História O Quarto Massacre Quaternário: Dangerous Mad - 99a Edição dos Jogos Vorazes - Notas Individuais

PDV NARRADOR

(...)

E puxou do fundo do seu verdadeiro eu a Mad que passava horas sozinha na floresta treinando e se aperfeiçoando. Era ela quem Madison precisava ser agora. Ela foi até o armário de manequins e selecionou 5 bonecos. Colocou-os um ao lado do outro, numa distância de quase 50 metros de si. E então, caminhou até o porta-armas. Pegou 5 lanças metálicas. E se posicionou. Respirou fundo.

Madison atirou as lanças em três manequins, com uma velocidade impressionante. Todas se cravaram em áreas chaves, como peito, cabeça, coração, e pernas. Para impedir que o tributo continue correndo, se estiver em fuga. Depois, ela foi até a área que avistou uma centenas de facas de treinamento. Eram pontiagudas, praticamente só as lâminas das adagas. Escolheu umas três, e posicionou-se um pouco mais longe do quarto manequim. Até mesmo Madison se surpreendeu quando atirou as três facas ao mesmo tempo e elas cortaram o ar diretamente na direção do pescoço do boneco. Ele foi decapitado com violência, e Madison arregalou levemente os olhos. Nunca tinha feito isso antes. Ela treinava atirando em árvores, em alvos mal confeccionados criados por ela mesma. Jamais treinara em um boneco com cabeça e pernas. E seu estômago se revirou imaginando fazer isso na vida real. Ver o sangue jorrando e uma vida se esvaindo. Meu deus.

Balançou levemente a cabeça e foi na direção da sua última arma. Sua preferida. O arco e flecha. Era a arma mais mortal que alguém poderia ter dentro da Arena. Mais do que uma espada, ou uma faca. Mais até do que um tridente. Porque combater o seu oponente corpo a corpo e se arriscar a ser ferido, se você pode matá-lo de uma distância considerável cravando uma flecha no meio do seu peito? Fora que as flechas são incontáveis. Facas não. E nem espadas. Madison posicionou-se numa distância maior ainda, de frente para o último boneco manequim. E lhe cravejou de flechas, na cabeça, nos braços, pescoço, pernas, e no meio do peito. Não errou um alvo. Olhou para os 5 manequins completamente destruídos e incapacitados, e sentiu-se orgulhosa do seu desempenho. Pra quem não era Carreirista e jamais sequer tinha treinado em uma Academia estava excelente. Mais do que excelente. Olhou para os Idealizadores e eles pareciam bem impressionados com as suas habilidades. Conversavam entre si, balançando positivamente a cabeça. O Idealizador-Chefe lhe dispensou, e ela deixou o arco e flecha em cima de um dos balcões antes de sair. Estava com um sorriso no rosto. Com certeza receberia uma nota de 7 a 10. Nota média entre os Carreiristas quase todas as Edições. Se conseguisse uma assim, poderia ganhar vários patrocinadores.

***

Já de noite, o estilista de Madison tinha preparado uma roupa extremamente linda e extravagante para ela vestir. O objetivo da Entrevista na Tv Panem com Caesar Flickermann era chamar atenção das pessoas. Chamar atenção. E chamar atenção. Ponto final. Todos usariam looks pomposos, de gala, bonitos, e radiantes. E o de Madison poderia muito bem ser o mais chamativo de todos. O nome da sua roupa era Lago Azul. Remetendo ao lago e a lagoa que banhavam o litoral do Distrito 4. Madison tinha amado essa homenagem. Ela crescera nadando naquele lugar. Lhe relembrava sua infância. Seu estilista, Perempius Magnus, era famoso na Capital por sua criatividade e seu gosto impecável. Ele era incrivelmente carinhoso com Madison, e lhe garantiu que lhe faria a roupa mais linda dessa edição dos Jogos. E fez. Seu vestido azul era cravejado com pedras em brilhantes e destacava suas pernas torneadas e seios voluptuosos. Na parte de trás, plumas azul piscina se dependiam por todas suas costas, formando uma cauda impressionante. Parecia uma sereia das águas do oeste. E para complementar seu look, vestia sandálias de salto alto e luvas até a altura do cotovelo. O cabelo castanho comprido Perempius optou por deixar ondulado e solto, complementando seu rosto perfeito. O olhar caprichado na sensualidade como sempre, bem delineado.

- Você está um arraso. Esses olhos são de matar. Literalmente _ele tinha comentado no camarim, dando uma risadinha irônica. Madison não se conteve e riu também. Ela realmente estava de matar. Ele tinha a transformado em uma modelo internacional, numa deusa. A roupa era perfeita. A maquiagem também. O público iria amar. Poderia conquistar mais patrocinadores somente com seu charme, com seu encanto.

- Obrigada, eu amei muito. Você fez um trabalho incrível, Pere _Madison o tratava por um apelido já. Depois daqueles jogos, Perempius viria a se tornar o seu estilista oficial, e lhe acompanharia durante absolutamente todos os seus eventos como Vitoriosa. Na Turnê da Vitória, na festa presencial do Presidente Snow e outros. E lhe faria um look mais extraordinário que o outro. Mas naquela época Madison ainda não sabia disso. Apenas estava grata por ter conhecido uma pessoa tão querida e tão amável nesse processo doloroso dos Jogos.

- Que nada, princesa. Venha, você precisa descer porque logo logo já vão anunciar as notas individuais _ele disse enquanto a ajudava a se virar. A cauda do vestido era leve, mas muito grande. Então ele a segurou para que ela pudesse atravessar as portas duplas do camarim, e descer as escadas.

Menos de 15 minutos depois, todos os 24 tributos da 99ª Edição dos Jogos Vorazes já estavam a postos atrás do palco principal da Tv Panem. Lá atrás, diversos televisores e telões estavam ligados para que todos pudessem ver e acompanhar as entrevistas dos tributos. Essa parte dos Jogos eram muito importante. Nas entrevistas, as pessoas poderiam deixar escapar alguma técnica que você poderia usar contra ela dentro da Arena. Sem a devida orientação, alguns tributos chegavam até a revelar suas armas preferidas, seus pontos fortes. Ou demonstravam medo, nervosismo. Tudo isso era bem observado pelo resto dos tributos, pelos patrocinadores e por toda Panem. Por isso a importância desse momento. Entretanto, Madison estava tranquila. Iria encenar o seu personagem, e era boa nisso. Seria a Madison confiante, poderosa, perigosa, e bonita. Amável e amigável. Seria fácil. Era só fingir que amava estar ali. Que tinha se voluntariado por ter a certeza absoluta de que seria a Vencedora.

Mas, antes disso, seriam reveladas as notas individuais. Para isso sim Madison estava um pouco nervosa. Porque ela não tinha feito nenhum teatro lá dentro. Tinha sido ela mesma, e usado os conhecimentos que aprendera com seu pai. Que aprendera sozinha durante anos de treinamento no aconchego da Floresta do Distrito 4. Queria saber qual era a nota que os Idealizadores dariam pelo seu desempenho e esforço de anos. Se era o suficiente para estar entre os candidatos mais fortes à coroa. Se seria temida na Arena, ou seria uma chacota.

- Muito boa noite Panem _Caesar Flickermann deu um grito e uma risada espalhafatosa enquanto adentrava o palco principal. Madison chegou a se assustar, pois estava perdida em pensamentos. Todos os tributos ao seu lado se ajeitaram, e mudaram de posição. Aguardando o início do Show. Aguardando o início de tudo.

Caesar já não era mais tão novo quanto antigamente, mas as rugas e pés de galinha da idade estavam bem escondidas por tratamentos estéticos caríssimos. A cara recheada de botox e lifting não enganava ninguém. Ele deveria estar com mais de 70 anos. Porém, não tinha perdido o seu brilho. E o seu jeito extravagante, mirabolante e chamativo de ser. Sua risada e os aplausos da plateia imensa e animada soaram por todos os lados. O auditório estava cheio, e a noite seria longa. Caesar usava um terno laranja brilhoso, e um par de óculos chamativos e chiques. Acenou para que a plateia se sentasse, e agradeceu pelos aplausos. Discursou inicialmente sobre o quanto essa noite era mágica, e sobre a importância dos jogos. Complementou também que ele ansiava por esse dia especial todos os anos, adorava entrevistar todos os tributos e conhecer um pouco melhor de cada um. Madison achou isso macabro. Como é que ele gostava de entrevistar as pessoas, e logo depois vê-las morrendo uma a uma? Quem é tão bizarro a esse ponto? Ficou alimentando o seu bla bla bla mental de sempre, quando finalmente Caesar disse que estava na hora de anunciar as notas individuais. Seu coração gelou. E o sangue pareceu parar de circular nas veias.

Ao invés de anunciar ele mesmo, ali ao vivo, eles passaram uma gravação. No vídeo,  Caesar estava atrás de uma bancada marrom, sentado e com diversos papéis na mão. Vestia o mesmo terno laranja, e Madison percebeu que tinha sido filmado há poucos minutos atrás. Sem mais delongas, ele começou a anunciar as notas. Na tela, do seu lado direito, aparecia a foto do tributo. E no lado esquerdo, a nota em número gigantescos e vermelhos. De 1 a 12, sendo um a pior nota, e doze a maior. Ninguém jamais tinha tirado doze, exceto alguns vitoriosos durante o Terceiro Massacre Quaternário, há 25 anos atrás. Os jogos que foram anulados. Os únicos Jogos da história de Panem que não houve um vencedor. O presidente Coriolanus Snow, na época, anunciou que o 3° Massacre Quaternário, e 75ª Edição dos Jogos Vorazes, seria realizado somente com os Vitoriosos Antigos. A Colheita foi dentro do rol de Vencedores, e os 24 tributos que adentraram na Arena já tinham vencido uma edição anterior. Ou seja, eram assassinos experientes. Foi uma edição sangrenta e terrível, e culminou na morte de absolutamente todos os tributos. Não houve nenhum sobrevivente, porque os Idealizadores do Jogos explodiram completamente a Arena quando perceberam uma tentativa de fuga. Alguns apoiadores da causa rebelde tentaram organizar uma rebelião por entre os distritos, assim como nos Dias Escuros antes da criação dos Jogos Vorazes. A equipe dos rebeldes tentou resgatar alguns tributos vitoriosos de dentro da Arena, entre eles Katniss Everdeen, Peeta Mellark, Finnick Odair e outros famosos. Mas o Idealizador-Chefe, Plutarch Heavensbee, explodiu a Arena a mando do Presidente Snow. E todos os tributos ainda restantes naquela altura do jogo, foram mortos. Não houve vencedor, e toda a ideia de Rebelião fora finalizada. Massacrada e enterrada à sete palmos de terra. Madison ainda não tinha nascido nessa época, mas seus pais sim. E eles lhe contavam histórias incríveis sobre como o povo estava disposto a lutar pelos seus direitos. Sobre como o povo tinha se enchido de esperança, e como suas esperanças foram arrancadas com uma punhalada no coração. Sua mãe, Maysa, lhe confessara que tinha chorado por uma semana por causa da morte Katniss Everdeen.

- O tributo masculino do Distrito 1: Viggo Lynford. Com nota 9 _Flickermann anunciou, com um sorriso no rosto. A foto do garoto forte e moreno do Distrito 1 apareceu no canto da tela. Madison ouviu um arquejo de raiva vindo do lado esquerdo da sala backstage. O tal Viggo aparentemente não tinha ficado nada satisfeito com a sua nota. Um nove e ele não estava feliz? Que coisa mais patética, Mad pensou.

- O tributo feminino do Distrito 1: Saffron Wildor. Com nota 10 _Caesar continuou. E a foto de uma menina loira e muito bonita apareceu na tela. Meu deus. Só nota alta. O padrão dos Carreiristas nunca baixava. A tal Saffron, seja lá quem quer que tenha lhe dado esse nome bizarro, deu um gritinho de felicidade. Parecia uma criança de 10 anos saltitando porque ganhou um doce.

- O tributo masculino do Distrito 2: Theo Hayes. Com nota 8 _ele continuou. Esse tal Theo era o garoto mais alto que Madison já tinha visto na vida. Ele era mais alto do que o seu pai. E Ethan Mason deveria ter quase 2 metros de altura. Tinha fermento nesse esperma hein, Madison pensou. E deu uma risada, pensando no quanto estava sendo abobada por fazer essas piadinhas sujas. Algumas pessoas ao seu redor lhe olharam como se ela estivesse louca. Quem é que ri das notas altas dos Carreiristas? Só quem tem o desejo suicida mesmo. Se concentra, Madison. Ela respirou fundo e continuou acompanhando as notas.

- O tributo masculino do Distrito 3: Joel Cambric. Com nota 5 _Caesar anunciou, e a imagem de um garoto de aparentemente 14 anos apareceu na tela. Ele era muito novo. Muito pequeno. Fraco. E sua nota corroborava com isso. Madison tinha muita raiva dessas coisas. Aquelas crianças não deveriam estar ali. Não deveriam. Caesar continuou anunciando as notas, até chegar na sua. Duncan tinha tirado um 7, e Madison lhe lançou um sorriso por sobre o ombro. Ele estava apoiado na porta de entrada, do outro lado da sala. Sua expressão não pareceu decepcionada, mas também não estava feliz.

- O tributo feminino do Distrito 4 _Caesar falou, e Madison sentiu o seu coração disparar. Poderia ter feito xixi nas calças naquele exato momento. Respira fundo, Madison. Respira fundo. Ela fechou os olhos, e esperou a voz de Caesar anunciar a sua nota.

- Madison Mason. Com nota 11. Incrível _ele fizera um comentário a mais. Caesar nunca fazia comentários sobre as notas. Ai meu deus. NOTA 11? Ela tinha mesmo tirado nota onze? Como assim? Meu deus do céu. Se não tivesse segurado, definitivamente teria feito xixi. Ou se cagado. De tanto nervosismo. Madison riu de si mesma, abriu um sorriso de orelha a orelha. Puta que pariu. Se permitiu pensar um milhão de palavrões, para aliviar o nervosismo. Tinha tirado uma nota maior que a de todos os Carreiristas. Como isso era possível?

O resto do anúncio das notas foi um borrão para ela. Apenas prestou atenção no anúncio das notas de um menino do Distrito 7.

- O tributo masculino do distrito 7: Dominic Bauhaus. Com nota 1. Tenho certeza que isso não é um engano _Caesar comentou também, com uma cara desapontada. Foi a única nota que ele adicionara um comentário, além da sua. Então Madison percebeu. Sua nota era a maior de todas. E a do tal Dominic era a menor. Sentiu uma calafrio de excitação. Sua nota era a maior de todas, ela pensou de novo. Será que ela seria a favorita da edição?

Depois de quase 1 hora de enrolação no programa, chegara a sua vez de subir ao palco. Os tributos femininos de cada distrito entravam antes, então Duncan ainda estava no aguardo quando Caesar anunciou o seu nome.

- Vocês sabem que ela é a estrela da noite. Senhoras e senhores, recebem a maravilhosa Madison Mason _ele gritou com sua voz cativante, e deu aquela risada reconhecida pelo país inteiro. A multidão gritava, enlouquecida. Mad nunca tinha visto nada igual. Parecia tão errado. Porque as pessoas ovacionam alguém que está indo para uma Arena morrer? Qual é o sentido disso? Porque estavam ali? Porque se divertiam com o sofrimento dos outros? Mas não era hora disso. Então Madison suspirou profundamente e pensou consigo mesma: hora do Show.

***