Nico continuou a ler.
“NAQUELA NOITE, NICO DORMIU NO chalé de Hades.
Ele nunca havia tido vontade de se instalar ali, mas agora dividia o local com Hazel, o que fazia toda a diferença.”
Bianca sorriu com pesar.
“Viver novamente com uma irmã o deixava feliz, mesmo que fosse apenas por alguns dias — e mesmo com Hazel insistindo em dividir o chalé com lençóis para ter mais privacidade no seu lado do quarto, de forma que o lugar ficava parecendo uma área de quarentena.
Pouco antes do toque de recolher, Frank chegou para visitar Hazel. Os dois passaram alguns minutos conversando aos sussurros.”
— Você deveria ter deixado eles sozinhos. – reclamou Will.
NDA não se deu ao trabalho de responder, apenas revirou os olhos ao escutar as risadinhas dos outros semideuses.
“Nico tentou ignorá-los. Ficou se espreguiçando em seu beliche, que mais parecia um caixão: todo em mogno polido com barras de latão na cabeceira, além de travesseiros e cobertores de veludo em tom vermelho-sangue. Nico não tinha acompanhado a construção daquele chalé. Se tivesse, nunca teria sugerido aquelas camas. Pelo visto alguém ali achava que os filhos de Hades eram vampiros,”
— E não são? – Percy brincou.
Bianca e NDA o olhavam com seriedade, enquanto Nico não parecia se importar muito.
— Cale a boca, Jackson.
“não semideuses.
Então Frank bateu na parede junto à cama de Nico.
Nico ergueu o olhar. Frank agora estava muito alto. Parecia tão… romano.
— Ei — disse Frank. — Vamos partir pela manhã. Eu só queria agradecer.
Nico ergueu o corpo.
— Você se saiu muito bem, Frank. Foi uma honra.
Frank sorriu.
— Sinceramente, estou meio surpreso por ter sobrevivido. Toda aquela coisa de graveto mágico…
Nico assentiu. Hazel tinha contado a ele sobre o pedaço de lenha que controlava a linha da vida de Frank. Nico entendeu como um bom sinal o fato de que agora Frank conseguisse falar abertamente sobre o assunto.
— Não posso ver o futuro — disse Nico —, mas geralmente sei quando as pessoas estão perto da morte. Você não está. Não sei quando aquele pedaço de lenha vai terminar de queimar. Chega um momento em que a lenha acaba para todos nós.”
— Poético. – alguém zoou.
“Mas vai demorar, pretor Zhang. Você e Hazel… vocês ainda têm muitas aventuras a viver. Estão apenas começando. Cuide bem da minha irmã, ouviu?”
Will mordeu os lábios, segurando a risada.
— Que fofo, ameaçando o namorado da irmã? – ele foi respondido com um tapa no braço.
“Hazel se aproximou de Frank e entrelaçou a mão na dele.
— Não venha ameaçar meu namorado, hein!
Era algo bom de se ver, os dois tão à vontade juntos. Mas Nico sentiu também uma pontada no coração; uma dor fantasma, como um velho ferimento de guerra latejando por conta do frio.”
— Por que? – perguntou o jovem Nico.
E com a pergunta do seu ‘eu’ jovem, a ficha de NDA caiu.
— Não iremos ler essa parte, né? – assustado, ele perguntou ao namorado.
— Que parte?
— Não se faça de idiota, você sabe do que estou falando.
Enquanto os dois semideuses brigavam, Thalia olhava a situação com tédio. Ela limpou a garganta.
— Vão deixar o Di Angelo ler ou não?
“— Não tem por que ameaçar Frank. Ele é um cara legal. Ou um urso legal. Ou um buldogue legal. Ou…”
A sala se encheu de risadas.
“— Ah, pare com isso. — Hazel ria. Ela deu um beijo em Frank. — Vejo você de manhã.
— Ok. Nico… Tem certeza de que não vem com a gente? Você sempre vai ter um lugar em Nova Roma.
— Obrigado, pretor. Reyna me disse o mesmo. Mas… não.
— Espero ver você de novo.
— Ah, vai me ver sim — prometeu Nico. — Vou ser padrinho do casamento de vocês, não é?”
— Não se ofereça assim. – reclamou Bianca em um tom descontraído.
NDA sorriu, enquanto dava de ombros.
“— Hum…
Frank ficou sem graça, limpou a garganta e foi embora, esbarrando no batente da porta ao sair.
Hazel cruzou os braços.
— Você tinha que provocá-lo com isso.”
— Tinha. – murmurou NDA.
“Ela se sentou na cama do irmão. Durante um tempo os dois apenas ficaram ali, em um silêncio confortável… Irmãos, filhos do passado, filhos do Mundo Inferior.
— Vou sentir saudade de você — disse Nico.
Ela inclinou o corpo para apoiar a cabeça no ombro dele.
— E eu de você, meu irmão. Você vai me visitar.
Ele deu um tapinha na nova medalha de oficial que brilhava na camisa dela.
— Centuriã da Quinta Coorte. Parabéns. Não existe nenhuma regra contra centuriões namorarem pretores?
— Shhh. — Fez Hazel. — Vai dar muito trabalho fazer a legião voltar a entrar em forma, consertar os estragos que Octavian causou. Regras de namoro vão ser o menor dos meus problemas.
— Você cresceu muito. Não é a mesma menina que eu levei para o Acampamento Júpiter. Seu poder com a Névoa, sua confiança…
— Tudo graças a você.
— Não. Conseguir uma segunda chance é uma coisa; o difícil é fazê-la valer a pena.
Assim que disse isso, Nico percebeu que podia estar falando também de si mesmo. Mas decidiu guardar para si essa observação.
Hazel deu um suspiro.
— Uma segunda chance. Eu só queria que…
Ela não precisou concluir seu pensamento. Fazia dois dias que o desaparecimento de Leo vinha pairando como uma nuvem sobre todo o acampamento. Hazel e Nico evitaram se juntar ao coro de especulações sobre o que tinha acontecido com ele.
— Você sentiu a morte dele, não sentiu? — perguntou Hazel, em uma voz tímida. Seus olhos estavam marejados.
— Sim — admitiu Nico.”
Jason suspirou.
“— Mas não sei. Alguma coisa dessa vez foi… diferente.
— É impossível que ele tenha conseguido usar a cura do médico. Não sobrou nada daquela explosão, não tem como. Eu achei… achei que estivesse ajudando Leo. Estraguei tudo.
— Não. Não é sua culpa.
Mas Nico não estava pronto nem para perdoar a si próprio. Havia passado as últimas quarenta e oito horas revendo a cena com Octavian junto à catapulta, sem saber se havia feito mesmo a coisa certa. Talvez o projétil, com seu poder explosivo, tivesse ajudado a destruir Gaia. Ou talvez tivesse custado desnecessariamente a vida de Leo Valdez.
— Eu só queria que Leo não tivesse morrido sozinho — murmurou Hazel. — Não tinha ninguém com ele, ninguém para dar a ele aquela cura. Não temos nem um corpo para enterrar…
Ela não conseguiu continuar. Nico a abraçou.
Hazel chorou nos braços dele. Até que, por fim, dormiu de exaustão. Nico a ajeitou ali na própria cama e lhe deu um beijo na testa. Depois foi até o santuário de Hades, uma mesinha no canto decorada com ossos e joias.
— Para tudo há uma primeira vez — disse ele.
Então se ajoelhou e rezou em silêncio pela orientação do pai.”
— Você nunca tinha rezado para o seu pai? – perguntou Reyna.
— Não. – NDA respondeu silenciosamente
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