Possuo o pressentimento que a breve frase foi capaz de anestesiá-lo a ponto de não conseguir ouvir nem um mínimo ruído vindo dele. Seus olhos sombrios sugavam minha respiração conforme eles rolavam dos meus olhos até a minha boca, essa necessitada por algo que a toque. Talvez não havia sido um momento adequado para colocar as minhas cartas na mesa, mas sei que não teria ocasião igual e mesmo que tivesse, não saberia a usar como usei com maestria hoje. No entanto, em minha cabeça sua reação não era exatamente essa. Os segundos parecem passar tão devagar que minhas mãos gelam e o suor frio percorre meu corpo na medida que não o vejo corresponder as minhas sensações não momentâneas e vendo que não terei o que tanto quero, decido chamar sua atenção de maneira sutil.
― Tudo bem, eu posso fingir que eu estava brincando. ― digo soltando uma risada baixa de constrangimento.
O vejo vagarosamente encostar-se na parede atrás de si e me encarar como se eu fosse uma monstruosidade. Pela primeira vez sinto-me expostamente humilhada e as gotículas congestionadas nos cantos dos meus olhos delatam claramente que se um “a” sair de sua boca eu interpretarei como um pedido para que eu saia de sua casa sem olhar para trás. Encolho-me abraçando meu próprio corpo quando sinto um calafrio percorrê-lo ao mesmo tempo em que ele abre a boca prestes a dizer algo. Ele parecer pensar antes nas palavras que dirá e depois as diz quase em um sussurro.
― Desculpe, é que... ― é assim que as piores conversas começam.
― Não precisa se desculpar, eu agi errado. ― contraponho não o dando a liberdade para se desculpar ainda mais de algo que ele literalmente não tem culpa, fui eu que entendi tudo errado e fiz tudo errado como sempre ― Eu agi completamente errado. ― concluo deixando uma lágrima deslizar em minha face.
― Nora...
― Eu sou muito idiota mesmo. ― rio entristecida com a situação ― Eu não sei o que me deu... Me perdoa.
Ele se aproxima ligeiramente, tão rápido que não havia percebido que ele está tão próximo de mim. Suas mãos tocam as laterais do meu rosto segurando-o carinhosamente, logo em seguida ele desliza seu polegar pelo rastro de lágrima que ousou deslizar pela minha face segundos atrás e meu coração acelera com tal aproximação. Sua respiração pesada internaliza meus pensamentos conturbados e antes que eu pensasse em algo para dizer e quebrar o silêncio e principalmente a oscilação da minha respiração ele se aproxima mais, tombando a cabeça para deixar um beijo carinhoso em minha bochecha e em seguida fazer o mesmo em meu pescoço que se arrepia de imediato. Seu hálito quente bate contra uma das minhas áreas sensíveis, tornando o arrepio constante. Surpresa é pouco para dizer como eu estou quando suas mãos seguram com uma leve força minha cintura trazendo a sensação de êxtase tão rápido quanto o apavoramento. Por Deus, não pensei que tê-lo tão perto de mim e não poder o beijar seria o maior dos meus martírios.
― Você quer mesmo isso? ― ele pergunta subitamente, trazendo sua atenção para minha fisionomia.
Não o respondi, afinal minhas ações anteriores já objetavam muito bem por mim. Então, ele me beija. Me beija como eu nunca havia sido beijada antes. Era uma mistura de sentimentos e eu já não conseguia mais me controlar. Enterrei minhas mãos em seus cabelos e o puxei mais para mim causando um atrito extasiante enquanto suas mãos me apertavam contra ele de maneira tão extasiante quanto. Sua língua havia pedido passagem e cedi sem cogitar, eu o queria muito mais do que isso, gostaria de ser jogada em sua cama e gostaria ainda mais de lembrar disso durante toda a minha vida, pois ali não havia apenas um corpo bonito e sedutor me levando ao delírio, havia muito mais do que pudesse imaginar. Nos conectávamos tão bem, como se fôssemos nos fundir um ao outro a qualquer momento. Não faço ideia de como tudo isso acontece, mas sinto-me entregue em suas mãos, aproveitando o álcool compartilhado entre nossas bocas e o prazer aumentando a cada mínimo toque.
Inesperadamente ele afasta-se com uma feição arrepiadora que desestabiliza todos os meus neurônios ainda existentes. Seus olhos observam-me dos pés à cabeça e o sorriso ladino molda seus lábios avermelhados pelo nosso beijo recente. Sua feição diabólica que eu nunca havia visto antes faz com que eu me sinta no inferno, dividindo um local apertado e ardente com o próprio diabo.
― Você está intacta. ― diz em descontentamento ― Não gosto disso. ― engoli em seco, sem saber se isso era algo que eu queria ouvir ou se era algo que me aterrorizava, todavia sem que ele precise pedir me viro e coloco meu cabelo para o lado dando-o acesso livre ao zíper que é capaz de me despir parcialmente.
Ouço o zíper deslizar sobre os dentes metálicos do vestido e horripilo momentaneamente quando vejo que o percurso acabou e que ao desatar o vestido dos meus ombros ele escorregará facilmente do meu corpo até o chão, expondo-me. E assim ele faz, observando a peça sair do meu corpo rapidamente atingindo o chão. Por me sentir envergonhada não ouso me virar para encarar sua reação, desta forma sinto os lábios dele atingirem minha nuca em um beijo molhado.
― Você quer que eu vá com calma? ― questiona sussurrando em meu ouvido. Estremeço com o pensamento insano que invadiu minha mente, tanto esse como o contrário desse.
― Quero que vá no seu ritmo, de qualquer forma, não tenho pressa. ― posso vê-lo sorrindo mesmo sem estar o olhando de frente.
― E qual você acha que é o meu ritmo?
Eu não disse nada, pois fiquei com medo do que poderia ser a resposta, e perdi o fôlego quando ele deslizou um longo dedo dentro de mim, logo após afastar minha calcinha em um momento que nem percebi por estar absorta em meus pensamentos alucinados. Pensamentos sobre o que eu deveria fazer evaporaram enquanto eu pensava sobre a Nora que eu costumava ser. Completamente díspar dessa que geme sem controle para um desconhecido. Eu não queria mais ser essa pessoa. Eu queria ser insensata, selvagem, jovem. Coisas que antes não passavam pela minha cabeça.
Certo momento ele sai de dentro de mim me deixando vazia e recebendo um suspiro de reprovação, mas tenho ciência que a noite está apenas iniciando. Sua mão na parte de cima do meu corpo desliza em meu ombro fluindo até minhas costas e parando em minha cintura onde sinto o mesmo aperto de antes, mas este tem a finalidade de me fazer virar e aceitar que agora não há mais como fugir. De qualquer forma, estou entregue demais para cogitar a possibilidade de fugir.
Em um segundo me viro o encarando quando tenho liberdade. Seu olhar percorre meu corpo quase despido e um sorriso é moldado em seus lábios, o mesmo de antes com uma pitada a mais de perversidade. Eu estava gostando da forma que ele conduzia tudo de maneira precisa, mas não tão calculada, ele estava agindo pelo prazer do momento, entretanto respeitando o meu espaço. Eu não me considerava uma mulher capaz de enlouquecer um homem apenas ao expor seu corpo, nem de longe me achava capaz de deixa-los salivando apenas por me observar sem roupa, entretanto o olhar de JK me mostra que sou capaz do contrário. Ele parece estar sedento, seu olhar queima minha pele em regiões que eu nunca imaginaria que pudesse ferver em excitação. Ele não me traz a sensação de que sou uma carne exposta na vitrine de um açougue, ele faz com que eu me sinta desejada.
Nunca olhei alguém nos olhos tão de perto ao ser tocada daquela maneira, e algo sobre aquele homem e aquela noite fez com que eu imediatamente tivesse certeza de que era a melhor decisão que eu já havia tomado.
― Vamos lá. ― ele se afastou de mim e sentou-se sobre sua cama apoiando-se com as mãos espalmadas na cama atrás de seu corpo ― Você está no comando.
Um sorriso perverso ocupou minha feição antes implorando por ele. Em palavras distorcidas, como Abraham Lincoln dizia: Quer conhecer uma pessoa? Dê a ela o poder. Obviamente não era sobre esse poder que ele havia mencionado, mas no meu caso, esse poder me transformava em uma pessoa que ninguém nunca conheceu tão de perto quanto JK conhecerá agora. Ele me queria, e momentaneamente lembrei de Henry e o quanto ele raramente – exceto para manter as aparências – queria meu toque, minha conversa, meu qualquer coisa.
Enfim, abandono os pensamentos que não condiz com o momento. Retrocedo alguns passos e alcanço meu celular dentro da bolsa, pedindo aos céus que eu consiga achar algum aparelho de som nessa casa – precisamente nesse quarto – que tenha conexão bluetooth, e é inevitável não rir com um usuário nomeado como JHOUSEK aparecer nas primeiras opções. Rapidamente me conecto e dou play na playlist criada por Amy para esta exata situação. Como forma de confirmação que tudo deu certo escuto um som ambiente ocupar o silêncio que antes habitava o cômodo. JK surpreso arqueia as sobrancelhas e continua sedutoramente na mesma posição, a mercê de tudo que estou cogitando em fazer. Determinada, retiro minha calcinha deixando-a jogada pelo quarto e dou passos até ele ajoelhando-me quando chego ao meu destino.
Seus olhos reviram por talvez imaginar o que estou prestes a fazer, no entanto somente retiro o seu cinto e desabotoo sua calça retirando-a de seu corpo. Deixo sua boxer no lugar, me levanto e sento sobre seu corpo recebendo suas duas mãos em minha bunda e seu tronco próximo ao meu. O atrito das nossas intimidades dissipa o meu fôlego e me deixa um pouco mais depravada. Pela necessidade de um contato mais intimo fricciono nossas intimidades rebolando vagarosamente, aproveitando os gemidos arrastados que ouço sair de sua boca e a sensação de que ele está prestes a cometer uma atrocidade pela minha lentidão redondamente proposital. Meus lábios tocam o seu pescoço deixando um leve beijo na região, seguidos de chupões que serão difíceis de esconder. Ele grunhe sob mim, levando-me ao limite. Eu ainda estava plenamente consciente dos meus atos, mas o álcool tinha me deixado com uma sensação agradável. Eu me sentia quente e viva, e um pouquinho imprudente.
Os lábios dele roçaram os meus, e meu corpo pareceu se desmanchar, ardente e incontrolável. JK me beijou com mais força invertendo as posições e me deixando abaixo de seu corpo.
― Me ter no comando será mais prazeroso, confie em mim.
Passei as mãos pelo seu peito, sentindo seus músculos se esticarem quando um forte arrepio percorreu seu corpo. Deslizei os dedos para agarrar seus ombros e segurei firme, me perdendo na mais pura sensação do seu beijo. Ele beijou minha orelha. Depois, com mais avidez, meu pescoço. E eu fiquei ali, com os olhos fechados, sentindo a atmosfera ao redor girar. Ele me provocava com os dentes, mordiscando e chupando. De onde eu estava, podia sentir o calor do clima, que era insignificante comparado ao fogo que as mãos de JK espalhavam pelo meu corpo, enquanto me acariciava com a mesma impulsividade voraz que sentia enquanto cravava as unhas nele, trazendo-o para mais perto.
Ele posiciona seu rosto rente ao meu e olhamos um para o outro na claridade intensa do quarto, juntando nossas bocas, despudorada e imprudentemente, até sentir a minha inchada e dolorida. Enrolei minhas pernas em seus quadris, me arqueando e envolta por suas mãos fortes. Ele manteve uma delas ao lado do corpo, enquanto a outra traçava uma linha delicada e tentadora que ia até um pouco acima dos meus seios, onde ele terminou seu traçado invisível com um beijo, e eu estremeci de prazer.
― Por favor. ― imploro em meio ao beijo que acaba por me deixar ainda mais ofegante.
A fricção já havia chegado em um ponto tão intenso que a necessidade de o sentir dentro fazia meu corpo se desmanchar sem nem mesmo tê-lo sentido definitivamente, no entanto por mais que eu peça, eram suas provocações que aumentavam e não o que eu realmente queria.
― Por favor. ― minha voz saiu falha, eu estava literalmente no meu limite, dividida entre morder o seu ombro em agonia e choramingar descontroladamente.
Eu não tinha mais forças e ainda estávamos no começo de tudo. Em um momento notei que sua boxer havia desaparecido entre nós e tomei a liberdade de o provocar. Envolvi sua ereção com a mão e a esfreguei por toda a minha pele molhada.
― Droga. ― ele grunhiu em desespero e surpresa.
Suas palavras começaram a falhar, pois ele já estava profundamente dentro de mim, bem ali. Em um devaneio me recordei da falta de preservativo, e, mesmo assim, todo o meu universo estava reduzido ao lugar onde ele me penetrava, onde friccionava com consistência o meu clitóris em cada estocada, onde a pele quente de sua cintura apertava as minhas coxas. Não houve mais nenhuma conversa, apenas estocadas que foram aumentando em velocidade e veemência. O espaço entre nós se preencheu com sons abafados de anseio e súplica. Seus dentes morderam meu pescoço e eu agarrei seus ombros.
― Você é linda. – ele se inclinou para trás, olhou para baixo e acelerou um pouco. ― Não consigo parar de olhar sua pele e, merda, o ponto onde estou entrando em você…
Nunca havia o ouvido falar palavras de baixo calão e amei a situação onde ele quis me mostrar esse seu lado. A iluminação estava claramente jogando no time dele, pois, da minha perspectiva, ele estava iluminado por trás e eu podia enxergar perfeitamente o contorno daquele homem com todo seu esforço e erudição. Não distingui nada além de sombras quando olhei para baixo e visualizei apenas a sugestão do movimento: ele dentro de mim, entrando e saindo. Escorregadiço e intenso, comprimindo fundo em cada passada. Minha cabeça rolou para trás contra o edredom macio, e eu podia o sentir no meu ventre, tão densa e pesadamente, uma angústia se acumulando, descendo por meus vãos e explodindo em minha intimidade com tanta força que eu tive que gritar. E eu nem precisava ver seu rosto para saber que ele estava me observando enquanto eu gozava sem parar.
― Dentro. ― ordenei manhosa.
― Merda. ― seus quadris perderam o ritmo no mesmo instante em que special affair começou a tocar e então ele soltou um gemido grave, com os dedos enterrados na minha cintura. Espero que deixe marcas. Eu queria uma lembrança desta noite. Ele parou, apoiando-se em mim, com os lábios encostando de modo gentil em meu pescoço. ― Deschamps, você literalmente acabou comigo.
Senti ele pulsar dentro de mim – eram tremores secundários de seu orgasmo – e eu quis que ele permanecesse inserido daquele jeito para sempre. Sua mão afagou minha perna do calcanhar até a cintura, e, então, com um pequeno gemido, ele infelizmente se retirou, deitou-se ao meu lado e fitou o teto. Um sorriso tomou meu rosto por inteiro enquanto minhas pernas tremiam quase ao ponto de desabarem, ainda estava sentindo a adrenalina percorrer meu corpo e demoraria para cuja sensação esvanecer.
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Os raios solares atingem meu rosto intensamente, me fazendo sentir o quão ardentes são nessa provável parte da manhã. Meus olhos demoram para se acostumarem com a claridade do cômodo branco e minha mente demora ainda mais para absorver o fato de olhar para o lado e ver JK dormindo serenamente. Eu não deveria ter dormido aqui, claramente isso não faz parte do sexo casual que ouvi falar pelos ensinamentos da minha amiga. Só espero que ele tenha entendido o conceito da noite passada. Sento-me na cama evitando o máximo de movimentação possível e me enfio no roupão deixado ao meu lado.
Primeiramente estranho e as coisas pioram quando vejo meu vestido pendurado em um cabide ao lado da enorme janela. Ao chegar perto do mesmo sinto o cheiro de amaciante caro exalar dele, onde antes havia um forte cheiro de álcool. Ouço uma leve movimentação na cama e olho para trás, tendo o privilégio de vê-lo acordar, silencioso e sereno. Dou-lhe um sorriso quando seus olhos captam os meus.
― Bom dia. ― ele deseja-me sentando-se na cama. Envergonhada repito sua fala e tento pensar em um modo não rude de perguntar porque caralhos meu vestido foi lavado, sendo que ele não tinha a menor obrigação. ― Acordei na madrugada e coloquei seu vestido pra lavar, espero que não se importe.
― De maneira alguma, só achei...
― Estranho?
― É... Desculpa, é que... ― pauso imaginando o quão filha da mãe vou ser agora ― Você entende o que aconteceu ontem, não é? Não o fato em si, mas o contexto.
― Eu entendi que foi sexo casual, Nora. ― diz engrossando sua voz ao dizer meu nome. Solto um suspiro de alivio e vejo que ele percebe isso. ― Não se preocupe. ― ele levanta da cama desprovido de suas roupas, coloca um roupão igual ao meu e vira-se me encarando outra vez ― Pode ir tomar banho, se quiser. Estarei lá em baixo. ― assinto com a cabeça, demasiadamente envergonhada para abrir a boca.
O vejo desaparecer no corredor a posteriormente deixar o cômodo e vou de encontro ao seu banheiro. Banho-me aproveitando os minutos sem sua presença para pensar no que eu havia dito a respeito da noite anterior e brigo comigo mesma pela maneira tosca que abordei esse assunto. Depois de brigar bastante com meus próprios pensamentos desligo o registro e enxugo-me colocando meu vestido limpo em seguida, deixando meu cabelo molhado. O cheiro bom de café da manhã invade minhas narinas quando desço as escadas e caminho vagarosamente até a cozinha. Quando chego a mesma me impressiono com o banquete excessivo exclusivamente para duas pessoas, mas de modo óbvio não diria isso em voz alta.
Jeffery está sentando em frente a mesa bebericando seu café enquanto rola a tela do seu smartphone. Vergonhosamente sento-me em sua frente do outro lado sem saber ao certo o que dizer ou fazer.
― Está tudo bem? ― não, eu quero sair correndo.
― Sim. ― respondo ― Desculpe se eu fiz parecer que não gostei...
― Você não precisa fazer isso. ― assinto acanhada ― Não vai comer?
― Eu não consigo comer pela manhã. Meu estômago é enjoado. ― sorrio após terminar a frase e ele faz o mesmo.
― Sei como é, minha irmã é exatamente assim.
― Você tem irmãos? ― questiono interessada.
― Só uma, ela é dois anos mais nova. ― solto um “ah” baixo e ele se levanta da cadeira terminando de beber sua cafeína ― Enfim, vou tomar banho super rápido e já te levo pra casa, tudo bem? ― assinto observando seu corpo se mover para longe de mim após receber um sorriso.
+
O caminho para casa é silencioso. Nem mesmo a musica ambiente é capaz de dissipar o constrangimento e a necessidade de um mínimo contato que eu estou sentindo. Vejo sua mão segurar o câmbio e praguejo silenciosamente por não ser a minha coxa sob seu toque. Eu já esperava por essa ausência dele após nossa noite, até porque eu havia decidido que seria assim, mas não imaginava que seria tão doloroso assim.
― Entregue, senhorita. ― sorrio de lado pensando ainda nessa situação e isso faz com que eu não consiga destravar a porta e sair do carro ― Está tudo bem mesmo? ― meus olhos lacrimejam ― Nora, olha pra mim. ― ele pede carinhosamente conectando sua mão em meu queixo fazendo com que ele consiga me ver melhor ― Eu estou ficando preocupado. ― fungo o nariz e pisco desvairadamente impedindo que alguma gotícula role pelo meu rosto ― Droga, você precisa daquela pílula, não é?
― Como? ― franzo o cenho.
― Pílula do dia seguinte. Você precisa dela. Eu vou passar na farmácia e te trago em alguns minutos. ― rio de sua preocupação.
― JK, está tudo bem, eu devo ter... Ou melhor, a Amy deve ter. De qualquer forma, não se preocupe. ― ouço seu suspiro de alívio e para mascarar o assunto, abordo outro aleatório ― O Nathan tem namorada?
― Não. ― ele encara sem reação ― Vocês se deram bem na festa, não é?
― Sim, temos muita coisa em comum. ― sorrio.
― Eu sabia que você encontraria alguém nessa festa, e tinha noventa e nove por cento de certeza que essa pessoa seria o Nathan. Fico feliz que eu tenha ajudado de alguma forma. ― sua voz sai baixa, como se não tivesse vontade de dizer o que disse ― Espero que dê certo!
― Eu também. ― havia algo de errado em sua feição e havia algo de errado nos batimentos do meu coração.
― Bom, então essa é a sua chance de me dar um último beijo. ― ele solta essa frase do nada recebendo meu espanto.
― Dizem que é no ultimo beijo que as coisas se intensificam. ― contraponho, mas a verdade é que eu estava louca para beijá-lo.
― Então vamos ver se isso é verdade.
Mordo o lábio inferior impedindo a vontade de me jogar sobre ele e pedir um bônus da noite passada. Todavia tudo foi casual, e tinha que continuar sendo casual, haviam barreiras que eu não deveria exceder e o último beijo era uma delas. Eu sabia que não pararia por ali e pior, eu clamaria por mais e mais. Desta forma, com um sorriso disfarçando a minha dor, solto as palavras mais dolorosas do dia.
― Até mais, JK.
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