Eu não quero ser outra coisa do que estou tentando ser ultimamente
Tudo o que eu tenho que fazer é pensar em mim, e eu terei paz de espírito
Estou cansado de olhar nos quartos em volta imaginando o que eu tenho que fazer ou quem eu devo ser
Eu não quero ser nada além de mim
...
Estou cercado por mentirosos por todos os lados onde me viro
Estou cercado por impostores por todos os lados onde me viro
Estou cercado por uma crise de identidade por todos os lados onde me viro
— I Don't Wanna Be

Seul, Capital da Coréia do Sul

A água da banheira já não parecia mais tão quente, mas os corpos colados de Jimin e Soyoon deixavam claro que a temperatura de suas peles era o suficiente. Soyoon manteve o olhar cravado no olhar de Jimin pensando em uma resposta à altura.
Ela se afastou finalmente do corpo do garoto, voltando a se encolher do outro lado da hidromassagem. Jimin fez o mesmo, esperando por alguma resposta.
Não estavam mais tão ofegantes como antes. Soyoon não tinha respondido nada, no final. Então, após os momentos de pura intimidade, o banheiro se tornou um lugar silencioso.
Na verdade, a cabeça de Yoon latejava e seu corpo parecia cada vez menos forte com o passar dos minutos. E para Jimin era irritante ter que lidar com a personalidade duvidosa da menina.
Park abriu bem a boca prestes a dizer algo a mais, mas mudou de ideia ao prestar bastante atenção no rosto da morena a sua frente e perceber com clareza a forma como a pele de seu rosto estava ficando cada vez mais corada com o passar dos segundos. Denni franziu o cenho, desencostando novamente as costas da borda, e voltando a se aproximar da garota.
— Soyoon
— Hum? — ela resmungou sem ânimo algum.
— O que você está sentindo agora?
Soyoon puxou ar para os pulmões, olhando para o chão do banheiro. Ela se mexeu deixando claro como seu corpo estava dolorido, e ainda sem dizer nada, levantou-se saindo finalmente da banheira. Jimin acompanhou os passos da garota, analisando seu corpo molhado enquanto a mesma andava nas pontinhas dos pés.
— Depois do orgasmo? — soltou ela, baixo, se enrolando em uma toalha branca. — Sinto que minha cabeça vai explodir.
Ela saiu do banheiro o deixando para trás. Jimin fechou levemente os olhos e suspirou, se levantando também.
Parado dentro do banheiro enrolado em um roupão, Jimin raciocinava sobre como as coisas haviam acontecido. Ele deduziu que a saúde de Soyoon não estava boa, mas se entregaram ao prazer momentâneo.
Por que as coisas eram tão difíceis quando em relação a Soyoon? Aquilo o confundia tanto que tinha certeza que era o que mais lhe estressava. Não sabia como arranjar formas de evitar. Tudo o que acontecia entre eles dava errado depois, ou era feito sob algo sem controle algum.
Ele saiu do banheiro vendo Soyoon sentada na cama de toalha, com o rosto escondido entre as mãos. Park umedeceu os lábios e olhou todo o quarto de hóspedes pensando em dizer algo que não fosse 100% inútil naquele momento. Ela o enlouquecia. Estava daquele jeito pelas dores que dizia sentir, ou pelo o que havia acabado de acontecer no banheiro?
— Me diz detalhadamente — Jimin se sentou ao lado de Soyoon, minuciosamente. — o que você está sentindo.
Ele viu a garota respirar bem fundo, então ela levantou a cabeça mostrando seu rosto mais vermelho que antes. Ela realmente não parecia bem. Ele negou com a cabeça.
— Eu nunca senti uma dor de cabeça tão forte. — falou ela, em murmúrio. — Meu corpo... parece pesar toneladas agora.
— Minha mãe te deu as roupas?
— Sim.
— Se seque e vista elas. — Park ditou baixo, se levantando. — E... não te chamei para o meu quarto pra transar.
— Não precisa tentar ser sensível agora. É claro que me chamou para terminarmos o que começamos no banheiro... mas parece que isso não acontecerá. — ela deduziu rapidamente.
— Então você acha que eu fui insensível? Você foi condizente com tudo!
— Eu não estou dizendo que não fui! — retrucou já raivosa.
— Você quer saber? Eu não ligo, Yun Soyoon. Não precisa dormir no meu quarto. Não vai fazer falta alguma, de qualquer forma.
Soyoon, mesmo em meio as dores, se levantou incrédula.
— Que se dane! — ela disse alto.
— E tomara que sua cabeça exploda mesmo e você suma juntos dos miolos que você nunca teve!
— Óti- — Soyoon parou de falar, levando as duas mãos à cabeça e caindo sentada na cama de novo, com a perturbação desconhecida que fazia sua cabeça doer muito.
Jimin acelerou os passos se sentando ao lado da garota de novo. Com sua mão aberta, encostou a mesma na testa exposta da menina e travou o maxilar sério.
— Fica deitada.
Ele saiu do quarto rapidamente a deixando para trás. Soyoon resmungou junto a alguns gemidos e se colocou em posição fetal em cima da cama, com seu corpo já trêmulo pelo frio.
Quando Park voltou para o quarto, vestia sua calça folgada e uma camiseta larga. Ele se aproximou de Soyoon de novo e se abaixou olhando para seu rosto inquieto.
— Se vista. Eu trouxe remédios. Vai amenizar as dores no corpo. — ele soltou. Ainda que tentasse cuidar dela, sua voz era tão fria naquele momento que Soyoon quase se deixou levar e fingiu não ouvir.
Lentamente, ela se sentou na cama e viu ele lhe entregar a camisola que antes estava no pé da cama. A peça de roupa tinha cheiro de novo, para deixar mais óbvio que a senhora Park não lhe daria um pijama usado. A camisola parecia ser da cor de pérola e seu tecido era fino.
Yoon tirou a toalha de seu corpo a colocando de lado. Jimin evitou mirar sua aparência desnuda até que ela se cobrisse com a camisola. Quando se vestiu, puxou as cobertas da cama e enfiou as pernas para dentro, olhando de soslaio para Denni. Ele lhe esticou o remédio líquido e levantou uma das sobrancelhas esperando que a mesma pegasse.
A curiosidade de Soyoon quase a fez perguntar que tipo de remedio era aquele, mas preferiu ficar quieta, levando em conta que o garoto provavelmente sabia o que estava fazendo... e se fosse veneno, ela não reclamaria.
Deitando-se para se proteger do frio, Yoon ignorou o fato de estar sem nada por baixo da camisola e se aconchegou com mais precisão.
— Vai te dar bastante sono. Vai acabar dormindo logo. — Jimin murmurou, quase emburrado.
Yun queria não ter estranhado a mudança de humor repentina do herdeiro, mas por fim não pôde deixar de reparar.
— Obrigada. — se limitou a não tocar no assunto.
— Disse aos meus pais que não vai jantar com eles. — voltou a falar entre suspiros. — Mas quer comer?
Ela apenas balançou a cabeça negativamente, enfiando os braços por baixo dos travesseiros da cama. Mesmo que o remédio não estivesse lhe deixando sonolenta ainda, a dor de cabeça praticamente a forçava a manter os olhos fechados.
Quieta, sentiu quando Jimin se moveu, saindo de perto. Então ela continuou respirando calmamente, aguardando pacientemente pelo sono.
Jimin analisou o corpo da garota na cama e semicerrou os olhos. Sabia que não demoraria muito para que ela caísse no sono. Ele forçou o pescoço para ambos os lados querendo estalar, então esticou o corpo e olhou para o quarto de hóspedes. O lugar estava bem aquecido.
Andou até o interruptor e desligou as luzes, se aproximando da cama em seguida. Não dormiria em seu quarto naquela madrugada, e a desculpa que usaria seria a de que Yun Soyoon era convidada de sua mãe e estava doente, sendo assim, devia se certificar de que a menina não teria problemas no meio da noite.
Era o que ele mesmo queria pensar, sabendo por conta própria que nem ele mesmo acreditava em suas próprias mentiras, apelidadas de desculpas esfarrapadas.
Assim que deitou, os pés gelados de Soyoon tocaram suas pernas e ele xingou baixinho, se apossando de alguns travesseiros. O cheiro do cabelo feminino já estava impregnado entre os panos, o ajudando a fechar os olhos e também esperar pelo sono.
"— Que menininha assustada... — a voz baixa e masculina sussurrou em meio à escuridão. — Muito assustada para o meu gosto...
Era possível diante de tudo o que via, sentia a tensão e todo o medo da vítima que se escondia entre os cantos escuros. A respiração curta, rápida e cansada. O suor exalando e a garganta muito seca.
— Corra, Agnes... corra e se esconda enquanto há tempo... — a mesma voz continuou, desta vez cantarolado. — É melhor apressar os passinhos. É melhor correr. Por que não faz alguma mágica?
Ele riu. Aquilo causava medo. Aquilo causava agonia. Parecia estar presa em um filme de terror, e queria que alguém lhe sacudisse dizendo que a realidade era outra.
Medo. Sentia muito. Sentia muito medo.
— Porque se eu te pegar... você sabe o que vai acontecer."
Soyoon abriu os olhos se sentando no mesmo instante, ofegante como se tivesse acabado de voltar da água. Seu coração estava extremamente acelerado, suas mãos tremiam e seu corpo exalava suor.
Jimin, ao seu lado, acordou assustado gemendo em desagrado enquanto enfiava os dedos entre os fios de cabelo. Incomodado com o momento estranho e com o escuro, o herdeiro tateou o móvel ao lado da cama até conseguir encontrar o botão certo para ligar o abajur, clareando um pouco do quarto.
— Que merda foi isso? Alguém entrou aqui? — ele perguntou confuso, olhando incomodado para a morena. — O que aconteceu?
Soyoon só balançou a cabeça em negação, abraçando o próprio corpo, conseguindo aos poucos normalizar a respiração. Com o corpo cansado, o jogou para trás sendo acolhida novamente pelo travesseiro confortável.
Jimin respirou fundo e arrastou um pouco o corpo para perto da menina, colando a palma de sua mão na testa levemente suada. Ele umedeceu os lábios sério e travou o maxilar.
— Está com febre.
— Se eu dormir, passa. — respondeu baixo, virando para o outro lado.
Jimin gemeu em desagrado e levantou da cama, passando ao lado da grande janela e olhando rapidamente para ela. Os trovões e relâmpagos do lado de fora iluminavam todo o quarto, e o barulho era estrondoso.
Soyoon viu Denni sair do cômodo batendo pé, deixando a porta aberta por uma brecha não muito pequena.
Yun sentia seu corpo pesar cada vez mais, sua cabeça latejava e se via sem condições para pensar. Quando fechava os olhos, tudo o que passava como um filme pela sua cabeça era uma linha distorcida e sem emoção. Mas podia ouvir claramente os tons de vozes das pessoas em seu sonho ridículo.
Por que havia sonhado com pessoas desconhecidas?
Jimin voltou para o quarto fechando novamente a porta, e se aproximou em passos largos de Soyoon. Soyoon apertou as pálpebras. Reconhecia quando o número 1 estava irritado só pelo ritmo de seus passos, mas não sabia se isso era algo bom ou ruim.
— Eu continuo sem entender como você quer ser médica, enfermeira ou seja lá o que for se não cuida nem de si mesma. — ele falou raivoso, se abaixando para que pudesse ficar da altura da cama.
— Eu não sabia que o clima ficaria assim.
— Estou falando pelo fato de você saber que não está bem e continuar dizendo que não é nada. Que se dormir passa. — ele abriu a mão da menina lhe entregando dois comprimidos brancos. — Fala sério, Yun Soyoon. Abre a boca e enfia isso dentro.
Soyoon engoliu os comprimidos com a expressão nada boa voltada ao menino que já se levantava impaciente.
— Eu continuo sem entender como você quer ser médico, enfermeiro ou seja lá o que for com essa delicadeza toda. — ela retrucou rouca, tossindo em seguida. — Quer me dopar?
Jimin revirou os olhos, se deitando novamente, aproveitando o aconchego de seus pés sendo aquecidos.
— Amanhã estará melhor. Pelo menos um pouco. — ele falou por último, se cobrindo até o ombro, virado de costas para Soyoon.
— Então obrigada. Irei embora cedo.
Jimin bufou alto, virando-se para a garota que continuava de costas.
— A previsão é que o tempo continue assim pelo menos até o fim da tarde de amanhã.
— Não vai estar pior que hoje. E eu não sou de açúcar. — ela rebateu, tossindo mais uma vez.
— Que seja. Eu só quero que você melhore logo. Preciso que esteja disposta até amanhã.
— Por que toda essa preocupação agora? Eu juro que tento entender... — perguntou ela, cada vez mais baixo.
— Preciso que esteja disposta pra dançar, Yun Soyoon.
— Certo. — ela respondeu.
— Em cima do meu pau, de preferência. — Jimin murmurou com a boca quase tampada.
— O quê?
Denni riu quando percebeu que a garota tinha virado para ele, e era nítido que tentava descobrir se havia ouvido errado. Ele deu de ombros e se aproximou um pouco mais, jogando a perna direita sobre as pernas dela.
— Boa noite. — desejou ele, pela terceira vez.
— Você é tão ridiculamente estranho.
Jimin não ligou para o que foi dito, jogando seu braço por cima do quadril feminino, fechando os olhos e se rendendo ao cansaço.
No dia seguinte, o despertador do celular tocou feito um louco. Jimin praticamente pulou da cama saindo de sua calmaria, procurando rapidamente pelo aparelho que continuava tocando sem controle.
Park respirou fundo passando as mãos pelo rosto de um jeito lento e pesado. Esticou os braços acima da cabeça se espreguiçando e finalmente olhou para o lado, mas a cama estava vazia.
Franziu seu cenho e esticou o pescoço tentando enxergar se havia alguém no banheiro, mas não, o quarto estava completamente vazio. Pegou novamente seu celular em meio às cobertas e coçou o couro cabeludo com força, se jogando novamente na cama.
Havia uma mensagem de Soyoon entre todas as outras na caixa de entrada.
→ Eu disse que o tempo não estaria tão ruim quando amanhecesse... bom dia, Park. Decida quando iremos ensaiar novamente!
De: Soyoon Pano de Chão
Ele revirou os olhos conferindo a hora. Havia imaginado que ela tinha ido embora. Naquele momento era 6:45 da manhã, e a mensagem havia sido enviada às 6:00, o que o levava a crer que a jovem tinha acordado bem cedo.
Olhou para a janela vendo que ventava forte, mas que não era nada comparado ao dia passado. Tinha pouca neblina e a que tinha não era densa, não chovia embora o céu estivesse cinzento.
Soyoon estava certa sobre o clima não piorar. E não, ela não era mesmo de açúcar.
~●~
Andando de um lado para o outro, Jin coçava a nuca com força tentando não voltar a se descontrolar. Não era como se tivesse sabido de toda a verdade minutos antes, mas sempre que pensava em tudo o que ouviu, sua tensão voltava para o corpo.
— Como assim este lugar não te pertence?
Estava mal, se sentia enganado de uma forma a qual nunca pensou que seria. Sua respiração funda e cansada indicava que não descansava há algum tempo, mas não estava preocupado com isso.
Havia chegado há pouco tempo, Taija o olhava com a expressão amedrontada. As coisas não estavam nada boas, o que era bem óbvio.
Taija havia dito que precisava de Jin na Pirâmide o mais rápido possível porque era um caso de vida ou morte. Seokjin não pensou duas vezes antes de correr até o lugar, mas o caso se tratava de:
"— A Pirâmide de Ferro não nos pertence. Não pagamos há dois meses e estamos sendo ameaçados."
— Eu nunca pensei que um dia você tivesse que saber sobre isso, Seonin. — Taija respondeu sério.
Mercles estava próximo, encostado no criado-mudo ao lado da televisão barata. Ele analisava bem cada palavra com tom de exaltação que saía das bocas dos homens presentes.
— E decide me contar agora que as coisas deram errado, por quê?
— Porque eu confio em você. Você é um dos meus braços, Seonin! Meu melhor garoto! — Taija bateu a mão na madeira fraca do móvel próximo.
— Só que na sua cabeça eu não posso ajudar, não é, Taija? — Jin respondeu levemente sarcástico. — Como eu te ajudaria em uma situação como essa? Eu sou só um garoto. Eu não tenho onde caralho cair morto!
Jin nunca havia falado daquela forma com Taija, ele o respeitava muito. Mas estava irritado demais. Estava farto de mentiras por cima de mentiras. Havia aberto mão do encontro que teria com Soyoon, preocupado com o que podia ter acontecido na Pirâmide.
Ele havia aberto mão de Soyoon mais uma vez.
O piso de madeira do quarto que possuía da Pirâmide de Ferro fazia barulho de acordo com suas passadas pesadas e desconexas. Os sons das pessoas na parte de baixo da estrutura do lugar não lhe acalmavam como costumava. Jin sempre se sentiu bem com os sons de animação das pessoas que torciam pelos lutadores, mas daquela vez... a Pirâmide não estava lhe dando a paz necessária.
— Você pode nos ajudar. — Taija respondeu.
— Pra onde foi todo o dinheiro, Taija? — Mercles, que permanecia calado momentos antes, falou pela primeira vez. — Você tem uma equipe de lutadores. Bons lutadores. Todos eles ganham a maioria das lutas em que se envolvem... você vivia perguntando ao Seonin se ele precisava de dinheiro, porque poderia ajudá-lo... então... o que aconteceu? Pra onde foi todo o dinheiro? Pra onde vai o dinheiro que ganhamos todas as noites aqui?
— Isso não é da conta de vocês. — o homem retrucou ríspido. — Seonin, está na hora de retribuir meus favores de todos esses anos. Preciso que me ajude. Que ajude a Pirâmide.
— E o que você quer que eu faça?
— Você lembra de quando pediu para participar das lutas cortantes?
Jin parou de andar, olha do sério para o mais velho sentado.
— Você disse que não me queria nesse tipo de coisa. Você me deixou lutar apenas uma vez. — Esme respondeu sem animação alguma na voz.
— Nós temos... algo que rende duas vezes mais que as lutas cortantes. São as lutas suicidas.
Mercles se afastou do criado-mudo olhando incrédulo para Taija.
— Você enlouqueceu? Pensei que tivesse amor pelos seus lutadores. — Mercles falou rapidamente, atropelando as palavras.
— Eu tenho. Mas confio de olhos fechados no garoto que eu criei.
— Como funciona? — perguntou Jin, olhando para um ponto qualquer no quarto, sem se mexer.
— Seonin, isso é loucura!
— Nas lutas suicidas nós ganhamos o que quisermos. Se quisermos que a equipe do seu oponente quite as dívidas da Pirâmide, ele tem que quitar caso perca. — Taija começou a explicar duramente sério. — Só que... nas lutas suicidas só um participante sai com vida.
Mercles coçou a cabeça com força, olhando sério para os homens a sua frente. Jin o olhou por alguns segundos, então soltou um riso leve pelo nariz.
— Se a Pirâmide não te pertence, à quem pertence? Quem está te cobrando com ameaças? — Esme perguntou, inexpressivo.
— Syru.
~●~
Hoseok gemeu dolorosamente quando finalmente conseguiu colocar os pés no chão extremamente frio de seu quarto. Olhou ao redor com tédio, suspirando desanimado ao perceber que continuava sozinho. Ele não aguentava mais continuar internado. Já havia dito varias vezes que estava tudo bem, que estava bem o suficiente para ir para casa, mas tudo o que ouvia de seu médico, Dr. Park, era "não, garoto."
Era fato que suas costas e ombros ainda doíam e ardiam como se tivesse sido baleado há poucas horas, mas a desculpa que usava para si mesmo era que estando em casa e fazendo o que gostava o ajudaria a se recuperar com mais rapidez.
Alcançou seu celular que carregava desde cedo e o desbloqueou, olhou para a tela sério e crispou os lábios vendo todas aquelas mensagens acumuladas. Não sentia vontade de responder ninguém, aquilo só o deixaria mais irritado, só o faria pensar na realidade de que todos estavam do lado de fora vivendo suas vidas, e ele praticamente acorrentado, dentro de um hospital.
Deu atenção à opção de sair do aplicativo de mensagens, mas um segundo após fazer isso, quase pulou em surpresa ao ver a mensagem que acabara de ser entregue graças à conexão com a internet.
→ Sei que provavelmente ainda não quer falar comigo por ter me metido em seus problemas, mas quero que saiba que estou torcendo muito pela sua recuperação. Fique bem logo.
De: Yun Soyoon
Hoseok permaneceu parado relendo a mesma mensagem por alguns longos segundos.
— Mas o que ela quer de mim, afinal? — ele murmurou para si mesmo, confuso com a situação.
Mesmo após o pequeno desentendimento que tiveram, ele havia ligado para ela algumas vezes, mas ela não o atendeu... ela não retornou. Ver a mensagem que Yoon lhe mandara, o deixou de certa forma irritado, já que o nó que ela fazia em sua cabeça se tornara algo irritante.
Ele pensou que ela estava com raiva dele. Ela quem não havia atendido suas ligações quando ele havia ensaiado por horas formas de tentar se desculpar da forma certa por ter sido indelicado.
Mas, diante de toda a mistura de sentimentos, ele se sentiu feliz, como se o tédio tivesse o deixado e a vontade de sair daquele quarto tornado-se mais forte. Soyoon não estava brava e torcia por sua recuperação.
A porta do quarto foi aberta no mesmo momento, enquanto Romero voltava a se aconchegar na cama, pensando no que responderia à morena de cabelos longos.
— Hoseok! — ele ouviu a voz familiar e olhou para o lado em alerta, vendo Yeda jogar a bolsa fina na poltrona e quase correr até sua cama. — Eu fiquei tão preocupada. Como você está? Como isso aconteceu?
Ele reclamou com mais gemidos quando a garota pálida lhe agarrou em um abraço, encostando em seus ferimentos.
— A-ah! Yeda!
— Me desculpa! — ela pediu se afastando e colocando as mãos na boca. — Meu amor, por que não me ligou? Por que não atendeu minhas ligações? Por que não respondeu minhas mensagens?
— Foi tudo muito rápido, Yeda. — ele se explicou em um tom baixo. — Como você soube?
— Eu enchi o saco do Yoongi até ele me dizer onde você estava. Então ele me contou tudo.
— E ainda assim aquele imbecil não vem me visitar... — Hoseok murmurou levemente raivoso.
— Hoseok, você ainda não me disse como aconteceu. — Yeda sentou-se na ponta da cama, o olhando com um pouco de pena.
Estevan não soltou a voz para dar a resposta que a coreana de cabelo castanho queria, ele não tinha bem o que responder. Sua cabeça parecia querer palpitar daquela vez, afinal, ele não sabia bem o que fazer. Ele olhava para Yeda e via tudo ainda mais bagunçado. Ele não sabia o que estava acontecendo.
De um jeito nada delicado, as incertezas tomavam conta de cada possível pensamento que o garoto poderia ter. Como o tempo violento, ele apanhava de todas as questões sem respostas.
— Ainda não sabemos, embora meu pai acredite que tenha sido um atentado bem calculado.
— Eu não sei o que faria caso te perdesse. — Yeda se curvou, segurando a lateral do rosto masculino com uma das mãos.
Aproximou as bocas e lhe selou com calma, fechando os olhos por breves segundos.
— Como estão as coisas na sua casa? — Hoseok questionou olhando para o lado, assim que Toraga se distanciou.
— As coisas estão cada vez piores. — respondeu cabisbaixa, olhando para a calça jeans que usava. — Eu me sinto tão inútil.
— Faltou à escola para vir me ver?
— Também. Quero dizer... as coisas realmente não estão boas. — ela mordiscou os lábios inquietamente. — Meu pai não está conseguindo pagar o Atakura. Tenho medo de ir para a aula e o diretor me chamar para me perguntar alguma coisa.
Hoseok era a pessoa que mais conhecia a situação de Yeda e sua família, e era ele que havia se candidatado à responsável por ajudá-la. Toraga era sua namorada há dois anos, e antes disso sempre fora sua amiga. Ele sabia que nunca teria coragem de fechar os olhos para a situação de sua companheira, mas tudo estava ficando ainda mais difícil.
— Yeda...
— Eu estou com vergonha, Hoseok! — seus olhos marejaram. — Sugaram mais uma parte do dinheiro que meu pai ainda tem de toda a nossa fortuna.
— Quem foi dessa vez? — Estevan falou baixo.
— Dessa vez não sabemos. — ela disse firme, impedindo as lágrimas de escorrerem. — Sabemos que da última vez foi dinheiro para os Min Tersianni. Só que não foi muita coisa se compararmos com o que tiraram de nós agora.
— Os Min? — ela assentiu. — Por que não tentaram conversar com o tio Sang?
— Sang? O pai do Yoongi? — Romero balançou a cabeça positivamente. — Meu pais tentaram, mas a única coisa que o pai do seu melhor amigo disse foi... foi que a dívida que temos com eles não é alta o suficiente, e que essa foi a nossa sorte.
Romero fechou os olhos por alguns segundos. Ele conhecia bem o temperamento complicado do pai de Yoongi, sabe que seu melhor amigo não era um durão mal humorado sem razão.
— Yeda... me passa por e-mail os boletos das mensalidades do Atakura.
Yeda engoliu seco olhando para as próprias mãos.
— Eu acho melhor você não tentar resolver isso assim, Hoseok, eu... — Hoseok a olhou com as sobrancelhas em pé, a questionando com o olhar. — É que eu não sei quantas mensalidades estão atrasadas.
— Mais de uma? Não faz nem ideia?
— Talvez três.
Ele estalou a língua no céu da boca.
— Yeda, você devia ter dito isso antes.
— Me desculpa. — pediu quase inaudível.
— O seu pai realmente não vai conseguir arcar com isso, do jeito que as coisas estão...
— Mesmo que eu tenha saído de todos os clubes, a mensalidade do Atakura é dezesseis mil, Hoseok. Uma hora ou outra ele começaria a atrasar...
— Okay, Yeda, eu cubro. Eu cubro as mensalidades que estão atrasadas. — o jovem voltou a repetir. — Mas se eu cobrir todo mês, meus pais vão suspeitar. Vão querer saber pra onde está indo sempre a mesma quantia em dinheiro.
— Até eles desconfiarem... nós já vamos estar casados, não é?
A boca do estômago de Romero gelou, seus olhos arregalaram-se levemente e ele umedeceu os lábios travando o maxilar em seguida.
— Sim. Eu vou te tirar dessa situação o quanto antes.
~●~
Diante de todas as situações possíveis de se manter uma relação com um familiar, a cada dia que passava, Louise tinha mais certeza que o universo a odiava e usava Jeon Jungkook para executar com aptidão suas artimanhas. Grande parte da culpa era dela, e a mesma admitia isso para si mesma todas as manhãs.
Ela sabia sim da situação do primo mas optou por ignorar. Não era um problema ao qual ela estivesse envolvida e sua lista de problemas já era extensa demais, mas também não era algo que a jovem devesse tratar com tanta normalidade, já que preocupada ela sempre estava.
O fato era que Louise na verdade não sabia como ajudar, revelar aos tios o que estava praticamente na cara deles e que deveria ser de interesse deles saber. Não era algo que a garota tinha que contar... os pais deveriam saber por eles mesmo ou por seu primo, não por ela.
Arrependimento era um sentimento doloroso, principalmente depois de ouvir tão amargamente que seu silêncio poderia ter causado o pior, e que danos drásticos poderiam ter sido evitados. Mais um tempo em silêncio poderia ser até o fim... ela sentia culpa, e isso estava a corroendo por dentro.
Jungkook sofria de formas distintas atualmente, eram muitas dores acumuladas do passado e que prejudicariam seu futuro. Ela amava seu primo e sempre torceu pelo seu bem estar, mas naquele momento ela chorava internamente em desespero, procurando uma maneira de amenizar as dores internas de seu único pirralho, que se encontrava já acordado na cama de seu quarto, sofrendo por abstinência, dores e amor.
Louise encheu os pulmões pesadamente antes de girar a maçaneta da suíte do herdeiro mais novo, entrando no quarto com um sorriso falso estampado nos lábios. Ela manteria sua pose firme, não demonstraria fraqueza diante da situação, ela não poderia ser tão fraca, tinha que ser forte para dar conta de um fraco.
— Como foi que eu deixei chegar a esse maldito ponto, inferno?! — ela finalmente disse enquanto subia na cama do primo que arregalou os olhos sem entender nada. — Escuta, seu tonto, as coisas têm que mudar!
— Noona, sai de cima de mim! Qual o seu problema? — ele reclamou tentando jogar o corpo da prima para o outro lado da cama, falhando pela falta de força que faltava em seus músculos.
— Você é o meu problema, garoto! Olha só o seu estado! — ela bagunçou os cabelos negros do mais novo, agarrando seu queixo magro enquanto fitava cada traço cansado do jovem. — Eu fui burra demais deixando isso de lado... agora vou tentar consertar.
Jungkook suspirou cansado revirando os olhos, encostou a cabeça na cabeceira enquanto a Jeon rosada ainda permanecia em cima de si.
— Eu sabia que sua falta de bom senso era obvia, só não imaginava que fosse pior que a minha!
— O que você quer que eu faça, Louise, huh? Quer que eu viva uma vida ilusória como se eu estivesse feliz? — ele irritou-se de vez, conseguindo afasta-la de si, tentando levantar da cama com dificuldade e sem sucesso. — Na verdade, eu nem deveria estar falando sobre isso com você, já que não é algo que seja da sua conta.
— Você chegou ao extremo do ridículo, sabia? Ficar se lamentado e bancando o ignorante não vai mudar nada da sua situação, moleque tonto! — ela esbravejou empurrando novamente as costas do menino contra a cabeçeira da cama.
— Ela me odeia, Louise! Ela me odeia. — ele fitou a prima marejado. Aquilo havia assustado a rosada. — Eu posso morrer aqui e agora que não vai fazer diferença alguma pra ela!
— Você... você vai chorar agora, é? Você é tão tapado, Jungkook... acha que o mundo gira ao seu redor... — ela soltou um suspiro sarcástico e se levantou da cama parando ao lado do moreno. — A Soyoon não tem só você pra se preocupar, a vida dela tá conturbada ao extremo agora, e você não sabe disso porque está aí... apodrecendo nessa cama feito um inútil, quando deveria estar dando apoio pra ela!
— Ela não se importa, não liga pra mim e já deixou isso bem claro... e o pior de tudo é que isso não me surpreende. — ele jogou as cobertas para o lado se levantando da cama sem medir qualquer consequência, sentindo sua visão escurecer por breves segundos enquanto seu corpo ficava mole.
Louise arregalou os olhos ao ver que o mais alto estava prestes à desmaiar, e o agarrou o mais firme que pôde para evitar que ele caísse para o lado oposto da cama.
— Olha isso, está fraco, não come... mal para em pé! — ela sentou o primo de volta na cama puxando seu queixo com força para que ele a encarasse. — Mas que decadência!
Jungkook olhou sério para a garota, estava irritado no final das contas, nada do que ela falasse faria alguma diferença no momento.
— Você não cansa de ser intrometida, não é? Eu não pedi a sua opinião e nem a sua ajuda! — Ezon praticamente gritou, o que não abalou a mais velha, só a deixou ainda mais inconformada. — Me deixa quieto, Louise. Se a Soyoon está tão mal assim, vai lá com ela então, afinal... ela não é a sua melhor amiga?
— Menino ingrato! Mimadinho de merda! — a rosada gritou de volta, empurrando os ombros masculinos com força mais uma vez. — Não venha bancar o ignorante comigo!
— Eu quero que se dane! Você não pode me distrair, não pode me dar o que quero, não vê? É inútil!
— Seu drama e esse seu temperamento explosivo não vão me afastar e nem me afetar, Jungkook! Eu sou sua prima mais velha, eu sei como lidar com você. — Lou andou até o meio do quarto cruzando os braços junto ao corpo. — E eu tambem não perguntei o que você quer e se eu posso te dar. Eu não sou fada madrinha.
— Eu não quero a sua ajuda, eu não quero nada vindo de você! — ele gritou alto o suficiente para que todos da casa pudessem ouvir, seu tom era frio, amargo e debochado.
Mas logo o tom superior se foi quando um tapa ardido foi desferido contra sua face quente.
Jungkook estava tão frustado que se encontrava indiferente até mesmo aos cuidados de sua prima, a pessoa mais próxima de si. Ele sabia que estava descontando suas frustrações nela, sabia que era uma enorme burrada e que se arrependeria depois... ele na verdade não sabia o que estava sentindo naquele momento.
— Eu não sei o motivo de tanta raiva agora, mas se você continuar com isso, eu posso realmente me ofender e ir embora, deixar você aqui sozinho, como quer... mas que fique claro que eu não moverei mais um dedo sequer por você! — ela disse firme, embora estivesse desabando por dentro, mas ela não se deixaria levar, nem deixaria que seu primo a convencesse que suas palavras amargas eram verdade.
O moreno fitou suas mãos pousadas sobre as próprias coxas, ainda travado graças ao tapa. Talvez tivesse voltado à realidade.
— Noona... me desculpa...
A menina apenas soltou o ar cansada deixando uma lágrima escorrer por seu rosto, Jungkook voltou a olha-la com pesar e dava para ver que ele estava arrependido pelas atitudes grosseiras. Desviou o olhar ao sentir o colchão afundar ao seu lado. Sua prima envolvia seu pescoço com os braços o trazendo para si em um abraço.
— Eu amo você, Jungkook. Você sabe disso, não sabe?
Os olhos do Ezon se arregalaram, afinal, era a primeira vez que Louise dizia tão claramente que o amava.
Alguém o amava e se preocupava com ele.
— Eu não vou te deixar apodrecer aqui nesse quarto, pirralho.
Ambos se encararam por alguns segundos até ele concordar levemente com a cabeça.
Era de sentir pena... encontra-lo num estado tão deplorável, afinal, o Ezon sempre foi muito bonito, com aparência impecável e atlética, nunca imaginaria que o mesmo poderia realmente se parecer como um usuário algum dia, não que ele estivesse tão acabado assim, mas era perceptível.
A rosada afastou-se até o enorme closet do primo, passando a analisar com calma cada uma de suas peças sobre o cabideiro.
— O que está fazendo? — ele perguntou alto para que ela pudesse ouvir, desconectando seu celular do carregador.
— Que bom que perguntou, priminho... — ela coçou o queixo pegando uma camisa de cor escura. — Vamos sair, vá logo tomar banho antes que eu chame a menininha para fazer isso.
Jungkook crispou os lábios tentando levantar da cama com mais calma. Gemeu agoniado ao sentir todos os seus músculos se contrairem e a frieza do chão em contato com seus pés descalços.
— Você sabe que eu tenho que me manter longe dela, né? As coisas estão ficando bizarras. — ele alcançou a prima que agora procurava por uma peça inferior.
— Achei que ela fosse uma distração interessante pra você. — Lou disse concentrada nos jeans organizados por cor.
— Claro... — ele riu debochado, se enconstando na porta. — Ótima distração, transar com uma criança imatura. — ele revirou os olhos mudando a feição.
— Você também é uma criança imatura. — sorriu satisfeita ao escolher o jeans que o moreno usaria. — Ela é até mais madura que você, porque ela vai atrás do que quer e não fica se lamentando dia e noite em uma cama... a diferença entre os dois é que ela tem foco e atitude, e você só vive melodrama e está com cheiro de mofo. — parou em sua frente com cara de nojo. — Vai logo se lavar, moleque fedido!
— Você tá muito mandona hoje para alguém que-
— Anda logo, inferno! — empurrou o mais alto para fora do closet o fazendo tropeçar no próprio carpete e quase ir de encontro ao chão.
A rosada sorriu satisfeita por ter conseguido o mais difícil: tirar o garoto da cama e obrigá-lo a se lavar.
Com tempo o barulho da água caindo dentro do cômodo indicava que o jovem já começava seu banho. Louise aproveitou a oportunidade para abrir as cortinas do quarto permitindo a entrada da luz natural, deixando as roupas separadas na poltrona do closet.
Saiu do quarto se dirigindo ao primeiro andar onde se encontravam algumas das empregadas responsáveis pela limpeza do segundo andar.
— O Jungkook e eu vamos sair, aproveitem que o conde drácula não vai estar trancafiado em seu caixão e o limpe. Aquilo lá está cheirando a gente morta!
— Vocês vão sair? — Yajan perguntou enquanto saía da sala ao lado, trajado com suas típicas roupas escuras. Pronto para trabalhar.
As duas mulheres presentes apenas concordaram com as ordens da jovem Jeon, se curvaram e saíram.
— Sim, titio. — Louise se virou para o mais velho cruzando as braços.
O homem puxou o ar procurando por palavras, logo estalando a língua no céu da boca.
— Admito que estou um pouco preocupado em saber onde ele irá a partir de agora... não que eu não confie na minha sobrinha, claro... — ele disse sincero olhando para a jovem a sua frente que apenas cruzou os braços acompanhando o raciocínio do tio, sabendo que na verdade ele só pensava no quanto ela era avoada demais para cuidar de alguém.
— Eu também estou, e é por isso mesmo que eu vou acompanhar ele... já foi um sacrifício tirá-lo da cama.
— Acho que vai ser bom. — o mais velho disse firme. — Vendo como as coisas estão, acho que isso já é um começo. — soltou o ar cansado, claramente culpado.
— Ele vai ficar bem, titio... eu vou dar um jeito nele, pode apostar! — ela afirmou convicta, dando leves tapas no ombro de seu tio.
Yajan finalmente esboçou um sorriso sem mostrar os dentes, achava divertido o humor sagaz da sobrinha. Ficava ainda mais calmo em saber que ela estaria presente de vez na casa, facilitando as coisas para a recuperação de Jungkook. Era nítido como ela era importante para esse processo, afinal, o garoto sempre foi apegado à prima.
— Você é o meu amor mais sem juízo... mas sei que é durona quando o assunto é o Jungkook, então... cuide dele, certo? Não tire os olhos dele e leve seu segurança junto. Se você não der conta, eu sei que ele pode dar. Arni é bom no que faz, porque te controlar não é fácil.
— O que-
— Eu tento há anos e não consigo.
Louise revirou os olhos para seu tio, cruzando os braços com força.
Nos fundos da enorme casa estava Arni em seu quarto, organizando calmamente uma pilha de livros os quais já havia lido e separava para devolver à biblioteca municipal assim que arrumasse tempo. O rapaz suspirou cansado, levou a mão ao próprio pescoço, forçando a área, grunhindo baixo pelo nódulo de tensão desfeito.
— Noruega, vamos sair! — Louise apareceu na porta, entrando no cômodo já que a porta se encontrava aberta. — Preciso tirar meu primo de casa, nem que seja por algumas horas.
O jovem pálido se virou para a garota concordando, procurando por peças menos casuais em seu armário para vestir.
Ela o acompanhou com os olhos. Ele estava diferente, parecia mais calmo que o normal... o que era estranho. Seria impossível de perceber essa mudança quase mútua se não o observasse com frequência.
A Jeon remexeu a cabeça tentando afastar seus pensamentos e mal notou que o norueguês tirava a peça de moletom de seu tronco para trocá-la por uma camisa aveludada. Louise então pôde analisar com mais precisão os desenhos presentes na pele traseira do rapaz. Havia ali uma rosa — que não era novidade já que seu corpo era coberto por flores —, no final das costas tinha o que parecia ser o logo do super-homem, o que fez a garota soltar um riso engraçado.
— O que tanto observa que te fez rir, rosada? — a voz masculina se expandiu pelo pequeno quarto, atingindo os ouvidos dela.
— Nada, gibi humano... ou devo te chamar de pixação ambulante? — ela gargalhou alto com os novos apelidos que acabara de dar para seu segurança particular. — Por acaso o Makieno jogou spray em você?
Arni arqueou as sobrancelhas não vendo graça em seus novos apelidos. Já estava de bom tamanho o famoso "Noruega".
— Que engraçadinha, muito criativa ela. — sorriu debochado, terminando de abotoar o último botão de sua camisa azul marinho. — Pelo visto gosta das minhas "pixações".
— Eu aprecio todo tipo de arte. — ela disse confiante. — Até a arte vinda do vandalismo. Afinal... eu venho de uma família de artistas e pintores de sucesso, não é mesmo?
— Está me chamando de vandalo? — ele se aproximou, fazendo-a enconstar as costas na porta atrás de si, agarrou com força a cintura feminina aproximando seus lábios do quentes no pescoço exposto. — Eu não sou vandalo, mas posso ser um maldito rebelde. Posso aceitar passar por cima das regras da sua tia...
Ele mordiscou a pele pálida da garota, botando pressão com os dentes ali. Louise grunhiu em aprovação já perdendo o controle de sua respiração, tornando-a ofegante.
— Impossível. — tentou dizer ao ser tarada pelos lábios do rapaz que agiam em seu pescoço outra vez, distribuindo beijos molhados por toda a extensão. Suas mãos já passeavam pelas nádegas cheias da garota. — Você é certinho demais. Mesmo com essa aparência... você é... ah!
Arni adentrou a mão esquerda por dentro da fina calcinha de renda, encontrando o pequeno botão sensivel e o prendendo entre o indicador e o médio.
— Louise... essas não são atitudes certinhas, ou são? — o timbre rouco e fodidamente atraente atingiu os ouvidos dela com aptidão, a forçando a fechar os olhos e apreciar a carícia tão bem executada.
Ele movimentava os dedos em circulos enquanto o vestido justo da Jeon só insistia em subir, deixando exposta a sua barriga. Louise soltava arfares e sons baixos em satisfação, colocando o jovem norueguês em uma espécie de colapso interno. Provoca-la estava sendo incrível, mas seu corpo despertava a cada suspiro que saía dos lábios avermelhados de sua rosada. Ele tinha que parar ali.
Os movimentos eram deixados de lado aos poucos, as mãos lubrificadas deixaram a intimidade sensível antes mesmo que Louise pudesse dar indícios de ter um orgasmo.
Os olhos se encontraram repletos de intensidade, a jovem ainda respirava com dificuldade enquanto o rapaz se perdia mais uma vez na imensidão azul que era o par de olhos dela.
— Ainda sou um cara certinho? — ele perguntou, puxando um sorriso de canto debochado.
— Sim, caras certinhos não me fazem gozar. — ela despondeu ácida, sorrindo largo para ele.
O Pedersen perdeu totalmente a linha de raciocínio a prendendo mais uma vez contra a parede, com certa brutalidade.
— Eu poderia te jogar nessa cama agora mesmo e te dar mais orgasmos do que poderia aguentar. — colou de vez os corpos energizados, proferindo as palavras alterado. — Mas infelizmente não vou poder provar minha rebeldia agora... então eu vou ter o prazer em cumprir minha palavra hoje à noite. Quando estivermos sozinhos.
O norueguês grudou seus lábios aos dela sem tempo para romantismo, ditando cada movimento intenso durante o ósculo.
— É bom deixar sua porta destrancada pra mim, Jeon. É bom também não usar roupas ou eu irei rasgar todas.
Por fim os olhares se conectaram de uma vez antes de Louise se afastar, abismada com o mais velho, ajeitando o vestido e saindo.
Ela não o provocaria mais.
~●~
Soyoon respirou aliviada antes de atravessar a rua com rapidez, parando de frente para a cafeteria. Seu alívio significava que estava extremamente agradecida por ter finalmente chegado onde pudesse se alimentar.
O corpo da garota estava quase adormecido, e acreditava que um café adiantaria pelo menos um pouco. Assim que adentrou o lugar, respirou fundo o aroma de café forte que tomou conta de suas narinas. Sorriu quase sem vontade e sentou-se no balcão, olhando para frente.
— Com o que posso ajudá-la? — a atendente perguntou de forma educada.
— Eu preciso apenas de um expresso duplo, por favor.
A moça de idade já avançada assentiu e se virou.
Voltando a ficar sozinha, Soyoon curvou os lábios para baixo, mostrando que felicidade não era bem o que estava sentindo naquele momento. Ela adorava aquela cafeteria, era sua preferida desde que começou a frequenta-la meses antes.
Era tudo muito bem organizado, as pessoas falavam baixo e o clima com a música mais baixa ainda tornava tudo mais aconchegante. O calor mantinha o ambiente atrativo para quem entrava e podia finalmente se proteger do clima estranho do lado de fora, e os atendentes sempre muito educados faziam os clientes quererem sempre voltar.
Yun passou os olhos pelas paredes com interesse. Tudo como habitualmente devia estar, exceto por uma única coisa que chamara a atenção da jovem.
Com o cenho franzido, Soyoon desceu do banco alto e andou com os olhos semicerrados até a parede bem decorada do outro lado do lugar. Era aquele o mural onde pessoas faziam declarações, colavam fotos, cartas, bilhetes e os deixavam. Naquele mural onde Soyoon havia dado permissão paraa confusão entrar ainda mais em sua cabeça... onde viu a mensagem com assinatura Bin e Takog.
Mas a mensagem não estava mais ali. Em seu lugar se encontrava apenas um vazio e a marca do papel antigo.
A garota olhou ao redor deixando a curiosidade se apossar totalmente de si e voltou a se sentar no balcão.
A atendente se aproximou novamente e colocou o café de frente para Yoon, e ainda sorrindo já voltava a se afastar, parando apenas quando ouviu Soyoon chamar sua atenção.
— Desculpe... o que vocês levam em conta pra tirar alguma lembrança do mural? — Yun perguntou, olhando atenta para o rosto marcante da mulher.
— O quê? — ela revidou confusa, em seguida abriu a boca em entendimento. — Ah! Bem... não temos o costume de tirar.
— Não? É que... — franziu a testa. — havia uma mensagem ali, mas ela não está mais. Queria saber o motivo para terem tirado.
A funcionária cruzou os braços pensativa, olhando para o mural.
— Bem, nós temos um protocolo, mas ele nunca teve que realmente ser seguido, entende? — ela começou a explicar calmamente. — As lembranças só saem do mural caso a pessoa que deixou peça para tirar, ou caso algum parente alegue que a pessoa da lembrança faleceu e a família não quer exposição.
A careta que se formou no rosto de Soyoon até mesmo a incomodou, enquanto levava a xícara até os lábios.
— Só em casos de morte?
— Não... há pouco tempo pediram para que uma lembrança fosse retirada, alegando que era do interesse da família que isso acontecesse. Nós tivemos que aceitar.
— Se refere à única lembrança que foi tirada de lá? — Yun perguntou cada vez mais curiosa.
— É. Foi bem estranho. — a atendente soltou um leve riso. — Era uma mensagem, então pediram para que tirassem, mas não deram motivos. O dono da cafeteria deixou.
Soyoon engoliu seco olhando atenta para a mulher de cabelo castanho claro e batom forte na boca. Com um morder tenso de lábio, olhou para o lado pensando em como dizer da forma certa, mas era como se sua voz não saísse. Percebeu que a funcionária precisava voltar ao trabalho, e então abriu a boca agitada, pronta para finalmente voltar a falar.
— Seria muito significativo pra mim se a senhora pudesse me dizer quem... quem pediu que a lembrança fosse tirada do mural. — a morena de cabelos longos falou firme, olhando de forma pedinte. — É que... as pessoas responsáveis por escrever a mensagem que foi tirada do mural, são... — engoliu seco, com a boca entreaberta. — são meus pais.
Falar daquela forma podia parecer um crime, mas não era tão errado, já que falava a verdade. A mensagem que fora tirada do mural havia sido escrita por Bin e Takog, muito provavelmente Syru e Yura... seus pais. E por mais que a realidade incomodasse Soyoon de forma bruta, ela tinha que a encarar como alguém de maturidade marcante.
— Bom, dizendo dessa forma... eu entendo que esteja confusa por não ver mais a lembrança no mural. — a mulher retrucou de um jeito compreensivo. — A pessoa que pediu para que a lembrança fosse retirada, disse que trabalhava para os Kim Dox. E você sabe... ninguém quer arranjar confusão com os Kim Dox, então nós apenas tiramos.
A testa de Soyoon foi franzida de forma rude e sua cabeça pareceu girar com a informação. Então alguém do Clã Kim havia se preocupado com o fato de haver uma lembrança em um local público onde Bin e Takog eram citados, mas não era como se o cérebro de Soyoon pudesse encaixar essa informação à todas as outras. Que Kim faria isso, e por qual motivo?
Apertando os dedos entre as palmas das mãos, Yoon olhou para o lado mais uma vez analisando o vazio da mensagem que tinha sido retirada do mural. Permaneceu calada em seu estado de devaneio tentando decifrar cada coisinha, mas quanto mais pensava, menos chegava em uma conclusão plausível.
Soyoon estava cansada. Seu cansaço a venceria em breve. A venceria de lavada.
Yoon levantou de uma vez e olhou agradecida para a mulher, abrindo a bolsinha de lado e tirando uma nota.
— Obrigada por ter me contado e desculpe por sair assim. — ela colocou a nota sobre o balcão e saiu apressada do lugar. Ao menos havia conseguido sacar dinheiro para pagar um café. O café que nem tomou.
O frio a chicoteou mais uma vez, e seu cabelo foi bagunçado com força pela ventania. Puxou o celular desbloqueando a tela com rapidez, vendo que não era nem onze horas ainda.
Seu café da manhã havia sido arruinado.
Nas chamadas recentes, tentou lembrar-se do número de Yajan para que pudesse ligar para o mesmo, e se arrependeu de não ter salvo o número do homem antes. Sem ter certeza de que ligava certo, apertou para que a chamada fosse iniciada e colocou o celular na orelha.
[— Alô?]
[— Senhor Jeon? É a Soyoon, eu... eu preciso muito falar com você, será que podemos nos encontrar?] — sem dar tempo para que o homem respondesse, Soyoon começou a falar desembestada.
[— Ah... Soyoon? Bom, que horas são?] — ela o ouviu murmurar para si mesmo. [— Estou chegando na galeria do centro agora, quer vir para cá?]
[— Ah... sim. Pode ser. Eu só não sei onde fica.]
[— Quer que eu mande alguém te buscar?] — ele perguntou e Soyoon ouviu de longe o som de uma porta bater.
[— Só me passe o endereço, eu posso chegar sozinha. Consigo ir de metrô?]
Ela ouviu Yajan suspirar do outro lado da linha e deu de ombros, olhando impaciente para frente.
[— Soyoon, aconteceu alguma coisa?]
[— Não se preocupe. Só me diga o endereço.]
Yajan enviou o endereço por mensagem para Soyoon e a garota não perdeu tempo, correndo rapidamente até a estação mais próxima, pronta para dar um jeito de chegar o mais depressa possível. Ele havia citado que ao chegar no bairro, ela podia perguntar a qualquer pessoa onde ficava a grande galeria dos Jeon Bozzie, caso se perdesse.
Ser boa com direção não era seu forte, mas Soyoon sabia que não morreria. Os metrôs estavam cheios por causa do horário, afinal, as pessoas costumavam sair de manhã para trabalhar. Yoon teve que deixar passar alguns dos metrôs até que pudesse pegar um onde conseguisse entrar, sendo esmagada a cada estação.
Ela não deixaria as coisas passarem daquela vez, tinha que arranjar uma forma de desvendar tudo de uma vez e havia finalmente entendido que a única pessoa que poderia ajudá-la, era alguém do passado que estivesse disposto à isso. Ela tinha Jeon Bozzie Yajan, e pela primeira vez agradeceu por isso. Ela tinha que passar a agradecer pelo o que tinha em mãos no momento.
Quando finalmente achou a famosa galeria, quase não acreditou ao analisar bem o lugar. Havia demorado uma hora e quarenta minutos para chegar, graças ao atraso dos metrôs, mas permanecia aliviada por estar onde estava.
A estrutura do lugar era tão grande que sua boca quase se abriu em surpresa. As galerias que conhecia, em sua maioria eram mais simples, com suporte para pouca coisa. Mas o que via naquele momento era quase deslumbrante.
As paredes da parte frontal do local eram todas feitas de video, com suporte de cerâmica branca perolada, tanto em cima quanto em baixo. As vidraçarias eram seguradas pela cerâmica como se fossem quadros.
Soyoon passou por toda a entrada, tentando não se distrair com as estátuas modernas que enfeitavam o jardim cheio de bancos brancos e bem cuidados, então entrou no prédio parando de andar quando avistou o balcão da recepção.
— Só abrimos depois das sete da noite. — a recepcionista soltou a informação assim que Soyoon se aproximou.
— Eu não vim ver exposição
— Mesmo assim. Também não tiramos duvidas sobre a entrada, pode ligar na central, é 24 horas. — a moça continuou a falar, parecia ocupada demais.
— Eu vim falar com o Jeon Bozzie. Ele disse que eu poderia vir.
A mulher afastou o olhar cansado do computador e olhou para Soyoon, a analisando por segundos demorados.
— Aham. — ela murmurou. — Você pode só sentar e esperar ali. Senhor Jeon Bozzie está ocupado agora.
Ela apontou firmemente para os sofás brancos no canto da recepção. Soyoon respirou fundo, quase sem paciência. Se afastou já tirando o celular da bolsa, prestes à ligar para Jeon avisando que havia chegado.
Enquanto se aproximava dos sofás, ouviu vozes saídas do fundo do lugar, vozes que ficavam cada vez mais altas, chegando perto da sala de espera. Soyoon parou de andar aos poucos, até finalmente enxergar o rosto marcante de Yajan, mas graças à má sorte da menina, ele vinha acompanhado de Bin Leona e seu marido Nelis.
Avistando Soyoon, Yajan fechou o sorriso que estampava para o senhor Bin, balançando a cabeça para a menina. Os Bin olharam para ela de forma quase duvidosa, até Leona curvar os lábios em um sorriso.
— Yun Soyoon! — seu sorriso se alargou. — Nos encontramos de novo.
Soyoon entreabriu os lábios quando a mais velha se aproximou com rapidez e capturou suas mãos a afagando com educação. Soyoon não sabia como reagir a tanta proximidade, mas não pôde evitar sorrir
— Foi uma boa conversa, Yajan, mas especialmente agora, precisamos ir embora. — a voz de Bin Nelis soou, enquanto o mesmo analisava Soyoon.
Soyoon aspirou o ar com força, se desfazendo do toque da senhora Bin, e desafiando o homem com o olhar.
— Bom dia para você também, senhor Bin.
Ele a mediu da cabeça aos pés.
— O dia havia começado bem demais... — Bin comentou, soltando um riso sarcástico.
Soyoon se aproximou, respondendo também com o mesmo riso sarcástico.
— O meu não começou bem... vejo que só vai piorar enquanto continuar te ouvindo falar.
Nelis balançou a cabeça em negação.
— Eu não vou me rebaixar retrucando uma menininha sem educação alguma. Vamos embora, Leona.
Leona olhou séria para seu marido e Soyoon, fazendo sinal de negação.
— Vocês nem mesmo se conhecia até algum tempo atrás. Vão fazer a mesma coisa sempre que se virem?
Nelis e Soyoon se olharam com nojo e cruzaram os braços juntos.
— Eu não faço questão.
— Eu não faço questão. — disseram juntos.
Seus olhares queimaram um ao outro novamente.
— Vamos nos acalmar... — Yajan encostou no ombro de Soyoon com leveza.
— Eu é que não faço questão de tentar lidar com uma pirralha mal educada. — Nelis soltou com pesar na voz.
— Eu é que não faço questão de tentar lidar com um velho rabugento. — Yoon retrucou, com o queixo franzido.
Senhor Bin riu descrente pelo nariz e saiu andando na frente, enfurecido.
— Eu te espero lá fora, Leona.
Eles acompanharam o homem com o olhar até que ele finalmente saísse, então Leona estalou a língua no céu da boca e se aproximou de Soyoon mais uma vez.
— Soyoon, você e eu nunca tivemos problemas. — Leona falou, olhando preocupada para a mais nova. — Eu peço desculpas pelo Nelis, ele... tem a personalidade muito forte, enquanto um lado não ceder, ele também não dá o braço a torcer.
Sem que Soyoon respondesse, senhor Bin se curvou em despedida e saiu da galeria em passos ligeiros.
Yoon deitou a cabeça para a direita e balançou o ombro, querendo se livrar da mão de Yajan que ainda lhe tocava.
Ela percebeu que Jeon abrira a boca para dizer algo, provavelmente relacionado à cena que havia acabado de acontecer, e o impediu de continuar.
— Podemos conversar agora?
Yajan suspirou e assentiu, indicando com o queixo que ela deveria acompanha-lo, enquanto ele ia na frente.
Eles passaram juntos pelo grande corredor enfeitado com uma grande arte colorida que preenchia toda uma parede branca. Por trás dos vidros, Soyoon viu de relance diversas obras de arte do outro lado da galeria, onde eram feitas exposições.
Yajan abriu uma porta branca no final do grande corredor e deu espaço para que a menina entrasse na sala. Era uma sala de reunião, mas não parecia ser a principal, era pequena em relação a imensidão do lugar, mas agradável e bonita. Colorida como as obras do lado de fora.
Yajan viu Yoon se sentar na cadeira em sua frente, e então se aconchegou, arrumando o blazer por cima do tronco.
— Sei que o senhor Bin não é um homem fácil, mas não devemos esquecer que eles são-
— Não quero falar sobre o quanto aquele homem é chato. — ela virou o rosto.
— Seu avô. — Yajan corrigiu baixo.
— Não me faça rir. — ela riu falsamente, em olha-lo.
Yajan deixou de lado, sabia que atiçar ainda mais a garota não era um bom negócio e ela já não parecia mais tão calma.
— Eu fiquei preocupado. De todas as pessoas, você é a que eu menos esperava receber uma ligação... ainda mais tão cedo. — disse Jeon, com as costas bem coladas à cadeira macia.
— Tive que fazer isso.
— Mas o que aconteceu? — questionou ele. — Sobre o que precisa conversar?
Yoon agarrou os braços da cadeira e comprimiu os lábios.
— Existe a possibilidade de eu não ser filha da Yura?
Yajan arregalou levemente os olhos e desencostou as costas da cadeira, fitando atento o rosto da menina a sua frente.
— Por que você está pensando nessa possibilidade?
— Porque eu não tenho certeza de mais nada. Porque minhas dúvidas só aumentam com o passar dos dias. Porque eu preciso saber de todas verdades. — respondeu entredentes.
— Se você não tivesse mexido com o passado, não estaria passando por isso.
— Mexido com o passado? E onde é que você quer chegar querendo me ajudar? Eu não mexi com o passado, mas minha vida virou uma espécie de bagunça mesmo assim.
— Eu não estou te ajudando, Soyoon. Estou do lado do Syru, é diferente. — Yajan retrucou.
— Não importa. Quem veio atrás de mim dizendo que me ajudaria foi você, não foi o Syru. — ela respondeu séria. — Então pegue pra você a responsabilidade e me dê ao menos uma resposta.
Yajan revirou os olhos.
— Algumas das suas dúvidas não têm cabimento.
— Isso inclui a pergunta que te fiz? Sobre eu não ser filha da Yura? — ergueu uma sobrancelha. — Porque eu acredito fielmente que essa possibilidade existe.
Bozzie umedeceu os lábios com lerdeza, voltando a se encostar na cadeira.
— A Yura te ama demais. Você sabe bem disso. Acha plausível cogitar a ideia de não ser filha dela?
— Mas ela-
— Eu conheço bem a Yura e posso te dizer que ela não criaria um laço tão forte por alguém que nem mesmo nasceu dela. — ele continuou, interrompendo Soyoon.
— Ah, você a conhece bem? Eu não acredito nisso. Por que você não para de se iludir?
— Escuta só, Yun Soyoon, eu não tenho culpa. Não pode me olhar e falar comigo como se eu fosse culpado por todas as suas dúvidas.
— E você acha que não é? Yajan! — ela exclamou, colando as mãos na mesa. — Por que você não me conta logo tudo o que sabe? Eu estou cansada! Eu não aguento mais toda essa confusão!
— Ei! Ei! — ele chamou sua atenção, levantando as mãos. — Eu sinto muito que o senhor Bin tenha te irritado, mas não precisa descontar em mim.
Soyoon ficou calada com a mesma expressão tensa, segundos depois fechou os olhos jogando o corpo para trás, colocando uma das mãos na testa. Sua cabeça ainda latejava, tanto pela recente febre quanto pelas situações. Seu coração batia forte pelo estresse, e apenas a respiração controlada a faria se acalmar ao menos um pouco.
— Jeon, você sabe o que é... viver a mesma coisa todos os dias, amar seus parentes, ter orgulho da sua mãe e então de repente, aos poucos, descobrir que sua mãe não é quem você pensa que é. Que sua mãe transformou a sua vida em uma mentira. Que o homem que te criou virou um monstro, que... que...
— Soyoon-
— É muito doloroso não saber quem eu sou. — ela olhou para as próprias mãos. — Eu percebi finalmente que eu não sei quem eu sou, e isso é tão frustrante. Eu só sinto vontade de chorar. Eu só quero descobrir quem eu sou de verdade, eu não quero ser o que a Yura inventou.
Yajan olhou para o rosto cansado e corado de Soyoon, vendo de um jeito claro a confusão presa naquela garota. Por mais madura que Soyoon fosse, ela ainda era uma menina, e ele reconhecia que não conseguir ter o controle sobre a própria vida era algo agonizante. Ele sabia de toda a situação e talvez não fosse tão ruim reconhecer que ela estava sofrendo.
— Soyoon... — Bozzie murmurou e ela o olhou cabisbaixa. — Levando em conta o fato da Yura ser tão covarde e esconder tantas verdades, talvez exista mesmo a possibilidade de você... de vocês não terem o mesmo sangue.
Por mais que tivesse pensado naquilo, foi inevitável que Yoon não sentisse um gelo no estômago e um nó em sua garganta, lhe fazendo se entregar, mostrando que ouvir aquilo sair da boca de Yajan era uma tortura.
Ela achava que estava preparada, mas percebeu tarde demais que não.
— Você pode falar mais sobre isso, não pode? — ela sugeriu e Yajan levantou as sobrancelhas.
— Soyoon, houve um acidente pouco tempo depois de você nascer. Você era um bebê ainda, não lembro se tinha um ano ou menos. Eu conversei com a Yura sobre esse acidente há pouco tempo, e me surpreendi quando ela disse que você é a filha do Syru, afinal... pensei que a filha do Syru tivesse morrido... no acidente. Quando Yura disse que não, que o bebê não estava com ela no dia do acidente, então eu fui atrás do Syru, e decidi ajuda-lo a saber do passado dela. — Yajan começou a falar calmo, sem pressa alguma. — Mas se pensarmos em tudo o que a Yura escondeu durante anos, o que me garante que você é mesmo a garotinha que eu segurei nos braços ainda bebê?
O frio na barriga de Soyoon parecia piorar a cada palavra dita pelo mais velho a sua frente, ela havia pedido para que ele fosse sincero, mas sentia que estava se arrependendo.
— Se a verdadeira filha do Syru morreu no acidente, Yura pode mesmo ter me adotado só pra suprir a falta da menininha que perdeu? — Soyoon perguntou com os olhos levemente arregalados. — Ou... a Bin Naomi! Bin Naomi... ela pode... ela pode ser a verdadeira filha do Syru?
Yajan olhou para os cantos confuso, fechando os olhos em seguida, sentindo que sua cabeça poderia explodir.
— Se a Yura acha que a verdadeira filha dela morreu... se ela te tem como filha pra suprir a verdadeira filha dela, então...
— Então a Naomi pode mesmo ser a verdadeira filha da Yura e do Syru, mas nenhum dos dois sabe disso. Nenhum dos dois sabe disso porque a Yura nunca soube que a filha não morreu no acidente, e fez o Syru acreditar que eu sou filha dele. Isso faz sentido? Isso... essa pode ser a verdade? — Soyoon perguntou quase em desespero.
Yajan passou a língua pela parte interna da bochecha.
— Syru, você e eu estamos do mesmo lado. Um exame de DNA pode resolver isso. Se mostrarmos ao Syru as possibilidades, ele aceitará fazer um teste. — Yajan deduziu sério.
Soyoon travou o maxilar com raiva, olhando intensa para os olhos escuros de Yajan. Ele franziu o cenho, esperando que ela finalmente dissesse o que queria.
— Não. — com os olhos cheios de lágrimas a menina protestou. — Yura transformou a minha vida em uma bagunça. Ela nunca teve coragem de me olhar nos olhos e me contar algo, ela nunca quis fazer com que eu soubesse de onde eu vim e nunca foi o sincera. Minha cabeça está estourando, eu estou ficando louca e a culpa é dela.
— Soyoon- — Yajan levantou-se, saindo de trás da mesa para se aproximar da menina.
— Por isso eu decidi concordar com você. — ela viu Yajan se abaixar ao seu lado, e se virou para continuar olhando nos olhos do mais velho. — Agora eu te entendo. Entendo o porquê de você me dizer que a única pessoa que pode me contar toda a verdade é a Yura. O dever dela é me olhar nos olhos e falar a verdade ao menos uma vez na vida.
— O que você quer fazer? — Bozzie perguntou baixo, segurando no braço da poltrona, ainda abaixado ao lado da menina.
Soyoon limpou as lágrimas fungando, e prendeu uma mecha do cabelo atrás da orelha.
— Nós vamos juntar tudo o que temos. Tudo o que podemos usar para que Yura possa perceber que não tem outra saída a não ser contar.
— Então?
— Eu conheço a mulher que me criou. Eu sei dos pontos fracos e nós vamos usar isso. — Yoon continuou convicta. — Vai haver um jantar.
— Como assim um jantar?
— Nós vamos fazer esse jantar, usando o nome de outra pessoa para que Yura aceite comparecer e não deduza que estamos por trás de um evento magnífico. — Yoon sorriu em meio aos olhos marejados novamente. Um sorriso doloroso. — E nossos convidados serão todas as pessoas do passado dela.
— Soyoon...
— Eu vou arranjar um jeito de fazer o passado da Yura passar diante dos olhos dela. Ela não vai aguentar esconder mais coisas diante de todas as pessoas que podem contar as verdades que ela tanto camufla. — Soyoon levantou, passando as mãos pelo rosto com raiva.
— Ela é sua mãe. Não esquece que ela é sua mãe... independente de tudo isso, ela te criou e ela te ama. Não faça besteira.
Soyoon abaixou os ombros olhando para o chão, com a respiração desconexa. Sua cabeça latejava cada vez mais, e seu coração batia com muito mais rapidez que antes.
— Ela é minha mãe? Então por que isso não a impediu de arrancar de mim a minha identidade?
Yoon virou-se a saiu desnorteada da sala de Yajan, ignorando os pedidos do homem para que voltasse.
Quando finalmente colocou os pés para fora da galeria, foi como se o céu caísse sobre sua cabeça e a única coisa que a menina conseguiu fazer foi chorar. Ela sentou-se desnorteada na beirada da calçada e abraçou o próprio corpo com o rosto inundado de lágrimas. Seu coração apertado e a cabeça girando, o remorso e vontade de voltar atrás, de pedir chorando para que sua mãe lhe dissesse a verdade.
Não queria sentir raiva, ela amava tanto sua mãe, mas sentia tanta angústia. Já não aguentava mais tantas mentiras, sentia tanto medo de nunca descobrir realmente o que era, se era. Soyoon merecia a verdade pelo menos uma vez.
Aos poucos os soluços pararam e apenas algumas lágrimas escorriam, terminando de molhar o sobretudo que a protegia do frio.
Seu celular começou a tocar na bolsa e a menina do arrancou com violência, olhando para a tela e vendo brilhar o número não gravado. Atendeu anestesiada olhando para frente, sem vontade de ao menos abrir a boca.
[— Alô?]
[— Yun Soyoon?] — a voz feminina soou do outro lado, e Yoon fechou os olhos.
[— Sim. Quem é?]
A pessoa ficou em silêncio por um tempo, resolvendo falar apenas depois de ouvir Soyoon chamar sua atenção.
[— Sou eu... Saeron. Eu não tenho muito tempo, então preciso ser direta. Você me convenceu a trazer Namjoon de volta e disse que se responsabilizaria... eu preciso de você agora. Preciso que me ajude a trazer Namjoon de volta pra casa.]
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