Crowley foi liberado antes que o século fosse concluído. Estranhou, mas seria estupidez questionar.
Quando foi liberado e sentiu toda a aura demoníaca abraça-lo, sentiu uma vontade exasperadora de chorar. Não compreendia o motivo, mesmo assim seus olhos insistiam em embaçar e sua garganta parecia diminuir a cada segundo.
O motivo não era o horrível fato de passar quase um século inteiro sendo torturado por outros demônios, pois aquela era sua sentença, porém, sua própria mente teve tempo o bastante para deixá-lo paranoico.
Antes que deixasse cair sequer uma lágrima por causa do Inferno, beberia uma garrafa inteira de água benta. Ele fez aquilo por Aziraphale e não se arrependia.
Apesar de tudo, a vontade não ia embora. Ele estava apavorado.
Quase um século.
Aziraphale teve tempo o bastante para esquecê-lo, não teve? Houveram muitas primaveras para refletir e deixar todo aquela maldito sentimentalismo de lado, não é? Crowley estava tão esgotado, tão machucado, frequentemente sentia raiva de si mesmo e ,excessivamente, sentia medo do que Aziraphale pudesse pensar.
Passou um bom tempo pensando em como seria encontrar seu anjo novamente, no quão bonito seria o reencontro, se perguntava se Aziraphale lhe daria aquele sorriso tão detestavelmente bonito que acalentava seu coração, se seus olhos enrugariam nos cantos expressando genuína felicidade, imaginou a doçura da personalidade dele se derramando nas palavras, e agora, no entanto, estava petrificado, seu corpo ficava gélido com a menor expectativa, seu coração batia forte e sentia estar à beira de um ataque de ansiedade.
Aqueles pensamentos agora eram tão distantes, a possibilidade era tão completamente apagada que o fazia se sentir estúpido por sequer ter chegado a imaginá-las. Havia sido tempo demais.
Aziraphale agora poderia lhe mostrar um desprezo tão nu que sua alma se fragmentaria em pedaços. Ele ainda era um demônio no final das contas. Aziraphale ainda era um anjo.
Não saberia como reagir se seu anjo o recusasse e, por Satã, aquilo era tudo tão exaustivo, tão excruciante, tão difícil. Seria mais fácil se nunca tivessem se conhecido. No entanto, sequer pensar naquilo o fazia se contorcer em desgosto, pois tinha a que certeza conhecer Aziraphale nunca havia sido um arrependimento.
Quando se viu livre para sair do Inferno, manteve seu exterior frio, usou a máscara sarcástica e satírica de sempre para encarar os rostos ameaçadores e nada amistosos dos outros demônios ao seu redor. Beelzebub jogou uma papelada sem tamanho em uma das mesas e Crowley gruiu ,em parte pelo cansaço antecipado que aquilo lhe causava, em parte pela dor que a cura propositalmente mal feita de Beelzebub estava lhe causando, lembrando-lhe de sua punição.
Se dispôs a sorrir, miraculou os papéis em seu apartamento e, finalmente, sem nada para prendê-lo naquele lugar sufocante e com cheiro de enxofre, viu-se inteiramente livre.
Aquilo, no entanto, soava mais amargo do que se espera, e Crowley respirou fundo quando uma dor cansada se instalou em seu peito.
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Custou muito para Crowley conseguir deixar sua aura visível para o anjo encontrá-lo, sentia-se constrangido, julgava-se completamente indigno do amor de Aziraphale.
Por De--Por Satanás! Ele o sequestrou, ameaçou Aziraphale, quebrou seu coração e o fez se sentir a pessoa mais infeliz do universo. Crowley nunca iria se perdoar ,isso ele tinha profunda certeza.
Aquilo era cômico, no entanto.
Passou um longo tempo idealizando como seria seu reencontro com ele, mas agora a sua única vontade era de se enfiar debaixo dos cobertores e se esconder covardemente. Naquele dia ,fugir de suas responsabilidades parecia absurdamente atrativo.
Contudo, lá no fundo havia algo que fazia seu coração se agitar ,um espécie apelo que revivia a vontade de encarar a situação. E se Aziraphale ainda o amasse ? E se o anjo o correspondesse ? E se pensassem ,mesmo que por um segundo, que estavam além do que o Céu e o Inferno haviam os encaixado?
Não o demônio Crowley, nem o anjo Aziraphale, mas apenas Crowley e Aziraphale.
Apesar das diferenças , sentia que seria doloroso negar aquele fato. Negar que amava um anjo não era nada além do que uma mentira que não lhe traria conforto dizer de nenhuma maneira. Sabia que tudo aquilo estava errado, mas lá em seu íntimo tinha a certeza que não estava disposto a abandonar o que poderia ter com Aziraphale quando ainda se tinha uma chance agonizante clamando por sua misericórdia.
Aceitar o amor que teimosamente sentia pelo anjo fazia um sensação indefesa e acalentadora borbulhar em seu coração, a menor possibilidade de prolongar aquele sentimento o deixava deslumbrado, demasiadamente ganancioso.
E então um grito ecoou alto.
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Aziraphale estava a caminho de sua livraria no Soho depois de uma tarde agradável no St.James Park, era um dia como outro qualquer, nada de especial havia ocorrido, não esperava que algo ocorresse.
Quando entrou a livraria - que estava fechada mesmo sendo dia de semana - sentiu a sensação que já lhe era familiar o envolver. O sentimento caloroso e receptivo lhe cumprimentando como se reafirmasse que aquele era o seu mundo, o seu lugar, o único lugar que realmente sentia como se pertencesse.
O cômodo estava vazio e intocado, o que fez Aziraphale suspirar em alivio para a conclusão. Embora gostasse dos humanos, lhe causava uma frêmito na espinha vê-los rodear suas preciosas primeiras edições com tanto descaso e sem demonstrar respeito algum, além disso ,honestamente, aquele não era um dia que estava disposto a passar por outra provação daquelas.
Decidiu que abriria apenas no dia seguinte, quando estivesse mais receptivo a ideia.
Começou a preparar um chá para sí mesmo da maneira tradicional. Mesmo que pudesse fazer milagres, ocupar sua mente com processos lentos e humanos haviam sido uma das coisas que pouparam sua mente de sucumbir nos últimos anos. Tinha um palpite em mente e trabalhou aquilo por um tempo.
Mal buscava mais pelo demônio, a ideia de encontrá-lo soava improvável e ,por anos, aquilo não lhe causava outra coisa a não ser dor.
Havia se empenhado muito em seus trabalhos angelicais com mais afinco, mais rapidez, fazendo tudo o que tinha de fazer colocando toda sua determinação e energia naquilo. Em parte para frustrar o Inferno, em outra como uma garantia para si mesmo que as coisas ficariam certas se ele se esforçasse.
Se acomodou em sua poltrona de couro, deslizando sua xícara de chá sobre a mesinha próxima e se empenhou a ler um livro escolhido sem propósito. A leitura não durou muito e ,por mais dedicado que ele fosse com seus livros, aqueles momentos que o deixavam distante e moribundo vieram a se tornar uma coisa que invadia sua rotina em uma frequência incômoda.
Ele deveria? Aquilo era estúpido, não era? O que o fazia pensar que depois de anos aquilo daria certo?
Fechou os olhos com força e a umidade em seus olhos se anteciparam antes que sequer pudesse se decepcionar. Já estava acostumado àquilo. Por anos se decepcionou pelo menos motivo e ,por mais que machucasse, seu coração insistente ainda o fazia repetir aquele mesmo processo mesmo sabendo que no final só lhe traria sofrimento.
Não naquele dia.
Sua garganta subitamente ficou seca, suas sobrancelhas saltaram para a linha do cabelo e sua mão correu instintivamente para os seus lábios a fim de silenciar o ruído chocado que se sucedeu. Ficou imóvel por alguns segundos, fascinado, ansioso, sem saber o que fazer com aquela informação, não querendo se precipitar, querendo se precipitar.
Ele deveria ir até ele?
Por que diabos agora?
Aziraphale abriu os olhos e saltou da poltrona, sentindo a ansiedade revirar o seu intestino da maneira mais indelicada que podia, começou a andar de lado para o outro com a respiração trêmula, com cada músculo de seu corpo exalando apreensão e sua mente tentando processar as coisas, trabalhando em desvendar em como as coisas se desenrolariam depois dali.
Ele estava tão aliviado, tão feliz, tão... preocupado.
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Havia se passado um dia inteiro com aquele sinal do demônio.
Aziraphale continuava verificando em uma frequência nada saudável o que tinha sentido somente para se encantar de novo e de novo com aquele sinal tão claro do demônio, aquela aura inconfundível se fazendo presente pela primeira vez depois de tanto tempo.
Não sabia o que fazer com aquela informação, mas tinha certeza de que o demônio estava disposto a dar algum passo, dar alguma entrada para que ele se esgueirasse de volta para seu lado.
O anjo lembrou-se do último encontro. As palavras do demônio, as que agora tinha certeza que não passavam de mentiras, se repetiram em sua mente. Por mais que soubesse o quão falsas eram, aquelas mesmas palavras sem nenhum fundo de verdade conseguiam paralisá-lo.
Seria inconveniente simplesmente aparecer para Crowley?
Se o demônio demorou tanto tempo é porque certamente o evitou por muito tempo ou, na pior das hipóteses, viu-se preso em algum tipo de encruzilhada complicada demais para simplesmente pular fora.
Aziraphale se retorceu sobre isso durante vários anos, ainda lembra-se das teorias que criou, das horas que passou recolhido em sua livraria pensando e pensado até chegar em uma hipótese que o fez ficar irremediavelmente deprimido.
Foi a partir daquele ponto que decidiu parar de procurá-lo e se empenhar apenas em seu ofício do Céu.
Por mais impaciente que estivesse para vê-lo, decidiu que esperaria o demônio achá-lo primeiro.
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Já havia se passado 3 dias. 3 dias inteiros.
A aura de Crowley havia desaparecido depois do primeiro dia e o Aziraphale não fazia ideia do que aquilo poderia significar. Ou o demônio havia se descuidado ou havia algo acontecendo.
Toda a sua expectativa de vê-lo afundou como chumbo. Aquilo definitivamente não fazia sentido nenhum, não tinha nenhuma razão do demônio provocá-lo daquela maneira, colocá-lo nas nuvens para depois fazê-lo sucumbir.
Não tinha o que pudesse fazer. Caso ousasse pedir informações ao Céu, certamente os outros anjos fariam muitas perguntas e não acabaria bem, além disso, não tinha como achar Crowley se o demônio não quisesse ser achado.
O sinal simplesmente desapareceu e aquilo tinha muitos significados na cabeça de Aziraphale.
A livraria naquele dia estava aberta. Desde do dia que o demônio lhe deu sinal não tinha passado por sua cabeça abri-la até que Crowley viesse encontrá-lo, pois queria manter uma privacidade com o demônio, queria conversar, pedir perdão, dizer outras coisas. Mas agora sabia que precisava dar aquela folga para seu coração ou perderia a cabeça.
Havia algumas pessoas na livraria e naquele mesmo dia Aziraphale se viu distraído de seus pensamento diversas vezes quando alguns clientes lhe faziam ofertas para comprar seus livros, as quais ele fazia o possível para fazê-los desistir.
Ele era um péssimo vendedor, isso era certo. Se alguém quisesse ir a algum lugar somente para sair de mãos vazias e totalmente frustrado, aquele era o lugar ideal.
Aziraphale estava empenhado em argumentar com uma adolescente que insistia em comprar uma de suas preciosas primeiras edições de Dante quando o sino da loja soou. No entanto, no ponto que as coisas estavam, o anjo não olhava mais quem entrava ou saia e foi somente quando aquela voz baixa, aquela súplica tão doce e frágil, cruzou seus ouvidos que ele parou o que fazia .
- Anjo...
E somente neste momento que ele desviou rapidamente os olhos para encontrar quem disse aquela palavra que ele esperou anos para ouvir novamente. Seu coração dava socos fortes contra seu peito fazendo seu corpo inteiro tremer, e não se importava mais com a garota falando incansavelmente ao seu lado.
Crowley estava com óculos escuros no rosto, parecia bem mais magro, tinha os cabelos longos caídos nos ombros e respirava sem fôlego, parecendo ter corrido uma maratona. Aziraphale engoliu em seco e inflou os pulmões, batendo os pés firmes contra o piso para o centro da livraria ,olhando amistosamente para os outros clientes, ignorando a presença de Crowley por um instante.
- A LIVRARIA ESTÁ FECHADA. - anunciou, atraindo olhares confusos de todo o resto. - Fechou. Saiam. VÃO. - ordenou, batendo palmas impacientemente. - Deixe esse livro aí, minha querida... Isso, obrigada. - advertiu a uma das clientes, mantendo tom doce apesar da aspereza. - Agora, todos, FORA.
- FORA. - repetiu novamente, respondendo aos olhares profundamente perturbados e indignados dos clientes.
Os clientes saíram nervosamente do lugar confusos e absolutamente indignados com o tratamento, se queixando um para os outros contra a hospitalidade hostil do estabelecimento. Aziraphale, que estava tentando não ser grosso - tarde demais. - ,apenas sorria para os rostos revoltados com uma linha amistosa enquanto sutilmente os empurrava para a saída.
Ele fechou a porta atrás de sí com a chave e baixou as persianas contra os olhares ainda chocados e desnorteados das pessoas do lado de fora.
Respirou fundo antes de se aproximar do demônio.
- Isso foi uma cena e tanto. - Crowley provocou, embora sua voz estivesse arrastando algo que lutava para para não se pronunciar.
- Sim. - Aziraphale sorriu, com as bochechas adquirindo um tom rosado.
O anjo olhava para o demônio com expectativa, não sabia se deveria falar algo primeiro ou esperar o demônio e, por outro lado, Crowley parecia ansioso e apenas ficou encarando o rosto do anjo através dos óculos escuros.
Aquilo tudo estava ficando cada vez mais constrangedor. Ambos pareciam incertos se deveriam falar primeiro ou esperar pelo outro. Apesar do desconforto, mantinham o contato visual enquanto nervosamente buscavam resposta no rosto alheio, tentando desesperadamente regular os próprios batimentos.
- Anjo, eu--/ Crowley--
Se calaram simultaneamente, decididos a deixar o outro falar. Quando as palavras não vieram, tentaram novamente ,mas se cortaram.
Crowley riu, encantado, e Aziraphale sentia suas orelhas queimarem enquanto sorria para as próprias mãos.
- Certo. - o demônio começou. - Eu--
- Eu primeiro. - Aziraphale interrompeu bruscamente, praticamente implorando pela oportunidade.
Crowley pareceu o analisar por um tempo e acabou cedendo a palavra. Aziraphale respirou fundo, sentindo-se queimar com os olhos do demônio em sua pele, sentia que bastava uma faísca de Crowley para que pegasse fogo, era como se tudo nele fosse incandescente e deliciosamente perigoso.
- Eu sinto muito, Crowley. - pediu. - Eu sinto muito mesmo.
Crowley novamente negou com a cabeça como há anos atrás e Aziraphale franziu o rosto, contrariado. O demônio se apressou com as palavras antes que o outro tivesse chance de perguntar.
- Você não precisa se desculpar, anjo. - assegurou. Aziraphale viu a mão de Crowley movimentar-se como se estivesse disposta a tocá-lo, mas ela voltou firme ao lado do corpo. - Eu que te devo--
- Não. - cortou, insistente. - Eu não deveria ter dito aquelas coisas.
- Você estava apenas machucado. - o demônio justificou, compreensivo. - Realmente não precisa--
- Não. - repetiu, impaciente. - Quero dizer... Eu estava ,mas eu não deveria ter usando sua queda contra você, eu fui muito insensível.
Crowley movimentou os lábios, mas nenhum som saiu dele. Ele pigarreou algo e desenhou um sorriso fino em conforto ao anjo.
- Realmente não precisa se preocupar com isso, Aziraphale.
Aziraphale deixou o ar saírem de seus pulmões em alívio. Algo, no entanto, deve ter chamado sua atenção para a disposição do demônio. Crowley parecia abatido e ,por mais que houvesse um sorriso em seus lábios, parecia inquieto e sôfrego.
- Me desculpe por ter falado aquelas coisas horríveis. - continuou, olhando com expectativa vibrante para o outro. - E eu sei que você não me tentou.
O demônio sentiu uma maré de vergonha e mortificação subir em seu peito, fazendo-o desviar os olhos rapidamente para qualquer outro lugar. Ele engoliu em seco, tentando se manter o mais sereno possível, e concordou com a cabeça.
- Anjo, eu-- me desculpe. Por tudo. Eu não queria ter feito nada daquilo com você, não tem um dia que eu não me culpe por ter o machucado, eu nunca faria aquilo se não tivesse sido-- eu nunca teria..- o demônio começou a agitar as mãos e andar ansiosamente pelo cômodo. - Eu nunca teria feito aquilo, anjo. Eu não deveria ter feito nada daquilo-- Você-- Você é tão bom comigo e eu, ainda assim, tive coragem de fazer aquelas coisas horríveis com você-- Eu sinto muito-- terrivelmente-- eu--
- Crowley--
- Eu ainda fui cruel o bastante para machucá-lo tanto-- quero dizer-- como é que eu esperava que depois de quebrar seu ombro aquela maldita cura-- eu não deveria tê-lo machucado-- eu sinto muito pelas queimaduras, pelas suas asas, pelos ossos que eu quebrei. - Aziraphale contraiu o rosto para as palavras. O demônio nem sequer chegou a tocar em suas asas ou fraturar algum osso. - Eu não deveria tê-lo cortado e queimado tanto.. - Crowley agora estava hiperventilando e Aziraphale tentou se aproximar, mas o demônio recuou. - Sua pele-- como eu tive-- como eu tive a coragem de tocá-lo--Eu tive tantos pesadelos com isso nos últimos dias--
- Crowley, escute -- Aziraphale sentiu que havia algo errado. O demônio parecia instável, como se estivesse a beira de um ataque, falando as coisas sem parar ,se perdendo nas palavras, ofegante como se estivesse implorando pela sua vida.
- Eu ainda tive a ousadia de pensar que você pudesse --- oh, meu De-- Satanás-- Eu ainda achei que depois disso você pudesse--
- CROWLEY. - Aziraphale agarrou os ombros do demônio, profundamente preocupado, e o olhou por longos segundos.
O anjo levantou a mão e retirou os óculos do demônio, deixando o ar escapar no segundo que viu aquelas esferas escuras cobrir grande parte dos olhos dourados do demônio. Se Crowley fosse humano, Aziraphale teria associado aquilo a alguma droga forte, mas certamente algo estava tendo influências negativas nas lembranças do demônio.
- Crowley. - repetiu, olhando diretamente nos olhos do demônio como se quisesse que o demônio considerasse seriamente a importância das palavras. - Onde você esteve todo esse tempo?
O demônio desviou os olhos e tentou se afastar desconfortavelmente do aperto das mãos exigentes do anjo.
- Tudo bem. - Aziraphale se apressou para confortá-lo, sentindo o demônio relaxar em suas mãos. - Não importa, querido.
Claro que importava. No entanto, Aziraphale não iria pressioná-lo para lhe contar a verdade na situação em que ele se encontrava.
- Escute. - cantarolou com a voz doce, elevando uma das mãos para acariciar o rosto do demônio, que o encarava sem piscar, tenso como se estivesse como se estivesse aterrorizado . - Você não tocou em minhas asas, Crowley. Não fraturou nenhum--
- Eu fiz! - protestou, culpado e infeliz. - Eu sou horrível, eu fiz. Eu--
- Crowley. - pediu, olhando tristemente para o rosto do demônio em sua frente. O que quer que tenha acontecido havia alterado as lembranças do demônio. Aziraphale sentiu as lágrimas quererem se pronunciar, mas aquilo de nada serviria naquela situação, então ele as conteve. Só de pensar que aquelas palavras poderiam significar que o demônio quem havia passado por aquilo fazia seu estomago revirar. - Querido, você não fez, confie em mim.
Crowley parecia violentamente perturbado, confuso para as palavras. Ele balançou fracamente a cabeça, discordando enquanto sua mente revivia claramente as memórias sangrentas com Aziraphale. Sentia que não merecia Aziraphale, nunca mereceu, de repente ficou ciente que não deveria estar alí, esperançoso que o anjo o correspondesse depois de ter feito tantas coisas ruins.
- Anjo, eu sinto muito. - implorou, os olhos desesperados correndo pelo rosto do outro. - Eu não mereço que você me conforte assim, não--
- Crowley, eu te amo, claro que merece. - murmurou, o coração doendo para aquela cena tão miserável e triste do demônio. - Eu te amo, meu amor. - garantiu, sendo o suficiente para calar a boca do demônio.
O demônio respirou fundo, os olhos céticos e descrentes para as palavras. Quando Aziraphale o puxou para um beijo gentil na bochecha ele ficou rígido, imóvel, o ar ficou preso em seus pulmões e a garganta se contorcendo em necessidade de ser molhada, as lágrimas engrossando até que uma correu teimosamente em seu rosto.
- Eu não mereço.. - murmurou, inutilmente tentando conter as lágrimas que agora desciam livremente. - Anjo, por favor..
Aziraphale sentiu uma pontada aguda em seu coração para as palavras. Claro que Crowley merecia.
Voltou a beijar a pele do demônio e depois beijou novamente como se não soubesse como parar, sentido o gosto salgado das lágrimas se misturar com o carinho. Ele queria que Crowley se sentisse amado, adorado, digno, estava se esforçando para deixar que o sentimento se derramasse no gesto, mas Amor não era um sentimento que os demônios estavam acostumados.
Crowley mantinha as mãos nos ombros de Aziraphale como se quisesse pará-lo, mas incapaz de fazê-lo enquanto soluçava incansavelmente, com aquele sentimento arrebatador entre querer ser amado e ao mesmo tempo sentir que não merecia lutando em sua mente em dois polos. Os lábios do anjo acariciavam sua pele e ele se sentia tão impotente, tão vulnerável, como se sua alma estivesse sido finalmente exposta.
Aziraphale agarrou a palma em seu ombro e a beijou, adorando cada parte com ternura, degustando Crowley como se fosse sua sobremesa preferida. As lágrimas não paravam de vir, o corpo inteiro do demônio tremia para a sensação, seu coração batia alto nos ouvidos e cada contato dos lábios do anjo em sua pele enviavam arrepios por todo seu corpo, aumentavam a sua vontade inexplicável de prantear em lágrimas.
O anjo levantou os olhos para o demônio e sorriu, puxando a face completamente arruinada de lágrimas para um beijo afetuoso nos lábios. Crowley abraçou o corpo de Aziraphale, sentindo falta do calor, do tamanho, da maciez, afastando o rosto do beijo para deixar a cabeça cair contra o ombro do anjo sem conseguir conter a necessidade absurda de chorar. Tão lamentavelmente agradecido, tão patético.
- Tudo bem, querido. - o anjo sussurrou contra os seu ouvido. - Eu estou aqui. Está tudo bem.
Aziraphale acariciou as costas do demônio, beijando seus ombros, enquanto deixava que Crowley chorasse o quanto precisava.
Crowley levantou o rosto, vermelho e inchado, voltando para os lábios de Aziraphale com urgência, como se fosse um oásis no meio do deserto. A surpresa e a suavidade pegaram o anjo de surpresa, mas o que fez foi se inclinar ao toque, deixando os olhos se fecharem.
Não demorou muito para que o beijo se aprofundasse sem barreiras nenhuma, o anjo sentia Crowley apertar seu corpo com necessidade, como se estivesse verificando a veracidade do momento, enquanto seus dedos se enterravam naqueles cabelos longos e vermelhos.
O sentimento da última vez se fez presente e Aziraphale respirou fundo para a sensação inflando seu peito, se enchendo até o limite como um copo de vinho sendo preenchido até a borda, transbordando de afeto. O beijo foi cessado por um segundo quando Crowley buscou a confirmação em seu rosto apenas para ser puxado novamente com o contato no instante seguinte.
Amor era um sentimento difícil para demônios interpretar e aceitar, o anjo sabia que Crowley não estava acostumado em ser amado e era completamente inexperiente.
No entanto, Aziraphale tinha certeza que ninguém o amava como Crowley.
Ninguém nunca poderia.
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Crowley se viu pressionado contra uma das estantes de livros de Aziraphale, ainda desesperado, escutando as juras desesperadas do anjo contra sua boca ,a sensibilidade aguçada misturando seus sentimentos em uma bagunça irremediável.
Era como se o anjo estivesse tentando o convencer que ele era amado. Ele se lembrou dos dias que esteve no Inferno, das memórias boas com Aziraphale transformadas em incertezas e um sentimento aterrador de culpa.
Mas agora ele estava alí. Com o anjo lhe provando o quão errado ele estava, o fazendo se sentir desejado e pateticamente agradecido com tudo, apesar de ainda incerto se merecia.
Ele parou o beijo apenas para buscar os olhos de Aziraphale, capturar a beleza dos olhos do outro em seu coração, e se apressar em se livrar daquela gravata borboleta idiota, querendo mais contato. Querendo mais Aziraphale.
Aziraphale deve ter compreendido sua necessidade e miraculou suas roupas para longe, fazendo Crowley sibilar quando os lábios do anjo voaram de encontro ao seu pescoço. As lágrimas ainda não haviam cessado e demônio jogou a cabeça para trás, abrindo mais espaço, enquanto gemia e choramingava para o contato, apertando a pele quente de Aziraphale, agradecido pelo contato carnal tão profano e lascivo.
Crowley deu um arraste de quadris para frente, apenas o suficiente para se provocar, sentir a dureza do anjo pressionada contra a sua, intensamente satisfeito quando Aziraphale arfou quente contra seu ombro. O anjo levantou os olhos, com um brilho inconfundível de desejo devorando o demônio, pedindo permissão.
- O que quiser, anjo.- Crowley incentivou, sôfrego com as contraídas violentas de seu pênis dentro da calça.
Aziraphale deu um beijo curto em Crowley em resposta e o virou de costas, fazendo o demônio suspirar de excitação, fascinado com a ideia de ser fodido contra uma daquelas estantes pelo seu anjo. As mãos ágeis de Aziraphale trabalharam nos botões e zíper das calça do demônio, pressionando seu corpo quente nas costas de Crowley, fazendo-o se arruinar ainda mais com o desejo crescente em sua ereção.
Houve um milagre e as calças de Crowley desapareceram com um estalo impaciente do anjo, que pressionava sua dureza ainda coberta contra o traseiro do demônio, que sentia seu próprio pau rígido contra o próprio estômago vazar com a excitação. Os lábios de Aziraphale trabalhavam em seus ombros, beijando, mordendo, sugando, exatamente na medida certa.
A mão de Aziraphale envolveu seu membro e Crowley estrangulou seu gemido, mais lágrimas vieram quando os lábios de Aziraphale beijaram docemente sua nuca, fazendo seu pau contrair contra a mão que o bombeava.
- Eu te amo. - o anjo sussurrou contra sua pele. - Eu te amo muito, Crowley.
Crowley choramingou, rolando os quadris para foder o punho de Aziraphale involuntariamente, bêbado com o sentimento que lhe fora privado por tanto tempo, sendo levado até a borda do prazer com Aziraphale beijando e jurando contra sua pele.
Ele tremeu quando seu orgasmo finalmente veio, apertando os olhos com força, extraindo mais lágrimas cheias de sentimentalismo desesperado ,sentindo seu coração abir como primavera.
Aziraphale o abraçou com carinho, amparando seu corpo e seu coração sensível com gentileza e cuidado enquanto ele se recuperava dos espasmos.
Aziraphale deu alguns segundos para Crowley se recompor e ergueu uma das pernas de Crowley, fazendo-o arfar em surpresa e satisfação, e apressadamente agarrar a prateleira da estante para manter o equilíbrio. Crowley empurrou o traseiro para trás, ansioso, chiando de prazer no instante que Aziraphale se pressionou para dentro sem nenhuma enrolação, gemendo contra a concha de sua orelha ,rolando os quadris ávidamente contra Crowley.
Profano.
Essa era a única palavra que poderiam definir o som estridente do contato das peles dos dois. As mãos de Crowley se prenderam com mais força, arranhando a superfície de madeira quando Aziraphale começou a ir com mais força perseguindo o próprio orgasmo.
O anjo se pressionou mais fundo e o corpo inteiro de Crowley tremeu, fazendo-o derrubar um dos livros da estante que o demônio prontamente miraculou antes de atingir o chão. O suor se acumulava em suas articulações, a mão de Aziraphale apertava com firmeza a sua coxa, e ele conseguia sentir seu próprio membro se pronunciar pela segunda vez naquele mesmo dia.
Ele se torceu um pouco para olhar para seu anjo e sorriu quando encontrou seus olhos. Os cabelos de Aziraphale estavam arruinados, seu corpo inteiro estava corado e seus lábios inchados e vermelhos, uma bagunça total, mas Crowley supôs que sua situação estivesse infinitamente pior.
Os dedos de Aziraphale deslizaram para acariciar Crowley novamente e o demônio ofegou em aprovação, embora tivesse certeza que o seu orgasmo viria bem mais rápido daquela vez.
Aziraphale acelerou seus movimentos nos quadris, parando o trabalho com a mão em Crowley, a respiração engatada, urgente e Crowley sabia o quão perto ele estava. Seu anjo se afastou quando seu orgasmo veio, derramando listras brancas nas nádegas parcialmente avermelhadas do demônio.
Crowley desesperadamente segurou o próprio pênis e se masturbou rapidamente, não demorando muito para chegar pela 2º vez.
Aziraphale esperou que Crowley se virasse para encará-lo , exibindo um sorriso travesso e interessante nos lábios quando o demônio o fez.
O anjo parecia estar admirando seu trabalho, encantado com o suor escorrendo na linha do cabelo do demônio, a pele corada, o peito salpicado em ouro rosa e ofegação pesada de Crowley, que era uma bagunça condenável de suor, saliva e lágrimas,
- Precisamos conversar. - murmurou suavemente.
- Sim, anjo.
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Eles estavam sentados no sofá de couro de Aziraphale na sala dos fundos, parcialmente vestidos e com a aura sexual impregnada em seus corpos como se estivesse os lembrando a todo momento que aquilo não fora um sonho.
O demônio estava deitado sobre o estômago de Aziraphale ainda sentindo-se terrivelmente sensível, mas agora, pelo menos, conseguia controlar suas emoções frágeis enquanto o anjo acariciava seus cabelos como se estivesse o confortando.
Fazia um tempo que estavam naquela posição sem dizer uma palavra. Aziraphale sentia que não precisava. O Amor de Crowley preenchia cada canto de seu corpo. Ele conseguia sentir aquele sentimento correr por entre suas veias ,conseguia sentir a sensação encher seu corpo como oxigênio, como se estivesse por todos os lados.
- Anjo...- o demônio começou, levantando o rosto para olhar para o rosto do outro. - Eu sinto muito.
Aziraphale o repreendeu com os olhos afiados e uma curva desaprovadora com os lábios. No momento seguinte ,entretanto, relaxou e expirou como se estivesse preste a descarregar algo de sua alma.
- Não sinta. - esclareceu.
- Mas eu sinto. - cortou, áspero. - Se eu não tivesse--
- Teria sido muito pior. - completou calmamente. - Se você não tivesse começado isso, outro demônio teria sido mandado em seu lugar e duvido muito que eu estaria aqui agora.
Crowley fez uma tentativa de responder, mas sua boca se fechou rapidamente. Aziraphale sorriu satisfeito.
- Ainda assim... - o demônio continuou, teimoso em sua miséria. - Eu não deveria ter o machucado, anjo. Eu realmente não-- Não deveria ter nem sequer--
- Honestamente, Crowley. - Aziraphale o interrompeu em um tom mais alto. Ele não parecia impaciente ,nem nada assim, mas as palavras de Crowley pareciam o machucar intimamente. - Se fosse o contrário não acha que o Céu esperasse que eu fizesse o mesmo ?
Crowley se calou enquanto digeria o argumento silenciosamente, deixando que sua cabeça lentamente voltasse a repousar sobre o corpo macio embaixo de sí, completamente angustiado.
- Eu entendo você, Crowley. - o anjo garantiu, deslizando a mão nos longos cabelos do demônio. - Nossa questão é muito mais complexa. Nós não somos ,exatamente-- Não somos como humanos que podem ter essas coisas tão livremente. Não tem como achar uma solução simples para um problema tão complexo. Somos inimigos hereditários, estamos fadados a tentar destruir um ao outro.
O demônio apertou o corpo de Aziraphale, sentindo as lágrimas queimarem em seu olhos.
- Eu nunca faria isso. - Crowley rosnou. - Nunca. Nunca. Eu prefiro que me--
- É o suficiente. - Aziraphale repreendeu, lembrando-se dolorosamente do tempo que pensou em destruir Crowley, sentindo seu peito se torcer. - Eu também não, meu querido. Eu sinto muito que eu tenha sequer pensado em..
Não conseguiu completar a frase, enterrando o rosto nas mãos com um soluço miserável, e Crowley se dispôs rapidamente para ampará-lo, curvando-se para segurar o rosto de Aziraphale e beijá-lo como ele merecia.
- Eu nunca o culpei por isso, anjo. - jurou, o beijando novamente com os olhos fechados contra a umidade em seus olhos ,empenhado em não deixar seu controle oscilar daquela vez. - Nem por um segundo.
- Obrigado, meu querido. - Aziraphale sussurrou, tentando se controlar.
Por anos ele havia revirado aquela culpa em sua mente. Por mais de meio século se perguntou se um dia Crowley o perdoaria. E agora ele estava alí, o beijando como se estivesse juntado os seus pedaços, tão apaixonado que Aziraphale sentia como se algo florescesse em seu peito incontáveis vezes sem parar, como se nunca fosse suficiente.
- Acredito que o que aconteceu de errado foi você não ter me destruído. - o anjo deixou escapar, fixando o olhar no do demônio. - Você não ter me destruído foi a parte errada disso tudo.
Crowley franziu o rosto, perturbado com a declaração.
- Como poderia?
- Não, querido, veja. - sorriu, erguendo a mão para arrumar as mechas de cabelos atrás da orelha do demônio. - O que está acontecendo agora é contra o que o Céu e o Inferno pregam. É mais errado isso que estamos fazendo do que o contrário.
O demônio pensou um pouco sobre aquilo com o rosto perplexo até entender o ponto de Aziraphale.
- Ah. - foi tudo o que conseguiu dizer.
- Não vai me dizer onde esteve por tanto tempo? - Aziraphale tentou.
- Ah, isso... - o demônio se mexeu desconfortável. - O Inferno..eer-- Beelzebub decidiu que eu merecia uma punição.
- Pobrezinho. - Aziraphale lamentou com a voz chorosa. - Eles o machucaram?
Crowley engoliu em seco. Expulsando as lembranças de seus gritos, da pele sendo queimada, das poças de sangue que se expressavam em flashes em suas mente. Ele havia tido sonhos com aquilo nos últimos 3 dias e as lembranças o paralisaram, o perturbaram de seu sono, faziam-o suar frio, especialmente quando sua mente o confundia e o fazia acreditar que havia feito a mesma coisa com o Aziraphale.
- Não foi tão ruim. - mentiu. - Eu estou inteiro, não estou ?
Aziraphale estreitou os olhos para a resposta, claramente insatisfeito.
- Eu estava certo, então. - revelou, parecendo infeliz com a conclusão.
Crowley piscou, confuso.
- Certo?
O anjo respirou fundo, analisando o rosto do demônio por um momento.
- Era um palpite. - admitiu. - Quando você simplesmente sumiu eu pensei que-- Bem, inicialmente eu pensei que estivesse me evitando, mas depois eu comecei encaixar as coisas e achei que o Inferno havia feito alguma coisa, mas não sabia o que fazer. Se o Céu soubesse... - engoliu em seco, constrangido e incerto sobre a reação do demônio. - Se o Céu soubesse que eu estive frustrando diretamente o trabalho de outros demônios acredito que me dariam uma boa saudação.
- O quê??
- Não frustrando... - se corrigiu, nervosamente. - Eu só anulei. Assim o Inferno ficaria sempre em desvantagem e em algum momento precisariam te trazer de volta, eu só achei que--
Crowley o beijou, calando a respiração surpresa do anjo. Ele estava encantado com a ousadia de Aziraphale, lisonjeado, e quando se afastou ele riu para a revelação. Por isso foi liberado mais cedo. Por isso aquele número excessivamente absurdo de trabalhos.
- Acho que sou uma má influência para você. - zombou.
- Eu estranharia se não fosse.
Aziraphale sorriu carinhosamente para o demônio, que suspirou em alívio quando viu a expressão em seu rosto.
- Você é tão bonito. - Aziraphale murmurou de repente, fazendo a mente de Crowley entrar em pane com o elogio repentino.
Crowley prontamente deixou sua cabeça novamente repousar contra o estômago de Aziraphale para se esconder seu rosto queimando para as palavras.
- Isso é ridículo. - resmungou, determinado a não se permitir sorrir.
Aziraphale deu uma risada borbulhante em resposta, quebrando toda a determinação do demônio, que sorriu carinhosamente contra a pele macia embaixo de si.
Crowley novamente levantou o rosto e agora ele parecia sério, ansioso. Seus olhos aguçaram para Aziraphale e o anjo depositou toda a atenção no que viria em seguida.
- Anjo..
Aziraphale esperou, decidindo internamente se aquila atitude era preocupante ou não. Crowley tomou fôlego para dizer algo, mas a motivação se quebrou em algum ponto e ele se agitou, desconfortável, suas orelhas vermelhas denunciando que aquele assunto era algo bem mais íntimo.
- Não é nada. - mentiu, e Aziraphale sabia que era mentira. - Acho que deveríamos fazer um Acordo para não despertar suspeitas do Céu ou Inferno.
- Sei. - concordou, ainda pensando nas palavras não ditas pelo demônio. - Sim. Concordo. - retomou o tom animado. - Agora descanse, querido.
Crowley assentiu, ainda que a ideia de dormir ainda o assombrasse, e pairou os olhos nervosos no rosto de Aziraphale como se tivesse prestes a dizer algo antes de deitar. Ele abraçou Aziraphale com os olhos fechados contra a superfície de sua pele, se deliciando com as mãos do anjo o acariciando na medida que ficava mais e mais sonolento.
- Anjo, você sabe... - tentou, seu coração agora batia rápido em expectativa. - Eu te...
Selou os lábios, sentindo cada fibra do seu corpo se contorcer de vergonha. Ele esperava que Aziraphale tivesse entendido o que queria ter falado, seu coração ecoava por todo o seu corpo enquanto esperava o que o anjo diria.
- Eu sei, querido. - o anjo assegurou com a voz emocionada. - Eu sei.
E ele sabia. Estava por todo canto, em cada ação, cada palavra do demônio. Ele compreendia os sentimentos do demônio. Estava ciente que Crowley não podia sentir o Amor genuíno ,não conseguia reconhecer a aura como ele conseguia para ter certeza do sentimento do outro. O demônio confiava inteiramente em suas palavras para se nortear, como alguém vendado confiando apenas nas instruções de um estranho, depositando sua vida frágil na índole de outra pessoa.
Aziraphale decidiu que faria Crowley se acostumar a ser amado. Irá custar muito até Crowley acreditar que seja verdade. Mas vai acabar acreditando.
O fato do demônio tentar demonstrar isso com palavras o tocava de uma maneira profunda, mas o anjo também compreendia que há certas coisas que demônios não ousam dizer diretamente.
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