História See you Again - She

Ao colocar todos os pratos na mesa,os convidados não excitaram e logo se puseram a degustar o raviolli.Sentada ao lado de Paola,estava Francesca,a pequena comia rapidamente,tentando saciar a fome que atormentava seu pequeno estômago.Na sua frente,estava Fernando e Ricardo,dois grandes amigos que acompanharam a chef desde a sua chegada no Brasil,já na ponta da mesa,estava Fogaça e Luís.Toda a conversa anteriormente proferida,agora estava sendo silenciada por garfadas rápidas.

-Es tan malo assim ? –a argentina indagou querendo saber o motivo do silêncio-

-Não –respondeu Luís- Pelo contrário ! Está divino,como sempre –bebeu um pouco de vinho-

-Não sabia que cozinhava tão bem –Fogaça murmurou atraindo os olhares de todos da mesa - Estou surpreso –disse ao finalizar o prato-

-Gracias Henriq...Fogaça –corrigiu a si própria- Tambiém me surpreendi por su capacidad de reunir a los platos –desviou o olhar para mesa tentando não se perder naquele abismo que o olhar do tatuado possuía-

-Deveria contratar o Fogaça pro Julio Cocina –Fernando falou assim que terminou de comer-Seria bom para ele começar a estagiar,para ver se é isso que ele realmente quer

-Sí...-murmurou Paola- Caso necessite de algum funcionário,me comunicaré –ajeitou rapidamente uma mecha de cabelo que insistia em cair na frente do seu rosto-

Na verdade,a chef estava precisando urgentemente de um novo funcionário,porém,por puro orgulho,não queria deixar uma má impressão naquele momento,tentou ser firme em sua fala,transparecendo que tudo estava as mil maravilhas.Abaixou a cabeça e tentou raciocinar como iria entrar em contato com aquele homem,entretanto,seus pensamentos logo foram interrompidos por uma voz infantil no lóbulo da sua orelha.

-Mamá,tengo suenõ –sussurrou baixinho,abafando a voz  por um suspiro cansado-

-Vou te levar a la habitación –pediu licença e levantou-se da mesa,pegou a loirinha pelo colo e logo dirigiu-se até o corredor-

O quarto de Francesca possuía uma decoração delicada.A parede oposta com a janela era pintada de rosa,as demais,eram brancas.Havia alguns brinquedos espalhados pelo carpete,de modo no qual,Paola teve que se esquivar vagarosamente para não machucar seu próprio pé,afinal,eram peças de lego,e por Dios ! como aquilo machucava.Deitou a menina lentamente,uma vez que entre o espaço de tempo de pega-la na cadeira e levá-la até o quarto,a mesma já tinha entrado em estado de sono profundo.Fechou a janela juntamente com a cortina cinza,deu um beijo demorado na testa,levantou com o mesmo cuidado anterior,porém,antes de fechar a porta,escutou uma voz sonolenta ecoar no ambiente.

-Mamá...quédate aquí conmigo –suspirou tentando vencer o sono-

-Fran,estamos com visita –sussurrou baixo- Tengo que ir a la sala –olhou na direção do corredor-

-Nunca tiene tiempo para mi –falou com a voz embargada-

Aquela última frase foi a linha tênue para Paola juntar-se com a menina,de fato,a argentina era extremamente ocupada e na maioria das vezes,só ficava com sua filha ao final do dia,quando ambas estavam cansadas e mal tinham tempo de trocar palavras,pois a exaustão era mais forte.A chef adentrou seu corpo debaixo do lençol,ficou acariciando os fios loiros que desvencilhavam-se lentamente pelo travesseiro,sentiu uma mãozinha pequena entrelaçar a sua mão direita fortemente,em poucos minutos,as duas haviam caído no sono.

Ao escutar um prato se chocando contra a pia,instantaneamente Carosella levantou-se da cama,apanhou os sapatos que haviam caído do pé,dirigiu-se lentamente até a cozinha,pensou em pegar o telefone e discar o número da polícia,mas tentou agir por conta própria.Observou todo o ambiente da sala,ao virar-se para trás,deixou um grito escapar dentre os lábios.

-Estás loco ? –engoliu seco ao ver fogaça na sua frente-

-Desculpa,eu não queria te assustar –sorriu tentando mais uma vez conter o riso- O pessoal saiu a pouco tempo,te esperamos voltar do quarto da sua filha mas quando o Fernando passou em frente e viu que você estava dormindo,não quis te acordar.

-Mierda –suspirou fundo- Yo no deberia haber dormido...Pero,qué haces aqui ? São quase duas horas da manhã –encarou o relógio que enfeitava o pulso-

-Estava lavando a louça,não queria deixar tudo para você limpar –voltou o olhar para a pia-

-No é necessário –balançou a cabeça negativamente-Deve estar cansado,puede ir

-Estou perto de terminar –encarou a argentina arqueando a sobrancelha esquerda-Eu insisto

Paola não relutou.Dirigiu-se até o pequeno armário de madeira,pegou um vinho do porto juntamente com duas taças,colocou as mesmas no balcão.

-Puedes me acompanhar ? –levantou uma das taças pelo ar-

-Isto não são horas de beber ... –o tatuado fechou a torneira lançando um olhar para o relógio que estava em seu próprio braço-

-Tampoco es el momento de lava los platos e nem por isso estou reclamando –olhou de um modo desafiador-

-Só vou aceitar porque não quero ser mal educado –balançou a cabeça abafando sua fala por um riso baixo-

Talvez devido a rapidez com que o álcool foi ingerido,ou,simplesmente pelo o fato de serem incrivelmente diferente e ao mesmo tempo tão parecidos,os dois já estavam gargalhando pelos quatro cantos da casa.Paola bagunçava o cabelo e negava a cabeça em um tom de reprovação,toda vez que Fogaça contava uma piada até então sem graça,porém ao ser entoada com dificuldade,a história tomava graça por si própria.Em poucos minutos de silêncio,Henrique retirou o celular do bolso e pós para tocar a música ‘’She’’

-Por dios ! –Paola exclamou- Eu amo essa música –sorriu involuntariamente-

-Me concede esta dança,senhorita ? –Fogaça foi até a chef,abaixou um pouco seu corpo,numa tentativa falha de cumprimento-

A chef não hesitou.Lá estavam eles,rodopiando por toda a sala ao som daquela canção que remetia Paola ao seu passado,com isso,a argentina deitou a cabeça sob o ombro do convidado,fechou os olhos e por um minuto,sentiu-se novamente na argentina.Podia até sentir o cheiro da horta que enfeitava a janela do seu quarto,todos os dias pela manhã. Não perceberam quando a música acabou e continuaram dançando mesmo sem melodia,apenas com os galhos secos batendo pela vidraça escura.Fogaça tentou arriscar em um passo,girando os dois corpos no mesmo instante,entretanto,algo deu errado e os dois foram para no tapete escuro.

Logo gargalharam sem medo de acordar nenhum vizinho,Paola tentou ficar em silêncio mas ao encarar Henrique,um riso doce escapou do seu lábio.Pouco falaram,apenas ficaram ali deitados no chão,com alguns respingos de champanhe pela roupa.O tatuado podia ouvir a respiração ofegante ao seu lado,ignorou algumas mensagens que chegaram em seu celular,encarou lentamente aqueles olhos oblíquos que a morena possuía.Por sua vez,ela parecia não se importar com o relógio ou com a hora que teria de acordar para ir pro restaurante,queria apenas aproveitar aquele momento que o acaso lhe escrevera,

  '' She who always seems so happy in a crowd,whose eyes can be so private and so proud... '' / ''Ela, que sempre parece tão feliz no meio da multidão,com os olhos tão pessoais e tão orgulhosos'' (Charles Aznavour)