Escrita por: Porquinhu
- Ridícula! - Eu grito no telefone, dando risadas histéricas. Do outro lado da linha, minha melhor amiga ri da mesma maneira, e parecemos duas completas idiotas. - Vai tomar um rumo. Te vejo logo, tchau. - Eu desligo, me olhando no espelho e sorrindo. Levanto meus braços, os cruzando devagar, fingindo uma pose de bailarina famosa.
É disso que sou feita.
Minha mãe, Srta. Jane Fergunson, é a mulher mais descontraída do mundo. E por ser assim, eu me tornei a garota mais positiva que conheço. Aqui onde eu vivo, não temos tempo para se apegar à pessimismo algum. Eu sou a digna esperança!
- Mãe, anda logo. - Eu falo passando os dedos em minha franja, correndo pela cozinha e tomando meu achocolatado de goles. Minha mãe, em seus perfeitos 40 anos de idade, surge com suas roupas de ginástica e cabelo loiro em rabo de cavalo.
- Querida, eu dito as regras aqui. - Ela diz pegando as chaves do carro. Me dá uma piscada de canto e eu tento ir rápido acompanhá-la.
Ela me larga na frente da escola. Um beijo na testa e um "tenha um bom dia, amor!", onde eu só posso rir de quão pegajosa é minha mãe. Depois de algumas semanas, estão todos acostumados com os alunos da noite frequentando nosso turno. Sr. Lewis parece empolgado com a formatura deles, e eu posso perceber que estou dividindo a atenção da minha melhor amiga com um deles. Isso fica cada vez mais claro quando vejo ela sorrindo com ele perto do ármario.
- Bom dia, esquisitona. Ah, oi Trevor. - Eu falo pegando meus cadernos em meu ármario, e eles sorriem pra mim. - Vocês são enjoativos, mas ainda gosto. - Dou um sorriso e Serenity me acompanha até nossa próxima aula. De canto, observo o garoto acompanhá-la com o olhar.
Não tão longe de mim, quem eu desejo o mesmo me lança um sorriso do outro lado da sala. Bom dia, Oliver.
Eu conheço Serenity e Oliver desde sempre. Ou quase sempre.
Eu ando com eles desde que tinha nojo de beijos, desde que brincava com minha coleção de ursinhos de pelúcia. Esperança e Serenidade, Hope e Serenity. Ela chorava porque alguém chamava ela de esquisita, e eu ia lá, com toda minha coragem de garotinha mimada, para defendê-la. Cada pequeno passo e cada mudança, era pra ela que eu contava e era com eles que eu dividia todo meu amor.
Ainda me assusto com o que ela passa. John Wood, o pai de Sereny, ele era amigo da minha família. Sempre foi gentil comigo, e me dava um abraço. Não imagino como deve ter sido pra Serenity ver a mãe dela ferida por ele.
Mas ela se nega a comentar sobre isso, e o que posso fazer, é apenas estar aqui. Como sempre estive.
Eu sou boa no que faço, eu acredito nisso. Me olho no espelho gigantesco, a escola quase vazia, e eu estou trancada na sala de artes. Com minha roupa confortável e o cabelo preso em um coque.
Delicadamente, me equilibro na ponta dos pés, embalando o corpo devagar, imaginando que tem uma platéia à minha frente, eu fecho os olhos quase podendo ouvir a música delicada do piano. Cada melodia, eu consigo equilibrar-me com apenas uma perna. E com os braços, posso fingir que sou quase como uma alma livre.
- Isso sempre me deixa impressionado. - Escuto a voz dele. Droga.
Paro no exato instante, me virando e olhando em sua direção. Oliver está escorado na porta, segurando nossas mochilas e logo as colocando no chão. Eu dou um sorriso de canto, não sinto vergonha alguma.
- Podia continuar, sabia? - Ele diz baixinho. Já é tarde, eu mal vi as horas passarem. Seu alargador preto se destaca com sua camisa vermelha xadrez. Aliás, eu amo essa camisa, só pelo fato de ter ajudado ele à comprar.
- Você já viu isso milhares de vezes. - Digo me aproximando. - Onde estão os outros?
- Serenity... Vi ela saindo com Trevor. E Isaac está de castigo. - Eu estralo dos dedos, um pouco sem saber como reagir.
- Nada fora do normal.
- Nada fora do normal. - Ele repete.
De repente é tão silencioso, e só o que me resta é inclinar a cabeça para cima, ficando perfeitamente na ponta dos pés. Como a boa bailarina que sou. E suas mãos, seguram minha cintura, tocando seus lábios nos meus.
Ele não é meu namorado, não por enquanto. Ele é o cara que me beija e fala besteiras. Ele é meu melhor amigo, do jeito mais colorido possível.
Mesmo que eu saiba, que ele tenha sido apaixonado pela minha melhor amiga um dia, eu tento não me importar. Quem é que está aqui agora, afinal?
Ele sorri, cutucando minha barriga e me fazendo rir. Um abraço apertado e um "vamos logo antes que sua mãe enlouqueça" é dito, e eu suspiro devagar.
- Eles estão juntos, sabia? - Eu digo para Oliver, enquanto caminhamos. Já é tão tarde, que o sol já está partindo. Uso um sobretudo marrom com minha meia calça preta. Minha franja incomoda, e eu acho que devia corta-la. Mas minha testa está tão quentinha...
- Sabia. - Oliver diz. - Que diferença faz? Pelo menos Sereny finalmente vai se recuperar. - Ele me olha de canto.
- Achei que gostasse dela. - Falo baixinho. - Digo, érr... Antes, sabe? Não agora. Você me entendeu, não entendeu? - Dou um pequeno gritinho, e me sinto a menina mais idiota do mundo. Ainda mais quando ele ri de mim.
Por favor, me mostre um lugar onde eu possa esconder minha cabeça agora mesmo.
Ficamos em silêncio e eu me sinto péssima por tocar nesse assunto. Ele me puxa pelo pulso, me levando à um beco próximo. Sinto minha respiração acelerar quando ele me coloca na parede, mesmo suja, me segurando com força contra ela.
- Parece que estou interessado em mais alguém? - Ele diz o hálito quente perto do meu rosto. Ele tem lindos olhos escuros.
- Érr... - Dou um sorriso desafiador. - Me prove isso, por favor.
Oliver me beija tão intensamente, me fazendo ficar quente. Me fazendo suspirar num beco escuro e desejar tê-lo cada vez mais perto.
- Ninguém mais faz isso por mim. - Ele sussurra. - Ninguém é assim, Hope.
- Não alimente meu ego de garotinha mimada desse jeito, Oli. - Digo sorrindo, segurando sua nuca. - Você pode se arrepender.
Nada me satisfaz mais do que isso.
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