História Sempre Você... (Camren) - Controladora?

—Pensei que hoje fosse meu dia de preparar o café...

Camila estava de pé mexendo alguma coisa que cheirava deliciosamente bem.

—E era. Mas você estava tão lindinha dormindo que resolvi ser uma boa esposa hoje...

Abraço sua cintura beijando sua bochecha.

—Você é sempre uma boa esposa Camz ̶ deixo claro meu tom sugestivo recendo um sorrisinho de lado—Bom dia...

—Bom dia bebê...

“Qual o melhor jeito de começar o dia senão esse?” é o que me pergunto todas as manhãs nos últimos três anos.

Desde que Camila e eu nos casamos, minha vida tornou-se quase perfeita. Ênfase no quase.

Sento-me enquanto espero que ela me sirva. É sempre assim, quem prepara a refeição, serve a mesma. Costumamos nos revezar, e embora eu não passe fome, minha latina é a verdadeira mestre cuca. Se bem que sou um tanto suspeita, afinal, até a água que essa mulher ferve é deliciosa ao meu paladar apaixonado.

—Não esqueça que as garotas virão jantar aqui essa noite, Lo...

—Humhum...

—Você não tem aulas à tarde né?

—Não senhora. Precise que eu faça alguma coisa?

—Talvez você possa ir adiantando e lavando as verduras deixando tudo cortadinho pra mim, né?

—Sim senhora... ̶ vejo-a rolar os olhos para minha resposta. Não sou do tipo que conversa muito durante as refeições.

Terminamos tudo num silêncio agradável e gostoso. Essa é a vantagem em ser conviver bem, não há necessidade de preencher cada minuto com um falatório desnecessário. Juntas organizamos tudo e só então reparo em algo.

—Você vai trabalhar vestida desse jeito?

Não que usasse algo indecente, longe disso, mas ainda assim.

—Eu sempre vou trabalhar assim Lauren...

—Mas essa saia aí precisava ser tão justa? E esse botão aberto?

—É uma saia lápis, o modelo é assim. E estou em casa, mais precisamente em nossa cozinha, posso me dar ao direito de deixar um botão aberto, não é?

Faço uma careta e ela dá a conversa por encerrada.

—Eu é que deveria estar enciumada, sabia? Você lá no meio daquele bando de quase adolescentes te secando por horas a fio...

Não consigo segurar uma risadinha.

—Eles podem admirar, entretanto, você, senhora Jauregui, é a única com permissão para tocar e provar.

—Veremos isso mais tarde...

Sou tão boba por esse sorriso...

—Quem vem para o jantar mesmo?

—Eu me pergunto como uma professora universitária consegue ser tão desmemoriada.

Tá, tudo bem que sou um pouco distraída, mas nem é pra tanto.

—Foi só uma pergunta inocente Camz. Eu tô precisando falar com a Ally...

—Aquela que por acaso trabalha com você?

Ok, talvez um pouco mais que só um pouco distraída.

—Acho que é essa mesma ̶ coço a nuca constrangida.

Camila enxuga as mãos e caminha até envolver seus braços em meu pescoço.

—Você é a pessoa mais esquecida que eu conheço Lo...

—Pode ser, mas tem uma coisinha da qual não conseguiria me esquecer, nem mesmo se eu quisesse.

—O que?

—Você.

Ponto para mim!

Seus lábios alcançam os meus e posso dizer que não há beijo melhor que esse. Tão entregue e saboroso. Camila é minha em todos os sentidos, assim como sou dela, de modo que até o mais simples dos gestos serve para reafirmar esse fato.

—Eu amo você Camz...

—Eu sei...

Sim, ela sabe e eu faço questão disso.

—A gente vai se atrasar...

—Só vou buscar minha bolsa, volto rapidinho...

Menos de dois minutos depois ela já esta ao meu lado outra vez e logo entramos na garagem.

—Quer que eu busque seu carro na casa da Ally?

—Lauren, pelo amor de Deus, acorde! Allyson, nossa amiga, a mesma que trabalha com você, esta viajando! Há dois dias!

Ahh... Agora que ela comentou acho que é verdade mesmo...

—Ela deve ter comentado sobre isso...

—Ela passou os últimos dias se preparando para isso, Lauren. Ally foi para um seminário de linguística, lembra?

—Tanto faz, amor...

Não tenho culpa de ser tão distraída, deve ser algo genético, sei lá. Eu entendo de história e pra mim já basta.

—Então eu venho te buscar pra almoçarmos, ok?

—Tá bom...

—As outras meninas vão todas lá pra casa, né?

—Sim Lauren ̶ diz como se explicasse a uma criança—Vercy e Norminah.

Sorrio. Minha esposa e sua mania de juntar nomes.

Seguimos parte do caminho até a empresa onde ela trabalha apenas ouvindo uma música suave que ela escolhera.

—Então você prefere que eu deixe o carro com você depois do almoço ou venha te buscar mais tarde?

—Acho melhor deixar comigo, é menos trabalho e mais fácil.

Concordo com a cabeça buscando uma vaga onde estacionar.

—Eu já tô com saudade Lo...

—Não mais que eu baixinha...

Recebo um beliscão leve. Amo provoca-la.

—Camz, posso te pedir uma coisa?

—O que quiser...

—Desfaça esse coque...

—O que?

—Desfaça o...

—Eu entendi o que você disse, mas me dê um bom motivo para isso.

—Eu tenho ciúmes ̶ digo em tom claro.

—Ciúmes de quê?

Camila é supervisora do departamento que desenvolve alguma coisa de softwares numa empresa conceituada, o que significa que boa parte de seus subordinados, para não dizer a maioria, é composta por homens.

—Você já vem com essa roupa aí, não quero esses abutres desocupados em cima de você.

—Isso é sério?

—Muito sério. Eu sou a única que pode te desejar e cobiçar entendeu?

—Às vezes você é tão boba...

—Eu sei. Mas eu realmente me sentiria melhor, você esta provocante demais assim.

—Você é a única a quem quero provocar amor...

—Isso é perfeito. Porém, esses caras são uns pervertidos.

Ela apenas sorri e solta às mechas longas e escuras.

—Eu acho que vou te comprar uma touca...

—A senhora é uma ciumenta boba e controladora...

—Controladora? Quem é que separa as roupas que devo usar no trabalho todas as noites, hein?

—Só porque você é uma preguiçosa e se atrasaria todos os dias se eu não fizesse isso.

—Sei... Então não tem nada relacionado ao fato de minha pessoa estar à frente de uma sala com dezenas de estudantes transbordantes de ferômonios?

—Eles estão lá para aprender e não ficar de olho na professora casada!

—Muito bem casada... E eu sou a professora Jauregui, nada menos que isso.

—Pois aqui eu sou a senhora Jauregui, nada menos também.

Ouvi-la se autodenominar assim é sempre uma alegria ao meu coração.

—Ótimo. E não precisa descer, eu consigo abrir a porta. Sem bico.

—Você é uma chata Camz...

—Eu sei... Amo você...

—Tchau amor...

Suspiro vendo-a caminhar até desaparecer dentro daquele prédio enorme enquanto sinto meu coração apertar-se em saudade. Serão algumas horas somente? Sim, mas isso não é exagero. É apenas meu jeito de ama-la.