no chão. Charming foi cauteloso mantendo mais de um metro de distância do parceiro designado. Audrey se colocou ao lado de Evie, mas havia uma energia fria, como se as duas meninas se ignorassem, o que era um fato: as duas com doses diferentes de classe fingiam que a outra não existia; o que era o exato contrário de Chad e Jay que pareciam conscientes demais de cada milímetro que os separava, os dois se coçando para se bater – uma vez mais para quem sabia do fato.

-Muito bem. Continuando, a atividade é bem simples – comunicou a professora, bastante confortável ao falar com os alunos – A dupla escolherá o que outro irá vestir pela manhã seguinte sem que o outro opine – Audrey e Evie imediatamente abriram a boca em choque, talvez desgosto – Amanhã ao final da tarde, voltaremos a nos reunir aqui e as partes dirão aquilo que gostaram e aquilo que mudariam nas escolhas de seus colegas.

As reclamações vieram altas, fortes, em peso. Quatro pessoas especificamente bastante insatisfeitas, porém veio de Chad a fala que mais chamou a atenção da fada boa.

-Que atividade mais sem propósito – resmungou Chad. Jay infelizmente concordava com o funesto e detestável rapaz e isso estava claríssimo em sua expressão. As outras duas meninas pareciam concordar veementemente.

Discretamente uma figura apareceu na porta. Tão discretamente que somente a diretora ainda na espera da atrasada garota notou. Mal! Mas a figura era masculina, alta e de porte elegante. Era um formando. Aaron. Ele olhava fixamente para a Fada Madrinha como se necessitasse da atenção da mulher, mas permaneceu quieto, parado com as mãos às costas, sem chamar atenção para si mesmo, principalmente no centro daquela baderna de reclamações que ainda se ouviam tanto argumentadas quanto choradas.

A mulher foi obrigada a lembrar que precisava rebater uma frase de um dos alunos; concentrou-se nos alunos que participavam da atividade. Lidaria com o aristocrata depois.

-Ao contrário – disse firmemente a diretora cortando o falatório – O intuito da atividade é que mostrem conhecer e se importar com o colega mesmo que de modo “simplório”. As meninas entendem o quanto a vestimenta afeta a autoestima e por isso mesmo estão se mostrando tão receosas.

-Ao pensar no que o outro irá vestir, levar em conta os gostos pessoais e o quão confortável a outra pessoa irá ficar, estão colocando em prática uma dose grande de empatia e humanidade – continuou a professora – E não pensem que gracinhas serão toleradas nesta atividade: qualquer tentativa de prejudicar o outro, será punida pela direção e manchará seus históricos escolares – a Fada Madrinha somente acenou com a cabeça positivamente.

-Agora iremos para os dormitórios e cada dupla irá montar as devidas combinações. Meninas, vocês acompanharão com as câmeras – disse a Fada Madrinha para Lonnie e Jane – Jane, acompanhe Ben e Carlos – designou a mulher – Lonnie, seguirá Chad e Jay, por gentileza – E professora Francis, acompanhará Audrey e Evie. Doug, esperará aqui comigo. Bom trabalho pessoal – disse sorrindo gentilmente, o que chegava a ser cômico dada a forma mal-humorada com que a classe saía.

 

Benjamin achou a tarefa bastante diferente e interessante. Ele ainda pegara um desafio maior ao ser colocado para trabalhar com Carlos. O príncipe sabia que moda era importante para o colega desde que uma entrevista muito abusiva havia sido pedida às portas do colégio. E estar ali, naquele dormitório, trazia ainda outra lembrança forte: invadir aquele quarto junto com certa garota a procura de um traje menos formal para saírem as escondidas do colégio.

-Tudo bem por você essa atividade, Carlos? – tentou conversar.

-Minha única preocupação com você como dupla é acabar engravatado sem necessidade – riu o colega cruzando os braços; Ben riu junto – Brincadeira. Aquele ali – indicou o armário que lhe correspondia. Os dois fingindo que não estavam sendo filmados; Carlos praticamente ignorando a existência de Jane.

O armário era muito bem organizado por peças e por cor. Padronagens também ficavam separadas umas das outras. Ben tentou formular alguma frase, puxar algum assunto; o príncipe sentia De Vil tenso e queria ser capaz de resolver fosse qual fosse o problema que o preocupava, ou pelo menos ser capaz de distraí-lo de suas preocupações.

-Suas roupas são incríveis – disse enquanto ainda olhava para os cabides, e pilhas organizadas com esmero – Nunca vi nada igual – olhou para trás de si sorrindo; viu o rapaz sem graça com o elogio, mas feliz mesmo assim, tudo muito sutil, mas Ben adorou o que viu – É único e ousado.

-É agora que se diz “obrigado”? – questionou meio indeciso – A diretora está nos fazendo praticar, mas é bem estranho dizer algo que não entendemos a utilidade – completou com bom humor, continuando de braços cruzados, continuando ignorando a presença de Jane e da câmera. A menina se remexeu, inquieta.

-Seria um bom momento – sorriu o menino-fera – Mas tudo a seu tempo – disse gentilmente, sem querer forçá-lo a dizer a palavra sem compreendê-la, sem senti-la.

Carlos deu de ombros.

-Eu fiz algumas – disse numa voz firme, sem oscilações; não gentil, mas também não bruta. Ben entendia que alguns caras tratavam a moda como algo exclusivamente feminino e pensou que aquele tom de voz poderia ser uma defesa surgindo por puro reflexo – Evie fez outras. Algumas são colaborações de nós dois.

-Então vocês são costureiros formidáveis! – disse passando por um colete estampado – Vocês se baseiam em peças prontas e só, ah, dão vida ao tecido? – questionou curioso, mas já separando as roupas que imaginava ficarem boas no rapaz.

-Geralmente desenhamos tudo no papel primeiro – disse o rapaz – Ainda mais se for algo que só existe na nossa cabeça.

-Você desenha? – virou-se surpreso. Surpreendentemente feliz ao notar como aquelas pessoas crescidas na prisão eram artistas formidáveis, e aparentemente em mais de uma única área.

-Mal nos ensinou, deu as melhores dicas. Evie e eu praticamos até pegar o jeito – Benjamin olhava-o com tamanha luz nos olhos que Carlos resolveu continuar – Mal é a artista de fato. Ela quem sabe mil e um formas de desenhar ou pintar. Eu só faço, no desenho, algo como um manequim e roupas; Evie, até onde sei, também.

-Incrível – murmurou o menino-fera, deixando as peças escolhidas separadas – Mostraria essa habilidade depois? Achei fantástica. – Carlos assentiu – Agora, vamos deixar separada sobre a poltrona ou...

-De jeito nenhum – aproximou-se De Vil – Vamos colocar as peças que você escolheu no cabide – Escolheu os sapatos? – Ben mostrou o par escolhido, e Carlos deixou-o separadinho, logo abaixo daquele cabide igualmente em evidência – Quer olhar as meias? Essa é a cara de alguém que só usou um tipo de meia a vida inteira – sorriu Carlos, abrindo uma gaveta e fazendo o príncipe corar e rir ao mesmo tempo.

Quando saíram do quarto de um e seguiram para o outro – só depois de feito um esboço de uma produção masculina num papel; Jane timidamente pediu para filmar e Carlos não se opôs apesar ter ficado um clima mais tenso entre os eles dois – sendo seguidos por uma menina quietíssima sempre filmando os rapazes, Ben perguntou num sussurro perfeito, quase inaudível:

-Sabe se aconteceu algo entre Chad e Jay? – a expressão de Carlos disse tudo – Me diria? Fiquei preocupado de que Chad esteja perturbando vocês.

-Combinamos segredo. E não é um segredo meu. Envolve... – ele pareceu prender o fôlego – envolve outras pessoas.

 

Em outro quarto da ala masculina, num clima tenso demais que pesava o ar de Lonnie, a menina foi obrigada a testemunhar olhares frios, maxilares travados, punhos que se abriam e fechavam com intensidade. E por entre tiradas ácidas com palavras muito específicas e aparentemente fora de contexto como “corretivo” e “peitos” ficou claro que os dois lutavam para não se agredir, enquanto reclamavam mais sobre a difícil tarefa a ser executada. Mais que isso, Lonnie percebeu que já o haviam feito... e só queriam repetir.

 

O primeiro quarto que as meninas visitaram foi o das intercambistas da Ilha. Evie estava arredia. Seus passos eram quase como os de uma criança birrenta, mais um pouco e ela tremeria da cabeça aos pés.

-Isso é mesmo necessário? – Evie parecia implorar a professora quando já estavam as três dentro do seu quarto. Estava tão nervosa que sequer percebia o respeito da colega ao não encarar nenhum de seus pertences, nem mesmo olhá-la mais sensível ao suplicar para a professora.

-Absolutamente – foi irredutível, a mulher – Mostre seus pertences a sua colega, oriente-a e isso acabará logo. Além de que, não vejo por que desse receio todo. As duas tem muita noção de moda e são excelentes alunas. Tem perfeitas condições de levar a atividade numa boa.

Evie, constrangida, seguiu em direção ao seu armário abrindo as portas em silêncio. Sorte que estava razoavelmente arrumado, não do jeito que gostaria, como o de Carlos separado por cor, mas estava com as roupas dobradas ou em cabides e não um caos como já havia estado muitas vezes antes quando ela se encontrava em crise. Se afastou a passos lentos.

-Licença – a princesa murmurou ao se aproximar do armário, tocando as roupas com delicadeza, apenas com a pontinha dos dedos. Examinou cada peça com o devido cuidado, levando tempo considerável, minutos depois questionou – Onde guarda suas meias?

Evie abriu uma gaveta, então outra e mais uma.

-Mal e eu compartilhamos algumas coisas – disse num sussurro apático; até era verdade, mas a garota tinha mesmo roupas demais. Em seguida mostrou a divisão mostrando quais eram as soquetes, as ¾, as 5/8, as 7/8, e por fim as meias-calças.

Audrey não se manifestou quanto a isso. Analisou aquelas peças que também compunham o vestuário íntimo aos olhos de alguns; graças ao bom senso, calcinha e sutiã seriam escolhidos por cada uma sem interferência. A princesa tirou alguns cabides e os colocava na direção da colega para visualizar algumas peças. Fez algumas perguntas isoladas a respeito de peças específicas (se tal peça continha cinto, se outra tinha abotoadura, por exemplo), então assim que Evie percebeu que a outra já tinha escolhido as peças definitivas, ela virou de costas se recusando a ver.

A garota colocou as roupas escolhidas num cabide e o deixou bem afastado dos demais; os sapatos escolhidos ficavam logo abaixo, também em destaque. Notando o desconforto da colega e o desejo de não ver ainda, fechou as portas antes de dizer que estava finalizada sua parte.

Enquanto saíam as três mulheres do quarto e seguiam para o quarto onde dormia Audrey, Evie tremia pensando que agora era mais simples, algo que ela gostava de fazer e que sempre fizera por Mal...

Mal! Aquela vadia havia sido esperta o suficiente para cabular aquela atividade terrível.

Com certeza a amiga estava se divertindo em outro cômodo naquele castelo enorme, isso se ela não houvesse saído completamente despreocupada e sem qualquer tipo de previsão de volta, provavelmente com a ajuda de Zephyr, os dois em algum lugar legal.

Tão a cara dela sumir nos momentos certos... Evie resmungou internamente.

 



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