História Sem atentamente e sem abraços, Mina - 12 de abr. de 2020 01:51 SEM ASSUNTO

KWON MIN-AH <[email protected]>

Para: Park Cho-ah <[email protected]>

12 de abr. de 2020 – 01:51

<SEM ASSUNTO>

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Oi, Cho-ah.

Eu não sei como começar esse e-mail, que sei que não deveria nem mesmo estar enviado, já que você está feliz. Mas eu não estou. Não mesmo, nem por um segundo. Me sinto estúpida de falar com a tela do meu computador sobre o que eu ando sentindo, mas é isto o que estou fazendo, já que você não me responde, nem se dá ao trabalho de olhar o conteúdo dos e-mails que te mando, acredito eu.

“Ah, mais um e-mail da Minah, não vou nem abrir, ela não supera?”. É assim que eu imagino na minha cabeça sua reação ao abrir sua caixa de e-mail e ver meu nome. Ou será que sou bloqueada? Meus e-mails chegam na sua caixa de entrada? Ou eles vão para o lixo eletrônico? Acho tão simbólico se forem, porque é assim que me sinto. Um lixo. Minhas mensagens certamente são um lixo eletrônico.

Estou te escrevendo depois de ter passado quase duas horas rolando o feed do meu Instagram. Sempre detestei aquela rede social, mas você sempre pareceu amar, postando suas fotos conceituais, seus vídeos curtos cantando e seus stories fazendo alguma coisa simples como tomar um sorvete. Você consegue tornar a coisa mais simples na mais bonitas delas em seu Instagram. Eu? Posto fotos da minha cara oleosa tentando sorrir.

Instagram sempre foi um lugar cruel para mim, com pessoas de vidas perfeitas, produtividade em dia, corpos irretocáveis e vidas felizes. Nunca foi fácil estar naquela rede social para mim, sempre que entrava saia ainda mais infeliz do que entrei. Hoje (ou ontem? Ainda não dormi, tenho dificuldade em assimilar a mudança de dia se está escuro e eu ainda não dormi) não foi diferente.

No momento que meu feed atualizou e apareceu a sua foto sorrindo ao lado de Yuna em um cenário tão bonito com cores alegres eu soube que não seria um dia feliz. Mas me forcei a ler a legenda, que não era grande. Você nunca foi de fazer grandes declarações públicas de afeto, me lembro bem.

Todo meu amor mora aqui.

Foi isso que você escreveu com um emoji de uma carinha cercada de corações. E me doeu tanto. Tanto. Tanto. Não sei medir o quando meu coração doeu. Não sei medir o tanto que isso foi humilhante. Afinal, você está em um novo relacionamento e eu estou bêbedo com cabernet souvignon direto do gargalo. É muito humilhante, talvez até mais que o tapa que Jimin me deu. Acho que sim, porque eu ainda tinha, em algum lugar distante em meu coração, a esperança que isso fosse apenas uma fase ruim e que nos encontraríamos novamente e nos resolveríamos. Fui ingênua, não é? Foi um pensamento incompatível com a realidade.

Enquanto eu te esperava, você conversava com outra. Ela é melhor que eu? Ela é mais engraçada? Mais inteligente? Bom isso não é muito difícil, não é? Sempre fui muito burra, qualquer um me superaria em inteligência. Mas eu tinha esperanças, você compreende, não é? Afinal, sou burra.

Desses seis meses que passamos separadas, há quantos você conversa com Seo Yu-na? @yn_s_1230. É um username ridículo, se você me permite dizer. Até difícil de marcar, mas você marcou, e eu encontrei “28 anos, produtora de conteúdo, me siga no meu canal no Youtube”. Que mulher ridícula! Você me surpreende, porque sempre criticou quem se auto intitula “pessoa pública” ou “produtor de conteúdo” e está agora namorando uma pessoa dessas. Você é hipócrita!

Acho que estou te odiando, Cho. Pelo menos uma parte de mim, sim. A outra está chorando de ciúmes, A outra está querendo me matar por acreditar que algum dia poderia existir um nós, novamente.

Mas a culpa é só minha. Afinal, eu quem alimentei as falsas esperanças sozinha. Nem mesmo Seolhyun me ajudava a alimentar esse pequeno monstro chamado esperança. Ela é muito fatalista. Ela gosta de se auto intitular niilista, mas isso é intelectualismo bobo de quem morou em um país que exala filosofia e cultura. Procurei no Google o que é niilismo e achei que é a aniquilação da existência, filosofia que não vê fundamento nos valores tradicionais e que não há sentido na existência. Eu chamo isso de fatalismo. Ou pessimismo. Talvez eu seja em algum aspecto niilista, não de caso pensado de quem estuda e compreende o sentido das coisas, mas como essência.

Acabei me perdendo mais uma vez. Queria falar que Seolhyun apenas me desencorajava a acreditar que um dia voltaríamos a ficar juntas, que ela falava que o que teve fim deve ser deixado para trás no mar do esquecimento e da memória e acabei entrando em filosofias infundadas de uma vida sem estudos. Foi por causa disso que você me deixou? Por que eu não tenho foco? Por que eu sou fatalista, niilista ou qualquer ista que se encaixe nessa lista?

Eu nunca teria te largado, se você quer saber. E espero que você e Yuna sejam mais felizes juntas do que jamais pudemos ser. Espero que, diferente de mim, ela não encha o coração dela com falsas esperanças de felicidade e de felizes para todo o sempre. Porque isso não existe. Talvez exista para vocês, mas sinceramente não acho que seja.

Vocês estão passando a quarentena juntas? Vocês se conheceram já enclausuradas ou quando o mundo ainda era um lugar relativamente seguro para se viver? Para mim o mundo nunca foi seguro, mas antes eu podia sair na rua.

Você postou várias vezes a hashtag fique em casa. Então acho que passaram a quarentena juntas. Isso quer dizer que no primeiro e-mail que eu te mandei, já não havia esperanças para mim. E mesmo assim eu as alimentei.

Estou muito triste. De verdade. Te ver sorrindo com aquela mulher que é tão mais bonita que eu, que é tão mais segura (posso saber que ela é segura sem precisar conhece-la) que eu, tão mais inteligente... Estou chorando, e a culpa é toda sua, que me fez acreditar no amor e nas coisas boas da vida e depois se foi.

Ao menos tenho vinho.

Sem atentamente ou qualquer tipo de abraços, porque você e sua felicidade de Instagram não merecem.

Mina.