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História Sempre Você... (Camren) - Karla Camila


Escrita por: Camren_Yes

Notas do Autor


Estamos no finalzinho mesmo, bolinhos, coração já tá apertadinho...

Por favor, ouçam a música, link nas notas finais, coloquem para repetir se for o caso...

Capítulo 56 - Karla Camila


Camila

— Eu estarei aqui, ok? Se precisar, um grito e eu invado.

Sorrio fraco e salto do carro encarando a casa que há muito deixou de ser minha, antes mesmo que eu fosse embora daqui. É chegada a hora de enfrentar as outras duas pessoas que expulsei de minha vida anos atrás.

Lembranças de risadas leves, conversas alegres e duas meninas correndo de um lado a outro nesse mesmo gramado me trás lágrimas aos olhos enquanto caminho até a porta evitando a todo custo observar todo o entorno. Já revivi aquele dia milhares e milhares de vezes para que venha assisti-lo novamente. Não foi para isso que vim e definitivamente não foi para isso que deixei minha mulher esperando por mim.

Ouvindo o coração martelar em meus ouvidos aperto a campainha lutando bravamente contra o desejo de sair correndo antes que alguém apareça, mas então lembro-me de Lauren e obrigo-me a permanecer de pé escutando passos firmes cada vez mais próximos.
Seu rosto severo mostra algo entre surpresa e incredulidade e não posso dizer se ele ouve ou não o ritmo insano do meu coração. Ficamos assim, ele me olhando questionador e eu o encarando do modo mais firme possível e depois do que me pareceu uma eternidade meu pai me dá as costas caminhando para a sala espaçosa, sem dizer palavra deixando, contudo a porta aberta num claro sinal para ser seguido, o que faço sem hesitar passando direto pelos móveis que já estavam aqui tanto tempo atrás, reconhecendo um ou outro objeto. Nada havia mudado de fato, era só uma coisinha aqui e ali que diferia da antiga casa que jamais deixou de existir em minhas lembranças.

Ele aponta então para um sofá grande, logo depois de tomar seu lugar na mesma poltrona que ocupava desde que eu me entendia por gente, e ao receber minha negativa muda finalmente se pronuncia com um firme e inquestionável “Sente-se, Karla“, transportando meus pensamentos para outra manhã em que minha mãe tentava me obrigar a ficar quieta num único lugar, precisando recorrer a ele para que eu lhe obedecesse.

Já faz tanto tempo...

Faço como me fora mandado e sentados de frente um para o outro caímos num silêncio sufocante com tantas coisas a serem ditas. Anos e mais anos de conversas não caladas pesando o ar à nossa volta.

Esse homem é o meu pai, o único que já amei. Ele sempre fora o meu herói, quando pequena, não havia nada que ele não pudesse fazer aos meus olhos. Até aquele dia, quando nem mesmo o “super papai” tinha uma saída. Nunca haveria outro, era nele que eu confiava cegamente em minha tola inocência infantil. Era dele que eu esperava a realização de cada um dos meus desejos mais bobos.
Sem mais suportar encarar seus olhos tentando decifrar o que se passava por detrás daquela mascara impenetrável abaixo os meus próprios fixando-os em minhas mãos que num gesto involuntário repousavam tranquilas em meu ventre.

— O que veio fazer aqui, Karla?

É, o que eu vim fazer aqui?

Eu tento encontrar algo para lhe dizer, porém a secura em minha garganta impede qualquer som.

O que eu vim fazer aqui?

— Já sabe o sexo?

— Ainda não...

Calados outra vez. Nada grita mais alto quanto o som do silêncio. Nada machuca mais que corações aflitos, angustiados e temerosos.

— Confesso que estava à sua espera desde que soube que estava na cidade.

Novamente não sei o que dizer.

Encontro seus olhos e vejo como anos de separação podem abrir abismos entre duas pessoas aponto de fazê-las agirem como estranhas.

Lembro outra vez da jovem mulher de olhos verdes que deixei num leito de hospital mesmo sabendo de todos os seus medos.

“― Um doente não pode cuidar de outro, Camz...

― Você é sempre tão sensível assim?

― Só com você.

Faço-a engolir o comprimido branco conferindo sua temperatura outra vez, não segurando um espirro.

― Eu não tô doente, Lauren, você está.

― A culpa é sua por ter me obrigado a tomar chuva.

Sua voz mais rouca que o normal aquecendo algum cantinho oculto do meu coração. Lauren consegue ser linda mesmo com os olhos lacrimejantes e o nariz vermelho, sinais de uma gripe das boas.

― Você quem insistiu em me buscar no colégio, ninguém te forçou a nada.

― Eu iria de novo, sabe? Se fosse pra ter você aqui, cuidando de mim.

― Você é uma idiota.

― Pode ser... Mas você gosta de mim, não gosta? Só um pouquinho?

Resistir aos seus lábios rosados e de aparência tão macia é quase um martírio.

― Camz?

― Só um pouquinho.

O sorriso que ela me oferece eleva meus batimentos cardíacos para um ritmo preocupante.

― Você podia se deitar aqui comigo. Só um pouquinho também.

Como negar algo para esse rostinho de bebê?

― Acho que é o melhor é te deixar descansar.

― Mas eu tô com dor. Meu corpo tá me matando.

― Acabei de te dar o remédio.

Segura minha mão e sua pele macia e morna envia arrepios estranhos ao longo de minha coluna.

― Lição do dia, Camzi. Remédios aliviam a dor, mas só o amor alivia o sofrimento. “.

( Play )

― Eu...

― Porque agora?

Seu tom severo já perdendo forças cedendo a outro mais curioso.

― Eu sempre soube que você voltaria, só não esperava que fosse agora.

Isso me faz pensar por um instante.

― Pensei que Sofia é quem acreditava nisso.

― Sua irmã deixou de te esperar a muito tempo.

Isso dói, mesmo que não seja nenhuma surpresa.

― Onde ela está?

― Foi ver a mãe, ela sempre vai logo pela manhã. Deve estar voltando.

Aceno em concordância sentindo um nó gigantesco me sufocar.

― Lauren está doente.

― É mesmo? Bom, isso explica a razão dela não estar aqui, aquela garota não te larga um minuto sequer.

Mesmo longe ele parece conhecer meu relacionamento com Lauren, o que é, no mínimo, curioso.

― Ela... Ela sentia dores de cabeça constantemente até que uma noite ela... Bem, momentaneamente ela não está enxergando.

― Minha nora está cega, é isso?

― Os médicos acreditam que isso pode ser revertido.

― E você? Também pensa assim?

Dou de ombros sentindo as lágrimas invadirem meus olhos.

― Sendo assim você deveria estar lá ao lado dela, não acha? ̶ seu tom acusatório gelando minhas veias ― Não foi isso o que aquela garota fez todos esses anos? Ela não esteve junto de você?

Volto a concordar silenciosamente enxugando meu rosto, sem coragem para levanta-lo ou dizer qualquer outra coisa. Sinto seu olhar esquentar meu corpo e então lembranças de uma infância interrompida, de rostos impassíveis, de abraços rápidos e conversas sussurradas me invadem e é tudo que posso aguentar antes que uma enxurrada de gritos e lágrimas represadas exploda fazendo-me curvar escondendo o rosto entre as mãos.
Ninguém disse que seria assim tão difícil! Ninguém poderia ter previsto o quanto doeria, porque aqui, nesse lugar, todos os meus medos de criança que tanto lutei para enterrar voltam com força redobrada. Quando deixei essa casa lutei para deixar também tudo o que tanto me feria, todo desanimo toda frieza, choro, mas também todas as risadas e momentos felizes e só agora me dou conta disso, de que deixar que os anos ruins se sobrepusessem sobre os bons me roubou até o último resquício de fé em mim mesma.

Quando saí dessa casa eu soube que todas as conversas tinham se esgotado, eu estava despedaçada e pensei que a distância faria tudo melhorar, realmente acreditei poderia esquecer toda mágoa e culpa que tanto me dilaceravam, mas fui burra demais para me dar conta de que nada disso ficaria aqui, preso entre essas paredes. Eu só fiz aumentar a minha dor e infringi-la em minha família, nas pessoas que só faziam me amar e que eu afastei! Fui eu quem os proibi de se aproximarem com meu silêncio, meu sentimento de culpa.
Concentrei todas as minhas forças em continuar sofrendo que não percebi o quanto os outros também se machucaram. Eu privei meus avós de me verem crescer, não dei escolha ao meu pai de estar ao meu lado nos momentos mais importantes de minha vida e Sofi... Ela sim foi a que mais sofreu, pois perdeu de uma única vez a mãe e a irmã que não sustentou a promessa de ser sua guardiã por todo o sempre.

A única cega à vida toda se chama Karla Camila e hoje eles pagam por isso, por meu egoísmo e ignorância. Nunca fui responsabilizada por nada, agora entendo que tudo aconteceu talvez por um motivo maior, como minha irmãzinha me fizera tentar acreditar. Hoje eu preciso do perdão de cada uma dessas pessoas, dela, de minha mãe principalmente, que está viva, que nuca deixou de ser minha mãe! Suas lembranças e independência lhe foram arrancadas e eu ainda fui covarde o suficiente para fugir negando-lhe o amor que ela nunca me deixou.
Preciso também do mais difícil... Preciso, necessito perdoar a mim mesma, acreditar que sou digna de seguir em frente e apesar de todos os meus erros, resgatar a menina que um dia fui.

Ouço ao longe a porta bater e então outro par de olhos castanhos pesam sobre mim, questionadores, raivosos e... Tristes...

Eu não estou mais sozinha. Não preciso mais estar sozinha. Agora eu posso e preciso ser forte, e eu serei!

Pela primeira vez em muito, muito tempo sou capaz de sentir que sim, eu sou capaz de amar por completo, de estar de pé e enfrentar cada um dos meus medos de frente. Chega de fugir.

Fico de pé e encaro as pessoas ali reconhecendo nos cabelos brancos do meu pai ou na expressão madura de minha irmã o quanto eu perdi por minha estupidez.

― Perdão...


Notas Finais




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