(S/N)
Assim que cheguei a entrada do quarto vi Jasmine sentada em minha cama e encarando as próprias mãos.
Respirei fundo antes de qualquer coisa e continuei caminhando.
- Jasmine...
- (S/N), me desculpe por entrar assim. Sua tia disse que você não estava, mas eu preferi esperar.
Retirei minhas sapatilhas e as deixei em canto do quarto. Ergui o olhar e encarei-a mais uma vez.
- O que faz aqui?
- Eu... Eu queria conversar com você. - disse parecendo um pouco incerta de suas palavras.
- E conversar sobre o que?
- Sobre tudo que aconteceu entre nós.
Encostei-me na cômoda e cruzei os braços. Ela suspirou e começou a falar novamente:
- Eu preciso te pedir desculpas pela forma como agi há algumas semanas atrás.
- Mesmo? - perguntei com um tom irônico.
- Sim, eu... Sinto muito.
- Era só isso?
- Não, não apenas isso. - suspirou - Eu realmente me senti uma idiota quando percebi o que havia feito.
- A questão é: Você realmente chegou a pensar daquela forma?
- Sim, eu realmente quis ajudar a Anne a separar vocês. Mas... Eu mudei! Eu juro! - disse olhando em meus olhos.
- Isso quer dizer que você vai aceitar o que eu e Jimin temos?
- Eu não sei se consigo aceitar, mas eu posso conviver com isso. Eu... Vou me esforçar. Acho que todos merecem ser felizes, não é? - sorriu de canto.
- Jasmine, você realmente me machucou. E não ache que estou fazendo drama! Você era minha única amiga e, do nada, se revoltou contra mim e ainda ajudou a Anne a fazer o que fez.
- Eu entendo você. - desviou o olhar - Mas eu estou pedindo desculpas e uma segunda chance. Podemos ser amigas como antes, não é? - sorriu largamente.
- Eu não sei. - disse calmamente - Eu perdôo você, mas ser sua amiga novamente é algo que não posso decidir sozinha. Só o tempo dirá.
Ela sorriu parecendo frustrada e balançou a cabeça positivamente.
- Fico feliz de que você tenha me perdoado.
Apenas assenti. Ela levantou e olhou o quarto ao redor.
- Eu também entendo que tenho uma parte errada nessa história. Se éramos amigas, eu deveria ter te contado. Mas também não fiz isso com medo da sua reação ser justamente essa.
- Está tudo bem, (S/N). Eu fui a mais errada nisso tudo. - suspirou - Tem coisas que não precisam ser explicadas, apenas sentidas. Acho que seu amor e do Jimin é um exemplo disso, mas e eu ainda estou me acostumando.
O silêncio predominou novamente, contudo, eu voltei a falar:
- Não sei se quer ou deveria saber, mas... Eu estou grávida dele.
Jasmine arregalou os olhos e sua expressão foi de raiva, mas antes que ela pudesse dizer algo pareceu tocar-se que se dissesse algo seu pedido de desculpas seria em vão.
Ela ficou branda de repente e assentiu.
- Já sentiu mexer?
- Não, ainda não. Acho que é muito recente.
Ela assentiu e encarou minha barriga brevemente.
- Você será uma boa mãe, eu tenho certeza.
- Espero que sim.
Pela primeira vez depois de toda aquela confusão, trocamos um sorriso.
- É melhor eu ir. - ela disse - Até... Algum dia, (S/N).
- Até...
Ela deixou meu quarto e fechou a porta. Deitei-me na cama e respirei fundo.
O clima entre nós havia ficado bem tenso, mas antes isso do que deixar que ela entrasse e saísse da minha vida quando bem entendesse.
Sem perceber, acabei pegando no sono ali mesmo. Só acordei mais tarde, quando senti o cheiro bom de comida que vinha da cozinha.
- Você quer também, bebê? - brinquei.
- Que fofa! - Jimin disse.
Ele estava encostado a porta e eu não havia percebido isso.
- Desde quando você está aí?
- Tempo suficiente para te ver falando com nossa filha.
- Não sabemos se é uma menina, Jimin!
- Eu sinto isso, (S/N). Não adianta você tentar dizer que é um menino, eu já sei da verdade! - disse com um sorriso convencido.
Rimos juntos. Ele veio até onde eu estava e sentou ao meu lado.
- Está com fome?
- Sim, muita! O que a tia está fazendo para o jantar?
- Hm... - fingiu estar pensativo - Eu vi um macarrão com almôndegas e uma sobremesa.
- Sobremesa? Você disse sobremesa?
- Sim! - riu - Mas não pode comer muito.
- Claro que posso!
- Não é tão saudável.
Revirei os olhos e levantei.
- Eu quero ir comer logo.
- Espera... - ele me puxou e me fez na cama novamente - Vamos conversar um pouco.
Sentei-me de frente para ele e o encarei.
- Como foi sua conversa com a Jasmine? - perguntou.
- Ela pediu desculpas.
- E então?
- Eu disse que ela estava perdoada, mas que não poderíamos voltar a ser amigas... Pelo menos, por um tempo. Ainda não me sinto segura o suficiente.
- Eu entendo. Embora ela não tenha tentado nos afastar diretamente, agiu como cúmplice.
- Sim... Por isso mesmo que não me sinto segura. E se ela tentar fazer outra coisa? Talvez até com o bebê!
Coloquei a mão sobre minha barriga. Ele pôs sua mão sobre a minha e olhou em meus olhos.
- Vai ficar tudo bem, acredite em mim. - sorriu.
O abracei demoradamente e fechei os olhos. Sentir o cheiro dele me deixava automaticamente mais calma e me fazia sentir segura.
- Sabe, Jimin... Eu andei pensando em algo.
- O que? - se afastou para me olhar.
- Lembra que o médico disse que o diagnóstico tinha sido para um senhor?
- Sim.
- Por que não vamos conhecê-lo?
- Isso não é tão fácil, (S/N). Precisaríamos de dados como nome e endereço.
- Podemos pedir no hospital.
- Eu acho que eles não darão essas informações tão facilmente.
- Mas eu quero muito, Jimin! Você me ajuda?
- Por que essa ideia de repente?
- Porque... Eu quero ajudar no que puder. Eu já tive essa doença antes e sei o que posso dizer para acalmá-lo.
Vi um pequeno sorriso brotar no canto de seus lábios e ele assentiu.
- Essa é a uma atitude bonita, (S/N).
- Eu... Eu quero fazer muito mais por pessoas que tem leucemia, mas infelizmente, só posso oferecer minhas palavras e compartilhar experiências por enquanto.
- Acho que ele gostará da nossa visita. Podemos ir no hospital e tentar conversar com a direção, o que acha?
- Sim! Obrigada por me ajudar nisso.
- Por nada. - me deu um beijo na testa.
Pouco depois voltamos para a cozinha e eu finalmente pude me servir do tão aguardado jantar.
- Fiz especialmente para você, minha filhinha! - tia Jieun puxou minha bochecha.
- Aí! Isso doeu! - fiz bico.
Jimin apenas riu da situação.
- Então, se você é mãe dela... Pelo visto, será avó em breve. - ele comentou.
- Eu ainda me acho muito nova para ser avó, mas obviamente vou amar a experiência.
- Isso quer dizer que vai me ajudar com as fraldas? - perguntei.
- Sim, eu vou te ajudar a trocar as fraldas.
- E você também, não é, Jimin? - o olhei seriamente.
- Que fraldas? - fingiu um esquecimento repentino.
- Jimin!
- Eu te ajudo a colocar para dormir.
- Você vai me ajudar em tudo, isso sim!
- Em tudo, não! - levantou as mãos em rendição.
- Se você não ajudar...
- O que? - me olhou desafiador.
Me aproximei de seu ouvido e sussurrei:
- Vai ter greve!
- Ah, eu ajudo! Eu posso ajudar. Quer dizer, é só uma fralda, não é? - riu nervoso.
- Isso nunca falha! - comentei.
- Do que será que vocês estão falando, hein? - titia estreitou os olhos.
- Nada não, tia. - olhei cúmplice para Jimin.
(...)
Felizmente, conseguimos mesmo as informações do senhor que havia recebido o diagnóstico do câncer. Daí, resolvemos ir até sua casa. Inclusive, tia Jieun também achou uma ótima ideia e foi conosco.
- Uau... - comentei quando paramos em frente à casa.
- Isso é uma baita de uma mansão! - Jimin completou minha frase.
- Qual é mesmo o nome dele? - tia perguntou.
- Patrick.
Descemos do carro e eu toquei a campainha. Pouco depois, pudemos ouvir a voz que vinha do interfone.
- Pois não?
- Ah, eu... Me chamo (S/N) e gostaria de conversar um pouco com o Sr. Patrick.
- Meu senhor não me informou de nenhuma visita.
- Eu realmente não pude avisar antes, mas... Eu gostaria muito de conversar com ele.
- Posso saber por qual motivo é tão urgente?
- Talvez você saiba que ele recebeu um exame errado, certo? Eu fui a pessoa que trocaram a amostra.
- Com licença.
Olhei para Jimin e este deu de ombros. Sendo sincera, eu achei que não seria mais atendida. Talvez devesse mesmo ter ligado antes e marcar alguma hora.
- Ele disse que vocês podem entrar.
O portão da casa foi aberto de repente e ao longe pudemos ver a figura de um mordomo a porta. Provavelmente, esse era o que falou conosco através do interfone.
Fomos até a entrada da casa e o mordomo, que foi realmente o que falou conosco inicialmente, nos levou até os fundos da casa.
Ali pude ver um homem sentado debaixo de uma árvore frondosa. A sua frente havia uma mesa farta, mas pelo visto, sua expressão não era de apetite.
- Aqui estão suas visitas, Sr. Patrick.
Ele nem sequer virou-se para nos olhar.
Encarei meu irmão e minha tia e estes me incentivaram a falar.
- Então... Eu me chamo (S/N). Sabe aquele resultado do exame? Era meu.
- Por que você veio até aqui?
- Eu acho que tudo acontece com um propósito, por mais bobo ou simples que pareça. - suspirei - E... Talvez devêssemos conversar sobre como esses resultados afetarão nossas vidas. Sabe, eu também tive leucemia antes.
Por fim, ele se virou e nos encarou. Não diria que o homem era tão velho, mas tinha muitos fios brancos em sua cabeça.
- Isso é verdade?
- Sim, eu tive essa doença na infância.
- É verdade. - titia disse - Eu cuidei dela por muitos anos.
- Sentem-se.
Fizemos como ele segurei e sentamos nas cadeiras da mesa.
- Quando eu recebi aquele diagnóstico realmente achei que fosse verdade, pois era grande a possibilidade de reacender as células do meu câncer... Mas daí, era uma gravidez!
- Pelo menos, você continuará viva. - disse frustrado.
Respirei fundo e pensei em como conseguir me sair bem nessa conversa.
- Você também pode vencer isso.
- Como pode dizer isso? É uma situação totalmente diferente.
- Sim, eu sei. Mas eu sei que é possível. Ter muita força de vontade, vai ajudar.
Ele ficou em silêncio por um tempo, mas por fim, assentiu.
- Obrigada por ter vindo até aqui.
- Não é nada. - sorri de canto.
- Qual a família de vocês?
- Park. - Jimin respondeu - Nossos pais morreram há uns meses atrás em um acidente de avião.
Ele pareceu recordar-se do fato e nos olhou mais atentamente.
- Eu conheci seus pais.
- Mesmo? - perguntei.
- Sempre costumava estar presente em muitos voos realizados pelos pais de vocês. Foi realmente uma fatalidade. Eu sinto muito!
- Já está tudo bem. - respondi.
- Agora... Eu fiquei curioso. Vi mesmo que citaram no jornal sobre os filhos deles, mas foi apenas isso. Como estão fazendo para se virar?
- Bem, temos um dinheiro guardado e nossa tia está nos ajudando. - ele respondeu por mim - Mas depois disso... Eu pretendo arrumar um emprego.
- Você tem formação em alguma coisa?
- Ainda não. Estou cursando direito.
- Mesmo? Eu sou advogado e amo minha profissão, mas... Essa doença está me deixando desanimado para trabalhar.
- Ah, entendo.
- Sei que provavelmente posso morrer e até estou aceitando isso. - suspirou - Mas em consideração aos pais de vocês e a bondade da sua irmã de ter vindo até aqui tentar me animar, eu gostaria de agradecer com algo. Já que você está no curso de direito, posso tentar te colocar em alguma posição dentro escritório, embora seja simples, pois você não tem ainda o diploma.
- Mesmo? - perguntou com ânimo.
- Basta você querer.
Nos entreolhamos e eu assenti como confirmação.
- Claro! - ele respondeu.
É como penso: As coisas tem um propósito. Embora não consigamos entender inicialmente, a vida nos explica mais tarde.
(...)
Dois meses depois...
Encarei a lápide de meus pais mais uma vez e não pude evitar uma lágrima escorrer do olho direito.
- Mãe... Pai... Por que isso teve que acontecer? - disse a mim mesma - Aconteceu tanta coisa depois que vocês se foram. Embora vocês não fossem aprovar meu relacionamento com o Jimin, eu gostaria de tê-los por perto.
Respirei fundo e olhei ao redor. A brisa fazia as folhas secas voarem. Uma dessas parou em minhas mãos e a segurei.
- Eu e ele vamos ter um bebê. - comentei olhando a lápide novamente - Aposto que vocês seriam ótimos avós. - sorri com o pensamento - E, certamente, onde quer que estejam e se estiverem nos vendo... Sei que estão torcendo pela saúde do nosso filho.
Depois de um tempo ali resolvi levantar e ir embora. Aquela era a primeira vez que eu havia visitado o túmulo dos nossos pais - pois anteriormente não me sentia preparada o suficiente. Daí, aproveitei para conversar e dizer o que está acontecendo em nossas vidas, embora não estivessem ali para me responder. De certa forma, me senti aliviada.
Enquanto caminhava para fora do cemitério senti minha barriga mexer. Como eu já estava com quase cinco meses sentir esses pequenos chutes estava se tornando comum, mas eu acabava me assustando quase sempre.
Levantei os olhos e vi Jimin me esperando lá fora. Ele já tinha entrado, mas não demorou muito. No fundo, acho que ele é mais sensível que eu.
- Você está bem? - perguntou quando parei em sua frente.
- Estou sim. E você?
Ele apenas assentiu em resposta.
- Podemos ir?
- Sim.
Ele passou a mão por minha cintura e passamos a caminhar pela calçada.
- Está ansiosa? - perguntou com um sorriso evidente.
- Um pouco e você?
- Sim. - riu de si mesmo - Afinal, não é um dia qualquer.
Jimin estava certo. Era a minha primeira ultrassom e, se tudo corresse bem, veríamos o sexo do bebê.
- Tem razão. Inclusive... Já tenho planos para quando sairmos da clínica.
- Quais? - perguntou.
- Comprar roupas maiores para mim. Demorei meia hora procurando algo e só achei isso. - apontei a minha própria roupa.
Ele riu e assentiu.
- Ótima ideia!
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