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História Sete Finais - 81 - Sessão 3


Escrita por: caploom

Capítulo 82 - 81 - Sessão 3


Fanfic / Fanfiction Sete Finais - 81 - Sessão 3

Então eu vou te amar como se eu fosse te perder
Eu vou te abraçar como se eu estivesse dizendo adeus
Onde quer que estejamos, eu vou te valorizar
Pois nunca sabemos quando
Quando ficaremos sem tempo
Então eu vou te amar como se eu fosse te perde

 

- Like I'm Gonna Lose You

 

Atakura Seoul, 1993

Surpreendentemente, o clima do dia não era frio, era calor até demais. Os alunos não usavam os famosos blazers azuis e a maioria estava na parte externa do colégio. Lidar com a pressão de ser herdeiro, a pressão de diversas pessoas saberem seu nome e sobrenome, ter seu rosto ligado à polemicas mesmo que não fosse sua intenção... tudo isso era o verdadeiro frio que os alunos do Atakura sentiam. 

Yura jogou o longo cabelo preso em uma trança para o lado, o deixando em cima de seu ombro direito e voltou à se concentrar no que gravava no caderno. Odiava quando atrasava a entrega de trabalhos escolares, então era muito fácil ver a jovem com caderno e estojo em mãos. A pequena mão extremamente fina e delicada da mulher não se sobressaía diante da folha branca na qual gravava sua letra, pois sua pele era tao pálida que qualquer tom diferente mal podia ser percebido com intensidade. 

Yura levou o dedo indicador até a pontinha da orelha extremamente pensativa e respirou fundo raciocinando sobre o que mais faria. 

— Você parece até uma donzela frágil quando está tão concentrada, como agora. — o lado vazio do banco onde estava sentada foi ocupado de surpresa. 

Bin ergueu uma sobrancelha e se virou deparando-se com a expressão calma de Park. 

A moça de pele pálida permaneceu calada por alguns segundos sem expressão e depois desviou o olhar. 

— É… — murmurou. 

Park Kisung passou os dedos pelo cabelo preto também desviando o olhar. Ele travou o maxilar e respirou fundo. 

— Yura… as coisas sempre foram estranhas entre a gente, mas desde que nos tornamos noivos… tudo parece ainda mais estranho. Acho que… 

— Você quer mesmo falar sobre isso? — ela o interrompeu de forma brusca. 

— Yura…

— Minha amiga era apaixonada por você. Por mais que sejamos noivos agora, não precisamos expor isso e deixar escancarado na frente dela. — disse. 

— A Denni Dae nunca foi sua amiga! — ele interviu bruscamente. 

— Você quer saber? Não importa, de qualquer forma. — Yura fechou os livros calma. — Nosso noivado não passa de negócios. E olha só… se você quiser dar uma chance para a Dae, eu não vou me sentir traída. 

Kisung se levantou junto da mais baixa sem evitar o olhar de decepção estampado em si mesmo. 

— Sobre o jantar de hoje à noite… — Deloga Kisung voltou à falar. — Minha mãe pediu que eu perguntasse se você gosta de pernil. 

— Diga à sua mãe que não estou disposta hoje… que nem mesmo estive na escola. É melhor. — pediu a jovem. 

— Eu não vou dizer. — ele ditou. — Eu quero que você vá, Yura. 

Yura respirou fundo praticamente em uma junção de possível calmaria dentro de si. 

— Eu já estou fazendo o que nossas famílias querem. Finalmente noiva do número 5, Park Deloga Kisung. Isso já é o suficiente e sua família também está satisfeita, então por qual motivo temos que lidar com esses jantares? 

Em seguida, Yura apenas se curvou levemente em direção à Kisung e saiu segurando seus materiais nos braços.

Ela ainda era Bin Joujy Yura, ainda tinha sua autoridade sobre si mesma e mesmo que estivesse noiva de alguém que não planejava, não demonstraria sua desfeita publicamente. 

Mas a confiante Bin foi obrigada a camuflar sua querida confiança no momento em que enxergou o peitoral firme em frente ao seu rosto quando esbarrou em quem menos queria. Ela travou o maxilar levantando o olhar e rapidamente tentou desviar saindo da frente de Kim Olesi Binwoo. 

Binwoo segurou o braço de Yura antes que a mesma fosse capaz de se afastar e sorriu olhando ao redor confirmando que estavam distante o suficiente do resto das pessoas.  

— Você anda fugindo muito de mim, Princesa do Atakura... — Binwoo concluiu com um leve sorriso. — É por causa do Park? 

Bin tentou se livrar do Kim mas teve de continuar presa. Ela ergueu o olhar mais uma vez e se perguntou:

"Por que os Kim são tão altos?" 

— Você não merece resposta pra nada e só tem que me soltar. 

Binwoo revirou os olhos ouvindo o que foi dito e empurrou Yura para trás sem delicadeza a colando na parede atrás de seu corpo. Ele mediu o corpo feminino e sorriu mais uma vez aproximando a boca da orelha de Joujy. 

— Você sabe que eu mereço bem mais que respostas. — Kim sussurrou lento. 

— Fica longe de mim. — ela exigiu. — Você e sua família!

— Eu não quero ficar longe e não vou ficar. Vou continuar perto o suficiente, calculando os seus passos. Nada vai mudar só por conta do seu noivado de circo. O tal casamento mais idiota que eu já vi. — Binwoo encostou o dedo gélido no queixo em sua frente. — Isso… se você se casar, é claro. 

— Como o Chei-Guk está? — ela questionou trêmula, sentindo a respiração de Kim perto de seu rosto. 

Binwoo franziu o nariz em uma careta, mostrando os dentes. 

— Por que isso importa pra você? — ele bufou. — Não tem que perguntar dele pra mim. 

— Ele é seu irmão! — ela exclamou. — O seu pai já sabe que você jogou o seu irmão da escadaria? 

— Ele não tem que saber e o Chei-Guk também não contará. Nós temos um acordo. 

Yura riu sarcástica. 

— O senhor Kim Kwan-Han só pode ser muito cego de não perceber o que se passar por baixo do nariz dele. Ou talvez ele ache extremamente agradável ter uma família amaldiçoada como a de vocês.

— Não vai demorar muito até você fazer parte dessa mesma família a qual tanto julga. — Binwoo deu risada. — Você sabe disso. Uma hora vai acabar cedendo.

Ele passou a mão ironicamente carinhosa pela bochecha firme de Yura, focando o olhar na boca rosada que a mesma possuía. 

— Você é doente. Eu tenho medo de você. 

Binwoo travou o maxilar raivoso e fechou o punho. Ele abriu a mão novamente e acertou a parede atrás da menor com força, fazendo seu cabelo bagunçar caindo alguns centímetros por seu rosto. 

— A culpa é sua! Não fala como se fosse inocente no meio disso tudo! — esganiçou se abaixando mais e quase colando os rostos. — Você sabe bem como tudo começou. 

Yura se mexeu com ódio tirando as mãos de Kim de si e o empurrou com força derrubando metade de seus materiais e jogando um de seus livro no herdeiro. 

— E eu sei como tudo isso vai terminar. 

Yura saiu apressada deixando seus materiais jogados no chão, preocupada em achar rapidamente um local seguro e vazio onde pudesse se manter afastada de qualquer pessoa. 
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Seul, Coréia do Sul
8:42 P.M

Após atender o celular, Louise não podia se conter em explodir de raiva, a rosada sabia da falta de humanidade da família Jeon Ezon e isso era o que de longe mais a enfurecia por dentro. Louise sempre esteve ciente do peso de ter nascido em uma família como a que havia nascido, nunca foi totalmente à favor das decisões da família, mas sempre fora a única que não ousava deixar isso escancarado por ser uma imagem de certa forma pública.

— Você não pode estar falando sério... — ela andava nervosa de um lado para o outro procurando uma solução rápida. — Deve ter algo que eu possa fazer, não é?

—  Sinto muito, senhorita Louise.... sua família cortou todos os vínculos financeiros que nós tínhamos e também com as comunidades que a senhorita ajudava.... é realmente uma pena, você era nossa sócia mais assídua. — o homem do lado da linha falava tentando reconfortar Louise, mas era claro que ao mesmo tempo havia decepção em sua voz.

— Não, eu vou dar um jeito nisso tudo. Eu prometo! —  ela suspirou derrotada. — Aguarde minha ligação!

Ela então jogou o celular na cama e disparou para fora do quarto rumo à sala de jantar, onde todos estavam juntos já fazendo a refeição da noite. Ela entrou na sala eufórica. Jungkook que olhava entendiado para o bife em seu prato, decidiu então olhar curioso para a prima que se direcionava ferozmente em direção à tia, essa que bebericava sua água.

— Achei que estava morta dentro daquele quarto... — Hoo Zee finalmente diz depositando a taça na mesa e apanhando seu celular. 

— Como pôde fazer isso? como pôde fazer isso comigo? — Louise falou quase num fio de voz.

— Do que é que está falando agora? — Ho Zee perguntou sem interesse algum, ainda olhando para seu smartphone. 

— Como pôde cortar meus vínculos com as instituições que eu ajudava, bloquear as quantias que eu doava todo mês para aqueles orfanatos e hospitais? Como pôde? Eu confiava em você, tia!

— Ah, você está falando disso? — ela então bloqueia o celular e o coloca na mesa dando total atenção à rosada que se segurava para não explodir.

Jungkook analisava a cena curioso e bastante chocado com a revelação de sua prima. O menino já tentava achar desculpas o suficiente para não ter que jantar junto de seus pais, mas quando viu sua prima adentrar a sala de jantar, pensou que passar o tempo da refeição "em família" não seria tão ruim. 

Jungkook não estava nada bem e também não sentia um pingo de fome, mas ouvir o que seria dito no local era o suficiente para fazê-lo ficar. 

— Vocês, saiam, por favor. — senhor Jeon finalmente se manifestou, impedindo o funcionário de começar a lhe servir. 

Os empregados que estavam presentes no local se apressaram para sair, Nayeon continuou parada com uma aparente preocupação exposta, mas logo teve o braço puxado por sua mãe que a levou para fora dizendo apenas com movimento labiais, sem um som sequer: "Não somos das família!".

— Não existe um porquê para desperdiçar o dinheiro da família nesse tipo de coisa inútil e clandestina. Você estava colocando o nome da família em risco, colocando em risco nossas vidas ao revelar informações pessoais nossas para aquele tipo... de gente... — Hoo Zee soltou uma leve careta. — Como pôde não ter me contado sobre isso? Realmente, Louise.... você não tem conserto...

— Dinheiro da família? — Louise alterou a voz se segurando para não avançar em sua própria tia. — Cada centavo foi tirado do meu bolso, era dinheiro meu que era mandado.... eu nunca tirei um centavo dessa herança de merda nem de qualquer outro lugar que não fosse meu próprio bolso.

— E quem exatamente te criou? Quem fez sua carreira, Louise? Quem está tentando limpar sua ficha de irresponsabilidades? Você quase queimou o nome da nossa agência com aqueles malditos rachas ilegais... não só o da agência, mas o de todas as nossas propriedades e marcas pertencentes à família Jeon Ezon... e olha só, mesmo assim eu insisto em te manter no alto porque felizmente você tem talento e o sangue dos Jeon. No contrário, já teria te substituido há tempos! Você me deve sua vida, garota! Me deve sua carreira e tudo o que te dei depois que sua mãe morreu, sua irmã se mudou e seu pai lavou as mãos.

Louise não conseguiu conter as lágrimas que escorriam pelo seu rosto já inchado. Era um misto... um misto de ódio e muito ódio. Sua tia poderia jogar todo em sua cara a qualquer momento que tudo entraria por um ouvido e sairia pelo outro... mas quando sua irmã e sua mãe eram colocadas no meio, Louise perdia totalmente o chão.

— Hoo Zee... — Yajan disse com alguns dedos sobre a testa. 

— O quê? Você sabe que é verdade, Yajan!

— Você está indo longe demais, Hoo Zee. — o homem estava extremamente sério.

— Mas isso não tira minha razão. 

— Você é um monstro! — Louise disse baixo, ainda controlando seu olhar odioso para tia, Jungkook estava cada vez mais preocupado com o rumo que a conversa levaria. — Parabéns, tia, parece que você se saiu bem em tudo... ou pelo menos em quase tudo.

— Como?

— Parece que você falhou comigo.... e com o Jungkook também! 

Naquele momento, olhos do menino se arregalaram. Yajan abriu a boca para dizer algo mais uma vez, mas não teve tempo o suficiente. 

— O que exatamente o Jungkook tem a ver com isso, Jeon Perricelli Louise?

— Você errou como mãe desde o momento em que pariu ele, e... continua errando. Está bem na sua cara, mas você está ocupada demais vivendo sua vida fútil de bosta!

— Já chega, Louise! — Hoo Zee se levantou imeditamante irritada, enquanto Louise ainda soltava lágrimas. 

Jungkook olhava para o próprio colo chateado esperando o momento certo para se trancar no quarto. 

— Você só pensa em si mesma. Você me promoveu por si mesma. Você teve um filho por si mesma! — Louise continuou. — Se eu pudesse, pegaria o Jungkook e o tiraria desta casa, o levaria para bem longe de você! 

Lou saiu correndo em direção à saída da mansão. Não queria mais ficar dentro daquele lugar. Ela iria para qualquer lugar desde que não tivesse que ficar na maldita casa. 

Jungkook logo se levantou e tentou alcançar a prima que corria como um furacão para longe, e até mesmo esbarrou nos empregados que andavam pelos enormes corredores da mansão.

— Noona! Espera! — ele a alcançou a segurando pelo braço, bem de frente para a porta de entrada. 

Arni que passava por ali, se assustou com a estado que a rosada se encontrava, mas preferiu continuar no mesmo lugar para que não fosse visto e tivessem que passar por um momento desconfortável. 

— Por que você disse aquelas coisas? Agora ela vai não só colocar segurança no seu pé, como vai colocar um no meu também!

— Para, Jungkook! — Louise disse controlando a voz, irritada e ainda chorando. — Você tem que parar com isso! Tem que parar de destruir sua vida pra chamar a atenção dessa mulher. Ela destrói tudo que pode ver de bom em mim... e não vai ser diferente com você.

O Jeon então se calou e a soltou.

— Louise... 

— Eu sei das drogas, Jungkook! Da bebedeira e da Yoon! — ele então a fitou confuso e constrangido.

— Como você sabe da Soy...

— Eu sou a amiga dela, Jungkook.... e eu também sou sua prima. — ela então secou as lágrimas com a manga do enorme moletom que usava. — Me escuta... a vida de pessoas como nós é em grande parte um grande nada, então quando achamos algo que é finalmente real, devemos nos agarrar naquilo e não largar jamais... eu não sou um bom exemplo pra você, mas diferente da tia Hoo Zee, eu tenho noção das coisas e não vou abandonar você! — Louise passou a mão pelos cabelos negros do garoto em sua frente. — Eu sei que você encontrou o que é finalmente real para você e eu tenho como obrigação te dizer que é por isso que você tem que lutar. Se ela é sua cura... é por ela que você tem que mudar e é da atenção dela que você deve ir atrás...

Jungkook então soltou o ar desconexo, fazia sentido tudo aquilo mas ele não se imaginaria recebendo um choque de realidade vindo de Louise. Com isso também, Jungkook optou por não dizer uma palavra em relação à situação em que Soyoon se encontrava, já que nem mesmo ele tinha notícias da morena, e tocar naquele assunto poderia se um grande erro. 

Arni observava tudo bastante impressionado pela atitude da Jeon rosada. Ele já havia entendido o que estava acontecendo ali.

— Mas, Jungkook... — ela o tirou de seus próprios pensamentos. — Se você magoar a Soyoon... eu vou te arrebentar todinho, seu pirralho problemático! 

Jungkook virou o rosto chateado, ele estava literalmente perdido dentro de si. Afundado nas drogas sem que os próprios pais soubessem, era praticamente cúmplice de um assassinato, apaixonado por uma garota a qual era quase impovável que tivesse em seus braços, e para piorar as coisas, estava preso à um casamento para se obter vantagem... não era possível saber por onde começar a resolver as coisas.

Ele realmente se sentiria melhor tendo Soyoon consigo, então estaria resolvendo um de seus problemas, mas sabia que não era Soyoon a responsável por guardar todas as peças de seu quebra-cabeça.

— Eu não vou, mas...

— Se está perdido.... deveria pedir ajuda pra ela. Soyoon é melhor com as palavras que eu...

Louise ja estava mais calma, embora ainda estivesse soltando poucas lágrimas não totalmente livre de seu ódio interno.

— Mas me promete uma coisa... — Jungkook pegou na mão de sua prima. — Não some de novo. Eu não me sinto sozinho quando você está aqui.

Louise sorriu revirando os olhos.


30 minutos seguinte - 

Jungkook grunhiu mais uma vez gradativamente mais alto que antes jogando o celular com força em cima da escrivaninha, depois abaixou a cabeça encostando a cabeça na madeira acinzentada do móvel cheio de folhas escritas. Jeon fechou os olhos com força sentindo o cheiro que exalava de seu pijama de cores neutras, logo depois passou a língua pela parte interna da bochecha voltando a jogar o tronco para trás. 

Encarou novamente a tela do notebook aberto em sua frente e revirou os olhos vendo destacado que não havia evoluído nada em suas pesquisas. Não tinha respostas para mais nada desde o momento em que recebeu a notícia de que Yun Soyoon havia sido agredida e que ele nem mesmo estava na escola no maldito momento do ocorrido. 

Coçou o couro cabeludo com força sentindo os fios grossos de seu cabelo úmidos graças ao banho recente, e tombou a cabeça para o lado. 

Antes de ficar sabendo sobre o que havia acontecido com Soyoon, ele já estava empenhado em juntar peças para descobrir coisas sobre a família Bin para a bolsista, mas o que ele conseguia de informação era o que todos os outros já sabiam, e o pior era que quanto mais cavava atrás de informações sobre Bin Joujy Yura e Bin Yana… menos respostas tinha. Jungkook não fazia ideia de como uma família conseguia ser tão reservada como a família Bin era. 

Ele pegou o celular mais uma vez procurando respostas vindas de Soyoon, mas com certeza as mensagens que o menino enviara seriam mais algumas para a coleção de mensagens sem resposta. Aquilo irritava Ezon tanto que mal se conhecia. Qual era o problema em responder? 

A porta foi aberta quando Jeon finalmente jogou o celular novamente em cima do móvel e encostou a cabeça com as duas mãos mantendo os olhos fechados. 

— Boa noite! — Nayeon desejou passando um dos braços pelos ombros do herdeiro e acertando seu rosto com um beijo cálido. 
Jungkook abriu os olhos junto à um suspiro e fitou a bandeja com seu jantar na mesma. Ter dito que não queria jantar não fora o suficiente, percebeu. 

— Disse que não quero jantar hoje. — ele respondeu voltando à fechar os olhos, então deitou a cabeça nos braços dobrados sobre a escrivaninha. 

— É o seu prato preferido. Come pelo menos um pouco... — pediu ela passando a mão pelos cabelos negros masculinos. 

— Eu não estou com fome. — Jeon falou agora olhando quieto para o celular silencioso. 

Nayeon levantou a sobrancelha jogando um questionário sobre a ação do menino, mas não foi respondida. 

— Vai te fazer mal dormir de cabelo molhado. 

— Eu não tô nem aí. — Jungkook espalmou a mão pela madeira a sentindo gelada. 

Nayeon deu um leve pulo ouvindo a porta do quarto sendo aberta mais uma vez, ela levou a mão ao peito e observou Yajan adentrando o cômodo fazendo o mesmo ser preenchido pelo cheiro de seu corpo recentemente saído da ducha. 

A filha da governanta se curvou em direção ao mais velho com as mãos juntas e a testa franzida. 

— Boa noite, senhor Bozzie Jeon. — desejou ela.

— Ninguém nesta casa sabe bater na porta? — Jungkook perguntou com a voz abafada. 

— Está tudo bem por aqui? — senhor Jeon perguntou olhando para a comida na bandeja. 

— Jungkook não quer comer, senhor. — a menina contou. 

— Ahra me ligou hoje, Jungkook. — o mais velho continuou a falar se aproximando um pouco mais.

— Não é a primeira vez que saio mais cedo da escola, a diferença é que agora eles ligaram pra você. — retrucou levantando a cabeça.

Não falaram mais nada. Jungkook voltou a encostar a cabeça no móvel sentindo seu corpo mole de sono e uma dor de cabeça lhe ocupar, ele colocou a mão em cima do celular de novo pensando em ligar a tela para checar se haviam mensagens, e assim fez. Haviam mensagens, mas nenhuma delas pertencia à Soyoon. Ele relaxou os músculos do rosto e apertou as pálpebras suspirando tristonho. 

— Senhor Jeon… já que o senhor falou sobre o Atakura Seoul… — Bozzie localizou a jovem Nayeon quando a mesma começou à falar. — Eu estava pensando em tentar entrar lá… se puder me ajudar, me sentirei muito grata. 

Yajan deu de ombros. 

— Tudo bem. Resolvo isso depois. — respondeu. — Agora nos dê licença. Preciso falar com meu filho. 

Nayeon não escondeu o sorriso de satisfação estampado em seu rosto, então assentiu elétrica se curvando por mais algumas vezes antes de seguir para fora do lugar.

Yajan batucou os quatro dedos na própria perna e deu mais alguns passos em direção ao corpo de seu filho jogado na cadeira. 

— Sua mãe ficou preocupada porque não foi jantar. — o homem finalmente voltou a falar. 

— Eu não ligo. — Jungkook respondeu. 

— Sua mãe te ama, garoto. Para de orgulho idiota e aproveite o tempo em que ela está em casa!

Jungkook revirou os olhos cruzando os braços com força. 

— Esse é o problema, Yajan. Aproveitar enquanto ela estiver em casa. — riu quase maldoso. — Se ela se importasse mesmo comigo, ficaria por mais tempo em casa. 

Bozzie assistiu o mais novo se levantar e andar pelo quarto imenso, pegando seu celular e o colocando para carregar na mesa de centro da pequena salinha que havia no cômodo. 

— Você não tem mais cinco anos. Não perderei mais meu tempo conversando sobre isso.

Jungkook deu de ombros ficando de frente para seu progenitor. 

— Eu não tenho mesmo cinco anos, aprendi à não ligar mais pra essas ausências. Fica em paz, Bozzie. 

Yajan analisou as vestes folgadas do mais novo à sua frente, analisou também os fios de cabelo molhados, no momento seguinte olhou para outro canto sem paciência. 

— Vá até a galeria do bairro Jujjyan. Estarei lá na parte da tarde. — o mais velho ditou sério. — Vai começar à ir todos os dias para aquela galeria. 

Jungkook levantou uma sobrancelha. 

— E pra quê? 

— Você vai começar a trabalhar lá à partir de amanhã. — o homem terminou de deixar claro filmando a expressão de confusão e em seguida deboche. 

— Não, obrigado. 

Ezon fez menção de se afastar, mas Yajan segurou seu ombro e o fez continuar parado no mesmo lugar. 

— É o início do seu aprendizado. Você sabe pintar, entende sobre artes, mas não está pronto o suficiente pra o que te aguarda mais pra frente. Precisa aprender muito mais sobre administração. 

Jungkook riu mais uma vez tirando a mão de seu ombro. 

— Começar essa palhaçada é uma forma de me lembrar que não vou parar em casa como você? 

Yajan bufou alto e passou a língua pela parte interna da bochecha. 

— Jujjyan amanhã, Jeon Ezon Jungkook. — senhor Jeon repetiu sério. 

— Se der eu apareço, Yajan. — o mais novo respondeu tomando o caminho em direção à cama. 

Yajan fechou as mãos com força e fechou os olhos por alguns instantes. Depois que voltou a enxergar, visualizou a imagem do moreno jogando três travesseiros no chão e desarrumando o forro da cama para deixar do jeito que gostava para dormir. Senhor Jeon revirou os olhos lembrando de como senhora Jeon o irritava quando fazia o mesmo na cama para poder dormir. 

— Você quer saber de uma coisa? Eu acabei de mudar os planos. — o mais velho voltou à falar. — Assim que chegar à galeria amanhã se identifique como novo estagiário. Não me procure, não irei me meter. A gerente saberá o que fazer. 

Jungkook parou o que estava fazendo transformando a expressão em uma careta. 

— Como é que é? Estagiário? 

Bozzie afirmou com a cabeça. 

— Não sou seu pai, não é? Você nem mesmo me chama de pai. — deu de ombros. — Nada mais justo que você tenha os mesmos direitos que qualquer outro funcionário. 

Jungkook travou o maxilar com força. Ele sabia que seu pai estava jogando, mas não cederia tão fácil. 

— Sinceramente... — amassou um travesseiro com força. — Você está sendo ridículo. 

— Não chegue atrasado. Horas negativas e positivas contam à partir do primeiro dia. — Yajan avisou se aproximando da saída do quarto. 

— Se quer que eu seja um estagiário podia ao menos ter me colocado na galeria do bairro Gunyosan, é a minha favorita, até mais que a de Oseata. — Jungkook falou alto. — Me mandar para Jujjyan é tortura. Lá só há esculturas de novatos, sem contar que é a menor!

— Jeon Ezon Jungkook…

— É sério, pai! Quero dizer, Yajan! — Jungkook insistiu. — Me manda pra qualquer outra.

Yajan voltou para trás por alguns passos e travou a vista de longe. 

— Jungkook, você só irá pra lá porque eu estarei lá amanhã. A nova gerente é boa no que faz, está mudando muitas coisas, vai ser agradável pra você.

— Temos mais de 23 galerias pela Coreia e 10 por Seul, tem mesmo que me mandar para a que eu mais odeio? — Jeon coçou a nuca com rapidamente. 

Yajan soltou uma risada negando com a cabeça e voltou para perto da saída. 

— É… ao todo nós temos 49 galerias espalhadas por várias países… espera! — senhor Jeon fingiu surpresa. — Eu tenho 49 galerias espalhadas por vários países… apenas eu, afinal, não tenho filhos. Você é só um estagiário, não tem que escolher. Só espero que ao menos vá.

Jungkook tentou ignorar total e qualquer sentimento de birra que se apossasse de seu corpo, mas preferiu fechar os olhos com força xingando com diversas palavras os acontecidos em sua vida. Ele foi até a porta do quarto e a trancou se certificando de que não houvessem meios de que a mesma não pudesse ser aberta por Nayeon ou qualquer outra pessoa. 

Jeon analisou o celular mais uma vez vendo que não havia carregado muito pelo pouco tempo no carregador... ou pelo menos olhar a bateria fosse sua desculpa para que não se envergonhasse ao perceber que mais uma vez tentava enxergar uma mensagem vinda de Soyoon.

Respirou fundo e foi até sua mochila preta jogada no carpete, enfiou a mão no bolso da frente e e puxou de dentro seu cigarro já "bolado" antes. Tirou um isqueiro de dentro da gaveta da escrivaninha e foi para a famosa janela na qual costumava ficar sentado todas as noites. 

Jungkook acendeu o cigarro de maconha e o levou até os lábios encostando a cabeça na estrutura da janela. O cheiro forte de erva não demorou a se espelhar juntamente da fumaça fina e não muito intensa. Ele olha com certa frustração para seu próprio tronco coberto pela blusa de algodão. 

Malditos hábitos... eles que nunca abandonariam Jungkook. 

~◈~

Poucas horas antes -

— Então é isso o que vocês chamam de segurança?! — Syru falou alto com uma desprezivel expressão. 

— O que aconteceu com Yun Soyoon podia ter acontecido com qualquer outra garota. — o diretor lembrou, ao lado do chefe de segurança da escola. 

— Mas não aconteceu com qualquer outras garota, Aconteceu com Yun Soyoon! — Syru retrucou. 

Diretor Pok passou a mão pelo rosto em desagrado, depois olhou para o chefe da segurança.

— Tem certeza de que as câmeras não pegam a sala? — o diretor questionou. 

— As câmeras pegam, mas naquele momento não estavam funcionando. A sala está com com problemas de afiação. — o segurança respondeu. 

— Ouviu melhor agora, professor Takog Russel? 

Syru umedeceu os lábios e deu dois passos para frente ficando mais perto do diretor extremamente mais baixo que ele. 

— Sabe o que eu acho irônico, diretor? — Takog soltou um riso pelo nariz. — Esta é a escola mais cara da Coréia do Sul, e teve problemas com a afiação justamente na sala em que Soyoon foi atacada. 

— Sua ironia é desrespeitosa, Takog! Não fale como se fosse superior à mim. 

— Superioridade não é o assunto aqui. Nada me impede de achar estranho tudo isso. — Syru mexeu o queixo raivoso, ainda segurando o ombro do mais baixo. 

— Se você esquecer de uma vez o que aconteceu, não teremos problemas. — Pok foi claro e direto. 

— Eu não vou sossegar enquanto não descobrir quem foi o responsável por fazer aquilo com Soyoon. 

O segurança levantou as mãos em rendimento ouvindo o diretor rir mais uma vez. 

— Não leve isso tão a sério. Ofereceremos uma boa quantia em dinheiro para a família da bolsista e tudo se resolve. Ninguém nunca vai saber o que aconteceu. — o mais velho sugeriu.

Syru puxou o terno do homem com extrema força olhando para baixo para encarar o rosto surpreso. Ele girou a gravata entre os dedos junto à gola da camisa fitando os olhos agora assustados do diretor.

— Sabe o que acontece com homens como você? 

Pok balançou a cabeça negativamente assustado. 

— Não... eu não sei. — o mais baixo respondeu baixo.

— Você não iria querer descobrir. Então te aconselho a não fazer nada sem pensar antes, se não quiser se arrepender de ter nascido. 

Syru soltou o homem com força e saiu enfurecido da sala com a cabeça latejando em raiva. Ele esticou o braço para conferir as horas e travou o maxilar inquieto. Seu instinto queria forçá-lo a ir até a enfermaria mais uma vez, mas não tinha certeza sobre ser a melhor escolha. 
Ele ouviu bem quando Soyoon sussurrou que sabia do que ele achava que ela não sabia, e ele entendeu bem o que ela quis dizer. Syru se sentia alegre, mas ao mesmo tempo sentia receio. 

Tudo o que ele mais queria estava se concretizando aos poucos, mas por que ele sentia que as coisas escorregariam de suas mãos em questão de segundos?

~◈~

— Sua mãe tem motivos para me olhar tão feio como me olhou? — Taehyung questionou com uma carranca extremamente confusa exposta no rosto. 

Soyoon e ele atravessavam o portão da escola enquanto o menino apoiava o corpo da morena próximo ao seu. Nenhum dos movimentos entre os dois poderia ser considerado uma polêmica levando em conta que já não era mais tão cedo e os alunos em sua maioria já haviam ido. A enfermeira chefe da escola havia pedido para que Soyoon permanecesse na enfermaria por mais algum tempo até que não sentisse mais tantas dores como quando havia pedido para ir embora. No meio disso tudo, Soyoon acabou por dormir e por fim, Taehyung assumiu a responsabilidade de acompanhar a jovem, já que a senhora Yun — com muito esforço — havia concordado. 

— Impressão sua. — Soyoon respondeu baixo. 

Taehyung se mostrava verdadeiramente curioso em querer entender o porquê de senhora Yun ter agido tão estranho quando esteve no mesmo lugar que ela. O jovem teve chances de dizer que estava namorando com sua filha, mas essas chances foram tiradas na mesma velocidade em que lhe foram dadas. Yura insistiu em repetir que Soyoon deveria tomar cuidado, mas ao ouvir de Taehyung que o mesmo cuidaria da bolsista, a mulher primeiro o olhou extremamente desconfiada, mas depois acabou por ceder ao confirmar que haviam coisas importantes para serem resolvidas na escola. 

Taehyung se perguntava onde estava toda a empatia que a Yun mais velha tinha por ele. 

Kim Makieno abriu a porta do carro esperando que Soyoon entrasse, ele fechou a porta após se certificar de que a mesma estava confortavelmente sentada e em seguida adentrou seu Aston Martin da cor prata. 

— Não sei o que sua mãe tem que resolver, mas isso indica que… estou responsável por cuidar de você. — ele sorriu ligando o automóvel. 

— Você sempre tem que andar com carros tão chamativos? — Yoon questionou baixo. 

Taehyung revirou os olhos, olhando para trás enquanto manobrava sua saída do local onde estava estacionado. 

— Mudar de assunto não vai me fazer acreditar que você pode se virar sozinha. — respondeu. 

Soyoon respirou fundo passando a mão pela lateral do tronco. 

— Eu juro que estou bem melhor. — Yoon fechou as mãos demonstrando força e energia. 

— Se você não quer ficar comigo é só falar. — ele deu de ombros. 

— Se eu não quisesse eu falaria.

Taehyung entreabriu a boca sem desviar o olhar do caminho. 

— Eu realmente não sei se algum dia vou me acostumar com o fato de você ser tão direta. 

— Só quero minha casa e fingir que nada aconteceu. — ela fechou os olhos com força. 

— Como quiser. — Kim respondeu trocando a marcha. 

Soyoon abriu os olhos e virou a cabeça observando o perfil de Taehyung enquanto dirigia. 

— Oh Jessy e Nesook foram para um festival mais  cedo… mamãe ainda está na escola e meu pai… chega muito tarde. Você pode me fazer companhia. — Yoon cogitou fazendo Taehyung imediatamente olhá-la. — Se for bom em massagens, irei realmente adorar sua companhia. 

Taehyung riu parando em frente à uma farmácia, acionou a trava e voltou a olhar para a jovem.

— Eu sou bom em muitas coisas, amor.

Soyoou se negou a não sorrir e acompanhou os movimento das mãos do menino enquanto de livrava do cinto de segurança para sair do carro. Ela aspirou o perfume que emanava das roupas levemente amassadas do moreno e soltou uma leve risada sem acreditar no momento. 

Yoon esticou o braço encostando os dedos no início do ombro esquerdo masculino, o puxou calma e sem força, então se inclinou o máximo que podia tomando cuidado com suas costas e com o cinto que ainda a prendia, logo beijou os lábios finos de Taehyung demoradamente sentindo o jovem herdeiro sorrir com a boca ainda colada à sua. 

— Obrigada por estar querendo tanto cuidar de mim. — ela agradeceu baixinho. 

— Se sua mãe não parecesse querer tanto me matar... eu juro que pediria para não desgrudar de você. — Kim de de ombros. 

— Ei! Não seja tão grudento! — Yoon bagunçou o cabelo escorrido do jovem asiático. 

— Eu não sou grudento! Não sou nada disso... — ele desviou o olhar. 

Yoon continuaria a provocar o "pobre" garoto de forma a qual pudesse irritá-lo, mas desistiu de concluir sua missão ao franzir seus lábios em um bico discreto e abrir um pouco mais os pequenos olhos. 

— O que houve com o seu cabelo? — ela quase murmurou curiosa. 

— Como assim? — Taehyung voltou a olhá-la.

— É que você costuma usá-lo comportado, sabe... seu habitual topete. — ela avaliou. — Mas ele está escorrido e jogado no rosto desde cedo. 

Taehyung também avaliou a menina passando a mão pelo rosto, em seguida deu de ombros mais uma vez escondendo um riso. 

— É que... quando eu soube que você estava na enfermaria, eu meio que me descabelei. — confessou ainda escondendo o rosto. — Queria ficar plantado na enfermaria, então a última coisa da qual me lembraria seria do meu cabelo. 

Soyoon beijou o menino mais uma vez o impedindo de sair do carro. Taehyung com toda certeza não se interessava realmente em sair do carro naquele momento, apenas acentuou mais as bocas trazendo mais calor para dentro do carro. Eles se afastaram em um selar demorado e Makieno continuou parado respirando fundo para recuperar o fôlego. 

— Eu deveria ter saído há um bom tempo. — ele riu. 

— É mesmo. Tem que cuidar de mim e pra isso precisa dos remédios. — Yoon apertou a ponta do nariz do garoto. — Pode me trazer um chocolate também, eu não me importaria.

— Ah, com toda certeza. — ele riu negando com a cabeça. 

O celular de Taehyung anunciou uma notificação e o garoto não perdeu tempo ao tirar o aparelho do bolso e o desbloquear para ver o que era. 

"Sojyou" era o nome na tela. 

Kim imediatamente olhou para Soyoon esperando a primeira reação vinda dela, e como esperado, se deparou com os olhos escuros femininos o olhando.

— Não vai olhar a mensagem? — ela deu de ombros.

Taehyung engoliu uma boa parcela de saliva junto de uma dose de coragem e abriu o aplicativo. A surpresa veio depois, quando junto da mensagem veio uma imagem expondo um par de seios fartos. 

Taehyung bloqueou o celular rapidamente e olhou novamente para Soyoon.

— Isso...

— Uau... vocês estavam tendo uma conversa quente. — ela movimentou a cabeça.

— Ela... tem mania de me mandar esses tipos de fotos sempre que... quer me ver. — ele coçou a nuca.

Soyoon não conseguiu aguentar a série de risadas que vieram em seguida, saídas de sua própria boca. Ela riu ficando vermelha olhando para o rosto abatido e o cabelo em desordem do número 5. Taehyung franziu o nariz mostrando levemente os dentes em uma careta, e revirou os olhos.

— Não precisa se explicar. Estamos juntos desde a manhã de hoje, não é como se você estivesse me traindo. Poucas pessoas sabem que estamos juntos, não é? — disse ela. 

Taehyung franziu o cenho.

— Você... Soyoon, o quê... — balançou a cabeça. — Você não vai dar um grito, ou ficar chateada... ou talvez querer que eu deixe claro pra ela que estamos juntos?

— Te pedir para fazer isso não vai te fazer mais meu. — Yoon riu mais um pouco. — Quero dizer, se você é meu namorado, o que mais eu tenho que provar para ela?

— Não é questão de provar, é questão de sentimento. Eu preferia que você não ficasse com raiva de mim, mas te vendo agir assim... você não sente nem um pouco de raiva?

— Você quer dizer "ciúmes"? — ela tombou a cabeça para o lado. 

— Sim, Soyoon, ciúmes. 

— Não. Acho que não senti ciúmes. — ela respondeu pensativa. 

— Engraçado... porque eu quase arranquei todas as pétalas dessa rosa quando você disse que foi o Yoongi que te deu! — ele soltou extremamente irritado, apontando para a rosa no colo da menina.

— Mas... o que foi agora? — ela questionou.

— O que foi é que... um de nós sente mais aqui, e não é você. 

Ele realmente havia ficado mais sério que o normal. 

— Taehy...

— Eu vou comprar seus analgésicos. — ele a cortou avisando com tédio e abrindo a porta para sair do automóvel. 

Soyoon desfez a expressão momentos depois cruzando os braços e vendo o corpo esguio do moreno passar em sua frente, atravessando a rua para entrar na farmácia. Parando com a confusão quase sem motivos, Yoon fechou levemente a boca olhando para o além da rua já azulada. Se alguém lhe dissesse há algum tempo antes que ela estaria no carro do número 5 esperando até que ele voltasse com alguns remédios no intuito de cuidar dela, Yoon provavelmente desconfiaria da sanidade dessa pessoa. 

Porque... afinal de contas... por qual motivo Yun Soyoon havia aceitado dar uma chance à Taehyung? 

Taehyung tinha razão. Um dos dois sentia mais, e quem sentia mais era ele. Aquilo era certo?

Yoon sentiu seu coração acelerar aos poucos quando se prendeu nos pensamentos. Ela não estava apaixonada por Taehyung e saber que estava com ele por ter se dado conta de que sua atração e gratidão por ele bastava, era sempre um baque.

O que acontece quando percebemos que estar feliz é diferente de estar satisfeito? Afinal... estar feliz pode ser sinônimo de estar conformado, e estar satisfeito é sinônimo de não ter mais pendências. 

Por muitos momentos Yoon se sentia feliz por ter alguém com ela sem instabilidade — ou quase —, mas depois percebia o quão egoísta estaria sendo por agarrar Taehyung para si. Ela tinha medo de machucá-lo e tinha medo de se machucar. Era isso o que a assustava e não a satisfazia. 

A porta foi aberta e Taehyung entrou soltando ar pela boca demonstrando o tamanho do seu frio. Ele estendeu uma pequena sacola em direção à menina e sorriu de canto quando seu olhar se encontrou ao dela. Yoon sorriu fechado de volta voltando o olhar para a sacola. 

Ele já parecia ter esfriado um pouco a cabeça. Ele não conseguia ficar brigado com ela por muito tempo, apesar de ainda se sentir mal.

Soyoon se encolheu mexida.

Ela tinha medo de nunca se apaixonar por ele. 

O ar gélido e esbranquiçado embaçou a janela quando o carro voltou a se movimentar pela rua. Tae estranhou a mudança de humor da menina ao seu lado, levando em conta que o bipolar entre os dois era ele, mas preferiu não dizer nada, mantendo o local em silêncio. 

Na velocidade calma em que as rodas deslizavam pelo asfalto, nem mesmo o som da rádio esteve ativo, e tudo o que podia ser ouvido era o som do motor ajudando o carro a se mexer. Kim ainda olhava para Yoon por rabo de olho buscando alguma resposta na expressão cabisbaixa presa no rosto feminino. A cabeça de Soyoon encostada no vidro foi o que o impediu de continuar olhando para seu rosto. 

Quando finalmente parou em frente à casa dos Yun, o jovem umedeceu os lábios sem entender o porquê de até mesmo ele ter sentido que as coisas haviam ficado estranhas, mesmo que ele não soubesse o quê. 

Tocou o braço de Soyoon com total cuidado e esticou o pescoço para visualizar algo. A única coisa que viu, fora que a menina havia caído no sono. Não veria problemas em carregá-la e deixá-la dormir confortavelmente, mas pelas informações que havia recebido, ninguém estaria em casa e senhora Yun aparentemente ainda estava na escola resolvendo "alguma coisa", com isso, Kim balançou levemente o corpo da bolsista. 

Soyoon não se mexeu nas primeiras duas vezes. Taehyung até deu uma risada delicadamente frustrada, mas sua expressão mudou quando os dedos dela rodearam sua mão com força e disse: "Não. Eu tenho medo. Eu tenho nojo."

— Soyoon — ele a chamou se livrando de seus dedos e tocando seus dois ombros. —, ei, acorda!

— Não, por favor. Eu realmente não quero. — Yoon continuou a dizer ainda parada, mexendo apenas a boca. — Eu... eu tenho nojo. 

— Soyoon! — Taehyung falou alto balançando o corpo pequeno com mais força. 

Soyoou abriu os olhos se deparando com os olhos de Kim e semicerrou os olhos pousando a mão direita no próprio cabelo. 

— O que foi isso? — ele questionou baixo. 

— Do que você tá falando?

— Do que você tem nojo? 

Ela soltou uma careta confusa e se desfez do enlaço do herdeiro. 

— Nojo? — retrucou confusa. 

— Você repetiu várias vezes enquanto dormia que não queria e que tinha nojo. — Taehyung voltou a se sentar reto. 

A menina apenas coçou a cabeça e mexeu os ombros pensativa. 

— Não se preocupe tanto com um sonho. — pediu ela.  

Taehyung não respondeu nada, apenas abriu a porta do carro saindo e deu a volta já indo em direção à entrada da casa. Ele aguardou a bolsista sair também com as mãos dentro dos bolsos da calça, ela andou lentamente até ele segurando os panos no corpo com frio e ouviu Kim dizer extremamente baixo: "Pode me dar a chave, eu abro pra você"

Quando entraram na casa, tudo foi iluminado para que enxergassem melhor e não tropeçassem. Soyoon engoliu saliva tirando os sapatos vendo os sapatos de Taehyung sendo colocados também em um canto. Os dois seguiram reto indo para a sala e Soyoon se sentou assim que se viu perto o suficiente do sofá. 

A menina abriu bem os olhos ao avistar de longe a grande gaiola de Taeyoon no canto da sala. Franziu o cenho andando devagar até o bicho, mas não ousou se abaixar quando já estava perto o suficiente. 

— Quem te colocou aqui, huh? — Yoon perguntou baixinho encarando os olhinhos esbugalhados do porquinho. 

Conferiu a comida e água do animal e voltou para o sofá depois de afinar cada vez mais a voz para lidar com Taeyoon. 

Ela fixou a vista em Makieno sentado no outro sofá, com os cotovelos apoiados nas próprias coxas e as mãos aconchegando o rosto.

Eles continuavam em silêncio, e o pior talvez nem fosse isso. 

— Falta algo? — Taehyung perguntou baixo sem olhá-la. 

— Algo? — retrucou confusa. 

— Entre nós. O que falta? — ele a olhou. 

— Por qual motivo espera que eu te responda isso? 

— Por qual motivo? Pelo motivo de que... — ele chegou a rir um pouco. — Você quer mesmo ficar comigo, Soyoon?

— Qual a finalidade das perguntas, Taehyung? — franziu os lábios séria. 

— Eu tenho dúvidas sobre conseguir lidar com sua falta de emoção. É só isso. — ele deu de ombros. — Começamos isso hoje e... eu sinto que só te perco ao invés de te ganhar. 

Soyoon enfiou os dedos entre os fios de cabelo pensativa, depois agarrou a barra da saia. 

— Como você disse, começamos isso hoje. — suspirou se levantando e se locomovendo até o sofá onde Taehyung se encontrava.

— Então?

Soyoon revirou os olhos. 

— Eu continuo a mesma, se não pode lidar comigo assim, então nunca se apaixonou de verdade. Não vou mudar porque estamos juntos.

Ele continuou parado focando em cada centímetro do rosto feminino. Soyoon continuou na mesma posição também. 

Kim rodeou o pescoço de Yun e a trouxe para si a abraçando com calma enquanto fechava os olhos. Soyoon retribuiu o abraço aquecendo a cabeça no peito eufórico do mais alto, sem deixar de esquecer que aquilo continuava sendo estranho. 

Um toque carinhoso não significava um pedido de desculpas quando era em relação à Soyoon e Taehyung. 

— Você me deixa sem respostas, mas isso me faz pensar que vou saber lidar com isso. — ele confessou baixo. — Você faz com que eu cresça. Me xingue ou me bata, desde que esteja na minha frente. Nunca acredite quando eu digo que não vou saber lidar com você.

Soyoon se afastou e encaixou sua boca na de Taehyung o mantendo junto à ela por mais tempo do que esperavam. Kim agarrou o corpo pequeno com toda a firmeza que podia, sem esquecer dos hematomas. Segurando a nuca feminina em seus dedos, encostando sua língua à dela sem pudor, toda e qualquer racionalidade ou orgulho foram apenas coisas perdidas em meio ao momento de total entrega e resposta às dúvidas. 

— Eu não fazia ideia de que você poderia ser tão dramático... — ela sorriu se deitando no sofá confortável ao corpo de Makieno. 

— Eu não fazia ideia de que seria tão difícil aguentar por tanto tempo sua personalidade complicada. — murmurou. 

Yoon se virou deitando-se de frente para o rosto do garoto. 

— Você também não tem a personalidade muito simples. ­— passou a mão pelo rosto masculino. — Taehyung... o machucado na minha boca... está doendo. 

Taehyung entreabriu os lábios e assentiu em um instinto ainda emburrado. Soyoon rodeou o tronco de Makieno e fechou os olhos. 

— Vai voltar a dormir? — ele perguntou. 

— Os remédios que a enfermeira meu deu... eles me deixaram com muito sono. 

— Acabou de anoitecer, vai acabar passando a madrugada acordada. — Kim avisou baixo mexendo em uma mecha do cabelo longo em sua frente. 

— Eu queria que fosse o contrário. — Yoon sussurrou quase sem forças para impedir o sono.

— Seria bom passar a madrugada acordado com você. — ele riu nasalmente. 

Yoon segurou o tecido da roupa de Kim. 

— Espere até eu me recuperar. — ela avisou. 

Taehyung levantou as sobrancelhas. 

— Você sabe o que acabou de dizer? — continuou mexendo no cabelo. — Não são palavras muito saudáveis para o meu cérebro maldoso.

— Você acha que só por ser mulher desejo menos sexo que você?  

Taehyung deu risada mais uma vez sem deixar de segurar o corpo em seus braços. 

— Esperarei ansiosamente até que você melhore. — contou ele. 

— Espero que não demore muito. — ele ouviu ela dizer. 

— Okay, isso realmente está me surpreendendo. Queria te perguntar há quanto tempo está sem sexo, mas sei que de alguma forma vou acabar me irritando com sua resposta. — ela abriu os olhos procurando respostas para o que foi dito. — Não estranhe. Não é agradável pensar em outro cara com você. 

— Não é agradável para mim mesma pensar nisso. Faz um bom tempo. — respondeu ela pensativa. 

— Sabe, então... eu acho que é o meu dever resolver esse tipo de problema. — ele beijou a bochecha da menina.

Yun apenas soltou mais um riso e voltou a fechar os olhos esperando o sono lhe vencer de vez. Taehyung a aconchegou mais em si. O menino manteve-se na mesma posição por alguns longos segundos, envolvendo a longa perna direita entre as pernas de Soyoon que já dormia há alguns pouco tempo.

Taehyung cheirou as próprias peças de roupa e passou a mão pela testa percebendo o quanto estava suado, então tentou sair devagar do sofá sem acordar Soyoon. Na tentativa de não acordar a menina, Kim acabou caindo para o outro lado, de barriga para cima no chão.

Gemeu em desagrado e se colocou de pé pronto para tentar achar o banheiro. O andar de baixo da casa ele já conhecia, mas o andar de cima não, o que dizia que o banheiro deveria ficar na parte de cima do imóvel. Ele subiu as escadas de dois em dois degraus apertado apenas disposto à se aliviar e talvez tomar uma rápida ducha. 

Pensou por alguns momentos que seria desrespeitoso tomar banho na casa de alguém sem autorização, mas depois deu de ombros lembrando-se que Soyoon provavelmente não ligaria. 

No andar de baixo, Soyoon ainda dormia torta no sofá com as pálpebras delicadamente encostadas umas as outras. Sua respiração estava calma e seu cabelo jogado para trás, como uma cortina para o sofá. Soyoon se mexeu pouco quando bateram na porta, mas até aquele momento, seu cérebro interpretou tudo como se fizesse parte do sono. Mas as batidas continuaram e o sono pesado de Soyoon foi perturbado alguns segundos depois diante dos resmungos vindos dela. 

Soyoon se levantou ainda de olhos fechados extremamente mole e sonolenta. Os remédios que lhe deram eram realmente fortes demais. 

Ela abriu os olhos quase pausadamente e olhou ao redor à procura de Taehyung, mas o mesmo não fora visualizado por seus olhos.

Soyoon resmungou com a mente desconexa e andou até a porta de cabeça jogada para trás, chegando perto e levando a mão à maçaneta, assim que girou a mesma e puxou a porta para dentro, franziu a testa e entreabriu os lábios confusa, sussurrando:

— Namjoon? 
 



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