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História Servidão e Liberdade (Malec) - Capítulo 18


Escrita por: Thalia_Miranda

Notas do Autor


Olá :)
Sim, eu estou envergonhada por ter demorado tanto tempo a postar
btw, aproveitem o capítulo e lembrem-se:
as coisas não são perfeitas, ninguém é feliz o tempo todo

Capítulo 18 - Capítulo 18


Maybe I'm foolish
Maybe I'm blind
Thinking I can see through this
And see what's behind
Got no way to prove it
So maybe I'm lying
But I'm only human after all
I'm only human after all
Don't put your blame on me

[Talvez eu seja tolo
Talvez eu seja cego
Pensando que eu posso ver através disto
E ver o que está por trás
Não tenho nenhuma maneira de provar isso
Então talvez eu esteja mentindo
Mas sou humano apesar de tudo
Eu sou apenas humano depois de tudo
Não coloque a sua culpa em mim]

(Human - Rag'n'Bone Man) 

Sábado.

 

Gideon sabia que Magnus estava radiante por enfim poder sair. Embora ninguém soubesse do esquema da folga, ele estava inquieto. Se precisasse de algo, podia chamar Magnus de volta e ele seria obrigado a vir, claro, mas e se alguém descobrisse que o feiticeiro estava fora do castelo, fazendo nada de relevante? Estava inquieto a respeito disso, mas não podia voltar atrás com sua palavra. Ainda mais agora que sabia o que Magnus podia lhe proporcionar, não queria abrir mão disso. Não mesmo.

O que era estranho, porque desde o dia em que conhecera o céu, através da boca deliciosamente quente do feiticeiro, estava evitando-o, mesmo querendo mais que tudo sentir aquilo de novo. Mas não sabia como lidar com o olhar dourado do outro, sentia-se completamente frágil quando se lembrava da forma como simplesmente se derreteu sob o toque experiente dele.

Ao fazer a proposta, pensara que seria apenas mais uma forma de sentir prazer. Mas não foi só isso.

Magnus conhecia o que ele nunca tinha mostrado para ninguém. Nem para si mesmo. Não sabia que podia estremecer de prazer durante minutos, não sabia que podia desejar tanto um homem que quase chegara ao ponto de pedir para ele dormir ali, somente para ter a satisfação de sentir a pele quente dele contra a sua… Não sabia que podia ficar sem ar e querer permanecer sem ar, infinitamente.

E o mais importante e vergonhoso: não sabia que podia implorar, sem pensar, por mais. Nunca tinha implorado por nada. Era um Lightwood. Contudo, se ficasse muito tempo perto do feiticeiro, sabia que  imploraria por qualquer coisa… qualquer toque, qualquer migalha de atenção…

Estava se sentindo terrivelmente dividido entre a vontade de chamar Bane e se esbaldar em seu corpo novamente, e a terrível humilhação de se sentir tão dependente de um escravo. Um escravo submundano.

Quando voltou de sua pequena morte, ansiando por morrer um pouco mais… se lembrava vagamente de ter concedido a Bane a folga que ele queria. O mundo tinha se tornado um borrão indistinto e ele era totalmente sensações, que curiosamente não incluíam a visão e audição. Ficou perdido em um mundo particular, totalmente entregue às mãos e boca de Bane, enquanto o mundo saía de foco e ele não conseguia ouvir nada além das fortes batidas de seu coração contra sua caixa toráxica. Aparentemente, morrer nas mãos de Magnus era sua passagem para a vida.

Queria ter tocado o feiticeiro, ter feito algo para retribuir o prazer desmedido que sentira, mas as malditas convenções o impediram. Não sabia como fazer isso, e no minuto seguinte, Bane tinha pedido permissão para sair do quarto, e ele permitiu, ainda tonto de prazer.

Dois dias depois, estava a ponto de matar qualquer pessoa para estar  com Bane novamente, angustiado por saber que estaria longe dele no final da tarde, e totalmente incapaz de chamá-lo. Como fazer isso parecer menos comercial? Como fazer parecer menos uma relação de negócios? Porque era tudo, menos isso.

Gideon sabia, no fundo de sua mente, que mais cedo ou mais tarde, teria concedido uma folga a Bane, mesmo se ele não tivesse oferecido prazer em troca. Sabia e tinha medo de quantas coisas mais poderia fazer, apenas para levar adiante esse jogo maldito.

- Eu não me importo - resmungou para um Wayland confuso - Você sabe o que fazer, foi treinado para isso, pode se virar sozinho.

O parabatai o encarou, como se ele estivesse louco.

- Não posso não - argumentou - Você tem que assinar a papelada.

- Pois, em nome de Raziel, onde está a papelada? Você trouxe? Se não trouxe, por que está aqui? Poupe meu tempo, Jonathan.

- Que inferno é este? - o amigo franziu as sobrancelhas - Está louco?

Gideon apertou os olhos. Meio dia. Mais algumas horas e Bane estaria longe. E ele tinha que aturar o maldito Wayland.

- Só estou pedindo que você seja profissional. Precisa de permissão para a missão? Me traga o desgraçado papel para eu assinar. Me parece bastante simples.  

- Vai se ferrar, senhor Curador - Wayland riu - Isto é falta de mulher.. está nervoso? Vá ver Lydia.

- Vá você se ferrar. Posso te pôr em disciplina, se me faltar com o respeito.

Wayland saiu rindo, e Gideon conteve o impulso de jogar o tinteiro na cabeça dele. Enterrou as unhas na pele da mão para se impedir de pensar em Bane devastando seu corpo e sua mente. Ouviu o sino que anunciava o almoço.

Não queria descer. Sua fome era outra. Mas não podia fazer nada que tornasse suspeita sua conduta. Além claro, do mau humor, que estava fora de seu controle. No dia seguinte ao ocorrido tinha acordado de bem com a vida, tão bem quanto… nunca. Nunca se sentira tão vivo. Mas a sensação tinha desaparecido, segundos depois, por todas as coisas que o ameaçavam soterrar. Por segundos após acordar, quando não se lembrava das suas responsabilidades, ele se permitia ser esperançoso. Depois, o mundo pesava, e ele queria poder fugir. Admitir isso para si mesmo era assustador.

Desceu para o almoço, ansiando ver Bane e ao mesmo tempo, pedindo aos céus que não topasse com ele. Para sua alegria e desespero, não viu o feiticeiro. Tinha visto pelo amanhecer, quando ele entrou para conferir se tudo estava certo para a higiene matinal de Alexander. Mas ficou em silêncio, e o Caçador de Sombras também. O silêncio era um elefante entre eles, crescendo mais e mais, e nenhum dos dois sabia o que fazer para quebrá-lo. Então, mesmo querendo muito que ele ficasse, mais uma vez Gideon apenas o deixou ir.

- Lucas, o estoque de sal desta casa acabou?

O mordomo, que até o momento estava cochilando em pé, durante o almoço dos senhores, piscou.

- Não, meu senhor, a comida não está salgada o bastante?

- Pelo contrário - Gideon ignorou o olhar interrogativo de Izzy - Acredito que vocês colocaram aqui todo o sal que compramos ano passado.

Os criados se entreolharam, abismados. Gideon costumava ser o senhor mais parede do mundo. Simplesmente estava lá, mas nunca reclamava de nada, apesar de fiscalizar com mão de ferro o uso de todos os mantimentos.

- Perdão, senhor.. podemos preparar outra, rapidamente - Lucas se adiantou…

- Não será necessário - ele se levantou - Perdi a fome.

Izzy apenas deu de ombros. O irmão estava insuportável desde a rápida reunião pela manhã, mas ela não estava interessada o suficiente para se importar. Outras coisas povoavam sua mente. Coisas sobre as quais ela não tinha nenhum controle. A propósito, para ela a comida parecia sem sal, mas continuou remexendo no prato com a colher, tentando se forçar a engolir algo.  

Izabelle Lightwood estava pela primeira vez sentindo o que Clary dizia sentir quando via Jace. Gelo no estômago. Mas no seu caso, não era por amor. Era medo. Desde quando entrou naquela caverna, juntamente com o irmão, algo parecia estar muito errado. E então, lá no fundo estava aquele homem, pendurado no teto. Parecia dormir tranquilamente, mas algo nele era inquietante. Talvez o fato de não estar incomodado por estar de cabeça para baixo. A pele levemente esticada em direção à testa, fazia parecer que sua boca estava alongada em um sorriso. Gideon tinha tirado a água benta do bornal, e ela segurou com força a estaca. Avançaram juntos, conforme tinham feito dezenas de vezes. Então, a passagem do tempo ficou estranha.

Ela e Gideon não conseguiam avançar da forma correta. Ela podia se sentir andando com a velocidade normal, mas se via fazendo tudo de uma forma mil vezes mais lenta. Olhou para Alec e não conseguiu vê-lo de imediato, porque sua cabeça se moveu muito lentamente. E ele demorou horas para olhar para ela de volta, com o mesmo olhar estarrecido. O vampiro branco, de cabelos negros e boca vermelha continuava dormindo, sem preocupações. Izzy não conseguiu levantar a mão no momento certo, e a estaca caiu e rolou pelo chão de pedra. O barulho ecoou por um longo tempo, mas nada parecia incomodar o sono do rapaz. Não ousou pegar outra estaca. Sabia que demoraria anos para encontrar uma na bolsa interna do casaco. Alec estava puxando sua manga, tão vagarosamente que ela não via diferença no movimento, mas sentia os puxões. Ele queria ir embora. Era o melhor a fazer. Quando deu um passo atrás, o mundo voltou a girar da mesma forma que antes. O vampiro sorria, em seu sono imperturbável, e eles saíram da caverna, atônitos.

E agora, dias depois, era perturbada pela imagem do submundano dormindo tranquilamente, sorrindo sem sorrir, zombando deles, em sua calma assustadora. Não conseguia dormir direito. Gideon não estava nos melhores dias para discutir sobre isso, e durante a reunião com os outros caçadores de sombras, tinha apenas dito que a melhor forma de destruí-lo, era atacar à distância, visto que o efeito da ilusão só acontecia alguns metros ao redor, pelo que tinham observado.

Agora, Izzy sabia que tinham tido muita sorte. Sorte de mais ninguém do clã ter chegado, sorte do vampiro não ter acordado e decidido matá-los, o que seria muito fácil. Mas principalmente, algo lhe dizia que o vampiro estranho não estava realmente dormindo. Estava zombando, se divertindo com a confusão deles. Não seria tão fácil destruí-lo.


 

 

Gideon bateu a porta dos aposentos, sentindo um certo prazer nisso, em poder pelo menos por um pouco, dar vazão à crescente irritação que sentia, mas estacou, surpreso. Magnus estava parado à sua frente, aparentemente saindo do quarto de banho, vestindo uma fina camisa de algodão, calças do mesmo material e calçando um sapato gasto do próprio Gideon. Reparar no que ele vestia, ou deixava de vestir, era um dos novos passatempos de Gideon.

- Senhor - Magnus cumprimentou, mexendo as mãos.

- Magnus - sacudiu a cabeça. Havia pequenos choques no ar entre eles.

Deu um passo à direita para que o feiticeiro tivesse livre a passagem, mas o outro não se moveu.

- Senhor - Magnus olhava os próprios dedos com um interesse incomum - Precisamos… eu ainda posso sair hoje?

Gideon estava surpreso.

- Sim , foi o que combinamos - sentiu o rosto esquentar nesse momento - Eu… a não ser que queira ficar.

- Não quero - Bane respondeu apressadamente - Sairei, como o combinado, ao pôr do sol.

- Correto - Gideon olhou para os lábios avermelhados, e desviou o olhar. Nunca mais aquela boca seria apenas uma boca aos seus olhos.

- Precisa de mais alguma coisa? - havia uma leve sugestão na pergunta de Bane, e Gideon por algum motivo desconhecido, odiava que isso se parecesse tanto com uma negociação comercial.

- Não, agora não. - mas o desejo falou mais alto. Muito mais alto - Mas, ao final da tarde, antes de sair, passe aqui.

- Sim - Bane assentiu, e fazendo uma reverência quase imperceptível, se retirou.


 

O feiticeiro andou pelo corredor, sentindo o olhar de Gideon sobre si, enquanto se afastava. Dois dias antes, tinha se atirado sobre o senhor, literalmente bebendo dele. Não haviam, até o momento, indícios de que Gideon tivesse odiado o momento. Mas também não haviam indícios de que ele quisesse repetir. Magnus tinha pensado que era óbvio a extensão do prazer que o outro sentira, mas dois dias tinham se passado, e Gideon não pedira nenhuma outra experiência.

Após o fatídico acontecimento, Magnus estava radiante e frustrado. Radiante por ter conseguido sua folga. Iria respirar, talvez gritar, deitar no campo aberto e olhar as estrelas. Ia fazer todas essas pequenas coisas que não valorizamos quando estamos livres. Ia tentar ver Catarina e enviar uma mensagem a Ragnor. Com sorte conseguiria vê-lo nessa mesma noite. Mas a frustração o consumia. Gideon o beijara e tinha agarrado seu cabelo. Mas nada além disso. Nenhum toque com intenção de satisfazê-lo, e Magnus sabia que isso não era uma grande surpresa, mas ainda assim tinha se sentido muito frustrado. Teve de se virar sozinho, e se odiou quando a única imagem que conseguiu pensar para se aliviar foi de Gideon lhe possuindo, investindo diversas vezes sobre ele…

Odiava ser tão dependente de Gideon. Mas o dia de se ver livre, e ver os Lightwood pagarem pela injustiça, estava cada vez mais perto. Adorava o corpo de Gideon, mas não sabia se adorava o suficiente para se importar muito caso ele um dia entrasse em uma grande encrenca. E a encrenca viria. Certo como após a noite vem o dia, a encrenca viria. Gideon era novo demais para saber que estava entrando em uma teia de aranha da qual pouquíssimas pessoas conseguiam se libertar. E Magnus sabia que era parte essencial da teia para derrubar o império Lightwood.

Um filho sodomita, e pior, que se deitava com um submundano, seria a ruína dos Lightwood. Magnus sentia muito, porque às vezes, dentro de si, sabia que o nephilim era um bom senhor e não merecia ser castigado por desejar outros homens. Mas o mundo não era justo. A injustiça começou quando ele foi capturado e obrigado a servir essas pessoas.

Se não havia justiça vinda de fora, ele faria justiça com as próprias mãos.

 

Faltava pouco para o sol se pôr. Bane bateu e empurrou a porta do quarto de Gideon, receoso. O outro estava em pé, esperando-o, com os braços cruzados.

- Senhor - Bane por reflexo também cruzou os braços - Eu vim, conforme pediu.

- Bane - Gideon parecia desconfortável, apoiando o corpo em um pé e outro -Bom, eu… tenho algumas considerações a fazer sobre sua… folga.

- Sim? - uma inquietação invadiu o feiticeiro, será que fora enganado pelo caçador?

- Eu preciso saber o que vai fazer - disse Gideon, e completou quando o outro fechou a cara - Sério. Ou precisamos procurar uma justificativa plausível. Se alguém souber que você está fora, o que eu direi? Precisa ser algo coerente …

- Podemos concordar que eu estou em uma … missão de reconhecimento da atividade submundana …

- Todos os sábados? E como explicar você estar longe de mim?Aliás, Bane, como você consegue ficar tão longe?

Mas eles não estavam longe um do outro, Bane pensou. Desde que começaram a conversar, tinham se aproximado quase inconscientemente, e agora estavam frente a frente, Gideon apoiado na arca, Bane em pé, com os braços cruzados.

- Eu não consigo ficar tão longe - desconversou - Eu acredito que ninguém vai notar minha ausência. E provavelmente, como já disse, estarei por perto.

- Correto - Gideon colocou as mãos no bolso - Também tenho outra… recomendação.

- Sim? - Bane estava impaciente, o sol já estava baixo no horizonte.

- Você não pode contatar… amigos, além de Catarina.

O mundo girou devagar.

- Perdão, senhor? - sentia a bílis amargar na garganta. Gideon estava dando uma ordem que ele não poderia descumprir diretamente.

- Eu fui claro - Gideon sacudiu a cabeça - Nenhum contato direto ou indireto com amigos durante sua folga. Eu não posso correr mais esse risco.

Bane estava atônito. Seus planos estavam ruindo de forma alarmante. De que adiantaria a folga, se não poderia compartilhá-la com alguém? Como adiantaria seu processo de desligamento?

- Isso altera o nosso combinado - conseguiu dizer, lutando para controlar sua indignação.

Gideon apertou os olhos e engoliu lentamente.

- Não consigo ver a relação - disse.

- Eu pedi uma folga para fazer o que bem entendesse.

- Obviamente você deveria ter se certificado de que concordei com todos os termos. É uma regra básica de negociação.

Bane soube, nesse exato momento, que sentia mais raiva do que desejo pelo Lightwood. O caçador de sombras era astuto, e pela Ligação deveria ter sentido o real objetivo por detrás do pedido de folga.

- Então, me resta recorrer à cláusula em que o senhor concordou com todas as palavras em respeitar minha decisão caso eu quisesse desistir do trato.

- Você quer continuar com o trato - disse o outro, sorrindo levemente zombeteiro - Não terá benefícios nenhum caso desista.

- Não é uma questão de … benefícios…

- Ah - Gideon o encarou - Não vejo outro motivo.

Bane o odiava neste momento.

- Eu me retiro do trato - disse, sentindo sua esperança sumir, junto com o sol no horizonte.

- Certo - Gideon se levantou e caminhou pelo quarto - Está dispensado.

E Bane saiu, sentindo o ódio corroer seu corpo. Tinha se doado para o Lightwood, proporcionando a ele prazer que provavelmente nunca tinha sentido, tinha se rebaixado a negociar seu corpo por uma mísera noite por semana de liberdade, e agora, não tinha nada. Nenhuma pequena esperança a que se agarrar, de poder se ver livre pelo menos um dia por semana.

 

Já era noite alta quando Bane decidiu que não ficaria dentro da Casa. Revisou mentalmente a conversa que tivera com Lightwood. Em nenhum momento fora proibido diretamente de sair. Fora proibido de contatar amigos. E o que Lightwood não sabe, Lightwood não sentiria. Ou pelo menos Bane esperava. A cada dia sentia menos dependência de Gideon, e hoje queria testar isso. E não só isso. Ia se vingar e já sabia como.

 

Passou pela entrada no muro e respirou aliviado quando não notou nenhuma alteração na Ligação, após caminhar vários quilômetros. Estava perto da vila. Sabia da disposição das casas. Sorrateiro, observou-as, auxiliado pela luz do luar. Quando viera à vila, acompanhando Lightwood e Wayland, observara que as casas das pontas eram normalmente habitadas por pessoas paupérrimas. Faria o que tinha de fazer.



 

Mary Anne sempre acordava de madrugada para ver como estava o bebê. As crianças morriam aos montes, e ela tinha medo de que algo pudesse levar seu filhinho durante a noite. Ele já não acordava para mamar, e dormia tranquilamente a noite toda, e ela ficava parada, durante longos minutos, observando a pequena barriga dele, subindo e descendo nos movimentos da respiração. O bebê era sua vida. E ela era tão apaixonada que passaria horas somente olhando para ele. Ela estava então, fazendo isto, quando viu pelo canto dos olhos, um vulto passar em direção à cozinha. Sentiu o corpo ficar gelado. Seu marido tinha saído para caçar com os vizinhos e ela estava sozinha com a criança na velha cabana. Com todo cuidado do mundo, escondeu o filho debaixo dos cobertores, de forma que ele pudesse respirar, e pegou o punhal que guardava embaixo da cama. Fosse quem fosse, para chegar ao bebê, teria de matá-la. Levantou-se, pé ante pé, e se esgueirou pela cozinha. Um homem alto e vestido de negro estava em pé, no meio do lugar, olhando tudo atentamente.

- Olá, sei que você está aí - ele disse,  e ela prendeu a respiração. Como ele sabia? Estava de costas e ela fora muito silenciosa.

Ele se virou e ela perdeu a fala quando viu os brilhantes olhos dourados. Era o feiticeiro do senhor. Todos já tinham ouvido falar sobre ele. O que ele queria aqui? Apertou o punhal com mais força.

- Vá embora - disse, conseguindo que a voz não saísse trêmula - Você não é bem vindo aqui.

- Você não precisa ficar assustada - o homem alto e esguio disse - Eu tenho uma proposta a te fazer.

- Meu filho não - ela disse - Você não vai levá-lo.

- Como? - os olhos dele piscaram, e então com um movimento de mão, ele acendeu as velas que estavam na mesa - Eu não tenho interesse em seu filho… Você me interessa.

Mary Anne sabia o que era isso. Vários homens se aproveitavam de mulheres pobres, e seu marido estava longe. Sentiu o medo lhe invadir, mas junto a ele, veio a certeza de que não sucumbiria sem lutar. Empunhou o punhal e com uma rapidez impressionante, atacou.

 

- Quanta violência - o homem alto estava em pé, olhando-a curioso. Mary Anne tinha batido na mesa de madeira e caiu ao chão, quando tentou atacar o estranho.  

- Vá embora - ela grunhiu, tentando ignorar a dor que se formava no quadril - Você não vai tocar em mim.

- Ora, ora - o homem andou pelo espaço - Temos um mal entendido aqui. Eu não quero seu filho, nem você. Eu quero conversar. Você mora aqui sozinha?

- Não - ela respondeu imediatamente - Meu marido saiu para caçar… Está voltando a qualquer momento, e não importa se você é o feiticeiro de Mr. Lightwood. Ele vai matá-lo, caso faça algum mal a nós.

- Mulher - ele sacudiu as mãos - Eu já disse, não tenho interesse nenhum em matar vocês. Eu percebi que vocês tem pouquíssima… comida aqui.

Mary sentiu o estômago doer. O marido tinha saído para caçar porque os provimentos tinham acabado e ele não tinha como comprar nada na mercearia da vila. Tudo era muito caro.

- Não vejo como isso pode ser da sua conta - ela respondeu - Vá embora.

- Eu posso conseguir comida para vocês. E para seus amigos e familiares.

- Como?

- Comida - ele repetiu - Muita comida.

- O que quer em troca?

Ele sorriu, parecendo um anjo de candura, e Mary Anne não confiava nele.

- Quero boatos - ele disse, por fim - Espalhe por aí, mas sem nunca confirmar nada, que Mr. Lightwood parece ter muita provisão de alimentos, enquanto seus… camponeses, morrem de fome.

- Bom, mas isso não é necessariamente verdade - Mary Anne disse - Ele sempre abastece a mercearia, mas os preços são absurdos.

- Exato - ele disse - Como vocês conseguirão comprar algo tão acima de suas possibilidades?

- Não é uma boa ideia - a moça sacudiu a cabeça - Ele vai nos matar se descobrir.

- E vocês vão morrer de fome se não fizer isso.

Ela o encarou, dividida.

- Tem algo acontecendo - o feiticeiro disse - E está afugentando a caça. Por isso as pessoas não estão mais conseguindo nada quando saem para caçar. Seu marido voltará sem nada hoje. E vocês precisam se alimentar para cuidar do bebê.

- Ele vai mandar me matar se eu difamá-lo.

-  Eu duvido muito disso - o homem alto e esguio caminhou ao redor da mesa e se aproximou dela - Mas caso aconteça, juro pelo mais sagrado, que protegerei a vida de vocês.

- Eu não sei.

Bane então sacudiu as mãos, e em cima da mesa apareceram farinha e carne de porco frita. O estômago de Mary Anne se revirou de fome.

- Coma - ele disse - Talvez isso te convença.

A fome falou mais alto, e ela se aproximou da mesa. A princípio comeu devagar, tentando ver se o gosto estava estranho, mas logo estava atacando a comida, até que enfim, estivesse saciada.

- Estava bom? - Bane sorriu para ela.

- O que quer conseguir com esses boatos? Como eu faria isso?

- Comente com a vizinha, mas em baixo tom, que sabe por fontes seguras, que os Lightwood esbanjam comida, mas não tomam conta de seus vassalos. O que quero conseguir, não é da sua alçada, minha querida.

- E isso é verdade? É verdade que tem muita comida lá?

Bane pensou no depósito de mantimentos, cheio de comida que daria para sustentar toda a vila por longos meses.

- É muito verdade - ele disse.

- E se ele quiser mandar matar-me, você promete que…

- Tem minha palavra - o feiticeiro disse - Ele nunca tocará em um fio de seu cabelo, ou do seu marido, ou da criança.

Agora que estava saciada, Mary Anne não queria voltar a sentir a dor de um estômago vazio.

- Feito - disse por fim, e Bane lhe sorriu, amistoso.

 

Quando ele foi embora, ela sentiu o medo de que tudo aquilo desse errado. Não podia confiar no feiticeiro, mas anos atrás, quando era uma criança apenas, tinha sido amiga de um rapaz muito estranho. Ele passava ocasionalmente pela vila, e lhe dava atenção. Conversava com ela e pegava em suas tranças. Ele tinha um par de chifres e a pele verde. Seus pais a levaram em um padre e lhe benzeram quando ela disse que era amiga de um homem assim, e então, a surraram por não ter dito antes. O homem verde nunca mais apareceu, mas ela sentia saudade das histórias que ele contava. Por isso, os olhos dourados do feiticeiro não eram uma surpresa para ela. Mas, estava com medo de ter colocado a familia em risco. O feiticeiro fizera estalos com as mãos, e logo sua dispensa tinha farinha, carne seca e batatas. Ele também deixara cerveja para seu marido. Com a barriga cheia de comida e a cabeça cheia de dúvidas, Mary Anne adormeceu ao lado do bebê.




 

- Não é possível - Gideon circulou a mesa da biblioteca, olhando estarrecido para o menino franzino à sua frente - Tem certeza disso?

- S..ssim… meu senhor - ele tremia - E… eeeu… não…

- Pare - Gideon estendeu a mão e segurou o ombro dele - Você nunca deve tremer diante de homem nenhum, entendeu?

O rapaz respirou fundo, e assentiu..

- Agora me diga tudo que aconteceu. Com detalhes.

 

E o menino disse. Mais um ataque em Stone Hill. Outra criança tinha desaparecido, mas dessa vez, tinham encontrado sangue e pedaços de sua roupinha em direção ao norte. Como das outras vezes, o ataque tinha acontecido durante o dia, o que confirmava as suspeitas de um Diurno se alimentando na região. Gideon precisava adiantar a emboscada. A situação estava insustentável. Dispensou o menino e mandou chamar Izzy e Jace. Sabia que um humano adulto poderia servir de provisão de alimento para um vampiro durante dias, mas não sabia quanto tempo uma criança aguentaria. E um recém-criado não teria autocontrole o suficiente para se impedir de beber tudo de uma vez. As coisas estavam ficando sombrias.

 

Quando a reunião terminou, tinham decidido que alguns caçadores ficariam de guarda na vila, até que todos os preparativos para a emboscada estarem prontos, e a autorização da Clave chegar. O plano era exterminar todos os vampiros, já que eles estavam descaradamente desafiando todas as regras, e capturar o Diurno vivo. Gideon respirou fundo. Ainda não era o meio da manhã e já estava com tantos problemas para resolver. Pela manhã tinha acordado com Bane entrando devagar no quarto, segurando uma vela. Pelos olhos entreabertos, viu-o se movimentar, arrumando as roupas do dia, e sumindo para o quarto de banho. Depois, Bane retornou e ficou alguns segundos parado em frente à sua cama, e Gideon o encarou de volta. Bane desviou o olhar e foi embora.

 

O Caçador de Sombras estava mais frustrado do que nunca. Não podia conceder a Bane liberdade irrestrita. Os riscos eram grandes demais. Mas o preço a se pagar por isso, era perder a possibilidade de sentir o toque de Bane. Durante a noite não conseguira dormir bem. Era constantemente acordado, e sentia frio, embora estivesse bastante coberto. Quis se levantar e ir ver Bane no porão, ou simplesmente girar o anel e chamá-lo, mas se conteve. Não podia ser tão fraco. Não era tão fraco. Quando percebeu que não dormiria,  cedeu ao desejo e se tocou, pensando em tudo que poderia fazer com Bane, ou deixá-lo fazer a ele. Estremeceu de prazer imaginando os olhos dourados de Bane e por fim, conseguiu adormecer. E ao acordar, vendo Bane entrar com a vela acesa, por alguns segundos viveu a doce ilusão de que o outro se juntaria à ele na cama. Inferno, porque agora, se deixava a mente divagar um pouco, imaginava o outro beijando-o nos lugares em que mais queria.

- Como estão as coisas com Lydia? - a voz de Jace tirou-o de seus pensamentos. Somente ele tinha permanecido ali, enquanto os outros dispersavam.

- Ahn - Gideon tinha se esquecido completamente de Lydia nos últimos dias - Está tudo bem.

- Ela parece ser bem… apetitosa.

Gideon conteve a irritação.

- Sim - respondeu, ansioso para que Jace sumisse da sua frente - Ela é.

- Podíamos tentar algo a três - o outro levantou as sobrancelhas, e Gideon por fim, irritou-se.

- Dê o fora daqui Wayland - grunhiu.

O outro riu, jogando a cabeça para trás. Ele tinha sua beleza, Gideon sabia. E por um tempo, fora muito interessado na beleza máscula de seu amigo e irmão. Mas, ele não era nada perto da beleza estonteante e nada convencional de Magnus. Olhar para o feiticeiro era em primeiro lugar, levar um pequeno choque. E só então, conseguir apreciar as feições levemente esculpidas.

- Não se pode ter ciúmes de putas, Gideon - Wayland riu - Aliás, tenho algo a lhe contar.

Gideon assentiu com a cabeça para que ele prosseguisse.

- Vou me casar com Clarissa.

Gideon piscou, alarmado.

- O que quer dizer Jonathan? Quando isso aconteceu?

- É recente. Acredito que ela é a melhor moça da região com quem eu poderia me casar.

Gideon pensou por uns segundos. Realmente. Clarissa parecia bem apropriada para Jace.

- Além do mais - o outro levantou as sobrancelhas - Ela me deixou beijá-la.

- Raziel!- Gideon estava chocado. Como moça de família influente, Clarissa não deveria se deixar ser beijada por um homem antes do casamento. Se alguém descobrisse, ela estaria arruinada - Pois trate de honrar a moça e case-se logo com ela.

 - Já estou cuidando  disso - Jace respondeu, e revirou os olhos - Vamos nos casar em breve, e você será meu padrinho, meu irmão.

- Com prazer - Jace respondeu, sorrindo educadamente - Meus parabéns, irmão.




 

Duas semanas se passaram. Gideon tinha designado Jace e Izzy para fazerem a segurança de Stone Hill, e a resposta da Clave, permitindo uma emboscada, estava demorando mais que o usual. Nesse meio tempo, Gideon recebera mensagens de fogo do pai e da mãe, que deixavam claro que eles estavam a par da situação e não moveriam um dedo para ajudá-lo. Não foi uma surpresa para o Caçador. Estava acostumado a isso.

Despachou outra mensagem de fogo para a Clave, reforçando a urgência do pedido e respirou fundo. Outra coisa o estava incomodando. No último sábado, sentira-se novamente com frio e inquieto durante a noite. A sensação do sábado anterior, de que deveria descer as escadas e verificar se Magnus estava no porão, o assolava. Contudo, se conteve mais uma vez. Magnus continuava fazendo perfeitamente bem seus serviços de criado, e falando apenas o absolutamente necessário. Gideon tentava não topar com ele mais do que o normal, e a distância entre eles aumentava cada vez mais.

Seus dias se resumiam a treinamentos, relatórios, esperar a resposta da Clave, receber os relatórios de Jace e Izzy e evitar Bane. Suas noites se resumiam a jantar sozinho, banhar na água aquecida magicamente, dormir mais cedo que o usual, e por muitas vezes, diversas vezes, inúmeras vezes, se tocar pensando em uma boca pequena e pervertidamente vermelha.

E hoje era novamente sábado. Já era tarde, e o sol estava a se pôr no horizonte. Se sentisse novamente o mesmo desconforto dos sábados anteriores, desceria até o porão para averiguar o que acontecia.

O jantar correu monotonamente. Nunca pensou que sentiria tanta falta da presença falante de Izzy. Estava terminando a sopa quando Magnus Bane apareceu à porta. Como sempre acontecia quando ele surgia sem avisar, Gideon sentiu o coração falsear uma batida.

- Senhor ? - ele fez a quase invisível reverência com a cabeça.

- Bane - ele agradeceu aos deuses pela voz sair firme.

- Seu banho está pronto, assim como as roupas para dormir.

- Obrigado Bane. Está dispensado para seu jantar.

- Até amanhã senhor.

 

A noite já estava alta quando o frio começou. Gideon não entendia. Estava coberto por muitos cobertores e o fogo estava aceso. De onde vinha o frio? Levantou-se cuidadosamente. Precisava verificar o porão. Desceu as escadas carregando o artoche aceso, sentindo-se grato por nao encontrar ninguém nos corredores. Sentia o coração pulsar rapidamente, ao passo que se aproximava da porta de ferro que guardava o quarto do feiticeiro. A possibilidade de vê-lo dormir lhe parecia maravilhosa. Mas a porta estava trancada por magia. Ele tentou girar a maçaneta, sem sucesso. O frio aumentava e ele sabia que não podia simplesmente voltar para cima. Você tem total domínio sobre ele, a voz de Jace ecoou em sua mente. Ele respirou fundo e segurou a tranca novamente.

- Eu, Alexander Gideon Lightwood, senhor e dono de Magnus Bane, ordeno que me deixe entrar.

Então a porta girou, a contragosto, e ele olhou para dentro, para o quarto bagunçado, as paredes frias e a cama, vazia.


 

Bane entrou sorrateiro na Casa. O dia logo estaria amanhecendo. Nessas duas semanas, Mary Anne conseguira convencer vários vizinhos de que deveriam armar um motim contra o Lightwood. Bane não se expunha, mas providenciava mais comida e reforçava os boatos de que haviam alimentos de sobra na Casa, e que Gideon Lightwood não se importava de que seus vassalos morressem de fome. Uma revolta seria perfeita para o começo da derrocada dos Lightwood, Bane sabia disso. Logo depois, só precisaria provar que o perfeito Alexander Gideon era um sodomita, e a queda viria com grande estrondo. Sentia a Ligação cada vez mais fraca, e já não sofria quando precisava se ausentar da presença do senhor. Embora ainda se sentisse compelido a acatar qualquer palavra que ele dissesse e lamber o chão pelo qual ele passava, se sentia cada vez mais confiante e menos dependente.

Não tinha mais se encontrado com Ragnor, mas tinha conversado com Cat e ela estava ajudando-o como podia, preparando poções fortificantes e lhe dando notícias do submundo. Todos já tinham conhecimento da existência de um Diurno e Cat lhe dissera, naquela noite, de que suspeitava fortemente de quem fosse o líder do clã. Antes que ela dissesse quem era, a noite começou a chamar o dia, e ele precisou ir embora. Sabia que havia uma grande possibilidade de que Camille estivesse naquele clã, e a julgar pelos planos dos Caçadores de Sombras, de exterminar todos os integrantes do grupo, estava começando a se sentir inquieto. Fora amante de Camille por longos anos. Lhe parecia uma traição não avisá-la da emboscada.

Quando desceu a escada para o porão, sentiu que algo estava errado. A porta ainda estava trancada, mas deixara entrar alguém. Sentiu o cheiro do Caçador, e suas entranhas se contraíram. Ele estava a par de suas saídas. Girou a maçaneta e olhou para dentro, para o quarto bagunçado, as paredes frias e sua cama, ocupada.

 

- Senhor? - engasgou-se, ansioso.

- Bane - Gideon segurava o artoche, sentado displicentemente no seu catre.

- Milorde, eu…

- Está saindo sem minha autorização-  a voz dele era fria, mas seus olhos eram fogo.

- Não exatamente - ele entrou e fechou a porta, encarando o homem que poderia puni-lo com crueldade, caso desejasse. - Não fui proibido de sair da Casa, e não estou contatando outros amigos, além de Catarina.

- Eu não sei porque estou surpreso - Gideon disse após alguns segundos - Você é Magnus Bane. Daria uma forma de burlar qualquer regra que eu desse.

- Eu…

- Deve ser punido - a voz de Gideon soava fria e desinteressada.

- Eu não desobedeci - repetiu, tentando não se lembrar das sugestões de punição que Jace oferecera ao senhor.

- A mim, parece uma infração - Gideon se levantou e se aproximou dele, os olhos azuis brilhando com algo que Bane não sabia o que era - E você será punido.

Como Bane não disse nada, após alguns longos segundos, Gideon voltou a falar.

- O que estava fazendo?

- Fui à vila - Bane respondeu, olhando para o outro lado. Era difícil se concentrar com os olhos de Gideon sobre ele.

- Fazer o quê?

- Visitar uma… antiga acompanhante.

Não estava mentindo. Antes de casar-se, Mary Anne tinha trabalhado no bordel. Gideon não precisava saber dos detalhes atuais. O olhar do senhor, entretanto, ferveu e ele apertou o suporte do artoche com tal força que as veias saltaram.

- Como disse?

- Uma antiga…

Gideon soltou o artoche, que rolou pelo chão e apagou-se. No escuro, Bane podia distinguir suas feições, embora soubesse que ele não via nada. Mas Gideon segurou seu ombro com firmeza.

- Você dorme com mulheres ou homens feiticeiro?

Bane respirou profundamente.

- Isso importa ? - respondeu em um sussurro, observando as feições do outro se fecharem - Não costumo me prender a aparências, senhor.

Gideon empurrou-o até a parede, firmemente prendendo-o contra ela. Bane podia empurrá-lo de volta, ou correr. Mas o toque quente do outro, parcialmente coberto pelo tecido da roupa, era quente e viciante. Gideon tremia levemente e Bane queria ver até onde isso os levaria.

- Você pertence a mim - o Caçador de Sombras grunhiu - Eu sou seu dono e não permito que toque outra… pessoa.

Bane sorriu minimamente. O Caçador de Sombras estava com ciúmes. Levantou o braço e tocou-o na pele nua do pescoço, sentindo-se vitorioso quando o outro amoleceu sob seu toque.

- Eu não sabia que estava impedido de me deitar com outras pessoas, senhor. E não vejo objeção, já que milorde também não faz questão de me ter em sua cama.

Então Gideon abandonou toda a falsa sensação de controle. Queria aquilo mais que tudo. Precisava. Colou seu corpo ao de Bane, e sua boca à dele, gemendo em satisfação quando os braços do outro o envolveram. Bane devolveu o beijo sem delicadeza, sem enrolação. Apenas desejo, desejo puro, vermelho como sangue, quente como fogo. Empurrou e foi puxado em direção à cama, que gemeu sob o peso dos dois. Sabia como Gideon gostava de seu cabelo, pela forma como ele enfiava os dedos ali, prendendo-o em um beijo sem fim nem começo. Sabia o que Gideon queria, e decidiu ir até o final, quando o outro começou a fazer os movimentos sensuais com os quadris, de encontro à sua pélvis. Ambos estavam tão excitados que a ereção poderia perfurar a roupa.

- Eu quero....  - Gideon disse, ofegante, quando as bocas se separaram, o objeto de seu desejo implícito no gemido angustiado.

- Você pode - Bane sorriu, lascivo, cheio de um desejo primitivo, de sentir Gideon possuí-lo selvagemente - Espere um instante.

Gideon se apoiou nos cotovelos e o acompanhou com os olhos, enquanto ele ia até a mesa pequena e pegava um pequeno recipente de vidro. Bane tinha feito aquilo após o trato com Gideon, pressupondo que precisaria usar, e não o jogara fora quando desistira de sua parte no acordo.

- O que é isso? - Gideon perguntou curioso.

- Bom, é para facilitar as coisas.

- Como? - a compreensão demorou a chegar nos olhos enevoados de desejo do Caçador - Ah, ah, ah sim…

- Mas não vamos nos preocupar com isso agora - Bane deixou o potinho perto da cama  e como um gato deslizou para cima do Caçador de Sombras - Eu cuido disso.

 


Notas Finais


Oi amores,
Ta complicado continuar, mas não vou desistir dessa fic :) mas vou respeitar meu ritmo e paranoias
Até qualquer dia querid@s, por favor, deixem seus comentários e impressões
<3


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