História Será que? - Ela é... uma parte de mim

Elise Bauman 

Hoje tem sido um dia bem estranho, assim como ontem também foi, ou até pior, provavelmente pelo fato de eu ainda não ter falado com a Natasha desde aconteceu aquela confusão, ou melhor, desde que eu causei aquela confusão. Levantei da cama totalmente desanimada hoje mais cedo, não tinha a mínima vontade de sair de casa, porém não posso perder aula, as matérias de hoje são importantes. Apesar da minha rotina estar bastante agitada ultimamente, eu não conseguia parar de pensar em como fazer um bom pedido de desculpas, eu já não aguentava mais tanto tempo sem a presença dela, sem mesmo as mensagens que ela mandava, é como se tivessem arrancado um pedaço de mim e agora só resta um lugar vazio e frio, sem cor, sem vida, sem nada... Pensar nisso me deixava mais triste que o normal, e mais desesperada também, eu tinha que fazer algo rápido ou....

- Elise ? - Alguém me tirou dos pensamentos - Elise ?! - a pessoa sussurrava com urgência na voz 

- Oi? Sim? - Balancei a cabeça tentando voltar pra realidade

- Acorda, onde você estava? Falta pouco mais de meia hora pra recolherem as provas e você ainda não respondeu nada! 

- Meia hora?! - falei mais alto do que deveria e algumas pessoas me olharam, inclusive o professor - Como assim meia hora? Começamos a pouco tempo, só deve ter passado uns 10 minutos - sussurrei de volta 

- Não, já se passaram uma hora enquanto você tava aí viajando pelo mundo da lua 

- Não acredito! - me desesperei, eu ainda não tinha colocado nem meu próprio nome no papel

Olhei ao redor e vi que já tinha gente terminando e entregando, comecei a ler as questão e responder, eu sabia o assunto, tinha estudado bastante pra essa prova, eu lembro de ter visto algumas perguntas parecidas com essas aquele dia na biblioteca, o dia que encontrei Dylan, o dia que esqueci que ia almoçar com a Natasha, o dia que eu estraguei tudo - balanço a cabeça de novo - "Foco!" Volto a escrever as respostas e algumas questões depois paro pra dar uma respirada, olho ao redor de novo e vejo que só tem eu e mais duas pessoas na sala, o que faz eu me desesperar novamente, ainda faltavam umas cinco questões pra terminar e eu já não conseguia mais me concentrar, eu estava um caos. Vi as duas últimas pessoas levantarem e saírem, olhei pra o professor e tenho certeza que ele notou que tinha algo errado, porque saiu da sua mesa veio na minha direção.

- Elise, está tudo bem com você? - ele perguntava calmamente enquanto sentava na cadeira ao lado 

- Ãnn.. Está sim, professor, eu só perdi a noção do tempo, isso vem acontecendo bastante ultimamente - dei um sorriso forçado 

- Olha só, tenho notado que você tem estado bem distante nas últimas aulas, não tem se envolvido nas dinâmicas, nas atividades, nos debates, os outros professores já notaram isso também, principalmente porque você sempre foi ativa na sala de aula, sempre gostou de argumentar e tudo mais. Eu posso dizer nesse momento, só em olhar para você, que as coisas não estão nada bem. 

- É, você tem razão - abaixei a cabeça - as coisas não estão nada bem.

- Você quer falar sobre isso? - ele parecia querer ajudar

- Eu não sei... - Na verdade eu sabia sim, e queria, só não tinha certeza de como começar  

- Tudo bem, quando se sentir a vontade, eu estarei aqui na minha sala e você pode vir a qualquer momento, certo?

- Certo. - eu dizia enquanto ele se levantava - É que... - ele parou e sentou de novo 

- Pode falar, estou ouvindo - ele cruzava as pernas, clássico pra sua idade que parecia ser lá uns 70 anos

- É que eu magoei a única pessoa no mundo na qual eu nunca achei que iria de magoar - mexi a caneta na minha mão - e agora consigo encontrar uma forma de pedir desculpas 

- O quão importante essa pessoa é pra você?

- Muito! Ela é... uma parte de mim.

- Okay, entendi. Olha só, primeiramente você tem que parar de pensar tanto no que fazer, porque quanto mais você pensa, menos você faz, não é verdade?

- Sim - concordei. Ele tinha razão, eu estava tão desesperada pensando no que fazer, que o tempo tava passando e eu não estava fazendo nada.

- Segundo, se você é tão importante para essa pessoa, quanto ela é para você, basta ser sincera deixando que seu coração fale mais alto. Pense comigo, as pessoas adoram ganhar presentes, certo? Mas todos nós sabemos que presentes são meros objetos que vem e vão, se perdem, são destruídos ou simplesmente se desgastam, já as palavras, elas tem uma força tão grande na vida de alguém, que são levadas pelo resto da vida. Palavras podem salvar uma pessoa, ou milhares delas, mas tenha em mente que assim como podem salvar, também podem destruir. O que eu estou querendo dizer, é que independente de todas as coisas que você fizer, se não tiverem uma conversa sincera, se não usarem as palavras pra se expressar uma com a outra, de nada vai adiantar as suas ideias para um pedido de desculpas.  

- Nossa. Eu... Eu... - eu estava paralisada refletindo sobre tudo que ele tinha dito 

- Não precisa dizer nada, Srt. Bauman. - ele continuava com seu tom simples e calmo - Mas sobre essa prova, caso queira, poderá refazer em outro momento, mas terei que mudar as questões.

- Sim, quero sim, por favor. - foi uma resposta automática

- Tudo bem, espero que essa conversa tenha ajudado. - ele dizia se levantando novamente

- Ajudou sim, muito obrigada Sr. Lennox

- De nada, estarei aqui caso precisar, e me encontre na terça para refazermos essa prova.

- Certo.- respondi e ele deu as costas seguindo pra o começo da sala onde pegou sua pasta, as provas e saiu. 

Arrumei minhas coisas e sai também, ainda estava bastante pensativa sobre o que tínhamos acabado de conversar. Ainda nos corredores da faculdade, Erika encostou do meu lado e começou a falar...

- Você tava viajando mesmo hein! Se eu não tivesse te acordado, ia tá lá até agora

- Minha heroína - brinquei e ela riu 

- Pra onde você vai agora? - ela perguntava enquanto dava "Oi" pra todos que passavam pela gente

- Vou lá pra biblioteca esperar o toque da próxima aula 

- Então você vai ficar esperando lá sozinha - ela ria 

- Como assim sozinha? A biblioteca sempre tem gente, principalmente nesse horário entre as aulas

- Eu sei, certinha - ela bufou - é porque as aulas da tarde foram canceladas, parece que alguma experiência deu errado no laboratório de química e precisaram fechar todo o segundo andar, você não ouviu a sirene?

- Sirene? Não - "Sério que tocaram a sirene?" 

- Ah, só podia tá viajando de novo porque é impossível não ouvir aquilo, é tipo o som mais irritante que eu já ouvi na vida! - ela revirou os olhos e eu acabei rindo - Eu tenho que ir, as meninas estão me esperando, quer ir pra o shopping com a gente ?

"Já que não tem mais aula hoje, sei exatamente o que devo fazer."

- Não não, preciso resolver uma coisa - respondi 

- Então tá, beijo - ela dizia já se afastando

- Beijo.

Fui pra o meu carro e pegando o celular, mandei mensagem pra Paige perguntando se Natasha ainda estava no escritório ou no estúdio, ela não demorou pra responder e disse que as gravações hoje foram em casa, mas o pessoal já tinha voltado e ela ficou, agradeci e me despedi, deixei o celular de lado e segui em direção ao único lugar que eu mais queria estar à dias! Estacionei numa sombra e desci, vi que tinha alguém saindo, então aproveitei pra entrar sem precisar tocar o interfone, subi as escadas e parei em frente a porta, respirei fundo e bati. Os segundos iam passando e o meu nervosismo aumentando, ouvi seus passos perto, vi o trinco girar, e a porta finalmente abrir.

- Elise? - ela pareceu estar surpresa.