O vento fresco da primavera acariciava seu rosto e o perfumes das flores preferidas dela enchia o ar. Mycroft sorria pequeno ao constatar que o cemitério onde ela estava enterrada se encontrava verde e florido, alegre, ela ficaria feliz. Tinha acabado de chegar de Budapeste e ele havia decidido que iria visita-la para lhe contar sobre Charlote, lhe dizer que sua missão enfim havia sido cumprida. A mente analítica do Holmes sabia que aquele ato era ilógico, mas com Angel ele sempre agiu com o coração, nunca com o cérebro. Estava agora parado de frente ao túmulo dela, mandou fazer especialmente para ela, anjos enfeitavam a lápide e o nome verdadeiro sendo usado. Margareth Annie Collins Hooper. Enterrada ao lado dos túmulos dos pais, como sempre ela desejou, enfim reunida com sua família.
Pouco depois de chegar ali, Mycroft sentiu alguém se aproximar por suas costas, cumprimentou cordialmente o homem que agora parava ao seu lado.
- Bom dia senhor Ausubel. Também veio contar a ela o status da missão? – Perguntou solene.
- Também. Mas vim sobretudo me despedir. – Respondeu o agente. – Não voltarei mais aqui. Tenho muitos lugares para ir e muitas pessoas para encontrar. Afinal, preciso continuar a cumprir minha promessa.
- Sim. Concordo. É preciso que todos no mundo saibam que o agente Arcanjo ainda está vivo, que Molly Hooper nunca foi a agente, apenas um bode expiratório, um artifício que ludibriou o governo inglês. – Concluiu o mais velho.
- Exato. E para isso eu vou convencê-los que o verdadeiro Arcanjo sempre fui eu. Não será tão difícil levando em conta que usei a capa do Arcanjo por mais tempo que qualquer um.
- Fato. – Disse o Holmes. – Mudando de assunto senhor Ausubel, você foi de longe quem mais conviveu com ela de todos nós que a amamos, você sabe todos os seus segredos, dedicou sua vida a ela, tudo foi por conta de uma promessa? A promessa que fez a Angel?
- Não a Angel, tudo foi por conta de uma promessa sim, que fiz na infância, mas eu prometi a irmã dela. A Molly.
- Gêmeas... Quem diria? – Divagava Mycroft. – Pensei que o amor que sentia por meus irmãos era imenso, mas ela também me superou nesse quesito. Sua vida sempre girou em torno da segurança de sua irmã.
- Você e Angel sempre foram muito parecidos, talvez por isso ela o escolheu para ser o dono de seu coração. – Concluiu Ausubel. – Contudo, tenho que admitir que foi uma grande piada do destino que Molly Hooper se apaixonasse por Sherlock Holmes. No final perdi pra dois Holmes diferentes.
- Você também amava Molly? – Quis saber o mais velho.
- Primeiro amor de infância. Logo depois conheci Angel, aí me apaixonei de fato. – Sorriu ao relembrar o agente. – Sua família tem a tendência a bagunçar minha vida amorosa.
- De fato. – Respondeu curto. – Cuidado com Eurus, Ausubel, ela dificilmente age de um jeito comum.
- Está falando com alguém que passou a vida toda convivendo com Angel e Caos, acho que tenho um pouco de experiência no assunto. – Sorriu cínico. – Ciúmes da irmã?
- Só tome cuidado... – Preveniu o Holmes.
- Tomarei.- Disse o agente. - Diga-me Mycroft, vai tentar esquecê-la novamente. - Interrogou.
- Não ousaria, também fiz uma promessa Ausubel, não vou me fechar para o amor e para tanto não posso esquecer o único amor de minha vida. - Respondeu o Holmes. – Para onde vai agora Ausubel? - Quis saber.
- Tóquio, Moscou, Sicília, Los Angeles, El Salvador, Rabat, entre outros, mas se quer saber minha primeira parada, será em Istambul, na Turquia.
- Máfia Turca. – Disse Mycroft ao entregar para Ausubel um tablet que trazia no bolso interno do paletó. – Vai precisar disso. Tudo que consegui reunir sobre eles, sendo do governo não posso fazer muita coisa, mas já o Arcanjo, traidor da coroa, tem autonomia pra fazer o que quiser, creio eu.
Ausubel sorriu ao receber o equipamento. Seria bem útil em sua missão de dizimar cada integrante da máfia que tinha lhe tirado sua melhor amiga. Guardou em segurança em seu bolso. Os dois ainda ficaram por um bom tempo conversando sobre Angel, sobre todas as aventuras e missões, sobre os melhores momentos do Arcanjo, uma vida suficientemente rica que daria um excelente livro, suas memórias póstumas.
(Flashback 1 – Nascimento das irmãs Hooper)
- São lindas, querido. Nossas princesas – Falava Eleonor Hooper emocionada ao segurar uma das gêmeas após o parto.
- Que nome daremos a elas meu amor? – Perguntava o relojoeiro exultante.
- Margareth Annie e Margareth Claire. Duas Hooper’s. – Respondeu a mulher ao receber um beijo na testa de seu marido.
(Flashback 2 – 11 meses após o nascimento das irmãs Hooper’s)
- Leite... de... Soja... – Falava a mais velha das gêmeas, lendo a caixa que estava sobre a mesa, sob o olhar perplexo dos pais, sua irmã ainda tentava balbuciar as primeiras palavras.
- Ela leu? – Disse Christopher estufefato.
- Sim... Ela é especial. – Concluiu Eleonor tão assustada quanto o marido. Seu maior medo tinha se realizado, sua vida comum, aquela que idealizara quando decidiu se casar um relojoeiro e deixar seu passado de agente para trás havia acabado. Seria uma questão de tempo para ou o governo ou seus inúmeros inimigos ficarem sabendo da pequena prodígio. Ela então tomou uma decisão dolorosa, a pior que já tomara, teria que voltar a trabalhar para o governo, eles a ajudariam a proteger a filha, mas também teria que abandonar seu marido e dar a chance de sua outra filha ter uma vida comum, criada pelo pai.
Um mês e muitas brigas depois, a gêmea mais velha acompanhava a mãe num carro oficial enquanto o pai ficava chorando com Molly nos braços, tão nova que se esqueceu deste fato do passado e acreditou na história que o pai lhe contava quando era mais velha e indagava o porque não ter a mãe por perto. “Ela morreu quando você nasceu minha querida, mas ela te amava muito.”
(Flashback 3 – Angel com cinco anos conversando com a mãe)
- Mamãe, Molly realmente nos esqueceu? E não consigo esquecer deles, do papai e dela!
- Sim meu amor, ela esqueceu, mas ela te ama muito, acredite, vocês nunca se separavam quando novas, e você não esqueceu por que é especial, sua mente é muito poderosa, por isso nós precisamos deixá-los, para protege-los.
- Eu entendo mamãe e eu também a amo, minha irmãzinha. – Sorriu a garotinha. – Podemos ir vê-la de novo, de longe, prometo não intervi.
- Desculpe meu anjo, tenho que lhe apresentar para alguém, ela é muito perigosa e você precisa controla-la. Essa é sua missão, mas me escute, ela nunca pode saber que você tem uma irmã. Ok? – Disse Eleonor.
- Tudo bem mamãe, qual o nome dela? – Perguntou Angel.
- Charlote Hargreaves. – Respondeu a mais velha.
(Flashback 4 – Dia em que Mark Collins foi apresentado a sua prima Angel Collins)
- Como pode ser tão parecida com a Molly? – Perguntava um Mark incrivelmente confuso ao ver uma cópia exata da amiga que tinha na outra cidade.
- Nós somos gêmeas. Ela não sabe. Acha que nossa mãe morreu no parto, mas ela só morreu a uma semana atrás num incêndio. Faço isso para protege-la, você pode me ajudar? – Disse a menina de nove anos com ar triste.
- Proteger a Molly? – Indagou Ausubel. A menina confirmou com a cabeça. – Claro! Eu fiz uma promessa! – Respondeu o garoto.
(Flashback 5 – Noite da suposta morte de Angel em Budapeste, quarto de hotel)
- Eu preciso fazer isso Ausubel, só assim posso parar Caos, só minha morte! – Gritava com Ausubel uma Angel irritada.
- Está louca?!? Não vou permitir isso! – Rebatia Ausubel raivosamente. – Não vou deixar você morrer.
- Não posso morrer ainda, não vou morrer! Não enquanto Molly estiver viva. Se Caos um dia a encontrar, ela vai achar que sou eu, ela vai querer vingança. Mesmo que você explique que somos gêmeas, Charlote é obcecada por mim, pode se tornar obcecada pela minha irmã. Tenho que protege-la. Entenda! – Completava Angel.
- Ninguém garante que você não morra mesmo com esse tiro! E mais, não vai dizer nem mesmo pra ele? Pro Mycroft? – Indagou o agente.
- Não! – Rebateu a mulher. – Se ele souber que minha morte é uma farsa, Charlote também descobre. Eu só posso confiar isso a você. Por favor... Vou fazer com ou sem você, mas se você não estiver debaixo daquela ponte eu realmente morrerei afogada. – Disse a mulher enquanto saia do quarto e se encaminhava para a ponte da Liberdade. Deixando Ausubel encurralado.
(Flashback 6 – Angel tocava piano numa ópera de Viena quando recebeu o telefonema)
- Aconteceu. – Disse Ausubel abalado. – Charlote viu uma foto no jornal onde Molly aparecia, ela quer vingança.
- Como? Você me disse que Molly é tímida, como ela pôde sair numa foto de jornal? – Retornou a mulher.
- Você não vai acreditar! Molly está envolvida com um Holmes, eu diria que se apaixonou por ele. – O agente fez uma pausa e o sangue de Angel gelou.
- Mycroft? – Perguntou temerosa.
- Não, o mais novo, o detetive gênio que lhe falei uma vez, Sherlock Holmes.
- Ok. Vamos colocar o plano em prática. Eu estou indo pra Inglaterra essa noite. – E desligou o telefone ainda atordoada, passaram-se muitos anos, mas aquela probabilidade sempre existiu, agora tinha que voltar, o Arcanjo tinha ressuscitado para salvar algo precioso para si. Sua irmã.
(Flashback 6 – Dia do telefonema de Eurus, poucas horas antes, no necrotério do Bart’s)
- Irmãs Gêmeas... – Repetia Molly completamente em choque. Tinha escutado toda aquela história que parecia ter sido extraída de um livro de ficção. Mas a semelhança perturbadora entre si e a mulher a sua frente era um fato. Parecia está olhando para um espelho, ela era seu reflexo.
- Nós somos, e eu já lhe contei meu plano, como também o que eu preciso que você faça, mas a decisão é sua, a escolha de me ajudar é sua, só lhe dei a proposta. Mas quero que tenha consciência de que se aceitar, não terá mais volta, você e eu nos tornaremos uma só e depois terei que morrer, ou seja, você como Molly Hooper, sua identidade pessoal, vai ter um fim.
- É muita coisa, eu estou tonta, por favor... eu preciso pensar. – Disse Molly ao se afastar da irmã. Estava abalada, com raiva, sentindo-se enganada a vida inteira. – Uma coisa. – Tornou a dizer. – Quando papai morreu...
- Eu fiquei sabendo, eu queria tanto te ajudar, está do seu lado, me perdoe. – Disse Angel visivelmente abalada também.
- Já chega. Vá embora e me deixe pensar. – Falou Molly ainda refletindo sobre aquela avalanche de sentimentos que caíra sobre si.
- Tudo bem, se decidir algo, Ausubel vai te encontrar. – Falou Angel saindo.
Molly encerrou o trabalho mais cedo, precisava ir pra casa, tinha muita coisa em jogo, sabia, mas tinha que considerar muito bem o que ia fazer, tinha uma vida que não queria abrir mão, saiu do Bart’s e foi pra casa, chegando lá sua cabeça latejava deveras, pensou em preparar um chá e quando pegava os ingredientes seu telefone tocou, era Sherlock...
(Flashback 7 – Noite da caçada no prédio abandonado, no carro, depois que fingiu ser sequestrada)
- Você está bem Molly? – Perguntou a outra passageira do carro. – Eles te machucaram?
- Não, estou bem. Você chegou na hora certa. Os capangas de Caos encurralaram Sherlock e a mim. Graças a Deus que você me salvou. – Respondia a patologista. – Mas e Sherlock, ele está bem? Aqueles homens vão feri-lo? – Falou aflita.
- Não se preocupe, o pai de seu filho está bem. Ausubel vai protege-lo. – Falou a outra castanha. – Escute! Tudo mudou, Caos está diferente, não posso mais envolve-la nisso. Estou te mandando pra um lugar seguro. Mycroft vai te levar.
- E você irmã? O que vai acontecer com você? – Indagou Molly.
- Também vou está segura nesses cinco meses. Preste atenção! Cuide do meu sobrinho direito ouviu! Eu te amo Molly e quero que fique segura. Confie em Mycroft e não se atreva a tentar me impedir, vai colocar seu bebê em risco.
- Eu estraguei tudo não foi? – Falou hesitante. – Indo atrás de Sherlock hoje, estraguei seu plano? – Falava com lágrimas nos olhos.
- Não! Você não estragou nada! Eu precisava disso, de toda essa imprevisibilidade. Você está me ajudando. Mas agora quero que cuide do meu sobrinho, essa é sua missão. – Disse Angel urgentemente.
- Não posso te deixar... acabei de ganhar uma irmã. Não posso te deixar lutar sozinha. – Insistiu a legista.
- Você não tem escolha. – Afirmou o Arcanjo ao, desta vez, desmaiar a sua irmã gêmea com um pano que realmente tinha clorofórmio.
(Flashback 8 – Casa de Mycroft Holmes, noite do encontro de Sherlock, Mycroft e o Arcanjo na ópera, poucas horas antes)
- Você está linda irmã. – Disse Angel ao alisar a proeminente barriga da Molly de sete meses.
- E enorme. – Conclui a outra. – Também pudera, estou sendo muito bem tratada, até montar um centro médico na própria casa o Mycroft fez para eu poder fazer todos os exames que preciso sem ter que ir a um hospital.
- Ele pode ser meio super-protetor. Acredite... eu sei. – Falou Angel ainda alisando a barriga de grávida da irmã.
- É hoje, não é? – Falou Molly taciturna.
- É sim. – Respondeu a outra endireitando a postura.
- Pode desistir, podemos achar outra alternativa. – Arriscou a legista.
- Me perdoe por te deixar de novo. Mas eu preciso te proteger, proteger nossa família. Mas você sempre terá a família Holmes te protegendo e terá seu grande amor ao seu lado.
- Nem sei se ele vai querer estar nesse tipo de relação comigo? – Disse Molly indecisa.
- Está brincando, não é?!! – Perguntou divertida. – Aquele Holmes é alucinado por você.
- E o irmão por você! – Respondeu Molly.
- O que posso fazer? Deve ser genético. Holmes e Hooper. H&H. – Riram as duas. Era uma despedida, sabiam disso. Elas nunca mais iriam se ver e quando o riso acabou, ambos se abraçaram forte e Molly viu Angel ir embora na companhia de Ausubel. Iriam para o Coliseum London, local onde Mycroft e seus pais já se encaminhavam. A farsa iria começar e Molly rezou para que Sherlock ficasse bem.
Dias atuais, cemitério onde Ausubel e Mycroft ainda se encontravam.
Os dois homens ainda ficaram um bom tempo lá, só contemplando o túmulo da Hooper mais velha, mais velha por poucos minutos. O silêncio era reconfortante para ambos, até o celular de Mycroft tocar, ele atender rápido depois de demorar quatro segundos conferindo o número no visor, mudar a expressão a medida que escutava as notícias que lhe eram repassadas.
- Tenho que ir. – Disse ao desligar e guardar o aparelho.
- Já está na hora? – Perguntou Ausubel curioso.
- Sim. – Respondeu o Holmes.
- Onde Sherlock está nesse momento? – Quis saber o agente.
- Em Sherrinford, com Eurus. Preciso mandar chama-lo. Já está acontecendo. – Completou o Holmes. – Você não vai?
- Não, pelo menos não hoje. – Disse sereno. – Quando for seguro eu vou, quando Molly estiver completamente livre da alcunha do Arcanjo.
- Você está certo. Mas vai ser uma pena que você não veja a cara do Sherlock quando ele souber o nome do filho. – Riu cinicamente Mycroft.
- Realmente! – Exclamou Ausubel. – Eu realmente queria ver isso... – Sorriu enquanto se afastava de Mycroft.
Provavelmente os dois trabalhariam juntos por muito tempo, afinal eles tinham um objetivo em comum. Proteger a família de Angel.
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