capitolo sei
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Era segunda-feira e o primeiro dia que iríamos passar juntos; como o combinado, eu esperava Baekhyun em frente à sua casa às três horas da tarde. Mexia meus pés, mãos e ajeitava meu cabelo de dez em dez segundos, além de ter tremores por todo o corpo. Aquele dia estava frio, como um típico dia de Inverno, porém não era essa a razão pela qual meu corpo tremia.
Bati em sua porta e o chamei. Baekhyun me pediu que o esperasse, visto que não demoraria a sair. Fiquei, então, a observar a movimentação naquele horário. Acima de mim, nuvens passeavam umas com as outras, trazendo seus sopros gélidos para Ligúria.
O ranger da porta ao ser aberta me fez esquecer completamente do frio que sentia, e minha alma foi chachoalhada pelo que vi. Baekhyun estava belo demais com um sobretudo branco, uma blusa de lã preta com a gola alta por baixo, e calça social da mesma cor; seus fios estavam muito bem penteados.
Ele fechou a porta de casa e virou-se para mim com a cabeça abaixada. Sua franja não me permitiu a visão dos olhos que aprendi tanto a amar, contudo pude ver o tom avermelhado em seu rosto.
"Oi." Sorriu, tímido, e estendeu a mão para me cumprimentar.
"Oi... Como se sente para hoje?"
"Bem e curioso."
Ri de nervoso. Ainda não tinha me acostumado a conseguir manter uma conversa longa e tranquila com Baekhyun.
"Então, vamos tratar de dar um jeito nessa curiosidade." Tentei ser divertido.
Peguei a mochila que ele levaria para onde iriamos - havia lhe deixado um bilhete por baixo da porta, avisando que precisaríamos levar mudas de roupa necessárias para um dia fora. Dei o meu braço para que ele segurasse ali e, pegando-me de surpresa, ele o fez. O seu toque me fez estremecer, me fez relembrar do nosso beijo e, consequentemente, ter vontade de beijá-lo. Mas tratei de focar somente em nosso passeio, caso contrário, estragaria tudo.
Andamos tranquilamente pelas ruas de Ligúria, a caminho do ponto de táxi mais próximo de nossas casas. Após isso, fomos para a rodoviária. O plano era irmos para Verona, comuna que fica a três horas de onde morávamos. As árvores, naquela estação do ano, eram apenas galhos retorcidos em meio ao ambiente acinzentado. Diferente do dia anterior, este era completamente nublado, e a previsão dissera que nevaria. Torcia mentalmente para que ela estivesse certa, pois a neve deixaria tudo ainda mais bonito para nós dois.
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A viagem foi tranquila, e Baekhyun dormiu na maior parte do tempo. Seu sono era tanto que ele repousou a cabeça em meu ombro e permaneceu desta forma até chegarmos ao nosso destino. E enquanto o tempo se arrastava para passar, fiquei conversando com Alessandro por mensagem:
Alessandro [16:45 02/01/2017]:
Estou pensando em levar Julia a Verona, também. Não quer pagar as nossas passagens, não? Haha! Brincadeira.
Chanyeol [16:46 02/01/2017]:
Acho bom que seja brincadeira mesmo, babucchione. Você está muito velho para ser bancado! kkk
Alessandro [16:46 02/01/2017]:
Olhe só, me respeite! Mas, enfim... como está sendo a viagem com o Baekhyun?
Olhei para o rosto adormecido em meu ombro e sorri.
Chanyeol [16:48 02/01/2017]:
Está tudo indo muito bem. Estou feliz. Meses atrás, eu sequer imaginava essa possibilidade.
Alessandro [16:50 02/01/2017]:
Sabe o que é isso? É um sinal. Você tem de me ouvir mais!
Segurei o riso. Do contrário, acordaria Baekhyun com a minha risada escandalosa, e isso não seria nada bom.
Chanyeol [16:51 02/01/2017]:
Como se você fosse o dono da razão! kkkk Bom, vou tentar tirar um cochilo. O tempo está passando devagar. Até mais.
Alessandro [16:53 02/01/2017]:
Só não babe no Baekhyun, Chanyeol. Pelo amor de Cristo, você já viu o seu travesseiro?!?!
Chanyeol [16:54 02/01/2017]:
Tchau, Alessandro.
Não consegui dormir. Alessandro conseguiu me deixar preocupado demais.
Acordar Baekhyun foi complicado. Não que ele tivesse um sono pesado, pelo contrário. A dificuldade estava em atrapalhar o seu descanso. Eu não queria. Baekhyun parecia tão bem, tão tranquilo enquanto dormia, que tive medo de deixá-lo irritado por tê-lo acordado. Mas tínhamos de sair do ônibus.
"Baek? Já chegamos." Murmurei, dedilhando seu ombro com delicadeza.
Ele piscou os olhos algumas vezes e bocejou. Seus cabelos apontavam para vários lados. Parecia um anjo.
"Já? Passou tão rápido."
Apenas ri em um tom baixo. Sua beleza me deixava sem saber como agir.
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Nós nos hospedamos no Hotel Italia. Além de ser muito aconchegante e bonito, o atendimento dos funcionários era bastante atencioso e profissional. Fiquei feliz por estar fazendo um bom uso do dinheiro que consegui com a Floricultura, no ano anterior.
Dormiríamos no mesmo quarto. Neste, existiam duas camas de solteiro, um armário médio e um pequeno banheiro. Uma das paredes era pintada de um amarelo ouro, dando um toque sofisticado ao ambiente simples; as outras, de creme.
"Uau." Disse Baekhyun, contemplando o lugar. "Que hotel bonito." Sentou-se na beira de uma das camas.
"Sim, demais." Eu também havia gostado dali. Era muito mais bonito pessoalmente do que já era nas fotos. "Você deve estar com fome, não está?" Ele fez que sim, tímido. "Conheço um lugar muito bom. Os pratos de lá são ótimos! Você vai gostar."
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Após um relaxante banho de água morna e estarmos devidamente arrumados para enfrentar os pequenos flocos de neve que caíam - felizmente! - do lado de fora, fomos ao tal restaurante sobre o qual comentei. Um local mais que especial para mim. Ele fez parte da história das duas pessoas mais importantes na minha vida: os meus pais.
Eles passaram a maior parte de suas vidas frequentando este restaurante, pelo fato de ser menos frequentado por turistas. Não que eles não gostassem dos turistas, longe disso, mas eles preferiam lugares mais tranquilos e reservados para poderem conversar melhor.
Ao chegarmos, sentamo-nos na mesa escolhida por Baekhyun - ficava de frente para a rua - e, logo em seguida, um garçom muito simpático veio nos atender. Pedimos o mesmo: espaguete, uma garrafa de vinho tinto e Tiramisù italiano, uma espécie de pavê com bolacha de champanhe, para a sobremesa.
"E aí, o que está achando?" Perguntei, após alguns segundos de silêncio. Baekhyun parecia um pouco pensativo, apesar de feliz.
Ele me olhou, analisou todo o meu rosto e me sorriu, deixando-me daquele jeito que só ele conseguia.
"Tudo muito bom, Chanyeol. Isso tudo... eu não esperava, sério."
"Eu também não. Meses atrás, eu sequer pensava na existência dessa possibilidade. Mas fico feliz que esteja gostando."
Baekhyun direcionou-me um olhar que não consegui entender. Pareceu um pouco chateado.
"Não pensava na possibilidade?"
"Não... porque eu achava que você não aceitaria."
Suas bochechas coraram um pouco.
"Enganou-se."
Engoli a seco. Baekhyun me dizia coisas que me deixavam confuso.
"O que quer dizer com isso?"
Ele ajeitou a postura e juntou as duas mãos sobre a mesa ainda vazia.
"Como eu já disse, eu nunca te odiei. Nem no sentido literal. A verdade é que eu nunca consigo demonstrar meus reais sentimentos de um jeito bonitinho, digno de histórias românticas ou algo do tipo." Suas palavras me atingiam como flechas. "E isso me deixava com raiva, me deixava triste, pois eu sempre acabo afastando as pessoas ao invés de aproximá-las de mim. Durante esse tempo todo, achei que havia te afastado de mim, achei que você tinha criado uma certa raiva por mim - afinal, quem não acharia que era antipatia minha, né? - e quando eu te via... eu fugia. Porque eu não sabia mais como olhar para você, não tinha coragem de olhar para aquele que eu menos quis magoar, mas acabei magoando por causa do meu jeito estranho."
O que ele disse mexeu tanto comigo que acabei por preferir o silêncio. Baekhyun notou que eu precisava de um tempo para digerir aquilo tudo e decidiu fazer o mesmo. Continuaríamos a conversa após terminarmos de jantar.
Estávamos na terceira e última taça de vinho da noite, e nos sentíamos um pouco mais animados. Não a ponto de cometermos alguma loucura, mas o suficiente para deixarmos com que alguns pensamentos saíssem em voz alta, numa naturalidade que não existiria caso estivéssemos sóbrios.
"Eu fui um bobo, Chanyeol."
"Eu que fui. Está tudo bem." Sorri, sincero. O álcool havia tirado um pouco do meu nervosismo. Com um gesto de mão, chamei o garçom para fechar a conta.
"Caso não esteja, eu quero reverter essa situação..." Respondeu, assim que levantamo-nos das cadeiras.
Meu coração acelerou. Eu havia bebido, mas tinha noção do que acontecia e do peso que aquelas palavras tinham.
Quando estávamos próximos ao hotel, Baekhyun buscou a minha mão e a segurou, ao mesmo tempo em que parou de andar. Logo olhei para ele, procurando o motivo que o fez parar.
"Chanyeol, eu tenho algo a lhe dizer." Falou com seriedade.
Ele parecia angustiado. Minha mente fez logo a questão de fantasiar várias situações ruins, nas quais Baekhyun dizia que eu era um idiota e que era tudo uma brincadeira de mau gosto dele. Estava tudo muito bom para ser verdade, e eu sabia desde o início que acabaria me ferrando. Enganei a mim mesmo.
"P-pode falar."
Ele ergueu a mão que segurava a minha e a posicionou bem em cima do seu coração. Estava acelerado.
"E-eu sou péssimo com palavras... me desculpe por isso, Chanyeol. Eu sempre quis lhe dizer o que ele" Referiu-se ao seu coração. "está dizendo agora, mas nunca consegui, nunca tive uma oportunidade. Ou melhor, eu sempre fugi delas como um covarde. E eu realmente acabo afastando as pessoas que amo, mas pelo fato de não conseguir me expressar direito. Eu não quero que isso aconteça conosco."
Tomei sua mão para mim e dei um pequeno selar nela.
"Isso não aconteceria. Sabe por quê?"
Ele negou, os olhos marejados.
"Porque ele..." levei a sua mão até o meu coração, que também estava acelerado. "...diz o mesmo que o seu. Ou seja, nada vai nos afastar um do outro, Baekhyun. Eu não vou deixar. O que sentimos um pelo outro não deixará."
Num impulso, seus braços envolveram o meu pescoço e seus lábios encontraram os meus. E nós não nos importamos com os olhares alheios que recebíamos, nosso amor era o que importava para nós naquele instante.
Minhas mãos foram até a sua cintura e elas o trouxeram para mais perto de mim, deixando nossos corpos colados. Tê-lo em meus braços era a melhor sensação do mundo. Sentia-me finalmente em casa.
E aquele momento era só o primeiro de muitos que viriam. O início de um futuro pelo qual esperei por toda a minha vida.
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