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História Sem Censura - Espelho, espelho meu


Escrita por: exotomic e minseokbaek

Notas do Autor


Quarta-feira e dia de atualização de sem censura!

Boa leitura <3

Capítulo 8 - Espelho, espelho meu


SEM CENSURA

Baekhyun passou o resto do expediente sacudindo a perna debaixo da mesa com tanta frequência que Jongdae até perguntou se estava acontecendo alguma coisa. Obviamente, ele negou e fez o possível para tentar controlar aquele movimento involuntário, descontando a ansiedade nos dedos batucando o tampo da mesa ou mordiscando a ponta destes, porque havia prometido a si mesmo que não acabaria mais com as unhas e cutículas.

Saber que encontraria com Chanyeol em particular para falar de alguma coisa sobre a situação esquisita dos dois era demais para sua cabeça. Ele nem se esforçou para fazer mais trabalho que o necessário e sair mais cedo, só para que seu tempo extra fosse o suficiente para metade ou quase todo mundo do andar ir embora e ele não se sentir tão desesperado ao ir ao encontro do Park. Quanto mais discretos fossem, melhor, o que não combinava nada com seus olhos arregalados e corpo alerta quando Jongdae perguntou se ele ainda ficaria ali quando arrumou os pertences para bater o ponto.

Se despediu dele tentando não ser muito ridículo e esperou mais alguns minutos, espiando as colegas das mesas de trás saírem conversando como sempre faziam e, nos últimos dias, ele também vinha fazendo com Jongdae. O setor estava cada vez mais silencioso e Baekhyun se convenceu que aquilo era suficiente, encerrando as atividades no computador e marcando no seu planejamento individual o que precisaria fazer no dia seguinte para repor sua falta de atenção.

Vestiu o sobretudo e pegou a bolsa, jogando tudo dentro dela de qualquer jeito enquanto caminhava para o elevador, depois de registrar sua saída. É claro que olhou para a mesa ocupada de Chanyeol, o olhar encontrando o dele quando ele decidiu levantar-se, e Baekhyun sentiu o coração acelerar na mesma hora. O Park estava esperando por ele para que pudessem sair juntos depois de todo mundo, quase como se lesse seus pensamentos e fizesse o possível para deixá-lo confortável.

Depois de praticamente colar no ouvido dele no meio da copa, aquilo era o mínimo, a bem da verdade.

Baekhyun não controlou o instinto de andar em passos rápidos, apertando o botão do elevador e batendo o pé no chão repetidas vezes, amaldiçoando aquela caixa metálica dos infernos que não chegava logo, sabendo que Chanyeol pararia ao lado dele em poucos segundos e sua tentativa boba de evitar passar muito tempo muito perto dele seria falha. E é claro que foi exatamente isso que aconteceu. A presença do Park era tão fácil de reconhecer para ele que o menor até se assustava com a habilidade que possuía em relação ao colega de trabalho, apertando os dedos na alça da bolsa quando os dois entraram sozinhos no elevador, do jeito que Baekhyun queria evitar.

Era insuportável como Chanyeol continuava bonito no fim do expediente enquanto o Byun se sentia um amontoado de transpiração excessiva e falta de alinhamento no cabelo.

— Que bom que esperou. — O Park disse, encostado no espelho, com os braços cruzados. Baekhyun engoliu em seco quando olhou para trás, porque ele ficava ainda mais atraente daquele jeito. — Se estiver tudo bem para você, podemos conversar no meu carro.

— Vai demorar muito? — Baekhyun questionou, desviando o olhar para ganhar forças e se conter. O elevador abriu e ele quase se atirou para fora. Chanyeol foi logo atrás e o alcançou em dois passos.

— Depende da sua reação, mas acho que é melhor se ficarmos em um lugar mais fechado e seguro. — O maior deu de ombros, seguindo o caminho normal que fazia até o carro, quase sempre estacionado próximo ao de Baekhyun por conta da distribuição de vagas por setor. — E eu tenho certeza de que seu carro é pequeno para mim.

Com os olhos estreitos, o Byun espiou o próprio carro estacionado. Certo, era pequeno. Ele gostava da facilidade em estacionar em vagas menores e do quanto se sentia acolhido pelo automóvel, uma vez que ele era baixinho também. Mas Chanyeol, possivelmente, não cabia em seu carro. Ao menos não de forma confortável. E é claro que ter consciência daquele fato fez Baekhyun sentir um nó se formando na garganta. Sempre recebia novas informações que envolviam o quanto o colega era grande e gostoso e totalmente o seu tipo.

— Tá. — Murmurou. Mas se arrependeu daquela decisão assim que Chanyeol destravou o carro e abriu a porta para ele. No primeiro segundo, sentiu-se tímido por ter recebido aquela gentileza, mas logo em seguida, ao entrar e sentar-se no banco do passageiro, o corpo entrou em alerta.

Cada canto daquele carro tinha o cheiro de Chanyeol. Não era nem necessário respirar fundo para reconhecer o perfume ou o característico cheiro que desprendia da pele dele naturalmente, o mesmo que ficou na cabeça de Baekhyun depois de rolar nos lençóis marcados por ele. Sentiu-se quente de imediato, quase sem coragem de abrir a boca, apertando o banco de couro confortável onde estava sentado.

O carro era enorme, inclusive. Alto e muito espaçoso. As pernas curtas de Baekhyun nem chegavam perto de ocupar o espaço todo e ele se sentiu muito menor que o comum acolhido ali. Em contrapartida, Chanyeol ocupava o banco todo e as pernas longas chegavam sem dificuldades no acelerador. Quando ele fechou as portas e os dois ficaram sozinhos ali, porém, nem todo o espaço disponível evitou que Baekhyun se sentisse sufocado.

— Então… — Chanyeol começou e o Byun agradeceu a ideia dele de falar logo para que a conversa terminasse o mais rápido possível, porque queria sair correndo dali antes que cometesse uma loucura. Precisou de coragem para olhar para o Park e não devia mesmo ter feito isso, já que o colega estava virado na sua direção, com um dos braços apoiado no banco. — Agora que podemos conversar direito, você viu que as pessoas gostaram do vídeo, certo?

— Sim. — A voz saiu tão baixa que Baekhyun ficou com vergonha, limpando a garganta. — Vi.

— Bom, eu recebi algumas mensagens, posso te mostrar se você quiser. As pessoas gostaram muito de me ver com você. De você, na verdade. — Chanyeol riu breve, os olhos no menor sem desviar nem por um segundo. Baekhyun não sabia o que fazer com aquela atenção toda, porque não tinha muitos lugares ali dentro para olhar e ignorá-lo. — E muita gente me perguntou se você iria aparecer de novo.

Aquela frase foi o suficiente para que Baekhyun entendesse qual o teor da conversa que estavam tendo. Ele prendeu a respiração, os olhos se tornando maiores que o comum, a expressão de surpresa refletindo nas íris de Chanyeol, que o achou uma gracinha. Nunca iria parar de o achar lindo e fofo e totalmente o seu tipo.

O maior esperou Baekhyun processar a informação, levantando o canto dos lábios para encorajá-lo e tentar mostrar que estava tudo bem, para ele, que falassem sobre aquilo. Viu o colega olhar para os cantos do carro, o olhar perdido no porta-luvas por longos segundos antes de voltar a encará-lo.

— Querem que eu apareça em outro vídeo? — receoso, Baekhyun perguntou pausadamente e, sem perder tempo, Chanyeol assentiu.

— Eu não costumo fazer isso, acho que é bem difícil que eu repita um parceiro assim. Mas foram muitos pedidos, acho que nunca recebi tantas respostas e, bem, não acho que seria ruim abrir uma exceção agora. — O jeito que o Park se inclinou, mesmo de leve, para a frente, fez Baekhyun respirar fundo. E a decisão foi péssima porque o cheiro dele foi sentido ainda mais intensamente. — Se você quiser, podemos gravar de novo.

— M-Mas você disse que não repete. O contrato era só de uma noite. — Baekhyun se amaldiçoou por gaguejar assim que notou como a voz saiu falha, mas não havia nada que ele pudesse fazer, piscando, alarmado, na direção do maior. — Não seria uma quebra?

— É só gerar outro. — Deu de ombros. Era como se ele tivesse todas as soluções para qualquer impedimento que Baekhyun visse na proposta. — Mas, claro, só se você quiser. Eu achei que seria uma boa ideia porque gostaram mesmo de nos ver. E… foi gostoso, não foi? Você não gostou?

Baekhyun encolheu os ombros e encarou o painel do carro, agradecendo pelos vidros escuros.

— Do vídeo?

— Também. Mas estou falando do sexo. — Chanyeol não tinha se movido mais, porém Baekhyun o sentiu mais próximo ainda assim, ao ponto de a pele esquentar. — Transar com você foi muito bom, já te disse como você é gostoso e na cama fica ainda mais…

— Entendi. — Baekhyun o cortou antes que ele continuasse com aqueles elogios explícitos que estavam levando seu fôlego embora. Não estava acostumado nem um pouco a escutar aquelas coisas e, ao mesmo tempo, lembrava dos comentários do vídeo exaltando o quanto ele era uma delícia.

Em algum lugar da cabeça de Baekhyun, saber que Chanyeol compartilhava da opinião dos seguidores era gratificante. Ele só não conseguia alcançar esse lugar ainda.

— Então. É isso que precisava te dizer. Para mim, é uma proposta interessante e se você aceitar, podemos combinar tudo. Sabe, vai ser a mesma coisa, com o mesmo contrato de sigilo e você não precisa se preocupar com isso de novo. — Chanyeol fez questão de dizer, pegando o celular porque achou que ele deveria ver aquele apelo dos seguidores. Primeiro para amolecer o coração dele e segundo para evitar que ele descobrisse muito fácil como estava caidinho por ele. — Você pode ver aqui. Todas essas notificações. São pessoas perguntando sobre você.

Baekhyun piscou, olhando a tela do celular que parecia pequeno na mão de Chanyeol, seguindo o olhar pelo que o dedo indicava, descendo a tela e a subindo de novo. Era uma quantidade considerável de mensagens diretas e ele conseguia captar algumas palavras, como “outro vídeo” “muito bom” “repetir” “mais um”. Nem precisava clicar para ler as mensagens completas, porque o conteúdo era óbvio.

— Nossa… — Não percebeu quando a palavra escapou baixinha dos lábios entreabertos. Ele estava muito surpreso, porque era quase o dobro do que tinha acesso pelos comentários. Chanyeol tinha recebido muita coisa sobre os dois. Baekhyun não fazia ideia do motivo, mas não podia negar aquelas provas.

— Se você topar, a gente faz de novo. Mas como vai ser um contrato novo, é claro que você vai poder escolher outras coisas, podemos experimentar outros jeitos… tudo isso. — Chanyeol sentia que ele estava querendo aceitar só pela forma em que foi encarado, assim como o viu umedecer os lábios. Já estava até comemorando por dentro. — O que você acha?

Baekhyun sentiu o coração falhar umas batidas e apertou mais o banco de couro, discreto. Chanyeol continuava o encarando com aqueles olhos brilhosos e todo o corpo grande dele era chamativo e, infelizmente, convidativo demais. Era ridículo o quanto ele estava com vontade de fazer sexo com o colega de trabalho de novo, por mais antiético que aquilo fosse — o que, naquela altura do campeonato, já nem importava mais.

Transar com o Park outra vez já havia até aparecido em seus sonhos sórdidos ao tempo em que o evitava no trabalho e em qualquer canto só para não lidar com aquele desejo maldito. Estava tão certo de que aquela noite com Chanyeol seria a última que evitou até ter maiores contatos com ele. Evitou beijá-lo por isso. Fez o possível para se controlar e se convencer de que já tinha ganhado seu prêmio na loteria e gastado todo de uma vez.

E agora estava recebendo quase um convite formal para fazer sexo com ele novamente. Experimentar coisas diferentes das que fizeram na outra noite, o que por si só já deixava Baekhyun com um frio na barriga de pura expectativa. Sem contar o tanto de pedidos dos seguidores e todos aqueles elogios que escapavam dos lábios do Park enquanto o perguntava, a grosso modo: quer dar para mim de novo?

E, porra, como Baekhyun queria. Queria tanto que desejou ser desinibido e destemido o suficiente para subir no colo dele naquele exato momento e o mandar ligar qualquer câmera que registrasse os dois fodendo naquele carro. Espaço era o que não faltava, para ser sincero. Só lhe faltava a coragem e a segurança. Além disso, seria um louco aos olhos de Chanyeol se fizesse o que seu lado mais irracional exigia.

Mas então ele lembrava do quanto ficou nervoso com a situação como um todo e como chegou perto de ter crises que atrapalhariam sua rotina. Agora, ao menos, ele sabia que as pessoas tinham gostado e sua relação com os comentários não era tão ruim, porém a exposição ainda o deixava muito tenso. Óbvio que esqueceria de tudo isso quando estivesse sentindo a mão grande de Chanyeol o estapeando na bunda, mas precisava pensar direito sobre o assunto.

Ou apenas não queria parecer o desesperado que era para sentar naquele pau de novo.

— Eu… não sei? — Baekhyun juntou as sobrancelhas e podia jurar que os ombros do Park cederam, mas a expressão dele continuou a mesma. — Quer dizer… acho que preciso pensar um pouco.

— Oh. Certo. — Chanyeol aparentou estar sem graça, mas Baekhyun não refletiu sobre aquilo por tempo o suficiente, porque ele sorriu de novo em seguida. — Você pode pensar o quanto quiser. Se gostou da primeira experiência, será mais do mesmo, com a mesma segurança, pode ficar tranquilo.

— Tudo bem, eu vou pensar. 

— Não precisa ter pressa. — O Park advertiu, mas precisava sim. Se tinha algo que ele estava, era apressado. Não via a hora de agarrar Baekhyun de novo. Mas não queria que ele se sentisse pressionado. — É só uma ideia que eu achei boa, você pode decidir e me responder quando preferir.

— Certo… Era só isso? — Baekhyun olhou para os lados, conferindo se ainda estavam escondidos o suficiente ali. Não queria sair do carro de Chanyeol com alguém passeando pelo estacionamento.

— Bom, sim. — A risada curta que o maior deixou escapar fez o corpo de Baekhyun tremular. Era bem difícil aguentar tudo aquilo de uma vez. — Só isso. Você pode me mandar uma mensagem quando decidir. Não acha bom ter o meu número pessoal? Às vezes as notificações se perdem no meu Twitter.

Engolindo em seco, Baekhyun assentiu. Precisava muito beber uma água ou uma tequila, sei lá. Chanyeol era demais para sua insignificância. E agora teria o número não corporativo dele gravado em sua agenda, respirando fundo quando o deixou digitar a sequência no seu celular, salvando o próprio contato, querendo gritar quando fez o mesmo no aparelho dele e, depois de registrar o número e deixar o celular mostrar a tela inicial, ter um pequeno ataque interno ao vislumbrar a foto do colega no fundo.

Primeiro porque se surpreendia com pessoas que tinham autoestima o suficiente para isso, segundo porque ele estava usando um blazer aberto e posando para a selfie com um sorriso que mostrava a covinha. Baekhyun quis morrer por ser tão preso aos detalhes, sabendo que a imagem iria aparecer algumas vezes em sua cabeça quando se despedissem.

— Pronto. Qualquer coisa é só falar comigo. — Chanyeol disse, dando a Baekhyun a deixa perfeita para dar o fora dali.

— Ok. Boa noite.

— Boa… até amanhã. — O Park murmurou, e Baekhyun não ouviu seu suspiro porque já tinha corrido porta afora.

Olhou para os lados enquanto caminhava em passos rápidos até o próprio carro, enfiando-se dentro dele do jeito mais rápido que conseguiu, apertando as mãos no volante porque estava quase se sentindo fora de órbita. O cheiro de Chanyeol ainda nublava sua mente, somado à foto que viu sem querer, além da presença insuportavelmente instigante que o homem tinha e, é claro da proposta indecente que recebeu e, negando ou não, estava louco para aceitar. 

Nem um banho gelado iria refrescá-lo o suficiente depois de tudo aquilo. E ele deu partida no carro enquanto sentia o corpo inteiro pegar fogo.

 

[...]

 

Baekhyun até queria parar de ser infantil, mas o comportamento de fuga com o qual ele estava acostumado era mais forte na maioria das vezes. Cumprimentava Chanyeol, o dizia bom dia, bom almoço, boa noite e até amanhã, mas não falava uma palavra sequer sobre a conversa que tiveram na terça. Também não falou com ele por mensagens apesar de clicar no contato e passar os olhos na foto de perfil informal quase todos os dias.

Jongdae estava sendo uma boa distração e companhia. Foram em diferentes restaurantes durante a semana e na quinta até decidiram pedir comida por delivery e aproveitaram do silêncio do andar. Baekhyun já sabia todos os detalhes da vida do Kim, que não se importava em falar, e às vezes o fato de ter compartilhado tão pouco de si o incomodava. Então ele tentava contar sobre como foi se mudar para Seul e morar sozinho enquanto trabalhava, até ter aquele salário estável.

Acha sua vida sem graça demais, mas Jongdae o respondeu com entusiasmo sobre tudo. Perguntou até se gostou de decorar a própria casa, porque lembrou como foi divertido para ele e a esposa decidirem o que iria compor o lar que dividiriam. Foi bom para Baekhyun saber que o amigo estava o escutando com atenção mesmo que estivesse falando algumas bobagens muito simples, e ele tentou se convencer de que não era assim tão insuportável e desinteressante.

Sentia-se mais próximo de Jongdae todo dia, ao ponto de se culpar um pouquinho por ter reclamado em silêncio quando Kyungsoo jogou o novo funcionário em seu colo para o treinamento. Aquela tinha sido provavelmente a melhor coisa que o chefe já tinha feito por ele.

Vez ou outra, sentia vontade de contar a Jongdae sobre sua sexualidade, porque mesmo que aquele não fosse um tópico relevante na amizade, ele sentia que estava escondendo um monstro que não era nem monstro e nem precisava ser escondido. Era só um pouco estranho para ele ser perguntado inocentemente por Jongdae se alguma das mulheres bonitas do setor já tinham despertado interesse nele, já que era solteiro, e não poder dizer que tinha se interessado mesmo era pelos homens, especialmente por um. Mas não sabia se estava pronto ainda e nunca tinha segurança o suficiente para revelar aquilo sem medo de perder a amizade, caso o Kim fosse homofóbico.

Achava improvável, pelo que conversavam, mas era impossível dizer com precisão porque nunca falaram sobre nada relacionado. E Jongdae era o primeiro amigo que fazia no trabalho em anos, não queria perdê-lo por contar aquilo e ainda sair extremamente magoado pelo preconceito. Escolhia sempre ficar calado, ao menos até que a coragem aparecesse, porque também sabia que seria pior descobrir um intolerante em Jongdae depois que ficassem ainda mais amigos.

Por enquanto, estava bom daquele jeito, e ele apenas fazia o possível para não deixar seus olhares óbvios toda vez que Chanyeol passava pelas mesas deles, controlando-se para não admirar cada passo do Park como costumava fazer discretamente antes. Agora, então, era quase atraído naturalmente pela presença do colega de trabalho com quem tinha uma pendência extremamente pervertida.

Toda vez que ele cruzava seu caminho, lembrava da resposta que estava devendo e que tinha na ponta da língua. Lembrava que se aceitasse como pretendia e sentia vontade de fazer, poderia ter uma outra noite com ele, poderia aproveitar tudo o que perdeu da última vez. Poderia usar aquelas coisas diferentes que ficavam dentro do quarto, poderia testar outras posições, outros acessórios e outros meios de receber e dar prazer. É claro que precisava ficar dissipando esses pensamentos impuros para não acabar com uma ereção no meio das pernas no expediente, imaginando-se com as pernas abertas para Chanyeol de novo.

Eram tantas vontades que ele nem se surpreendia quando ficava aéreo, encarando a tela do computador enquanto gemidos e sussurros ecoavam em sua cabeça, o fazendo apertar as coxas involuntariamente. Estava enlouquecendo e nem mesmo tinha aceitado ainda, o que só o fazia acumular mais coragem de fazê-lo, mesmo aos poucos. Seria mentira dizer que acabaria respondendo Chanyeol por pura impulsividade quando não aguentasse mais olhar para a cara dele sem querer enfiá-la no meio da própria bunda.

Levou dois anos suportando a falta de sexo para se ver desesperado e, depois de experimentar com Chanyeol, já estava subindo pelas paredes com poucas semanas. Que tipo de magia era aquela, por Deus? Tinha sido enfeitiçado por aquele inferno de homem, por acaso? Não ficaria surpreso. Ficava tão sem jeito na frente dele que parecia perder toda a pouca imponência que tinha.

Argh. — Baekhyun apoiou a testa no volante do carro. Tinha acabado de se despedir de Jongdae e os olhos caíram em Chanyeol assim que pisou no estacionamento. Ele não fez nada além de acenar com cabeça e respeitar seu espaço ao entrar no carro grande, vestindo aquele casaco longo que deveria o enrolar inteiro caso experimentasse. E a vontade que ele sentiu se se esfregar em uma peça de roupa o dizia que ele estava chegando perto da insanidade. — É só enviar uma mensagem.

Baekhyun seguiu o caminho para casa repetindo aquele mantra, treinando na cabeça um simples “aceito”, se sentindo muito estúpido pela necessidade de fazer aquilo só para concordar com uma transa. Se envolver com Chanyeol estava fazendo-o perceber como era ansioso, também, porque é claro que nada em sua vida teria apenas lados bons.

Quando chegou em casa, o porteiro o informou de uma entrega na caixa postal do prédio no instante em que liberou sua entrada no estacionamento, e ao retirar o pacote do armário do correspondente ele soube exatamente do que se tratava, sentindo as bochechas esquentando mesmo que ninguém estivesse ali e, se estivesse, não saberia o que teria dentro da embalagem discreta de um sex shop online onde comprava às vezes.

A pior parte foi pensar de imediato em Chanyeol quando desembalou o dildo, o plug anal e o gel de massagem que enviaram a ele de brinde. Como conseguiria se conter se a imagem que se formou na mente foi a do colega de quarto tendo a gloriosa surpresa em vê-lo com um plug enfiado no meio da bunda quando ele tirasse a roupa? Era possível até pensar no jeito em que o Park apertaria e separaria suas nádegas só para olhar bem para a imitação de pedra preciosa que o acessório tinha na ponta.

Grunhiu e jogou o pacote em cima da cama com a pele quente e o pau dando sinais de vida na cueca apertada. Nunca tinha se sentido tão sujo na vida, com exceção para o momento em que recebeu a ejaculação de Chanyeol no rosto com a boca aberta.

Chanyeol o levava a limites muitos perigosos da ética e moral e era péssimo porque ele nem conseguia se importar.

Estressado com as próprias reações corporais, Baekhyun pegou o celular e abriu aquele contato desgraçado que não saía de sua tela no aplicativo de mensagens, por ser o mais recente salvo. Digitou enfurecido, largando o celular na cama e indo tomar um banho antes que não aguentasse a ereção e precisasse se masturbar.

 

Baekhyun: Podemos gravar de novo se ainda quiser.

 

Deixou a água fria se chocar com a pele cálida e só saiu do banheiro quando o pênis voltou ao estado normal e seguro, secando-se com a toalha e cobrindo o corpo nu com o roupão, porque gostava de aproveitar os momentos em que conseguia ficar sem roupas comuns, e eles só ocorriam quando estava sozinho dentro da própria casa.

Pensou em experimentar os novos brinquedos comprados, mas sabia que Chanyeol aparecia demais em seus pensamentos para seguir com a ideia, então apenas se sentou para comer a salada do jantar enquanto passava os olhos nas redes sociais que nunca atualizava, com exceção do Twitter. Acabou publicando algumas besteiras, mas saiu rápido porque sua linha do tempo vez ou outra mostrava coisas da conta de Chanyeol e ele não estava bem no melhor momento para ver seu vídeo sendo retweetado pelo colega.

Entediado e um pouco nervoso por não ter recebido resposta, Baekhyun seguiu para o lugar que ele mais odiava: o Instagram. Todo mundo era perfeito naquele lugar e ele tinha consciência demais dos próprios defeitos para se manter ali por muito tempo. Acabou indo no perfil comercial da empresa e torceu o nariz, comendo um tomate cereja.

— Que brega. — Reclamou. Eles faziam postagem cheias de frases motivacionais e mais um monte de baboseira sobre negócios. Deveria ser um saco ser o agente de networking deles. — Nossa, é a Seungwan…

Havia uma foto de uma mulher bem vestida e sorrindo, segurando uma xícara de café. Baekhyun nem lembrava que às vezes tiravam fotos de funcionários para passar boa impressão, porque ele nunca era convidado. Negou da primeira vez, era essa a verdade que o Byun não recordava de fato.

Clicou na foto porque o nome de usuário da colega de setor estava ali e ele nem tinha muito na cabeça quando apertou, o humor caindo um pouquinho quando ele lembrou que ela era uma das pessoas que comentava sobre a transa maravilhosa que tivera com Chanyeol em algum momento. Sabia que não devia ficar stalkeando a mulher, que era realmente muito linda e que o interessaria caso se atraísse por mulheres, mas foi para os seguidores do mesmo jeito, querendo morrer quando leu “chanyeolpark” na tela e reconheceu o Park na foto de perfil.

— Claro que eles seguem um ao outro. — Resmungou. Se transaram, não era nada incomum que trocassem aquele tipo de contato. Imaturo demais para os vinte e sete anos, Baekhyun apertou o botão de seguir Chanyeol sem pensar, porque ele também transou com o Park e tinha direito de segui-lo no perfil pessoal do Instagram, se era esse o requisito.

Desesperou-se em seguida, mas seria ainda mais bobo se desfizesse a besteira, então deixou ali, impressionado com as atitudes que estava tomando por causa do colega de trabalho.

Respirando fundo, desceu o perfil dele despretensiosamente, espiando as fotos e tomando muito cuidado para não curtir. Ele tinha bom gosto, ao menos pelas imagens que postava de comida ou lugares. As fotos de rosto eram todas bonitas e as que mostravam o corpo fizeram Baekhyun parar de mastigar para não engasgar com a comida, mesmo que não tivessem nada demais. Quis até dar uma choradinha básica enquanto batia uma porque Chanyeol era muito gostoso e muito inalcançável para ele, romanticamente falando.

— Será que eu devia beijar ele dessa vez? — Baekhyun suspirou, o dedo passando por uma das selfies que o Park tinha publicada, a ponta do indicador delineando os lábios dele. — Queria usar alguma coisa do quarto…

No meio de seu devaneio, uma notificação surgiu no início da tela e quase o fez derrubar o celular no prato, o nome de Chanyeol aparecendo na mensagem recebida. O coração acelerou de imediato.

 

Chanyeol: Oi. Que ótimo, Baek :D

Chanyeol: Posso te ligar? Só para combinar melhor.

 

Baekhyun sentiu o estômago afundar e nem soube dizer se era pelo apelido simples ou pelo pedido que foi feito, concordando com um “sim” impessoal e arrastando-se para fora da cadeira, caminhando em círculos na sala de estar porque não ia conseguir ficar parado enquanto falava no telefone com Chanyeol. Já tinha escutado a voz dele por chamada quando alguém enviou a ligação dele para o seu ramal, mas ouvir a voz grave perguntando sobre trabalho não era o mesmo que o ouvir falar sobre sexo.

O celular tocou em segundos e Baekhyun precisou respirar fundo três vezes antes de atender. Precisava se cuidar ou teria um ataque cardíaco com tanta coisa que vinha acontecendo em sua vida.

— Diga. — Foi só o que falou ao levar o celular ao ouvido, torcendo que Chanyeol fosse breve.

— Oi, Baek. — Repetiu o cumprimento. A voz dele soou quase arrastada, como um carinho erótico em seu ouvido, e Baekhyun teve que controlar o suspiro. — Então, já que você aceitou, eu queria saber se eu posso imprimir o contrato logo por aqui igual ao anterior, com os limites mantidos, assim a gente não precisa conversar sobre isso novamente.

— Ah. — As bochechas de Baekhyun ruborizaram porque ele lembrou do quanto ficou constrangido sobre aquele ponto. — Certo.

— Você vai querer decidir agora as coisas que vai querer fazer, ou isso a gente deixa em aberto? Como não faz parte do contrato em si…

— Não sei, eu… — Baekhyun encostou a testa na parede, um pouco perdido dentro da própria casa. — Não sei o que vou querer ainda.

— Tudo bem. — Baekhyun quase conseguia visualizar o sorriso gentil do Park quando ele respondeu. — Sobre o dia… Você prefere na próxima sexta ou no sábado? Já que domingo não tem trabalho, não sei, você que sabe. Para mim qualquer dia está bom, você escolhe.

— No sábado. — Respondeu de imediato. Estava ansioso e uma semana de tempo para aquele encontro acontecer o deixaria louco, de fato, mas ainda era melhor que acabar dormindo de novo na cama de Chanyeol e enfrentar problemas de novo. Não que fosse deixar a mesma coisa acontecer, mas era melhor evitar.

Além do mais… da última vez, ficou com a bunda incomodando na cadeira desconfortável do trabalho o dia todo. Queria passar o domingo inteiro deitado de bruços e aproveitando do fato de ainda sentir-se preenchido depois da foda.

— Por mim, fica combinado assim mesmo. Marcado então? — Chanyeol perguntou e Baekhyun concordou baixinho. — Sabe, é até legal fazer isso assim e não por mensagem com um desconhecido.

A reflexão de Chanyeol pegou Baekhyun de surpresa, porque não imaginava que o Park falaria qualquer coisa amena com ele, achou que a única coisa que fariam era resolver as questões e pormenores sobre a noite de encontro.

— Legal. — Não sabia o que dizer. O que deveria dizer naquela situação? Que bom que você vai transar com alguém que conhece dessa vez? Seria indelicado.

Chanyeol riu baixinho do outro lado da linha e Baekhyun apertou o celular entre os dedos, um tanto fraco com a risadinha. Existia alguma coisa que o Park fazia que não provocava efeitos controversos nele?

— Tudo bem então. Até segunda no trabalho e até sábado aqui em casa.

Baekhyun estremeceu. Iria pensar naquilo todos os dias.

— Até.

Quando desligou a chamada, precisou voltar para a cozinha e encher um copo de água gelada, só para garantir que estava devidamente controlado. 

Baekhyun estava consciente da proposta todos aqueles dias em que se demorou para responder Chanyeol, mas só agora conseguia perceber o quão grande aquilo era. Chanyeol tinha dito que nunca repetia seus parceiros, mas Baekhyun tinha sido não somente digno daquilo, como também era a única pessoa pelo qual o colega de trabalho tinha feito esse esforço. 

Antes de voltar para o quarto, devidamente acalmado — na medida do possível, ao menos, porque Baekhyun se conhecia e sabia que ficaria ansioso até o dia em que ambos combinaram de se encontrar —, ele largou o copo sujo dentro da pia. Baekhyun ainda estava usando um roupão, o tecido macio abraçando sua pele. Gostava de ficar assim dentro de casa, onde ninguém além dele mesmo poderia vê-lo. 

Costumava ter um espelho grande próximo à cômoda quando terminou de reformar o apartamento, mas ele tinha arrastado o móvel no último ano para um dos cantos do quarto, onde não passava em frente com tanta frequência. Ele caminhou de pés descalços no chão, um lábio preso entre os dentes até o espelho. O roupão ia até os joelhos e escondia a maior parte do que Baekhyun não gostava. Pelo menos ele tinha pés consideravelmente bonitos para um homem, era o que diziam. 

Ele abriu o laço do roupão somente o suficiente para que uma parte de seu corpo ficasse exposta. Imediatamente, ele se lembrou das coisas que Chanyeol tinha dito, de como havia falado que ele era gostoso e que era impossível não gostar dele. Lembrou também de alguns comentários específicos que os seguidores dele haviam feito no vídeo. Sendo sincero, não se lembrava de ter lido nada negativo além de reclamações sobre o vídeo ser muito curto. 

Por que ele não conseguia enxergar nada daquilo enquanto encarava seu reflexo parcialmente despido?

Baekhyun esfregou a mão pelo pescoço e o roupão deslizou por um dos ombros. Sua testa estava franzida para a imagem refletida no espelho. Ele nunca tinha sido muito magro, mas ele não se importava tanto com sua aparência física até dois ou três anos atrás, mesmo fazendo o possível para conviver bem com o peso. Para ser sincero, o tamanho das coxas e as dobras em sua barriga não o incomodavam tanto quando a protuberância em seu peito. Quando usava camisetas mais apertadas ou com tecidos muito leves, marcava de um jeito vergonhoso. Era muito difícil ir até uma loja e comprar roupas porque ele sempre saía insatisfeito e triste. Sequer lembrava a última vez que foi a um shopping para isso.

Fez uma careta quando tocou na área, abrindo o roupão só mais um pouquinho, o suficiente para que ele começasse a odiar o que estava fazendo. Arrastou os dedos para baixo, descendo a mão pelo peito até a barriga, e era horrível se tocar daquela forma enquanto não via nada de atraente no reflexo. 

Em sua cintura e bunda, tinham algumas estrias brancas. Não eram tão visíveis porque Baekhyun tinha a pele muito clara, mas ele sentia quando passava a mão porque eram profundas, e ele sabia que Chanyeol também tinha sentido. Isso era um pouco desesperador, porque ele tinha aprendido a odiar todas as coisas que não estavam padronizadas no próprio corpo e saber que alguém como Chanyeol, que não poderia estar mais dentro do padrão, não via aquilo como feio ou incômodo não fazia o menor sentido para ele. E era ainda mais louco saber que, na verdade, ao que tudo indicava, Chanyeol até gostava. 

Tocou os quadris, passando levemente os dedos na área com marcas de pele, engolindo o quanto odiava a sensação. Tinha recebido todos aqueles toques do Park e ele não fez nada além de tocar com mais vontade. Chanyeol não fez nada além de se mostrar satisfeito. Se era assim, ele deveria gravar sem camisa da próxima vez? Deveria deixar todas aquelas pessoas o verem com o corpo inteiro nu?

Deveria deixar Chanyeol vê-lo dessa forma? Ele ainda pensaria que era gostoso quando tivesse a mesma visão que Baekhyun tinha quando se olhava no espelho? 

Baekhyun riu, balançando a cabeça negativamente. Só de pensar nisso, já tinha resposta. Só precisava olhar para a frente, para o torso exposto, para saber que Chanyeol também não gostaria da vista. Ele nem mesmo aguentava mais olhar, motivo pelo qual fechou o roupão e se afastou do espelho, sentindo-se frustrado como todas as outras vezes. 

Era ridículo assumir isso, mas para Baekhyun, continuar se escondendo era melhor. E era bom que Chanyeol não o visse por inteiro também. Não conseguiria lidar se encontrasse qualquer coisa nos olhos dele que não fosse aquela falsa admiração. 

Por ora, era isso que faria. De qualquer forma, Baekhyun sabia que não teria outra oportunidade de transar com Chanyeol depois disso. 

Uma vez era coincidência. Uma segunda vez era sorte. 


Notas Finais


Agradecemos quem chegou até aqui. Nossos twitters são @mdzsun e @lightweigths!!! Até a próxima atualização <3

Playlist: https://open.spotify.com/playlist/4mJ7OaBZKSBomForq9c1SZ?si=YSaEc25fSQemLIarlar0DQ


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