VISÃO: Anne, 02 de fevereiro de 2010
A vida pode nos trazer vários presentes, mas, com toda certeza, você foi o melhor deles.
O despertador apitou, meus olhos se abriram lentamente e fitaram o teto. O delicioso cheiro de torradas com geleia estava no ar. Desliguei o pequeno aparelho e levantei, mas quando meus pés tocaram o chão senti um choque de temperatura, rapidamente calcei meu chinelo.
Abri a porta do quarto e praticamente rastejei até o banheiro. Tranquei-o, apoiei minhas mãos nas bordas da pia e me olhei no espelho: pequenas sardas localizadas ao redor do nariz, olhos verdes com olheiras quase pretas ao redor e pele mais branca que a neve.
Levantei minha cabeça e prendi os longos cabelos negros em um alto rabo de cavalo. Despi-me e entrei no chuveiro, a água quente caia sobre meu corpo e era impossível não estar ansiosa naquele momento.
Daqui a 3 horas estarei embarcando para o lugar que mudará minha vida: a Coréia. Minha escola de dança fez um acordo com outra, uma das mais renomadas do mundo, localizada neste país. Apenas os 5 melhores dançarinos iriam para este "intercâmbio", onde aprenderemos sobre diversas coisas interessantes e, adivinha, fui uma das escolhidas.
Porém há um motivo maior para toda a minha animação: um rapaz, o qual conheci por um aplicativo, estará me esperando. Se minha mãe soubesse dessa parte, com certeza me mataria.
Saí do box e vesti um moletom amarelo com uma saia jeans de botões. Soltei meu cabelo e arrumei minha franja, abri a porta e desci as escadas até a cozinha. Lá estava minha mãe, meu irmão e meu pai, todos alegres tomando café da manhã. Sentei-me ao lado de Rafael, que era o caçula da família com apenas 15 anos. Ele foi adotado com 12 anos, e durante esses 3 anos que passou conosco nos conquistou demais, por isso prometi a mim mesma que sempre cuidaria dele.
Meu pai, John Fernandes, é o mais alto de todos nós, além de ser o homem mais bonito que já vi na minha vida inteira. Sua barba quase ruiva e seus olhos verdes denunciam sua descendência britânica. Digo o mesmo sobre minha mãe, ela é uma mulher maravilhosa. Ela é brasileira e possui uma personalidade invejável, com sua bondade e delicadeza estampadas em seu rosto.
Peguei uma xícara e comecei a me servir café.
- Filha, eu não gosto dessa ideia. - meu pai tentou, pela milésima vez em menos de 2 dias, me convencer a não viajar.
- Pai, já disse que eu vou estar segura. Em pouco tempo voltarei. - sorri e olhei para minha mãe.
- Você é muito nova, deveria ir te acompanhando. - minha mãe demonstrou seu lado super protetor.
- Mãe, ano que vem já farei 18 anos, sou capaz de me virar naquele país, além do que terei meus companheiros de palco. - terminei uma das minhas torradas e ouvi uma buzina.
Meus olhos se arregalaram e saí correndo para meu quarto. Gritei para minha mãe abrir a porta e peguei minhas 3 malas e, por mais que soubesse que não conseguiria, tentei descer as escadas com todas. Resultado: malas rolando degraus abaixo assim como a dona. Rafael apareceu rapidamente para me ajudar e, assim que levantei, dei-lhe um abraço apertado.
- Não se esqueça de mim, maninho. - sussurrei em seu ouvido e sorri soltando-me do abraço.
- Nunca, princesa. - ele sorriu e, ao sair da casa, abracei meus pais.
Aquele foi o mais longo abraço que já tinha recebido, conseguia perceber naquele gesto o medo deles de me perder.
- Ao chegar na Coreia eu ligarei para vocês. - minha mãe começou a chorar e eu os apertei.
Quando me soltei do abraço caminhei até Lucas, que colocou minhas malas no carro e me cumprimentou com um beijo na bochecha.
- Pronta? - ele sorriu.
- Sempre. - foi quando entrei no carro e acenei para os que ficavam para trás.
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