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História Sehun Contra o Mundo - João e João após a Construção


Escrita por: holydodo

Notas do Autor


Oh gente, me perdoem pela demora: não foi só porque comecei a trabalhar, pois comecei dia 23 de agosto. Antes disso, eu tava era com preguiça mesmo (não vou mentir pra vocês) e me sentindo meio desmotivado. Peço desculpas por tê-los feito esperar. Como hoje é a folga na qual eu mais acordei disposto, vim terminar de escrever o capítulo e atualizar essa caralha logo.
Vocês gostam de capítulo grande, né? Espero que gostem desse também!

Capítulo 7 - João e João após a Construção


 

 

Agora eu era o herói

E o meu cavalo só falava inglês

A noiva do cowboy

Era você além das outras três

Eu enfrentava os batalhões

Os alemães e seus canhões

Guardava o meu bodoque

E ensaiava o rock para as matinês

 

Se chove, é porque está muito quente para nevar. Se neva, é porque está muito frio para nevar. Havia chovido a manhã inteira, então casacos não foram tirados das bolsas e mochilas paulistanas enquanto iam para o trabalho ou voltavam da Desmanche. Por sorte, Baekhyun possuía uma blusa de moletom no carro, pois ao cair da tarde, a ventania hostil tirou as pessoas das ruas e levou os moradores de rua às calçadas das lojas, mas logo foram afastados pelos donos.

Para esquentar o corpo, caminhou da Paulista até a República, distância a qual estava acostumado a percorrer a pé, para vislumbrar todas aquelas facetas desoladas no Vale do Anhangabaú e na Praça dos Correios em corpos encolhidos contra as paredes dos prédios e muretas das calçadas. Aquilo o deixava com um vazio imenso: havia tantas crianças em meio a adultos marcados pelo fracasso que o deixava amedrontado com o próprio sonho de ter filhos. Sim, em meio a tantos jovens que sentem medo de gravidez, Baekhyun gostaria de casar e adotar uma criança, talvez duas ou três, mas, de preferência, uma só, pois seu receio era que não conseguisse sustentar mais um de filho; o maior medo de alguém que sonha com filhos é precisar carregá-los dentro do metrô para comover pessoas e ganhar esmolas.

Pensou em Sehun por um não, mas por vários minutos enquanto subia as escadas para o Viaduto do Chá, ao lado do qual está o Shopping Light: aqueles rostos poderiam ser de Sehun. Eram de Sehun, pois Sehun também passava frio naquela tarde. Se estavam com fome, Sehun também estava com fome; se estavam doentes, Sehun também estava doente, porque o povo das ruas é um só: se a hostilidade toca um, então toca todos.

Quando menos esperou, seu copo de cappuccino havia acabado: só assim reparou no quanto havia caminhado. Saiu da Alameda Santos e foi parar no Vale do Anhangabaú, e ainda por cima sob chuviscos que, se São Pedro não fosse piedoso consigo, poderiam se tornar numa chuva lascada. Estava ao lado do Theatro Mvnicipal, então não estava tão longe da Galeria do Rock; estava se coçando para subir todos aqueles andares e vigiar a paróquia amarela do Largo do Paissandú do alto junto com todas aquelas cabeças se movendo pela praça, mas sabia que um uber talvez não o esperaria descer os lances de escada para chegar ao carro e adentrá-lo.

Aliás, estava quase na hora de voltar do almoço e nem sequer havia passado pelo Minhocão para ver Sehun, que, àquela altura, bem, Deus queira que ele esteja bem protegido pelas roupas que o doara.

Sob o toldo de uma bomboniere, esperava o uber vir para levá-lo de volta. O carro que chegou era branco como um táxi e de modelo popular, provando-o mais uma vez de que, sim, era um rapaz até que bem abastado; e tão bem abastado que sentiu o típico receio dos bancos rangerem ao adentrar o veículo. Motoristas de uber costumam ser frios em seus trajetos, respondendo às investidas de conversas com meias palavras sem arriscar uma olhadela ao passageiro; Baekhyun já estava mais do que acostumado àquilo, preferia o silêncio à falação dos taxistas, que inclusive o olharam torto quando o viu subindo num carro que simplesmente estacionou em frente à lojinha de doces — só podia ser um uber!

Na agência, o infeliz do Soo Man o perseguia, cobrando-o por ter atrasado três minutos para voltar do almoço, e só calou a boca e o deixou em paz quando pegou a câmera do armário e foi até o cenário decorado como um quadro Renascentista, dispensando o rapaz que estava cobrindo o seu turno enquanto não voltava do break. Ah, o tema da capa da GQ daquela edição era a volta aos maus e velhos tempos. A modelo de cachos artificialmente ruivos estava com suas olheiras, bochechas e lábios pintados de rosa de maneira exagerada enquanto o restante do rosto era branco feito a esclerótica de seus olhos, assim como a moça de trança loira ao seu lado e o moreno seminu, enrolado num lençol azul, que fazia uma pose típica de um anjo de Bouguereau, que era realista.

Flores e frutas para todos os lados, flashes piscando incessantemente e constantes sugestões como “agora coloque a mão, assim, no rosto” e “dê um sorriso agora; não, está sorrindo demais! Agora está sorrindo de menos! Ah, melhorou”. Logo os modelos davam lugar para outros três jovens serem fotografados e, por fim, os seis estavam reunidos como num afresco de Domenico Zampieri, que era barroco.

Enquanto a chuva baqueava contra as janelas, Byun editava as fotos que deveriam estar nas mãos do diretor no dia seguinte. Era um ótimo profissional quando o assunto era “tratar de imperfeições digitalmente”: bastava apagar no Photoshop aquilo que considerava charmoso e voilà: surgiam bonecas de cera na tela do Mac prontas para estamparem revistas. Ali, acabou por surgi-lo a brilhante ideia de fotografar Sehun qualquer dia: ele era lindo, não era? Então merecia ter sua beleza capturada por uma câmera e não, ninguém poderia adulterar o seu rosto com softwares malignos, pois não tinha nada para tirar ou colocar naquela faceta mestiça.

Assim, voltou a se preocupar com o namoradinho de infância: ele o deixou sozinho na manhã de natal para usar drogas. Bem, pelo menos não havia nada fora do lugar... Ele o deixou sozinho na manhã de natal para se drogar. Bem, pelo menos não foi com seu dinheiro... E daí? Estava preocupado como um pai que acabou de deixar sua filha numa nova creche; não sabia se deveria confiar em Sehun ou nas pessoas que o rodeavam. Não era como se o mais novo fosse um pivete que foge de casa durante o final de semana para usar drogas e escolhe o horário em que os pais estão trabalhando para voltar, tomar um banho e deitar na cama como se nada tivesse acontecido.

Por falar nisso... Uma vez, amassou-se com um rapaz sem cheiro que estava com um hálito danado de Duelo de maracujá num ponto de ônibus quando tinha ido ao baile do Cingapura, lá na zona leste, e percebeu que havia se fodido quando o rapaz disse que tinha sido expulso de casa pelo padrasto há meses, dormia na rua e só tomava banho quando transava na casa de alguma garota que conhecia pelo fluxo. Pensando bem, agora a única diferença é que conhece o morador de rua que acabou de apadrinhar e que o beija com fervor em seu apartamento.

Às 18:30, dirigiu até as ruas que o Minhocão cobria. Não chovia mais; as ruas estavam escuras de úmidas e havia um puta trânsito sentido leste, onde a maioria dos trabalhadores do centro e da zona oeste morava. Os postes sob o viaduto iluminavam as calçadas junto aos barzinhos e minimercados ainda abertos. No lugar característico, encontrou a manta que havia presenteado estendida sobre um corpo encolhido, recostado ao tubulão. Aproximou-se cautelosamente, com um tanto de receio por não saber em que estado se encontrava Sehun, e o chamou.

 

– Sehun...?

 

O garoto tardou a abaixar a manta na qual estava enrolado, revelando seu rosto de pouco a pouco, com um olhar um tanto desconfiado e... Dilatado.

 

– O-O que ‘cê ‘tá fazendo aqui? – perguntou urgente. – Alguém veio com você?

– Estou sozinho como sempre. – respondeu. – Eu queria te ver.

 

– Por quê? – olhava para os lados como se fugisse de alguém. – Por quê? Por quê? Quem te mandou aqui?

– Mano, eu só ‘tava com saudade. Você foi embora pra usar droga, me deixou sozinho na cama ontem...

 

– Perdão. – revelou as mãos trêmulas cobertas de erupções.

– ‘Magina, eu só... – acocorou-se.

 

De cenho franzido, seu olhar estava instalado sobre a úlcera encontrada no queixo alheio. Bem, drogas injetáveis costumam foder a pele, não é mesmo?

 

– ‘Cê tá bem?

– Eu ‘tô, tô bem... Agora vá embora! – arregalou os olhos. – An-Antes que te vejam aqui. – voltava a olhar para os lados como se estivesse... De fato, estava alucinando. – Eles não podem me achar! – voltou a se cobrir completamente.

 

Baekhyun suspirou. Num instante, lembrou-se da entrevista de Sehun dada ao SP Invisível: esquizofrenia. Aquele era um surto psicótico? Conseguia ver pela manta o quanto ele tremia. Engoliu em seco. Era um tanto assustador. Um fio de medo fora tecido em sua cabeça: será que poderia ser atacado?

 

– Sehun? – voltou a chamar. – ‘Cê quer vir almoçar comigo?

 

Conseguiu enxergá-lo se mover para os lados, dizendo “não”.

 

– Por que não? Tu sempre vem.

– Você ‘tá estragando o meu disfarce! – exclamou, escondido sob a manta.

 

Baekhyun deu de ombros.

No fundo, estava com o coração apertado no peito por não poder fazer nada. Estava fadado a sofrer assistindo-o sofrendo.

Ao entrar de volta no carro, enviou uma mensagem para Chanyeol, pedindo-o que passasse em seu apê. Estava a fim de distrair a mente, mas também estava a fim de levar Sehun consigo para casa, esfregá-lo as costas na banheira, então enrolá-lo em suas cobertas após uma caneca de achocolatado quente e dizê-lo que ninguém o encontraria ali, no refúgio que montara para ele.

 

Agora eu era o rei

Era o bedel e era também juiz

E pela minha lei

A gente era obrigado a ser feliz

E você era a princesa que eu fiz coroar

E era tão linda de se admirar

Que andava nua pelo meu país

 

Estavam sentados na mureta do vão do MASP saboreando garrafas vítreas de cerveja enquanto observavam aquele bando de universitários semiadultos badernando e trazendo bordões da internet para a vida real. Rolavam os olhos. Além de moças e rapazes de cabelos coloridos, blusas xadrez na cintura, tatuagens nos antebraços e copos do Starbucks na mão, havia um casal todo de branco fazendo um photoshoot na frente de uma das colunas vermelhas do museu. E, além daquele fotógrafo, Baekhyun estava com sua câmera endurada no pescoço; acabara de tirar fotos de seu amigo fazendo pose na charmosa ciclovia da Avenida Paulista.

 

– ‘Bora pra Desmanche? – Chanyeol sugeriu.

– Fazer o quê lá?

 

– Hoje é domingo, a entrada é gratuita até as dez, se não me engano. E toca MPB até anoitecer, ‘bora lá! – empurrou-o com o ombro.

– Eu não gosto de lá.

 

– Depois nós passa na Peixoto pra usar umas “droguíneas”. – sorria como o lunático que era.

 

Baekhyun riu soprado.

Apesar da única coisa que dava para se usar na Peixoto era maconha e, pasmem!, abominava qualquer tipo de fumo, aquela rua era até mais agradável do que a Augusta por causa dos bares que tocavam funk alto e não cobravam para deixar as pessoas se chuparem no banheiro. Fora isso, a Peixoto é tão confiável, com seus trombadinhas bem equipados com camisetas da Rihanna e franjas loiras, que parece até localizada na região da Tiquatira, na Penha. Todavia, antes ser assaltado enquanto dança funk na Peixoto do que passar a noite inteira no luau ou num slam na Praça Roosevelt com aquela freguesia do Grajaú, Campo Limpo, Capão Redondo, essas quebradas daquele lado da zona sul onde Baekhyun não arrisca colocar o pé.

Sim, ele é o noia mais elitista de todo o centro de São Paulo. Mais elitista do que a síndica de um daqueles prédios na Roosevelt, para quem cantaram “ei, síndica, vai tomar no cu!” como se fosse o novo hino nacional no aniversário de São Paulo.

 

Okay, ‘bora. – fungou.

– Nem cheirou ainda e já ‘tá escorrendo pelo nariz. – zombou-o.

 

– Vá cagar.

 

Levantaram-se da mureta e voltaram boas quadras até a estação Consolação, cujo do outro lado da calçada havia o banco Safra, que era como o marco-zero da Avenida Paulista para os jovens que queriam se aventurar por aquela região. A Rua Augusta estava um tanto movimentada porque começava a anoitecer e a garantia de entrada VIP de suas casas noturnas não duraria a noite inteira.

A fila ainda não estava muito grande, pois num fim de tarde de domingo toca MPB na Desmanche e ninguém consegue balançar a tal da raba ao som de Elza Soares. De qualquer forma, adentraram a casa vermelha e foram direto para o bar, pedindo do mediano para queimar seus esôfagos num só gole. Não era Elza Soares, mas Chico Buarque quem fazia a festa daquelas meninas de saiões listrados e tamancos que rodopiavam pela pista com um remix daquela música que toda professora de português já passou em alguma aula de gramática: “sentou pra descansar como se fosse sábado; comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe; bebeu e soluçou como se fosse um náufrago; dançou e gargalhou como se ouvisse música”.

Conseguiram algumas fotos com o fotógrafo da casa com poses simples demais para dois rapazes que estavam na Desmanche e, em seguida, Baekhyun se dispôs a fotografar Chanyeol sentado na escada, de pernas abertas, fechadas, cruzadas, esticadas, encolhidas... Até porque Chanyeol era um rapaz bem bonito. Mocinhas de cropped branco olhavam para ambos, tentando decifrar a sexualidade da dupla para, quem sabe?, darem uns amassos em um dos dois. Como não eram bobos, haviam percebido que chamavam a atenção de maneira libidinosa — até porque não é todo o dia que se vê dois asiáticos com perfil de k-idol em São Paulo; sendo assim, beijaram-se aos pés da escada, com apenas a câmera no pescoço de Díaz a separar os seus corpos.

Não viram o exato momento em que as moçoilas suspiraram arrasadas com aquela demonstração toda de afeto, mas sorriram em meio às luzes coloridas ao se separarem; Chanyeol ainda deixara uma lambidela pelos lábios do mais velho, que o devolveu um selo cujo estalo fora abafado pelo vozerão de Chico Buarque.

Ainda eram 20:15 quando saíram de lá: já havia fila do lado de fora para entrar, mas, por dentro, ainda era possível caminhar sem se esbarrar em corpos animados. Assim que pisaram os pés na calçada, foram pegos pela brisa que os obrigou a se abraçarem como dois irmãozinhos; bem, eram asiáticos, então qualquer racista cogitaria que eram irmãos.

 

– ‘Bora pr’aonde agora? – Baekhyun perguntou.

– Peixoto.

 

– Cara, eu tô com câmera, eu posso ser assaltado.

– Então ‘bora pra Roosevelt.

 

Vish... – sussurrou, já imaginando aqueles jovens tocando Capital Inicial no violão numa roda em frente ao posto da GCM.

 

Desceram a Augusta tranquilamente e não, não havia jovens tocando Capital Inicial no violão numa roda em frente ao posto da GCM. Uns andavam de skate — ou long, que seja, outros estavam sentados nas muretas que cercavam as arvorezinhas que nunca passavam de meros gravetos cobertos de folhas e havia os que vendiam zines de poesias e comidas caseiras. Só não estava ali a Yeri, a menina esquisita que revendia da biqueira por um preço que não valia à pena.

Sentaram-se sob uma das pseudo-árvores e soltaram um suspiro uníssono. Os postes da Roosevelt iluminavam tão bem que, se não fosse o horizonte a denunciar a noite, parecia que ainda estava entardecendo. Baekhyun tirou um maço do bolso de sua blusa xadrez, ofereceu um cigarro para Chanyeol, acenderam e tragaram para esquentar a boca naquele frio. Agora que resolveram fumar na praça, era só uma questão de tempo até aparecer algum maluco perguntando se tinham “bic”.

 

– ‘Pera... A gente vai embora como? ‘Cê tá sem carro. – Chanyeol perguntou.

– Eu chamo um uber. Deus me livre subir até a Higienópolis nesse breu. – cutucou o cigarro para as cinzas caírem ao chão.

 

O rapaz de skate que gritou “ó o verde!” ao passar por eles logo virou pauta de conversa:

 

– Meu, como a GCM deixa tanto zé droguinha pisar por aqui? Quando eu ‘tô indo embora da Marcone, sempre brota do inferno algum policial me pedindo RG. Eu nunca entendi isso, sério! – Chanyeol resmungou, balançando o cigarro para lá e para cá.

– Tu não ‘tá vendo as mochilinhas deles? Se não estiverem de férias, acabaram de entregar as DPs na Faculdade das Américas.

 

Chanyeol riu.

 

– Ou na UnicSul.

– Na UnicSul só tem favelado. – Baekhyun riu, tragando em seguida. – A nota de corte deles é ridícula, por isso só tem favelado.

 

Como dito: o noia mais elitista de todo o centro de São Paulo.

 

– Ou será que tem lanche dentro? – Chanyeol sugeriu, pois sempre carregava lanche dentro de sua mochila, tal qual o pão com peito de peru que havia comido no vão do MASP e dividido com Baekhyun.

– Só se for brisadeiro, né?

 

Era um vai-e-vem de jovens vendendo suas artes e guloseimas, além daqueles que achavam super inusitado encontrar dois asiáticos papeando numa língua estrangeira enquanto fumavam. Uma garota de cabelos fulvos se aproximou e perguntou se falavam português: “sim, falamos”; “parabéns, você não tem sotaque”; “somos brasileiros”, Díaz rolava os olhos, então a moçoila virava as costas, frustrada por não ter a oportunidade de mamar num gringo.

“Se eu estivesse em Guaianazes, já teria sido assaltado”, pensou Díaz Byun.

Elitista!

O mais velho estreitou os olhos: pensou ter visto uma figura conhecida se aproximar e, de fato, estava vendo, vindo sentido Consolação para a praça. Um pouco mais e se levantou, indo em direção a tal figura. Era Sehun. Sorriu. Ele parecia bem, olhando para os dois lados antes de atravessar a rua. Baekhyun largou o cigarro na metade, desceu as escadas e deu um abraço no rapaz quando este chegou, também sorridente. Ele ainda cheirava ao seu sabonete apesar de já ser dia 29. Seu peito se encheu de emoção, a qual deixava transbordar num sorriso de mostrar os dentes enquanto segurava o rosto dele com as mãos num sinal de admiração: queria beijá-lo, mas vai saber a última vez que ele escovou os dentes. Sendo assim, pousou a testa no peito alheio por alguns breves segundos, esfregando-a como Nini faz em si, e voltou a fitá-lo.

 

– Me fala como ‘cê ‘tá!

– ‘Tô suave. – Sehun respondeu, coçando a nuca. – O que ‘cê tá fazendo aqui a essa hora? ‘Cê tem um puta apêzão e não aproveita?

 

– Eu vim pro MASP, depois pra Desmanche... E agora ‘tô aqui.

– Seu cu não tranca de descer a Augusta sozinho a essa hora? Já fui assaltado por uma travesti nessa porra uma vez! – os olhos dele se arregalaram.

 

– Relaxa, ‘tô sozinho, não.

– Sério? Cadê o teu amigo? Ou a tua amiga?

 

Então Baekhyun o segurou pela mão e o guiou.

 

– Você deve se lembrar dele.

 

E se lembrou.

Os olhos de Sehun se arregalaram pela segunda vez ao ver aquele rapaz de pernas cruzadas e cigarro entre os dedos sorrindo para si. Era o mesmo que o entrevistou para o SP Invisível.

 

– E aí, cara? – apertou-o a mão, contendo a emoção de encontrá-lo em seu tom de voz, que saíra quase como um urro. – Como ‘cê ‘tá? Quanto tempo!

– Suave e você? – Chanyeol respondeu.

 

– Eu ‘tô ótimo! – sorriu sem jeito. – Foi por ele que você me encontrou, Baek?

– Somos colegas de trabalho.

 

– Eta, que sorte!

 

Os três se sentaram à pequena árvore desnuda para observar o céu, também desnudo, ao som de skates rolando pelo chão. Chanyeol se sentia um tanto enciumado pela maneira de como o amigo cruzava os antebraços com o morador de rua e deitava a cabeça ao ombro deste, como se fossem um recém-casal, e os invejava, pois há tempos não se agarrava a um mozão numa praça e ficava sossegado, observando a noite enquanto recebia carícias no ombro.

O afeto entre Baekhyun e Sehun era sufocante, e Sehun se sentia sufocado pela fumaça do cigarro que os fotógrafos baforavam. A energia que emanavam pelo tom de voz com o qual se dirigiam um ao outro era como a de um casal cuja união acabara de ser oficializada: era um afeto límpido, renovado pela intimidade recuperada entre as duas partes e fortificado pelo sentimento de que estariam juntos para sempre.

Quando as mãos se juntaram e os dedos se entrecruzaram, fora certeza de que vieram ao mundo para ficarem juntos.

 

Não, não fuja, não

Finja que agora eu era o seu brinquedo

Eu era o seu pião

O seu bicho preferido

Vem, me dê a mão

A gente agora já não tinha medo

No tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido

 

O uber deixou Chanyeol em sua casa e Baekhyun e Sehun no mesmo apartamento do Bom Retiro de sempre. Sehun escovava os dentes, já de corpo banhado e ainda nu, enquanto Baekhyun lavava os cabelos e o restante de si debaixo do chuveiro. Aguardou-o sair do banho para agarrá-lo ali mesmo, deixando alguns selos pelo ombro orvalhado antes de beijá-lo a boca. As unhas do anfitrião caminhavam pelas erupções em suas costas, que, na mentalidade deste, era fruto do vício em drogas, enquanto as unhas se enlaçavam como num beijo francês.

Com o gato em seu encalce, Sehun levou seu fotógrafo para a cama, onde o deitou aos beijos: beijava-o com devoção, beijava-o num ritual de adoração, apertando entre os dedos a gordura acumulada nos flancos enquanto seus lábios selavam o pescoço alvo num gesto de admiração. Ambos já estavam excitados, excitados pelos sentimentos que fluíam um pelo outro, e Baekhyun se encontrava entregue, com seu amante, seu namoradinho de adolescência entre as suas pernas, roçando a ereção recém-banhada à sua.

Os estalos de saliva se misturavam aos suspiros que evolavam das bocas. Os dedos se entrelaçavam enquanto os quadris nus e orvalhados se roçavam com sofreguidão; as palmas escorregavam, as falanges se cruzavam e as línguas trocavam carícias.  As mãos estavam sempre juntas, permaneceram juntas na medida em que o beijo se tornava cada vez mais intenso num sinal de que não queriam que aquela fosse apenas mais uma foda; queriam mesmo é gozar de tudo que os conectava, e gozar libidinosamente, sentimentalmente, emocionalmente... E gozavam fisicamente, com os dígitos atados em gesto de devoção um pelo outro.

Baekhyun tinha um hálito de nicotina ao qual Sehun se apegou; via-se tão viciado no sabor que se desprendia da língua do mais velho quanto este por cigarro. Baekhyun era o seu cigarro, o seu café, menos a sua heroína, a sua menina Garibaldi; ninguém poderia competir com ela, mas Sehun poderia competir com o cigarro de Baekhyun, pois seu beijo o despersonalizava daquele corpo cansado e daquela realidade estressante, levando-o para uma dimensão branca e branda.

Talvez já estivessem na tal dimensão em que apenas ambos existiam, pois nem um e nem outro se importava com o mundo afora enquanto os lábios se amassavam entre poucas mordidelas, nem mesmo davam uma foda para Nini, deitado aos pés da cama.

Sehun desceu o corpo do mais velho aos beijos e mordidas, deliciando-se com a carne que o rapaz tinha de sobra em seu abdômen: enchia a mão livre com a gordura do flanco e arrastava as unhas pela pele protuberante. Ao chegar ao falo, seus lábios primeiro deslizaram pela extensão de forma seca antes de um selo estalado na glande antes de contorná-la com a língua. Baekhyun soltou um suspiro gostoso e levou uma das mãos aos cabelos do maior, que o abocanhou em seguida.

A pequena boca do menino Oh era aconchegante: molhada, quente, com uma língua que serpenteava pelo falo do mais velho enquanto os lábios subiam e desciam pela extensão deste. Não era como receber um boquete de um grande amigo — não Chanyeol, que o chupava sobre a camisinha para não contaminá-lo — ou de qualquer outra pessoa em sua vida, pois seu peito pulsava em tesão e paixão enquanto era mamado por um rapaz que tirou o seu sono por algumas noites; tinha-o em suas mãos, coração, e ele lhe tinha na boca, subindo e descendo com esta pelo seu pau num ritmo tão vagaroso que o prazer se tornava doloroso.

Na glande, Sehun estalava sua língua com uma sugada breve que fazia o menor gemer manhoso. Descia pelo pênis pulsante com a língua, então subia e o abocanhava de uma vez, indo e vindo devagar, enlouquecendo Baekhyun, cujos dedos dos pés se contorciam. Os estalos de sucção eram apenas a prova do quão molhado — e delicioso — era o boquete de Oh. E o mais velho erguia o quadril levemente em direção à boca de seu namoradinho.

Apesar de enchê-lo a boca de pré-gozo num claro sinal de que estava deleitando muito bem dos lábios alheios, faltava uma coisa:

 

– Ei, ‘pera um pouco. Eu vou cheirar. – Díaz o empurrou.

– Cheirar?

 

– Sim, vai querer?

– Sai fora...! – pronunciou como se sobre as tatuagens de seus braços não houvesse bolhas de heroínas.

 

Quando Baekhyun se levantou da cama, à meia-luz, Sehun notou a celulite que se espalhava pelas coxas alheias, detalhe este que passara despercebido até então; eram como encaixes para os seus dedos. Sentiu-se tentado a escorrer as falanges pelas pernas dele, mas, desta vez, deixaria que seu olhar caminhasse sobre a pele granulosa para admirá-la melhor, para ver suas digitais se afundando pelas ondulações. O mais velho pegou do casaco atirado ao chão um pino amarelo, que podia ser facilmente confundido com uma tampa de caneta escolar de patricinha, e foi até a escrivaninha, acomodando-se na cadeira. Após fazer todo o processo de separar a ketamina em fileiras com um cartão de visitas que ele mesmo fez e inalar, voltou à cama.

Subiu no quadril de Sehun, posicionando a bunda sobre a ereção pura dele. Os pares de olhos se mantinham conectados enquanto corriam pensamentos iguais nas cabeças: “ele é lindo”, ambos pensavam. Os desejos que sentiam eram sincronizados pelos olhares apreciadores que trocavam. As mãos do mais novo foram às coxas fartas que cercavam seu quadril; talvez jamais se cansaria de apalpar aquele corpo tão Afrodite, cuja bunda se arrastava pelo seu falo desnudo enquanto os orbes amendoados o hipnotizavam.

Excitado, Sehun sentia o ânus do mais velho sendo roçado pela extensão de sua ereção. Sentia-se tentado a agarrá-lo o quadril e fodê-lo a seco. Desferiu um tapa sobre a coxa de Baekhyun, admirando a marca vermelha que ficou sobre a pele. O mais velho se abaixou para deixar um selo nos lábios de seu namoradinho, em seguida mordiscando-o o beiço inferior, fazendo-o implorar por um beijo francês.

Quando mordeu o queixo dele, com o dente bem em cima da úlcera, recebeu um silvo em resposta.

 

– Ó o queixo! – o mais novo o empurrou.

 

Baekhyun, em resposta, beijou a ferida.

 

– Onde você fez isso?

– Devo ter batido em algum canto.

 

O mais velho deu de ombros, passando a beijá-lo o pescoço.

Via como Sehun ficava mole quando o beijava sobre as artérias protuberantes. Lembrava-se de uma pinta que ele tinha, que, infelizmente, estava encoberta por tatuagens, as quais contornara com a língua. Eram selos estalados, moderados e demorados sobre a pele desenhada, deixando marcas rosadas sobre as linhas pretas tingidas em sua palidez.

Levantou-se lentamente sem desconectar seu olhar do de Sehun e uniu as ereções. Ainda a manter contato visual com ele, deixou um fio de saliva escorrer de seus lábios para os falos, mais especificamente sobre a glande do pequeno Oh, pela qual escorreu devagar. O mais novo mantinha o lábio inferior entre os dentes diante da sensualidade de Díaz. O fotógrafo, após mais um cuspe, este que acertara sua glande, segurou ambos os pênis em sua mão e passou a masturbar a si e ao seu namoradinho mutuamente, acabando por espalhar a saliva distribuída em dois filetes pelos sexos róseos.

Baekhyun não havia reparado na verruga na base do pau alheio, então continuou a deixar que sua glande se friccionasse à semelhante enquanto masturbava a si e ao namoradinho. Pulsava por senti-lo pulsar rente ao seu caralho, com o pré-gozo a transbordar das fendas das glandes róseas.

 

– Baek, vem cá. – Sehun chamou, fazendo gesto com uma das mãos.

 

Díaz entendeu como ele queria que viesse, então virou seu quadril e posicionou sua pélvis sobre o rosto alheio. A partir daí, o prédio inteiro soube o que aprontavam naquele quarto: o cu estava dormente, mas Sehun fazia uma pressão tão gostosa com a língua que era impossível não gemer com o membro dele em sua boca. Caía mais saliva do que o necessário dos lábios do “hispano”-coreano — e ainda brasileiro, que apenas fazia seu trabalho de deixar aquele mastro escorregadio para si. Tirava-o de entre os seus lábios e masturbava-o de maneira afobada quando se desconcentrava com a língua de seu namoradinho agindo em seu ânus latente, lambuzando da entrada e caminhando pelo períneo para chegar às bolas, as quais sugava com certa devoção.

Chocando a glande alheio à sua língua enquanto resfolegava, o fotógrafo sentia suas pernas e seu quadril vacilarem: não aguentava, Sehun era bom demais com a boca. E foi melhor ainda quando alcançou seu pênis, do qual pingava pré-gozo ao peito alheio, e passou a tocá-lo ao mesmo tempo em que estimulava sua entrada com o músculo bucal. O garoto Oh pulsava em sua mão, satisfeito em tê-lo tão entregue ao tesão e pelos seus suspiros acariciando-o a glande.

Desmanchando-se em prazer, com o pau afagado pelos dedos finos enquanto a bunda era fodida por uma boa língua, Baekhyun chegou a uma única conclusão: nem o padê de Osasco era páreo para retardar a intensidade dos toques de Sehun.

 

– Eu vou gozar!

 

E o mais novo parou na hora.

O “cheiroline” desabou ao lado do mendigo. Ambos estavam ofegantes, olhando para o teto, e ainda excitados. No entanto, não demorou muito para que trocassem uma olhadela sacana. Díaz, numa disposição sobrenatural, posicionasse o corpo sobre o quadril do rapaz tatuado, descendo-se sobre o pau alheio vagarosamente, sem camisinha alguma, afinal a verruga na base deveria ser apenas um nódulo. Sua respiração estava presa até se sentar por completo no falo do outro, soltando-a num longo suspiro. Seus olhos desfocados de tesão e seus lábios avermelhados eram tudo que o menino da Garibaldi desejava para si.

Díaz começou num ritmo morno, murmurando enquanto subia e descia pelo falo úmido alheio, com o próprio lábio inferior entre os dentes. Seu corpo formigava em dormência por ter cheirado, porém seus desejos, dos mais sórdidos aos mais cândidos, chamuscavam a sua pele. As pupilas se atraíam e mantinham-se conectadas em libertinagens que não eram proferidas, mas expressadas pelos orbes entreabertos de ambos, chapados pela névoa de luxúria — e afeição — que os envolvia enquanto fodiam.

Baekhyun subia e descia cada vez mais rápido tal como gemia mais alto, mais agudo, ficando zonzo, babando, e Sehun apenas admirava seu peito gorduroso saltitar no ritmo de seus quadris. Era tão apetitoso que o mais novo o tateava por completo, mimando-o com suas mãos: arranhava as coxas para, então, desferi-las tapas que as deixavam avermelhadas, enchia as mãos com a saliência do abdômen e, assim, levava-as até o peitoral protuberante e aproveitava para brincar com os mamilos róseos com os dedos molhados de saliva, o que fazia o dono destes gemer de um jeito manhoso. Além disso, o garoto Oh gostava de tortura-lo, dando uma breve atenção ao falo negligenciado, acarinhando a glande úmida com o polegar, para largá-lo em seguida.

Sehun, por vezes, erguia o quadril em direção ao fotógrafo para acertá-lo cada vez mais fundo e ouvi-lo forçar a garganta em seus gemidos. Ele o apertava de maneira deliciosamente sufocante quando se comprimia, fazia-o pulsar quando chamava pelo seu nome e enlouquecia-o quando movia-se em círculos. Gostava de tocá-lo o pênis e os mamilos para vê-lo se descompassar no sobe-e-desce lascivo; Díaz murmurava entre os gemidos, franzia o cenho e comprimia-se em torno do pau de seu namoradinho de infância, fazendo-o expressar seu tesão afundando as unhas em suas coxas.

Subindo e descendo abruptamente da maneira que o fazia, Baekhyun começou a se masturbar; em seguida, Sehun quem assumiu a sua punheta. Não demorou muito para o rapaz melar os dedos do mais novo, que perseverou acariciando sua glande rósea até preenchê-lo de gozo.

O mais velho despencou ao lado do garoto Oh e o abraçou. Entreolharam-se sorridentes; os olhinhos rasgados se estreitavam em dois pares de meias-luas. Beijaram-se como dois adolescentes apaixonados — de fato, estavam apaixonados — e voltaram a se admirarem. A verdade é que nunca caía-os a ficha de que estavam juntos novamente.

 

Baekinho?

 

Baekhyun riu.

 

– Oi?

 

Sehun hesitou por alguns segundos.

 

– C’é tudo para mim. – sorria de maneira a exprimir o valor que aquela declaração tinha para si. – Tudo, tudo.

– Obrigado... – segurou uma das mãos tatuadas. –... Por existir.

 

Os narizes, junto às testas, permaneceram colados.

 

Agora era fatal

Que o faz-de-conta terminasse assim

Pra lá deste quintal

Era uma noite que não tem mais fim

Pois você sumiu no mundo sem me avisar

E agora eu era um louco a perguntar

O que é que a vida vai fazer de mim?

 

Rolou pela cama, mas não foi amparado por nada ou ninguém. Ainda de olhos fechados, procurou tatear a seu lado para ver se sentiria a pele cálida sob sua palma, mas apenas teve o tato recebido pelo morno do colchão. Gemeu, coçando os orbes, para, então, abri-los vagarosamente. Sehun não estava deitado; se não foi um sonho, devia ter se levantado para pegar um copo d’água.

Espreguiçou-se e voltou a deitar a cabeça sobre o travesseiro, suspirando. Via a luz do banheiro anexo acesa através da fresta entre a porta e o batente, a qual estava entreaberta.

 

– Sehun? – bocejou em seguida. – Vem deitar.

 

Após longos segundos sem resposta, resolveu se levantar da cama.

 

– Sehun? – chamou, andando em direção ao banheiro. – Meu, vem deitar.

 

Primeiramente, estranhou que não havia som algum vindo dali, nem de chuveiro, tampouco da torneira aberta da pia ou de... Caganeira ou mijadeira.

O box escuro estava fechado e sentiu seu coração saltar pela boca, já batendo contra os ouvidos, ao avistar a silhueta sentada ao chão. Parecia estar num filme de terror e sabia que tomaria um susto com qualquer que seja a imagem que teria ao arrastar vagarosamente a porta vítrea. Pedia a Deus para ser uma brincadeira de mal gosto, apesar de não ser muito a cara de Sehun fazer travessuras com os outros.

Se pudesse se ver naquele momento, teria notado o quão pálido ficou ao se deparar com seu namoradinho de adolescência naquele estado deploravelmente caótico. Suas pernas vacilaram e seus joelhos foram ao chão, com os olhos vidrados ao corte em ambos os pulsos. Nem sequer conseguia respirar direito diante de uma cena tão confusa e sanguinolenta em seu banheiro, protagonizada por aquele por quem sempre prezou.

Sehun tentou suicídio.

 

– Sehun! – gritou aflito, acordando o condomínio inteiro. – Meu Deus, Sehun!

 

Perturbado, aproximou-se do rapaz e chacoalhou-o os ombros, dando leves batidinhas em seu rosto; ele se movia minimamente. Ainda estava vivo, mas talvez não por muito tempo. Correu para de volta o quarto um tanto afobado, temendo desmaiar no caminho por tamanha adrenalina que corria por suas veias, e pegou o celular na cama. Ligou para o SAMU com os dedos trêmulos, errando a discagem do número umas dez vezes, e gaguejou a situação à atendente que o respondia com um tédio irritante na voz.

Após receber as instruções do que deveria fazer, desligou o telefone e, sem tempo para respirar fundo, correu para o tapete de entrada na sala e pegou os cadarços do seu par de allstar vermelho jogado antes de voltar ao banheiro.

Ao tocar os antebraços de Sehun, sentiu-se arrepiado pelo contato com aquele corpo que, se a porra do SAMU demorar como dizem, poderia morrer. Tratou de amarrar os cadarços brancos com bastante firmeza um pouco acima dos cortes, só não com tanta força para não obstruir as veias, e o mais novo reagiu: levantou o braço e, minimamente, tentou empurrar Baekhyun.

 

– Baek... – gemeu. – Me deixa...

– Deixa os braços levantados. – ergueu-os pelos pulsos, mas o mais novo os tombou ao chão quando foram soltos. – Colabora, porra!

 

Quando a ambulância e os paramédicos apareceram, Baekhyun fez questão de acompanhar seu namoradinho até o hospital. Desta vez, levava-o, apertando as mãos trêmulas entre as suas com firmeza, ao hospital particular que atendia ao seu convênio; é o caralho que o deixaria morrer esperando pela triagem no SUS!

Assim que Sehun, com os antebraços já costurados e sangue coletado, fora deixado num quarto particular, Baekhyun o adentrou e aproveitou que a cama era espaçosa para tirar os seus sapatos e se deitar o lado do desabrigado, abraçando-o a cintura delgada com possessividade e saudosismo.

De alguma forma, Díaz se sentia um tanto negligente por Sehun ter tentado suicídio: jurava que ele estava bem. Aliás, seu papel era fazê-lo bem, deixá-lo confortável e transmiti-lo a sensação de que era muito querido mesmo sendo invisível na sociedade, e, ainda assim, o jovem cortara os pulsos em seu banheiro, logo após terem tido seu momento de gozo na cama e declararem seus sentimentos viscerais um para o outro. Por quê? Não conseguia entender.

Sentiu-se inútil, afundando o rosto na curvatura do pescoço dele para aspirar o cheiro de seu sabonete que combinava tão bem com o garoto. As feridas de Sehun eram profundas demais para sararem com beijos molhados nas bochechas. O que mais tinha dentro de si, fora afeto pelo seu menininho, era medo de perdê-lo: ele era tão frágil que até seu apreço poderia quebrá-lo.

Ao senti-lo se mover, despertando minimamente, seu coração se acelerou. Acabara por perder o sono: não havia sentido dormir àquela hora, queria era ver aquelas íris achocolatadas serem reveladas lentamente pelas pálpebras letárgicas. As sobrancelhas se franziram ao som de um gemido desprendido pelos lábios róseos. Baekhyun pousou a mão trêmula na maçã do rosto alheia, passando a acariciá-la num ritmo ameno.

 

Sehunzinho? – chamou-o no diminutivo como ele fazia consigo, provando na ponta de sua língua o gosto de chamar alguém de quem realmente gosta por um apelido carinhoso. – Bebê?

Baekinho... – riu fraco, virando o rosto para o lado para fitá-lo melhor. – Eu ‘tô sonhando, é?

 

Uma lágrima desceu pelo rosto do mais velho.

 

– ‘Tá nada, eu ‘tô aqui. – fungou, talvez pela cocaína que tinha cheirado horas atrás ou pelo choro aliviado, e deixou um selo no canto da boca de Sehun.

– ‘Tâmo no Inferno, é? – riu, acabando por contagiar o mais velho com seu humor.

 

– No hospital.

 

Ele gemeu em resposta, voltando a fechar os olhos.

 

– Pelo menos nois ‘tá junto, né me’mo? – passou o braço pelo ombro do rapaz. – Sabe por que eu sou meio doidinho?

– Por quê? – desvencilhou-se do braço de Sehun para deitá-lo a cabeça em seu peito, passando a afagá-lo as têmporas.

 

– Genética. Meu bisavô era, minha avó era, pulou o meu pai e agora é a minha vez. – gemeu. – Meu pai e meus tios internaram a minha avó no Mandaqui e “sepá” até hoje ela ‘tá ‘lá se não tiver morrido de desgosto, então me abandonaram porque viram que sou igual a ela.

 

De certa forma, Baekhyun se sentiu mais calmo: preferia ter tido depressão por genética a ter sido traumatizado. Saber que Sehun não passou por algo terrível antes do abandono o confortava, até porque a pior dor é a da ferida não cicatrizada. Ainda sentia certo receio quando estava diante de adolescentes ou qualquer cidadão de mochila, mesmo sendo um adulto maluco de causar medo. Não queria ter sofrido por causa dos outros, não queria ter precisado de remédios por conta de moleques inconsequentes.

Traumas!

 

– Eu não vou te abandonar.

– Você promete? – o mais novo perguntou dengoso.

 

– Prometo. – selou-o o topo da cabeça.

 

Com o passar dos minutos, o menino começava a se recuperar do choque que sofrera pela perda de sangue, tornando-se mais fulgurante enquanto trocava beijos delicados com seu namoradinho de adolescência, que, pelo visto, estava se tornando seu namoradinho de vida adulta também. Ou quiçá o romance nunca tenha sido cortado.

Baekhyun estava sob as cobertas também, abraçando Sehun de lado com tamanha força que poderia quebrá-lo de tão mirrado que era. Mimava-o com beijos pelo rosto, inclusive afagava com o polegar a ferida em seu queixo, selando-a em seguida com os lábios apaixonados. Sentia-se tão especial com ele que era como se não existisse mais ninguém no mundo além de ambos; sentiam-se únicos um para o outro e amavam isso.

Amavam tantas coisas ali...

Então foram interrompidos quando uma técnica de enfermagem adentrou o quarto sem nem bater à porta antes. Baekhyun e Sehun riram soprados: se ainda fossem adolescentes numa clínica psiquiátrica, estariam fodidos por estarem deitados daquele jeito. Ainda assim o fotógrafo se levantou da cama e, descalço, deu alguns passos à moça de semblante mal humorado.

 

– É o resultado do exame? – referia-se ao papel que ela o entregou nas mãos.

Uhum. Está tudo certinho para os senhores.

 

Baekhyun, encarando a folha, franziu o cenho.

 

– Ô, o que significa “reagente ao VDRL”? – perguntou à técnica.

 

Tinha certeza de que significava alguma coisa ruim.

 

– Que ele tem sífilis. – a moça simplesmente “vazou” porque sabia o que aconteceria em seguida.

 

A respiração do rapaz falhou. O ceticismo tomava conta de seu ser: estreitava os olhos para o papel para ter certeza de que suas retinas não o estavam enganando.

 

– Sífilis? – abaixou o papel, girando nos calcanhares para mirar Sehun, que parecia não se importar com aquela informação. – Sehun, você escutou isso? Sífilis. – dizia tento, com as mãos já trêmulas. – Sí-fi-lis. – rosnou entredentes. – Sífilis, caralho! Sífilis! – amassou o papel em fúria e o atirou contra o rapaz no leito. – Significa que você me passou sífilis! Você me passou sífilis, porra! – berrou sem se importar se o hospital inteiro escutaria, apontando o dedo em riste para o rapaz, que franzia o cenho.

– Sífilis não mata ninguém, não, carai’, calma!

 

– “Calma” é a minha rola! Você disse pra mim, seu filho d’uma puta, que não tinha trepado com ninguém desde que a gente fez a porra daquele exame! – seus olhos lacrimejavam em puro ódio enquanto gesticulava amistoso para conter a vontade de pular em cima do morador de rua e estapeá-lo.

– E foi verdade, eu só chupei uma boceta.

 

– E teve a proeza de pegar sífiliiis! – foi seu último brado, o qual acabou em tosses devido à força que impôs na garganta.

– E se eu tiver pegado de você ontem? – deduziu, tentando amenizar a situação, mas estava óbvio de que foi contaminado por Sulli.

 

– Puta que pariu, Sehun, n’é possível...! – sussurrou consigo mesmo após ouvir aquele absurdo, coçando os olhos com fúria para descontar aquela repulsa descomunal que sentia por aquele que, na noite anterior, disse que amava. – Não inventa, seu idiota, eu só transo sem camisinha com você! – esbravejou, com os orbes marejados de cólera.

 

Após segundos de silêncio interrompido por ser ofegar, suspirou nasalmente. Sentia a garganta ainda arder pelo escândalo feito. Àquela altura, os enfermeiros, técnicos e auxiliares já deveriam estar comentando sobre o “casal” numa sala afastada para não escutarem.

 

– Esqueça tudo que já fiz por você e que já te falei, ‘tá bom? Esqueça que eu reapareci na sua vida! Se depender de mim, você vai morrer sozinho com a porra da sua heroína do lado por não saber ser sincero com os outros. – dizia com dor no peito, mas com o orgulho guiando o compasso de seu coração.

 

E bateu a porta.

Ambos choraram àquela noite.

 

+++

 

Havia feito planos: planos em que pedia para seus pais aumentarem seu “auxilio” com a desculpa de que queria voltar a estudar, planos em que o acordaria todos os dias com leves selares pelo rosto antes de ir trabalhar, planos em que chegaria do serviço com docinhos de abóbora que Sehun disse ser os seus favoritos... Havia tantos planos que fizera desde que o reencontrou, e agora se via jogando-os num latão de alumínio e ateando fogo como se fossem provas de um crime que precisava ser ocultado.

Sentia-se imundo, traído, excluído. Conseguia sentir as pessoas apontando para o seu rosto e dando risada, zombando-o aos dizeres: “ninguém mandou ser viado”, porque, aos ignorantes, DST é coisa de viado. Via-se estigmatizado, com suas secreções apodrecidas pelo preço de sua confiança. Agora as velhas que o chamavam de “bicha suja” tinham toda a razão: era uma bicha suja, que estava fadada a morrer com o corpo coberto por feridas purulentas causas por nada menos que excesso de confiança, de afeição, pois era afeiçoado por Sehun e confiou nele. Quem diria que o mendigo que já foi o motivo de seu viver seria capaz de omiti-lo algo tão sério? Porque, claro, para Sehun, saúde já não era mais uma coisa séria.

De Amsterdã, onde o clima nevava para um caralho em dezembro, sua mãe havia enviado uma mensagem sobre o aumento no “auxílio” para a suposta faculdade que prestaria. Um tanto sem graça, respondeu-a que “deixaria a faculdade mais para frente”. Em seguida, senhorita Díaz, num estado de absoluto ânimo, enviou-o uma foto da tatuagem que fizera um pouco antes de embarcar para Amsterdã: a sigla “PJL” no pulso. Baekhyun fez uma careta para o celular e, para não cortar o barato da própria mãe, resolveu não alertá-la de que o tão recitado “paz, justiça e liberdade” pelos jovens é o lema do PCC. Uma tatuagem inocentemente aludindo a uma facção criminosa no pulso de uma médica loira não daria em nada, na verdade.

Acabou até por entrar num dilema: contar ou não contar à sua mãe médica, que é bem menos cabeça dura que seu pai, que pegou sífilis? Ah, óbvio, ela sentiria vergonha de ter parido um imbecil que faz pele com pele com pessoas que não conhece direito, mesmo ambos já tendo conversado tantas vezes sobre doenças e infecções sexualmente transmissíveis durante sua adolescência.

Deu de ombros. Era vergonhoso para si e é claro que seu pai ficaria sabendo se contasse a ela da boa nova sobre sua saúde.

Quando a campainha ressoou pelo apê, levantou-se preguiçosamente do sofá e rastejou os pés de meias até a porta. Ao abri-la, engoliu em seco: Chanyeol, como sempre, afoito pela sua atenção, com olhos que exprimiam que não viera até seu apartamento por nada. Sentia que ele tinha algo sério para falar ou, quem sabe, discutir, e sabia que era relacionado ao seu isolamento.

 

– Fala.

– Ô, tu faltou dois dias seguidos, o Soo Man pistolou hoje por causa disso. – disse ao adentrar, já tirando os sapatos. – Como ‘cê ‘tá? Me fala!

 

– Ah, eu ‘tô bem. – respondeu desanimado. – Só ‘tô meio... Sei lá, “injuriado”, como ‘cês falam aí.

– Injuriado? Por quê? – franziu o cenho.

 

– ‘Tá ligado o Sehun?

– Sei.

 

Passou a língua entre os lábios. Sentia vergonha da atual condição de sua saúde, apesar de que Chanyeol não estava tão diferente, tomando coquetéis toda semana.

 

– Uma fita aí me deixou meio, assim, injuriado. – coçou a nuca.

 

Por que sentia tanta vergonha de falar que contraiu sífilis a um soropositivo?

 

– Que fita, mano? Para de enrolar!

– Se pá peguei sífilis dele.

 

Chanyeol suspirou exasperado.

 

– Você deu pra um mendigo sem camisinha? – perguntou impaciente.

– Ele tinha feito um exame comigo e constou que ‘tava limpo, mas depois ele acabou chupando uma menina aí e não me contou. – coçava a nuca.

 

Díaz reconhecia que aquela situação toda era ridícula.

 

– “E não me contou.”... – imitou-o, zombando-o. – É claro que ele não ia falar pra perder a chance de meter no pelo com você, seu besta! – apontava-o o indicador. – T’é muito burro mesmo...!

– ‘Cê nem tem moral pra falar de mim, foi querer pagar de hétero e pegou AIDS da Wendy mesmo sabendo que ela dava pra todo mundo!

 

– Ah, ela não usava droga injetável, não morava na rua e nem tinha um monte de ferida e mancha na pele igual vi no queixo daquele cara! – enumerou em tom zombeteiro. – Às vezes, a sua ingenuidade beira à burrice, sabe?

– ‘Tá bom, Chanyeol! Veio aqui pra me esculachar, foi? Ô, inferno! – suspirou exasperado.

 

O mais novo crispou os lábios nos poucos segundos de silêncio.

 

– Eu fiquei preocupado. – disse num tom um pouco mais ameno. – Sérião, eu ‘tava com medo que você tivesse voltado pra’quela sua depressão lá porque nunca te vi tão desanimado assim.

 

Baekhyun sorriu um tanto ainda triste.

 

– Ah, eu ‘tô suave até. – abaixou a cabeça. – Eu só... Preciso tomar uns remédios, mas ‘tô com vergonha de chegar na UBS e tal...

– Eu vou com você. – apertou o ombro alheio.

 

O mais velho o abraçou forte. Num instante, Baekhyun umedecia os ombros de Chanyeol com suas lágrimas e catarro: estava sujo, imundo, degradado, marginalizado... Sentia, também, ódio por ter confiado além da conta. De fato, Chanyeol estava certo sobre o Sehun mendigo não ser o mesmo Sehun da clínica, pois o Sehun da clínica talvez jamais o esconderia os mínimos toques libidinosos trocados com outra pessoa.

 

+++

 

Ano novo. Paulista lotada de pessoas vestidas de branco e uma meia-dúzia de cabelo colorido e camiseta do Bullet For My Valentine. Como sempre... As escadas do metrô Consolação estavam desligadas, causando tumulto enquanto Baekhyun e Chanyeol, com as garrafas de askov de maracujá que compraram na adega antes de fecharem, retomavam fôlego após sobreviverem às escadas. Díaz já nem lembrava mais o que era pegar metrô e teve que ficar dentro de um vagão com bêbados escandalosos para buscar seu amigo no Tatuapé, que atrasou trinta minutos porque motorista de ônibus também tem vida social e desejo por aproveitar feriado.

Do outro lado da rua, o prédio ainda marcava 22:15 em seu topo. Na calçada, todos os hippies que vendiam suas artes haviam sido substituídos por tios com seus carrinhos de caixas de isopor com todas as bebidas do mundo. Além disso, não estava tão aglomerado na frente do metrô, apesar das inúmeras pessoas que saíam de lá, pois o povo queria mesmo era assistir aos shows de celebridades toscas. Bem, pelo menos quem não usa droga iria assistir ao show, já os zés, marias e ariéis-droguinha iriam para o fluxo na Peixoto, que se transformava no verdadeiro Vale dos Homossexuais nessa época de fim de ano, ou gritar “pau no cu da síndica!” na Praça Roosevelt com aqueles pseudofãs do Raffa Moreira.

Bebiam, viravam as garrafas, ali, mesmo enquanto distribuíam olhares desdenhosos para moças e rapazes que pareciam nunca terem visto asiáticos na vida. Quando alguém inventava de flertar, Baekhyun e Chanyeol simplesmente agarravam-se pelas cinturas para a pessoa desistir deles. Se fosse em outros réveillons, Baekhyun não se importaria e sairia passando o rodo pela Avenida inteira, mas sentia-se... Imundo? Não queria que ninguém o tocasse, incomodava-se até com quem esbarrava em si.

Após reunirem o grupo, foram todos para o MASP no meio da multidão de moças de saias brancas e guirlandas de flores na cabeça e vendedores com suas caixas de isopor repletas de bebidas e gelo de coco. Chegando no vão do museu, Baekhyun e Chanyeol já se irritaram de antemão pela quantidade de adolescente e recém-adulto que estavam ali. De fato, eram os idosos do rolê enquanto seus amigos procuravam alguém com cara suspeita para comprarem droga.

Pelo menos, tocava funk proibidão naquele lugar e estavam longe demais para escutarem a Claudia Leitte cantando.

 

Tu quer bala? Nois tem

Quer maconha? Nois tem

Nois come tua boceta e tu não conta pra ninguém!

 

Baekhyun adorou a música pelo teor imundo de sua letra. Até que o descrevia um pouco: lembrava-se de sua adolescência, quando dizia para os seus pais que dormiria na casa do amiguinho quando, na verdade, sairiam juntos para a Augusta para chupar alguém em troca de uma carreirinha de pó. Por incrível que pareça, nunca pegou uma DST ou IST sequer em suas aventuras adolescentes, apenas depois de encontrar o seu xodó numa rua que cruza o Minhocão.

 

Traz maconha, traz balinha que eu mamo o bonde todo

MC Lil ofereceu e eu vou falar de novo

Traz maconha, traz balinha que eu mamo o bonde todo

 

Chanyeol sumiu por alguns segundos e Díaz só ficou preocupado quando uma menina com cara de sono veio até si, apontou para um rapaz de franja e perguntou se queria ficar com ele. Respondeu que “não” e a garota não o importunou mais.

Quando o grandão voltou, entregou uma lata de skol nas mãos de Baekhyun para poder acender um cigarro. O menor balançou a lata, sentindo-a um tanto pesada, e a virou em sua boca; o gosto amargo de querosene desceu rasgando a sua garganta e o cheiro adocicado de perfume o inebriou pelas narinas lesionadas de tanto cheirar. Até dera alguns passos involuntários para trás, temendo morrer, ali, mesmo, em pleno ano novo. Porra, que merda tinha naquela lata que fez o seu peito começar a doer? Era como querosene.

 

– Nossa! – resmungou, sentindo-se como aquela menina da creepypasta do drink de anticongelante.

 

Chanyeol, já com o cigarro aceso na boca, percebeu logo de cara o que estava acontecendo:

 

– Ah, não, você bebeu o meu loló! – riu em escárnio.

– ‘Sa porra é lança? Como é que ‘cê me oferece lança e não fala?!

 

Se Baekhyun já se sentia desumanizado por ter adquirido sífilis de um mendigo em quem confiou, sentiu-se pior ainda por ter bebido sem querer uma droga tão chula como lança-perfume, que é nada menos que o crack dos rolezeiros.

 

– Eu não te ofereci, eu dei pra você segurar. – tomou a lata da mão do mais velho com rispidez. – Mas é um tapado mesmo...

– Ah, se foder! – empurrou o mais velho de maneira abrupta.

 

– Por que você não vem e me fode, sua putinha mal comida? – provocou-o, soltando a fumaça de nicotina no rosto alheio. Sua intenção não era brigar, apenas achava Baekhyun lindo quando irritado.

– ‘Tomar no cu, viu...! – deu as costas e saiu andando.

 

Chanyeol, claro, largou o cigarro ainda na metade no chão e tratou de seguir o amigo.

Pelo visto, Baekhyun estava putíssimo, pois esbarrava nas pessoas sem dó e ainda xingava como se fosse um hétero que passa mais gasta dinheiro no bar das baladas sertanejas de Pinheiros do que nas livrarias. Chegando ao Safra, do outro lado da calçada da estação Consolação — que fica na Avenida Paulista, enquanto a estação Paulista fica na Rua da Consolação, desceu a Augusta no meio do tumulto de jovens de branco, franjas acima da sobrancelha e tiaras de unicórnio.

 

– Baek! – chamou e o mais velho apenas ergueu o dedo do meio sem olhar para trás ou cessar a caminhada.

 

Caralho...!, pensou.

Queria baforar o seu querido loló, não correr atrás de um bêbado mal humorado, mas as chances dele ser assaltado se sozinho estavam maiores do que no resto do ano. Não era a toa que a polícia estava controlando quem subia das ruas para a Avenida Paulista e havia um bloqueio que não deixava as pessoas passarem adiante do Edifício Gazeta. Estava tudo complicado naquela merda de noite. Deveria mais era deixá-lo perambular por aí sozinho para largar a mão de ser idiota, porém conseguia ser mais idiota ainda e se preocupar com o cuzinho adoecido de seu melhor amigo durante aquela data marcada por dedo no cu e gritaria e várias felicitações de ano novo.

Quando percebeu que ele estava descendo a calçada após a Praça Roosevelt para ir para a área abaixo do Minhocão, correu até o rapaz e o segurou pelo antebraço.

 

– ‘Que é, caralho?! – puxou-se de volta.

– Pra onde você ‘tá indo, louco?

 

– Eu vou ver o Sehun.

 

Ele deve ‘tá se drogando a essa hora enquanto te odeia, pensou em dizer.

 

– Eu não vou deixar uma moça bonita como essa andar sozinha por aí. – apesar da brincadeira, seu tom era sério, mas conseguiu arrancar um sorriso de Baekhyun, que tentou contê-lo sem sucesso.

 

Então caminharam lado a lado e em silêncio. Chanyeol ainda não havia desistido da lata de lança-perfume, prometendo a si mesmo baforar quando Baekhyun e Sehun estivessem ocupados batendo punheta um para o outro embaixo de uma manta fedendo a mijo.

Chegando à altura da Rua Amaral Gurgel, onde Sehun costumava ficar recostado a um dos tubulões do Minhocão, viram uma aglomeração estranha de pessoas. Ambos coçaram seus olhos ébrios para terem certeza de que não estavam sendo enganados pelas bebidas que tomaram na Paulista. E não era uma aglomeração qualquer: estavam em círculo num escuro onde apenas a luz da Lua penetrava e olhavam para o chão. Não era como se estivessem passando um baseado. Um pressentimento terrível pegou Baekhyun em cheio, que buscou pela mão de Chanyeol onde descontar sua agonia àquela situação.

Ao se aproximarem, não se tratava de uma intuição estimulada pelo álcool. Era real. Díaz, atravessando aquelas pessoas, sentiu todos os seus pelos eriçarem diante de seu pior pesadelo: uma poça de sangue, corpo retorcido ao chão, todos os ossos possivelmente quebrados. Oh Sehun estava morto.

 

Nãaaao! Sehuuuun! – Baekhyun berrou loucamente, com os olhos arregalados diante daquela cena que jamais sairia de sua mente. – Sehuuun, nãaaao! – jogou-se no chão e agarrou o corpo do garoto com urgência.

 

A testa estava amassada, em carne viva, e o sangue a escorrer pelo lado esquerdo do rosto, principalmente da linha d’água, acabou por manchar as mãos de Díaz. Não havia dúvidas: fora uma tentativa de suicídio. Ele, com certeza, jogara-se de cabeça para baixo do Minhocão. Baekhyun tremulava como vara verde, com seus olhos arregalados diante da imagem da face esquerda de seu namoradinho de infância totalmente arrasada pela queda.

Num instante, viu-o mover o maxilar. Seu coração quase parou. Levou uma das mãos até próxima a boca dele e, quando sentiu sua pele ser acariciada por um leve sopro, seu corpo inteiro se esquentou de esperanças.

 

– Ele está respirando! Chama o SAMU, chama o SAMU! Por favor, alguém chame o SAMU! Vão logo! O que estão esperando? Chanyeoool! – bradava com tamanha intensidade que as artérias em seu pescoço se faziam presente.

– Eu ‘tô ligando, eu ‘tô ligando, porra! – Chanyeol gritou de volta, sem largar o caralho do loló que segurava como se fosse uma lata de Stella Artois.

 

– Foi você. – escutou uma voz aleatória soar próxima. Quando levantou a cabeça, encontrou Alemão com seu olhar azulado perdido sobre o corpo desfalecido em seus braços. – A culpa é sua. – acusou. – Você matou o meu amigo. – recitou com asco na voz. – Você matou o meu irmão!

– N-Não, eu não matei ninguém. – tentava negar, balançando a cabeça para os lados para dar ênfase à sua fala, mas sabia que era o responsável por aquilo. – Eu não matei ninguém, não! E-Ele-

 

Vaaaza daqui, vaza daqui seu arrombado! – rugiu entredentes, apontando-o um canivete.

 

Baekhyun, um tanto afobado, soltou o corpo com a delicadeza que a adrenalina o permitia no chão e foi para a calçada. Sua respiração estava tão rápida que se sentia como se estivesse à beira de um ataque de pânico, no qual seria assombrado pelo rosto detonado de Sehun enquanto a visão estivesse enturvada. Sentou-se em frente a um prédio nos braços de Chanyeol, que deixava selos em sua têmpora com a intenção de confortá-lo. Seu coração ainda estava a mil, tinha medo de que o SAMU demorasse tanto quanto diziam que demora.

E demorou uma boa cota.

Assim que a ambulância chegou, ignorou a ameaça que recebera de Alemão e correu até o corpo. O paramédico que desceu do veículo checou os sinais vitais de Sehun. Quando ele se levantou, crispando os lábios e balançando a cabeça para o lado, Baekhyun sentiu que iria cair ao chão se não tivesse se segurado em Chanyeol.

 

– Sem pulso. – o homem anunciou.

 

Baekhyun desmaiou.

 

+++

 

Sob dois edredons, abriu os olhos: teto branco e ventilador de teto desligado, até porque era inverno, ambos iluminados por uma luz amarelada que vinha a seu lado. Sentia fisgadas nas têmporas e um gosto amargo na boca, o que o provocou uma careta e um gemido desgostoso enquanto ainda piscava os olhos para despertar as pálpebras preguiçosas. Não demorou muito notar que estava apenas de cueca. Virou a cabeça para o lado e avistou a parede sólida e a porta de madeira que dava para a saída de onde quer que estava.

Enfim, rolou-se para se virar para o lado do qual vinha a luz amarelada que submetia o quarto a uma penumbra. Reconhecia aquele corpo deitado a seu lado, cujos dedos brincavam sobre a tela do celular. Gostaria que fosse outra pessoa; mais precisamente, a pessoa que tomava os seus pensamentos naquele momento em flashbacks de algo que queria acreditar ter sido um sonho, mas parecia tão real... Em seus dedos, ainda estava viva a sensação da pele morna úmida de sangue. Causava-o calafrios todas aquelas imagens se reprisando em sua mente, perturbando-o.

 

– Chanyeol? – tocou-o o ombro. O mais novo tratou-se de virar para si, esquecendo-se por um instante do celular em suas mãos. – Foi um pesadelo? – indagou.

– O Sehun? Não, cara, uma pena. – acarinhou a testa alheia. – Ele caiu do Minhocão.

 

Baekhyun suspirou, sentindo-se enfraquecer diante daquelas palavras. Se estivesse em pé, seus joelhos teriam ido ao chão naquele momento. Havia aflição dentro de si; havia culpa, havia auto-ódio, havia tudo.

 

– A culpa foi minha, né?

– Não, claro que não! – sussurrou próximo ao rosto dele antes de deixar um selo na têmpora.

 

– Foi, sim. – tossiu. – Eu... Eu gritei com ele no hospital quando fiquei sabendo da sífilis. Eu disse pra ele me esquecer.

 

Uma lágrima contornou o seu rosto.

 

– Ele morreu achando que eu o odeio.

– Você disse que ele ‘tava respirando. Ele deve ter visto o quanto ‘cê ficou preocupado. – enxugou a lágrima com o polegar.

 

– Mesmo assim. – fungou e outra lágrima se fez presente. – Foi tarde demais pra ele ver que eu me preocupava.

 

Então sorriu.

 

– Mas quer saber?

Hm?

 

– Pelo menos quando ele ‘tava aqui comigo, nessa cama, ele disse que eu era tudo pra ele, então eu agradeci por ele existir. – sorriu. – Ele também era tudo pra mim.

 

Chanyeol acabou sorrindo.

Abraçaram-se. Baekhyun suspirou; quando soltou o ar, mais lágrimas vieram, levando-o a intensificar o aperto naquele amplexo pela angústia que sentia. Não queria ter dito apenas “obrigado por existir”, queria ter dito que o amava, que nunca se esqueceu dele e que nunca sentiu por alguém algo tão intenso quanto o que sentia quando estavam internado. No entanto, comportou-se como os pais dele: enxotou-o por uma doença, a qual poderiam superar juntos.

Envergonhava-se de sua ingenuidade, tinha nojo de sua hostilidade. Se não tivesse confiado, Sehun ainda estaria vivo; se não fosse tão orgulhoso ao ponto de esquecê-lo embaixo do Minhocão, Sehun ainda estaria vivo...

 

– E-Eu perdi o-o meu tudo! – lamentou com a voz trêmula, fungando em seguida.

 

De fato, o ano começou uma merda para Baekhyun Díaz, que se via enrolado no manto da depressão mais uma vez. E estava enrolado como um presente para os próprios parasitas que se alimentavam de sua negatividade. Havia perdido tudo. Tudo. Porque Sehun era o seu tudo. Entregou o seu tudo para o mundo, que já o havia fodido o bastante, e então seu tudo se tornou nada. Foi do homem mais rico ao mais pobre do mundo em questão de dias e ainda se perguntava se realmente valeu à pena abandonar Sehun mesmo após tê-lo prometido que jamais o faria.

Assim como ele prometeu ser sincero e escondeu sobre o oral na moça que o passou sífilis.

Mas Baekhyun não morreria de sífilis, já Sehun morreu das palavras de Baekhyun, e a pior morte é aquela causada por palavras. Queria tê-lo matado de paixão, confessando-o que o amava, porém nunca foi o cara das palavras, e sim das atitudes, apesar de ter expulsado da vida uma pessoa com as palavras, não muito com atitudes.

Era fotógrafo e Sehun era um rapaz bonito: perdeu a chance de fotografá-lo por conta de suas palavras. Possuía apenas uma foto do rapaz sentado numa lanchonete e sorridente, mas não era o bastante; gostaria de ter registrado a palidez manchada por carpas e flores, cujos contornos pretos se tornaram labirintos pelos quais seus dedos gostavam de se perder. Acordava dia e noite alucinando o braço dele pesando sobre a sua cintura para, então, cair no choro com o cigarro entre os dedos por não haver ninguém, ali, além de si mesmo e Nini.

 

+++

 

Há anos, Baekhyun havia se esquecido o que era acordar desanimado com a vida. Era a pior sensação do universo. Não possuía forças para nada. Ouvia seu gato miando faminto e chorava com o travesseiro contra o rosto por não conseguir levantar da cama para dá-lo ração. Quando encontrou forças para sentir o ar nada fresco do centro de São Paulo invadir suas narinas, chegou à agência e soube que havia sido demitido, afinal, foram dezesseis dias passados em casa sem atestado algum.

Pelo visto, não o restara mais nada.

Com a garrafa de Velho Barreiro na mão, nem sequer percebeu o quanto andou: atravessou a Sé, caminhou aos tropicões ébrios pela passarela sobre o fedorento rio Tamanduateí ao lado da estação Dom Pedro II e já estava no Brás. Era, com toda a certeza, o bairro mais caótico de São Paulo: as calçadas eram cobertas de lonas sobre as quais vendedores imigrantes colocavam seus produtos para vender, além dos carrinhos com caixas de isopor repletas de refrigerante e dos sacos pretos cheios de pacotes de pururuca trazidos por avós e avôs que tentavam sobreviver com aquela renda. Não se pode esquecer, é claro, dos chineses de nariz empinado fazendo observações racistas em mandarim sobre os pedestres. Todos, ali, berravam: “pururuca um real!”, “água é um, água é um!”, “deliciosas balas finis por apenas um real!”, “capinhas para iPhone é um reaaaal, é um reaaaal!”, “coxinha um real! Coxinha um real!”... Tudo era um real naquela porra, até algumas xoxotas muçulmanas do Pari se você for descendente de libaneses.

Ah! Os livros da tenda montada por universitários eram quinze reais, aliás.

Baekhyun engoliu em seco, sentindo-se destoado daquele mundo bizarro que sempre foi o Brás: definitivamente, detestava gente pobre, ainda mais aglomerada em um só lugar, provando-se ser o noia enlutado mais elitista do centro de São Paulo. Preferia mil vezes o seu Bom Retiro.

Insuportável!

O semáforo da Rua Domingos Paiva, em frente ao metrô, era engraçado: sepá, passava três segundos aberto para pedestres e um minuto fechado. Era tudo muito rápido. Menos Baekhyun, que estava com sua cabeça explodindo diante de tantos berros e buzinadas desnecessárias, com seu reflexo retardado por aquele veneno de cavalo que só servia para fazer caipirinha.

Abriu um sorriso enorme quando o semáforo se tornou verde para os carros. Incrível como no Brás as pessoas dirigem tão rápido, ? Talvez porque atropelar alguma boliviana não é um crime tão levado a sério, visto que latinos não são levados a sério em São Paulo, que não é uma cidade latina, e sim nipo-ítalo-libanesa. Já na Avenida São João é preciso dirigir cuidadosamente porque nunca se sabe se o imbecil andando de longboard no meio do cruzamento é filho desnaturado de algum doutor.

Estava mais do que decidido do que deveria fazer, já que mais nada em sua vida fazia sentido. Se nada fazia sentido, então, segundo sua percepção, não valia à pena continuar respirando. O único sentido que encontrara à sua vida, há mais ou menos um mês, fora estilhaçado pela sua própria ingenuidade convertida em ódio. Havia matado sua maior preferência como naquele filme em que o cara do Harry Potter dá o cu, havia vomitado sobre o doce que alimentara sua vivacidade por semanas, havia esfrangalhado com as unhas o travesseiro no qual repousava sua cabeça estressada. De fato, não enxergava mais sentido, não. Assim, dera alguns passos acelerados para a rua até se encontrar com o corsa branco que vinha aceleradamente.

 

Amou daquela vez como se fosse máquina

Beijou sua mulher como se fosse lógico

Ergueu no patamar quatro paredes flácidas

Sentou pra descansar como se fosse um pássaro

E flutuou no ar como se fosse um príncipe

E se acabou no chão feito um pacote bêbado

Morreu na contramão atrapalhando o sábado

 

 


Notas Finais


O QUE ACHARAM?
As músicas do capítulo: Chico Buarque - João e Maria https://www.youtube.com/watch?v=agH2bBnNUCs
MC Don Juan, MC Lil e MC Mirella - Tu quer bala? https://www.youtube.com/watch?v=h3Bvd5k5rp8
Chico Buarque - Construção https://www.youtube.com/watch?v=P7mHf-UCZp0 (levanta a mão quem estudou essa música nas aulas de português na escola e vem comigo chorar no banheiro quem não estudou)
Filme em que "o cara do Harry Potter dá o cu": Kill your darlings (muito bom pra quem gosta de Beatnik)
É assim que me despeço de Sehun Contra o Mundo e, não, não adianta comentar que quer mais ou perguntar se acabou mesmo porque sim, acabou e não vai ter mais nada dessa fanfic.
Agradeço por cada um que se dispôs a dar uma lidinha e aquela comentadinha básica aqui na fic ou no twitter (me segue lá @holydodoit apesar de eu só falar sobre funk rsrsrsrs), que serviu muito pra me inspirar a escrever, pois essa é uma história em terceira pessoa de um couple que não shippo (apesar de eu achar bonita a interação deles em público), então encontrei certa dificuldade para escrever algumas cenas mais íntimas e vi que valeu à pena me esforçar quando li alguns dos comentários de vocês. Não sei se vocês perceberam, mas meu plano, além de abordar o uso de drogas, as consequências do sexo desprotegido, do abandono e como a cultura de São Paulo é rica e linda, eu quis transmitir o amor a vocês sem usar a palavra “amor”; percebe-se que eu não usei esta palavra ou o verbo “amar” nas falas e que Sehun e Baekhyun sequer falaram “eu te amo” um para o outro, até porque, às vezes, dizer “eu te amo” não faz tanta diferença quando suas atitudes já expressam o valor desta frase. Para mim, foi inovador usar essa manobra de demonstrar o amor sem citá-lo, mesmo que algumas pessoas não tenham percebido e tenho certeza que não perceberam...
mas eu amo vocês
Enfim, muito obrigado por todo o apoio, pessoinhas <3
E É PRA USAR CAMISINHA, VIU, CARALHO?!


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