História Serendipity - Capítulo III.

                           Capítulo três:

                         Por 99bunny99

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Baekhyun piscou lentamente até conseguir abrir os olhos por completo, aos poucos se acostumando com a baixa iluminação do local. Esfregou seus olhos e passou a mão em seus fios de cabelo, demorando a olhar ao redor e não reconhecer onde estava. Em um pulo assustado ele saiu da cama macia, empurrando o cobertor que estava sobre o seu corpo. 

Onde estava? 

O ômega começou a procurar resquícios que indicassem onde estava, e a primeira coisa que encontrou foi seu celular sobre a mesinha ao lado da cama. O pegou rapidamente, ligando o aparelho e vendo a quantidade de chamadas não atendidas que tinha; céus, iria ser estrangulado quando chegasse em casa. Começou a andar pelo quarto organizado, e com o coração mais calmo finalmente sentiu um cheiro conhecido; estava no quarto de Park Chanyeol. Era o cheiro dele impregnado no local, então não havia sido um sonho o encontro com o maior, realmente tinha acontecido. 

Continuou a andar pelo local em passos lentos até se deparar com a camisa camuflada do uniforme do alfa. Ergueu sua mão, tocando no tecido com as pontas dos dedos, os passando sobre o nome do alfa. Suspirou baixinho, estava mesmo fazendo a coisa certa? Não saberia dizer, sua cabeça gritava algo e seu coração gritava outra totalmente o contrário. Queria ter o bebê e não queria nas consequências futuras de quando fosse entregar o filhote. O ômega largou o tecido assim que escutou passos e resolveu deixar o lugar. Precisava ir para casa e dar notícias a sua mãe e sua irmã, estava sumido por quase um dia inteiro e, por mais que fosse algo comum, não era correto. 

Abriu a porta do quarto e deixou o local, olhando tudo uma última vez. Talvez não fosse uma decisão ruim, o alfa não aparentava ser alguém ruim, ele poderia ser um bom pai para aquele bebê, era isso que importava.  

Baekhyun continuou a andar pelo corredor até chegar às escadas e descer com calma. Ainda estava zonzo por ter passado o dia inteiro sem ao menos colocar algo no estômago, sabia que não poderia simplesmente sair e ir embora, tinha que conversar com Chanyeol e por isso, ao invés de ir até a porta, seguiu para onde estava escutando uns barulhinhos e acabou entrando no que parecia ser a cozinha. Abriu a porta com calma e se surpreendeu quando não encontrou com o Park, e sim com dois pequenos seres.

Os pequenos alfas estavam sentados no chão com as bochechas sujas do que parecia ser kimchi e o ômega acabou sorrindo com a cena; eram lindos e tinham a aparência que lembrava o Park, até mesmo o cheiro denunciava o parentesco. Foi aí que a ficha do ômega caiu: Chanyeol tinha uma família, tinha filhotes e, possivelmente, uma esposa. 

- Você... quer? 

Baekhyun despertou dos seus devaneios quando escutou a voz de um dos pequenos em sua direção. 

- Appa disse que você tava dormindo — falou com a voz infantil e levemente embolada por conta da pouca idade. — Como você se chama? 

- Baekhyun, e vocês? — perguntou, se aproximando dos pequenos; acabou rindo quando um dos gêmeos se afastou e correu para perto do irmão. 

- Daehyun, e meu irmão se chama Jihoon — se apresentou sorrindo e se aproximando do ômega, que acabou não resistindo e levando suas mãos até as bochechas do pequeno, as limpando. — Jihoonnie é… tímido. 

- Tudo bem, Jihoon, eu também já fui tímido. — Baekhyun sorriu largo, fazendo os pequenos sorrirem juntos. — Cadê o Chanyeol? Eu preciso conversar com ele. 

- Appa tá no celular — Daehyun explicou, deixando os jeotgarak no chão. 

- Você é namorado do papai? — Jihoon perguntou, falando pela primeira vez; o tom de sua voz era mais baixo e suave do que de seu irmão, era mais calminho. 

- Namorado? — Baekhyun perguntou, confuso. — Não, pequeno, nós somos… amigos — disse, tentando encontrar uma palavra para descrever a relação. Não poderia falar para os gêmeos “eu sou o ômega que está grávido do pai de vocês sem ao menos o conhecer”. 

- Você é bonito — Jihoon disse com a voz baixinha, e se não estivesse tão próximo, não teria escutado a voz do pequeno. 

Baekhyun também acabou por se aproximar de Jihoon e limpar suas bochechas gordinhas; sempre teve uma facilidade enorme com crianças, até porque sempre foi encantado pelos pequenos. O ômega sentiu uma presença atrás de si e o cheiro do alfa voltou a ficar forte, intenso e presente no ar.

- Appa! — Daehyun gritou animado e correu até o mais velho, sendo pego no colo. 

- Você acordou — Chanyeol falou encarando o menor, que levantou do chão. Talvez o alfa nunca fosse se acostumar com a imensidão azul que era o olhar do ômega. — Podemos conversar? 

- Sim, uhm... obrigado — Baekhyun agradeceu por horas atrás. — Por ter me ajudado. 

- Não precisa me agradecer — Chanyeol disse com o tom de voz mais grosso que o normal, causando um leve arrepio no ômega. — Você está se sentindo melhor? Não quer mesmo ir ao hospital? Você ficou um bom tempo dormindo. 

- Eu tô bem, só preciso comer algo, passei o dia sem comer — Baekhyun explicou, desviando o olhar do alfa por alguns segundos, olhando para os gêmeos. Jihoon já tinha se aproximado e estava agarrado à roupa do maior, e Daehyun estava com os bracinhos ao redor do pescoço do alfa; eram realmente a cópia fiel de Chanyeol, tão lindos. 

- Appa, eu quero água — Daehyun falou e não demorou para Chanyeol ir até a geladeira, pegando uma garrafinha de água e entregando ao menor. 

- Jihoon, Daehyun, me esperem lá no meu quarto, eu preciso conversar com o Baekhyun — Chanyeol falou colocando o pequeno no chão, que segurou na mãozinha de Jihoon e o puxou para fora da cozinha. 

Assim que os gêmeos deixaram o cômodo, Chanyeol se aproximou da geladeira novamente, a abrindo e pegando uma garrafinha de suco. Naquele momento era a única coisa que tinha para oferecer ao ômega, já que tinha saído para fazer compras para abastecer os armários quando o encontrou e mudou sua rota, voltando para casa novamente. 

- Melhor você beber um pouco — Chanyeol ofereceu ao mais novo, que demorou a segurar a garrafinha. Baekhyun abriu com cuidado e deu pequenos goles, agradecendo pelo gosto adocicado; estava mesmo precisando comer algo. — O que você me disse mais cedo-

- Eu lembro, eu decidi ter o bebê — Baekhyun falou e suspirou baixinho. — Você me disse que queria assumir, você realmente quer? 

- Eu vou assumir, é meu filhote — Chanyeol disse, olhando o mais novo. — Você falou que nenhum bebê merece viver em um lugar que não é desejado, mas eu quero. Mas isso não é apenas uma escolha minha, Baekhyun, você está bem com isso? 

- Sim, eu vou ter esse bebê e você… fica com ele — Baekhyun disse, sentindo um bolo se formar em sua garganta e virando o rosto rapidamente. — Você tem filhos lindos, é um bom pai, isso é o certo. Você tem uma família, e um bebê merece uma família completa, não algo quebrado como eu. É a minha decisão. 

Chanyeol não soube o que responder para o mais novo naquele momento. O ômega pareceu tão quebrado, tão machucado que seu primeiro instinto foi de proteção; queria envolver seus braços ao redor dele e o abraçar, mesmo que não fizesse sentido, já que as únicas pessoas que conseguia despertar aquela proteção eram os seus filhotes. Talvez fosse por conta do ômega estar grávido com a sua semente e estava mexendo com seu lobo. 

- Obrigado pelo suco — Baekhyun disse, colocando a garrafinha com o líquido pela metade em cima da bancada da cozinha. — Acho que eu já dei trabalho demais pra você nessas últimas horas. 

- Não foi trabalho nenhum — Chanyeol respondeu no automático, ainda observando o ômega. Era tão lindo e não tinha como negar. 

- Eu preciso ir pra casa — Baekhyun falou quando sentiu seu celular vibrar e viu o nome de Baekhee brilhar na tela. — Tenho que resolver umas coisas.

- Eu levo você — Chanyeol disse, deixando a cozinha para pegar a chave do carro. 

- Não precisa-

Baekhyun mordeu seu lábio inferior quando viu que o alfa não lhe escutou. Deixou a cozinha em passos lentos, passando a observar melhor a casa. Não tinha brinquedos espalhados e muito menos coisas de crianças jogadas, nem mesmo tinha fotos ou quadros; era tudo tão organizado, nem parecia ser uma casa com gêmeos. 

- Podemos ir — Chanyeol disse, chamando a atenção do mais novo, que concordou e o encarou, vendo os pequenos logo atrás do corpo grande do alfa. 

O Park abriu a porta da casa e Baekhyun saiu enquanto calçava seus tênis que estavam na entrada. Viu Chanyeol pegar Jihoon no colo, já que o pequeno estava um pouco sonolento. Baekhyun sentiu um puxão em seu moletom, e quando olhou para baixo viu que era Daehyun com os braços erguidos, pedindo colo; acabou não resistindo e segurou o menor em seus braços. 

- Dae-

- Tudo bem, Chanyeol — Baekhyun disse quando notou que o alfa iria brigar com o pequeno. — Daehyun é levinho, não tem problema, eu já estou me sentindo melhor, o suco ajudou. 

- Você consegue os diferenciar? — Chanyeol perguntou. Mesmo que os cheiros dos pequenos fossem diferentes, eram comum que confundissem, até porque eram praticamente iguais. 

- Sim, Daehyun tem o sinalzinho perto da boca e o Jihoon não tem — Baekhyun explicou calmamente. Foi a primeira coisa que notou quando viu Daehyun: o sinal perto da boca, parecido com o que tinha também. 

Baekhyun seguiu calmamente atrás do alfa até chegar no carro e, com cuidado, esperou que Chanyeol colocasse cada gêmeo em sua devida cadeirinha. Quem olhasse de longe até dava para pensar que eram uma família. O ômega deu a volta no veículo e abriu a porta do passageiro, entrando e passando o cinto por seu corpo. Não demorou até a outra porta do carro ser aberta e Chanyeol sentar no banco do motorista, ligando o veículo e dando a partida. 

- Eu moro aqui perto, no centro. — Baekhyun indicou para que o alfa pudesse seguir o percurso e acabou olhando pelo espelho, vendo os dois gêmeos sentados. Jihoon tinha a mãozinha estendida na direção de Daehyun, que estava falando algo enquanto segurava a mãozinha do irmão. 

Durante o percurso inteiro Baekhyun divagava entre a decisão de ter o bebê e de observar os gêmeos no banco, e os olhando não tinha dúvidas ou receios da escolha que estava fazendo. 

- É aqui — Baekhyun disse assim que viu a fachada de sua casa. Suspirou cansado e retirou o cinto. — Obrigado pela carona. 

- Me ligue pra qualquer coisa, se precisar de algo — Chanyeol falou antes do menor deixar o carro. — Eu quero estar presente nas consultas. Digo, eu vou arcar com todas as despesas, então não precisa se preocupar com os gastos. 

- Certo, eu… mando mensagem para você então. — Baekhyun abriu a porta, saiu do veículo e olhou para o banco do passageiro. — Até outro dia, Jihoon, Daehyun, eu adorei conhecer vocês. 

- Você volta? Pra brincar com a gente? — Jihoon perguntou enquanto bocejava e coçava os olhos, estava quase caindo no sono. 

A pergunta pegou tanto Baekhyun como Chanyeol de surpresa. O ômega apenas balançou a cabeça, afirmando que sim para o mais novo; finalmente fechou a porta do carro antes de olhar uma última vez para Chanyeol. Sorriu na direção do alfa e acenou, ainda que sem jeito. Não sabia como agir na presença do mais velho, ficava com receio e até mesmo envergonhado. Chanyeol tinha uma presença tão forte que até quando não falava nada o intimidava; talvez fosse por ser um militar. 

Baekhyun entrou em casa tentando fazer o mínimo de barulho possível, não queria acordar ninguém pelo horário, já estava bem tarde. 

- Onde você estava? — Baekhee perguntou da ponta da escada, com os braços cruzados. — Você pensou em atender nossas ligações ou mandar uma notícia, até mesmo um sinal de fumaça pra dizer que estava vivo e respirando?

- Eu decidi — Baekhyun disse, encarando a mais velha. — Eu vou ter o bebê. 

- Bae...

- Eu vou ter o bebê e o Chanyeol, o pai, ele vai assumir. Ele tem uma família, noona, tem filhos, ele vai cuidar bem do bebê e dar uma família que ele merece — Baekhyun disse, sentindo os olhos lacrimejarem. 

- É isso mesmo que você quer? — Baekhee perguntou, descruzando os braços e se aproximando do mais novo. — Bae, você não precisa entregar o bebê. 

- É o certo, noona — Baekhyun respondeu, passando a mão pelo rosto e impedindo que as lágrimas molhassem suas bochechas. 

- E se essa for uma chance, Bae? — Baekhee perguntou, encarando os olhos azuis do menor. 

- Eu pensei isso, sabe? Mas aí eu me toquei, eu já perdi a minha chance meses atrás. E outra, um bebê não merece uma família quebrada. 

- Você não está quebrado, só… machucado — Baekhee disse, abraçando o menor. — Mas eu estou aqui pra apoiar suas decisões, ter o bebê é uma escolha sua e você sempre faz a coisa certa no final. 

- Obrigado. Cadê a mamãe? 

- Na cozinha, ela disse que quando você voltasse iria querer comer algo. Ela tá preparando alguma coisa gostosa. Baek-

- Hee, eu tô bem — Baekhyun disse, retirando os tênis e os deixando na entrada. — Sério, eu só quero comer, descansar e só. Não quero pensar sobre isso, hoje já foi o suficiente pra mim, eu preciso descansar. 

- Tudo bem. — A alfa suspirou e acompanhou o mais novo até a cozinha, onde a mais velha estava terminando de preparar o jantar. 

Baekhyun sentou no banco em frente a bancada e sorriu na direção de sua mãe, que não demorou a largar a espátula em cima da pia e vir em sua direção. A primeira reação que a mais velha teve foi de acertar um leve tapa em sua cabeça. 

- Não suma assim de novo — Junghee falou, em seguida abraçando o mais novo. — Eu fiquei preocupada. 

- Eu não queria preocupar ninguém, mas eu precisei de um tempo pra pensar — Baekhyun falou assim que se afastou da ômega. 

- Eu sei. — Junghee sorriu. Tinha escutado o breve diálogo dos filhos na entrada, no fundo sempre soube qual seria a decisão do caçula. — Você precisa comer, você voltou para casa e é isso que importa. 

- Obrigado, mãe. — Baekhyun sorriu. 

- Mimado — Baekhee provocou o mais novo e sentou na cadeira. — Também tô com fome, eu passei o dia procurando alguém, sabe? Nem almocei direitinho. 

- Omma, eu vou ter o bebê — Baekhyun disse. 

O jantar logo ficou pronto, Baekhyun foi o primeiro a terminar de comer e se retirar da cozinha, indo até seu quarto. Ainda estava uma bagunça, do jeito que tinha deixado uma bagunça igual em tudo em sua vida. Apenas trocou de roupa e se deitou, mas assim que fechou os olhos seus pensamentos foram diretamente a Chanyeol e os pequenos gêmeos que conheceu.  

- Chanyeol, Jihoon, Daehyun... — Baekhyun disse, mal notando que seus dedos passavam sobre sua barriga.