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História Seu Polícia, Foi Magia - Magicamente


Escrita por: galaxiataegi

Notas do Autor


E aí, gente? Tudo bem? eu espero que estejam todos muito bem, espero que não estejam furando a quarentena, que estejam lavando as mãos e tomando muito cuidado, sim? E… sendo bem sincera, eu queria dizer que essa é uma das fics mais especiais da minha vida. Um motivo de muito peso é o fato de que é uma narrativa em primeira pessoa e, consequentemente, a volta desse estilo para mim, porque eu só escrevi assim em 2018.

Bem, além disso, eu queria esclarecer umas coisas que são bem importantes para um melhor entendimento da fanfic:
primeiro: o Yoongi é quem narra tudo e, às vezes, interrompe a própria narrativa para destacar pou comentar algo. decidi que ele faria isso por achei que cairia bem, que ficaria mais divertido;
segundo: muitas vezes, no decorrer da história, o Yoongi começa a narrar una fatos que já ocorreram, como se ele tivesse tudo um flashback. “Ele” sempre vai avisar quando vai ter um desses, então fiquem atentos.

Eu acho que era isso. Agradeço a quem leu e peço gentilmente que leiam as notas finais, okay? Muito importante!

Tenham uma ótima leitura!

Capítulo 1 - Magicamente


Vagar. 

Eu vago, ‘tu vagas, ele vaga… E o final é previsivelmente conhecido pela grande maioria que tem o prazer de aprender as conjugações verbais de modo correto na escola. Vagar tem três sentidos: o de ficar vago, como o tempo de alguém que não tem obrigações — comentário este que é livre de julgamentos, só deixando claro que o que há é o esclarecimento de um fato; o de andar, como alguém solitário, andante das ruas escuras e frias numa noite de qualquer que seja a estação do ano; e, por último, o sentido de sobrar, o qual não passa, no meu simples intelecto, de um desdobramento da primeira classificação do verbo “vagar”. 

Com isso, com toda a minha preleção sobre a conjugação do verbo vagar, digo que a única finalidade cuja qual há algum compromisso expresso por parte minha é a de relatar que eu vago pelas ruas, esperando que a bagatela de duzentos milhões caia sobre mim, abençoando-me e tornando-me capaz de viver em segurança e comodidade, tal como faria um magnata. 

Entretanto, por pura infelicidade, eu vago, gastando a sola dos meus sapatos bonitinhos em vão, pois isso nunca aconteceria — quem se arriscaria a ser o lesado a jogar duzentos milhões na cabeça de um menino qualquer e estranho na rua? Aposto meu pulmão direito que somente um ser podre de rico, cujo coração possui proporções maiores que o mundo, seria capaz de prestar-se a tal papel. 

Um fato infeliz que eu gostaria de relatar é que, sempre no mesmo horário, no mesmo banco — um patético cofre enferrujado no qual eu tenho o desprazer de trabalhar somente pelo dinheiro, que esse detalhe fique tão claro quanto a luz do sol que ilumina os dias —, às segundas e sextas, tem um assalto. Rapaziada, eu não ‘tô falando sobre vir um moço que simplesmente fala “passa o celular, passa o celular”, não, eu ‘tô falando de roubo de verdade, tipo esvaziar o cofre principal — que não deve ser maior que o meu quarto, mas ainda sim é um cofre — e todos os outros, roubar muito, muito dinheiro em plena luz do dia. Isso é o que torna esse lugar ainda mais patético, digno de desonra. E, apesar de serem claras as evidências da não confiabilidade desse lugar discutível e puramente dubitável, as pessoas ainda tem coragem de acreditar na hipótese de que um dia ele ainda vai vir a melhorar, acho eu que pelo simples fato de que esse belo banco é da época da colonização — ‘tô brincando, okay

Outra coisa que eu gostaria de fofocar sobre é que o pessoal daqui, os next level — meus superiores — vivem reclamando que aqui não tem segurança, pipipi, popopó, só que não têm a decência de arrumar uma segurança eficaz ‘pra este venteiro. Na minha humilde opinião, se eles querem que esse banco permaneça estável nos âmbitos econômicos e sociais — se ainda tiver como, porque, do jeito que está, é só ladeira abaixo —, eles têm que ter pelo menos a decência de saber proteger. 

É o que eu sempre digo, rapaziada: “se você derrama o seu leite, você que limpe sua sujeira” — na verdade, eu nunca disse isso em todos os longos anos que eu já vivi, mas a ênfase no “sempre” deixa a minha afirmação muito melhor do que se eu dissesse que acabei de inventá-la. 

Agora mesmo, por exemplo, eu estou no meio de um assalto desses, sabe? Em plena segunda-feira. Como se não bastasse ser segunda-feira, eu ainda tenho que aguentar um ladrão amador — porém armado, Yoongi, porém armado, lembre disso, paspalho — gritando para que todo mundo (eu e mais um senhorzinho de sessenta anos, cujas pernas não conseguem nem se dobrar para ele poder se abaixar) ficasse quieto e cooperasse. Sinceramente, eu esperava um pouco mais de consideração da parte desse ladrão de quinta, porque ele já veio aqui tantas vezes que, por mim, era obrigação dele nos deixar quietos enquanto esvaziava o cofre com os comparsas. Rapaziada, ele podia pelo menos não gritar; seria o mínimo que ele teria a decência de fazer, porque ele vem aqui toda santa semana, nós apenas esperamos a polícia chegar e nos interrogar, e nunca, eu repito, nunca reagimos ou tratamos eles com qualquer resquício de falta de educação. Claro, tem a parte da arma e o lance todo do perigo de morrer com uma bala na cabeça, o que nos dá razão suficiente para não reagir com grosseria e colaborar, mas eu acho que um pouco de carinho ia melhorar as coisas. 

— Fica parado, menino, fica parado! — ele ordenou pela quinta vez.

Eu sequer tinha me mexido; estava quieto como uma estátua de carrara. 

A liberdade de me gabar com o meu belo papel de estátua estava dominante em mim, e eu podia tentar me engrandecer com um discurso mega egocêntrico se não fosse o caso de ter uma arma apontada para os meus lindos e limpos cabelos negros, enquanto eu curtia a temperatura extremamente baixa que o chão emitia para o meu corpo, então eu achei melhor, dadas as más circunstâncias, manter meus músculos no nível de rigidez mais extremo que conseguia para que toda a minha estrutura corporal pudesse sustentar a tensão do assalto. Sim, eu sei que já havia acontecido algo assim antes — muitas, rapaziada, muitas vezes —, mas não é como se eu pudesse parar de ter medo; eles tinham armas e poderiam me matar só de mover um dedo, e isso já era um motivo bastante plausível ‘pra eu querer ficar bem quietinho, colaborando. 

Seja o que Deus quiser, mas, de preferência, de um modo que vá me trazer benefícios. 

***

Sabe, eu tive um daqueles momentos em que você pensa: “pronto! Agora eu já posso dar adeus à vida”. E digo que posso alegar, com todas as letras e sons que o meu falar permite que seja ouvido, que foi a experiência mais estupendamente horrível da minha vida inteira.

Eu estava lá, cooperando com o assalto — que estava demorando bem mais que o habitual, o que me deixou preocupado e com muito, muito medo —, quando um assaltante, aquele que mandou eu cooperar enquanto apontava a arma para a minha cabeça, mandou-me levantar. Eu fiz isso com calma, até porque qualquer movimento brusco pode ser um grande pé na cova. Min Yoongi parecia simples e lindamente um bicho preguiça enquanto se mexia, mas eu só estava cooperando. Entretanto, todavia, contudo e outras conjunções adversativas que se encaixem no meu lindo conto, acho que o assaltante não ficou lá muito contente com a minha pachorra na arte de ficar em pé, porque logo puxou meu braço com uma puta força desgraçada, forçando minhas pernas a sustentarem meu corpo totalmente de surpresa. 

Surpresa? Sim, surpresa: um, porque eu estava bambo de medo, e dois, porque ele me puxou com tanta força e de um modo tão, tão rápido, que meus sentidos pararam por uns instantes, então foi surpresa para as minhas pernas terem que me sustentar; foi mais ou menos um curto momento em que, após meu coração gelar como se a Elsa tivesse envolvido-o com as mãos, elas não souberam mais o que fazer — oh! Como se não fosse o que elas têm que fazer, oh! 

— Vai ficar de gracinha, moleque? — ele perguntou, a sua boca rente ao meu ouvido, fazendo a dificuldade que minhas pernas tinham para me erguer ficar ainda maior.  

Não, não era porque ele era bonito, gostoso ou qualquer outra coisa que faça alguém perder os sentidos de tão galã — Deus me livre, não era mesmo —, mas é que ter um assaltante falando de um modo tão assustador perto do meu ouvido é uma coisa com a qual eu não estou habituado, o que, consequentemente, incapacita-me de fazer as coisas mais normais, como ficar em pé, visto que o medo tem um peso sobrenaturalmente astronômico — o meu medo tem, que fique tão claro quanto a luz interna da geladeira quando eu a abro de noite. O tom que ele usou para falar me deixou com um medo irracional; era como se esses assaltantes tivessem evoluído no quesito assalto e, simplesmente, estivessem testando suas novas bugigangas malvadas. 

O que há de tão novo na minha vida ou aqui, neste lugar infeliz? Nada, porque eu estou em um assalto, em plena segunda-feira, no banco mixuruca onde eu trabalho. 

Seria — digo isso com toda a clareza e toda a convicção existentes em mim — o fim de Min Yoongi naquele instante; eu veria algo ainda mais claro que a luz do sol quando reflete nas moedas novinhas que eu consigo, e eu ouviria, com muita, muita sorte, alguém gritar “Yoongi, não vá para a luz!”, enquanto colocam-me em uma maca e levam-me para dentro de uma ambulância que demorou duas horas para chegar — sim, aguentei duas horas com uma bala na cabeça, então usem a imaginação para me dar créditos nessa história.

Eu disse que seria meu fim, então quer dizer que não foi, certo? Certíssimo. Sabem, em todos esses anos, nessa indústria vital, foi a primeira vez que um assalto neste belo banco tinha sido interrompido pela chegada da polícia. Eu fiquei totalmente embasbacado, porque eu fui salvo mesmo, ainda por cima, pela polícia

Deixem-me explicar como de fato tudo ocorreu, sim? Bem, vamos lá: assim que aquele maldito ser me mandou levantar, ainda apontando a arma para a minha cabeça, eu desejei sumir da face da Terra como o meu porco debaixo do braço. Mas, de qualquer forma, eu o fiz. Levantei do chão, tomando o maior cuidado para não realizar movimentos bruscos o suficiente para tomar um tiro na cabeça. Minhas pernas falharam, como todos sabem, quando fui bruscamente puxado para cima, como se meu corpo fosse o do mais frágil boneco de pano. Eu relevei a grosseria, porque eu estava no meio de um assalto. Depois disso, o sacripanta me puxou para perto do corpo dele e, como em todo filme onde alguém faz um refém em uma situação extrema, ele rodeou meu pescoço com um braço enquanto, ao lado da minha cabeça, havia o outro, cuja mão segurava a arma apontada para a minha cacholinha

Eu nunca, nunquinha, pedi tanto aos céus em um período de tempo tão curto; eu só sabia clamar “Senhor, por favor, me ajuda!”, “Tenha piedade de mim, Deus!”. Eu estava totalmente desesperado, olhando com uma tremenda cara de assustado para o senhorzinho de sessenta anos. Ele era tão simpático, não merecia ver alguém morrer em frente aos seus olhos, e eu também não merecia morrer, sabem? Eu não faço mal a ninguém, só trabalho durante a semana e fico em casa aos sábados e domingos; eu sou um bom garoto, eu tenho certeza e plena convicção da minha afirmação. 

No meio daquela tensão, no meio de falas que eu não consigo lembrar por causa do medo que eu sentia em escalas homéricas, no meio de gritos e mais gritos dos assaltantes, uma luz gigantesca e totalmente milagrosa se notabilizou — é uma metáfora — naquela salinha onde eu trabalhava, no terceiro andar do prédio. Eu senti um tremendo alívio quando alguém, de voz grossa e firme, falou em algum lugar: “mãos ‘pro alto”.

— Não se mexa! — ditou também esse alguém, que eu supus ser um policial, em algum lugar atrás de nós. — Nós cercamos todo o prédio, já pegamos todos os seus colegas, então solte o menino e coloque a arma no chão! — mandou, usando um tom mais severo de autoridade na última parte. 

Eu senti, eu realmente consegui sentir um tremor no cano da arma, que eu supus, então, vir da mão do assaltante. Ele tremeu na base quando a voz grossa do policial soou firme e estupendamente autoritária. 

Embora fosse fantasticamente óbvio o fato de que ele não tinha mais uma escapatória, aquele imbecil, aquele projeto de assaltante ainda quis manter a pose de durão. Então ele, juntamente comigo, virou-se para o policial, sorrindo cínico. Acreditam que ele ainda teve a audácia de rir de um modo exageradamente sarcástico? Pois é, eu ainda não ‘tô podendo crer, e olha que eu estava lá, sentido o cano de uma arma pressionado contra minha cabeça. O que havia de tão novo naquilo? Bem, tirando o notório fato de ter havido uma arma carregada e apontada para mim, enquanto um estúpido criminoso, que quase me tirou o ar de tanto apertar o pescoço, conversava com um policial que também tinha uma arma apontada para mim. Nada; simplesmente, não havia qualquer coisa tão nova. 

— E o que eu ganharia com isso? — e o meliante ainda teve a estupidez absurda de perguntar o que ganharia se me soltasse, sua cara extremamente estranha, como se ele olhasse para o policial com o intuito de dizer: “é isso que eu sou, um cara pescopata!

Olha, ‘pra ser sincero, foi com muita sorte que ele conseguiu escapar de um tapa na orelha, mas, de resto… Nada.

— Garoto, você foi preso em flagrante, possuímos testemunhas e ainda há câmeras de segurança aqui. — o policial suspirou impacientemente. Eu ia contar a ele que as câmeras não estavam funcionando há uns meses, mas preferi me abster. — Solte o garoto e não ganhe um tiro. — Levantou as sobrancelhas, de modo sugestivo. 

E eu, no meio da negociação, fiquei lá, com cara de… ‘pra ser sincero, eu nem sei qual é a real denominação para a cara que eu fiz, porque foi uma cara tão, tão nada a ver que, sinceramente, não tem nem nome; foi algo como uma miscelânea de nervosismo, desespero, indiferença e timidez. 

No fim, o meliante se rendeu. Eu fiquei tão impressionado quando ele me soltou com gentileza que quase exibi meu espanto, mas preferi me conter, porque aquela era uma situação que exigia um pouco de seriedade. 

Depois de tudo, como dita a regra, os policiais tiveram que interrogar todos os que estavam no prédio na hora do roubo. Sempre acontecia isso, então eu não estava ligando muito; tudo o que eu tinha que dizer era: “eu estava sentado perto da minha mesa quando eles chegaram e começaram a coisa toda” — isso de um modo totalmente básico, okay? Não é assim que eu falo quando estou em um interrogatório. Entretanto, uma coisa me impediu de falar, uma coisa totalmente inesperada e irreal. 

Bem, eu posso começar dizendo que, se você não acredita em magia, esse lindo conto não vai te agradar, mas eu super recomendo. Não, não é só pelo fato de que eu estou narrando maravilhosamente bem, mas é porque a história é muito boa. Continuando o conto, eu sei muito bem que é difícil acreditar em magia e num mundo diferente do habitual, mas eu juro pelo meu porquinho de moedas que eu sei do que eu estou falando. 

Supondo que você está sentado, em um cômodo vazio, sozinho, esperando a sua hora de ser chamado para um interrogatório, o que passaria na sua cabeça? Tipo, o que você esperaria que acontecesse? A única coisa que passou pela minha cabeça foi que chamar-me-iam — babem na minha bela mesóclise — para um outro cômodo, fazer-me-iam uma série grande e boba de perguntas óbvias, e daí então, eu já estaria liberado. Mas, como nem tudo acontece como nós planejamos ou pensamos, não foi isso que aconteceu. Digo, foi o que aconteceu, mas não foi o que aconteceu. 

Lá estava eu, sentado quietinho no meu canto, esperando minha vez como o bom garoto que sou. Tudo bem até aí. Porém, antes de prosseguir com meu fabuloso conto, eu gostaria de ressaltar a grandeza do notório fato de que não, eu não estava alucinando no momento em que a coisa toda começou a desandar por causa da minha grande burrice — confesso com grande dor no coração que a culpa foi minha —, porque eu não tinha motivos para tal — eu realmente acredito que vocês façam alguma ideia de quais são os motivos, tipo uso de drogas ou alguma coisa que faça minha cabeça imaginar fatos surreais, como estrelas cadentes em plena luz do dia. 

Continuando o conto, estava tudo normal, chato, quando, totalmente do nada, uma coisa estupendamente estranha apareceu bem na minha frente; era algo brilhante, com uma textura bem evidente de pó, como se realmente fosse purpurina esbranquiçada e bem, bem mais levinha que a purpurina original. Eu pensei que era só poeira, e que o calor estava fazendo minha cabeça alucinar, porque lá estava meio quente, mas era um total engano meu. Aquele pó foi a minha ruína, e não digo isso pelo fato de que era altamente entorpecente, mas sim pelo fato de que o policial que me interrogou era um pedaço enorme do caminho do mal — no sentido mais maravilhoso que existe —, cuja aparência declarava que qualquer contato físico com o tal seria considerado um tremendo toque pecaminoso, porém incrivelmente sensacional. 

Explicando melhor a parte mágica, aquele pó, que eu, até o presente momento, ainda não tive o prazer de saber o que é, fez-me ficar totalmente embriagado, como se tivesse bebido horrores ou tivesse usado uma droga muito pesada. Eu, de sincero coração, não sei como essas coisas acontecem comigo. Não estou me fazendo de santo, muito longe disso, mas é que certas coisas, quando acontecem, deixam-me totalmente embasbacado. Onde raios eu, Min Yoongi, fui amarrar o meu porquinho? Não sei, se bem que eu acho até que esqueci de amarrar. 

Em adição a tudo o que eu eu falei, tem uma coisa que eu queria deixar muito bem clara, assim como a luz que vem da janela pela manhã num dia ensolarado: eu admito, com muita dor no coração e com todo o meu orgulho totalmente ferido, que fui extremamente burro. Primeiro: era pra eu ter saído dali na hora em que eu senti um vento estranho, porque, se o lugar estava fechado, de onde raios eu ia esperar que um vento viria? Sem lógica, ‘né? Pois é. Segundo: quem, em sã consciência, vê um pó suspeito e pensa: “ah, por que não dar uma fungada só para ver que cheiro isso tem?”

Min Yoongi é uma besta quadrada. 

Então, após aquele negócio purpurinoso entrar por minhas vias nasais — eu juro que não foi uma fungada monstruosa, juro pelo porquinho, não esqueçam do porquinho —, houve um breve momento em que tudo em minha volta se manteve quieto, calmo demais; minha cabeça ficou levemente mais pesada e, por cerca de uma fração de segundo, eu vi tudo cor de rosa — la vie en rose, rapaziada. Não tive sequer um minuto para raciocinar o que estava havendo, porque, assim que a porta da salinha se abriu e eu olhei nos olhos do policial, meu corpo simplesmente saiu andando contra a minha vontade. Gente, eu não estou brincando, foi estupidamente desesperador, foi como se eu somente estivesse ali como um telespectador da minha própria vida, o que é o bastante para deixar qualquer um visível e terrivelmente atordoado. 

Meu corpo saiu andando pelos corredores, seguindo o policial. E eu apenas via tudo calado, tendo a esperança de que aquilo ia acabar logo? Não, eu fiquei berrando dentro da minha própria mente. A minha boca, da qual saíam as minhas verdadeiras palavras, as que eu realmente queria dizer, transformou-se em uma fonte interminável de palavrões. A minha vontade era de chutar meus próprios pés, para ver se eu acordava com o impacto que minha cabeça receberia quando fosse de encontro ao chão, mas eu estava de mãos atadas, de pés atados, com tudo atado, servindo de hospedeiro para o efeito misterioso e curioso de um pó que eu cheirei por puro instinto acadêmico e científico — só gostaria de ressaltar que nem mesmo mão, pés ou corpo o verdadeiro eu tinha, okay? Porque eu virei praticamente uma voz, não um corpúsculo microscópico dentro de uma mente maravilhosa de incrível. 

— Senhor Min Yoongi, certo? — perguntou o policial bonitão, que estava sozinho comigo naquela salinha de interrogatório. 

Primeiramente, eu digo que não sou senhor, mas compreendo a formalidade. Segundo, eu digo que meu corpo, diante de tal situação, diante de uma simples pergunta, graças aos céus, nada mais fez do que deixar minha cabeça assentir com um leve movimento. Eu até achei que esse meu corpo com mente esquisita ia colaborar comigo, mas foi só chegar a segunda pergunta que eu tive a certeza de a minha esperança era totalmente dispensável. 

— Yoongi, preciso que me conte exatamente o que você viu acontecer, está bem? — Ele levantou a sobrancelha de um modo tão, tão belo que, se fosse realmente eu ali, na frente dele, com certeza ia tremer na base como um Pincher. — O que aconteceu na exata hora em que os criminosos entraram no banco? Se você souber, pode me dizer? 

Gente, desculpa, mas eu ‘tô falando muito, muito sério. Aquele policial era um espetáculo completo, com direito a pipoca e refrigerante de graça. Deixou-me estupefato com tamanha graciosidade enquanto falava utilizando de sua voz grave e profunda, enquanto fazia gestos com as mãos e exibia um olhar sério para mim — tão sério e tão formal, tão enérgico e curioso que eu cheguei a sentir o efeito mesmo sendo só uma voz em algum lugar vazio da minha própria cabeça. 

Bem, voltando à história, em vez da minha boca original responder o que eu de fato sabia do roubo, ela simplesmente preferiu formar um lindo biquinho e começar a assobiar uma música qualquer da minha dourada infância. 

Eu confesso que, mesmo estando super errado, eu amei ver a cara de confusão que o policial fez. Até que ele era bonzinho, porque preferiu ignorar meu assobio e partir para a próxima pergunta. 

— Tudo bem, tudo bem. — Passou a língua pelos lábios, suspirando pesado. Acho que ele percebeu o quão difícil seria me interrogar. 

Vocês podem estar se perguntando o porquê de eu não ter falado o nome dele — podem ou não, eu não sei. Bom, o fato é que, apesar de eu te mencionado antes que era sempre a mesma coisa depois de um assalto (os caras vinham, levavam a gente ‘pro interrogatório e depois deixavam-nos ir para nossas casas), eu nunca, nunquinha na minha vida, jamais mesmo, tinha visto aquele indivíduo. Eu tenho plena noção de que saberia se tivesse tido o prazer de vê-lo antes, e, além do mais, na parte em que estou na minha linda narrativa, não me cabe dizer o nome do felizardo. 

— Yoongi, você sabe a hora em que o roubo começou? A hora em que eles invadiram o prédio? 

A minha vontade era de gritar “três e meia”, mas vocês estão cientes de que não foi isso que aconteceu. Bem, o que aconteceu foi que o meu lindo corpo decidiu que olhar o bonitão com um sorriso safado seria um coisa incrivelmente normal e boa a se fazer depois de uma pergunta, então ele assim o fez. Ainda, eu acho que só olhar com cara de mal sedutor para o Mrs. Lindo na minha frente não foi o bastante para o feitiço que estava em mim, tanto que, após sorrir como o safado que eu não sou e olhá-lo com um “olhar de gavião”, meu corpo decidiu falar algo pelo qual eu, se tivesse sido de fato eu falando, ficaria com uma puta vergonha colossal. 

— A mosca decidiu cumprimentar a tora. Que horas são? 

Patético! 

E, para incrementar ainda mais o combo, a cara de pateta sonolento que eu tinha naquele momento deixava-me com uma aparência super, ultra, mega idiota. Eu parecia muito entorpecido. Caso ainda não tenha ficado bem esclarecido, aquela cara de sono era o resultado dos meus esforços para parecer sexy.

Eu, no momento de agora — enquanto narro os fatos de um jeito simplesmente perfeito, obrigado —, aposto o meu rim esquerdo que ele estava pensando que eu tinha tomado umas birinaites ou dado um tapinha, mas eu juro por todas as santas moedinhas guardadas dentro do meu porco que eu só estava preso dentro da minha própria mente, vendo o meu corpo, minhas cordas vocais e a minha linda boquinha sendo controlados por um tipo de droga mágica muito pesada, a qual eu não fazia uma única ideia sequer de onde havia partido. A minha vontade era de gritar: “não, moço, eu não tomei umas birinaites e nem fumei, eu apenas estou drogado totalmente contra a minha vontade, então, embora eu não possa decerto expor os fatos, eu ‘tô te explicando ‘pra depois você não dizer que eu não te avisei, e que isso fique estupendamente tão claro quanto a luz que vem do meu celular no meio da madrugada, quando eu ligo a tela e esqueço que o brilho ‘tá no máximo.”

— Oito horas? 

E, nesse incrível momento, eu não soube distinguir se ele estava sendo cínico o bastante para me dar uma resposta correta e óbvia, exibindo um olhar que, por mim, foi considerado como sendo um olhar que se espera de alguém que se acha superior, ou se ele estava realmente respondendo à minha pergunta com uma outra pergunta, de uma forma séria. De qualquer maneira, a minha resposta desclassificou qualquer chance minha de parecer menos idiota e ganhar um crédito de gente mentalmente saudável e estável com o bonitão. 

— Não, doçura, porque oito horas nem existe. — E eu simplesmente sorri de um modo fofo, como se eu tivesse acabado de explicar a uma criança sobre algo que ela não sabia. 

Santo pai dos porquinhos de moedas, eu chamei o cara de “doçura”! 

Eu devia, eu tinha a obrigação de ter usado mais meus dons de sabedoria e noção antes de respirar aquele troço nocivo à sanidade. 

— Olha, eu não estou dizendo que você está embriagado ou algo do tipo, uh? Longe disso, porque eu não devo tirar esse tipo de conclusão sem um exame médico, mas o seu depoimento não está claro o bastante, entende? — Ele foi muito compreensivo com alguém que não estava cooperando. Eu merecia? Em parte. — Precisamos de detalhes mais precisos, mais importantes do que o que aconteceu quando a mosca cumprimentou a tora, então precisamos da sua colaboração. — Daí ele e me olhou gentilmente, exibindo um sorriso que tinha a mistura de gentileza com pena. 

Gente, é óbvio que eu continuo até agora apostando meu rim na tese de que ele achava que eu estava embriagado, porque não tinha outros motivos para ele justificar a minha história da mosca contada num momento sério. E, além do mais, pelo fato de eu trabalhar num banco, ter o mínimo de sanidade é um dos requisitos, então ele achou sim que eu tinha tomado umas birinaites ou fumado algo extremamente pesado no expediente para que minha cabeça estivesse confusa daquele jeito — pensamento muito errôneo, porque, apesar da minha evidente postura duvidosa, eu tinha e tenho a maior cara de santo, e quem concorda, respira. 

Eu custei ‘pra me safar, sabem? Não foi fácil ver seu próprio corpo pagar de bobo na frente de alguém bonito. A gente, geralmente, costuma evitar dar esse tipo de mancada no dia a dia, então, ‘pra mim, ver-me naquele estado era totalmente desesperador. Eu posso até tornar esse conto um pouco cômico, mas eu juro pelos deuses que, apesar da zoação, eu fiquei numa situação totalmente horrível e desejo não passar por isso novamente. 

É nóis!


Notas Finais


Galera, eu queria dizer que agradeço e serei eternamente agradecida a todas as pessoas que me ajudaram e que me ensinaram um montão de coisas, então vamos lá!

Queria agradecer a uma pessoa que aguentou a minha pachorra na arte de pensar: @felicatus, obrigada por ser tão educade e ser tão amorose comigo sempre. Obrigada por sanar minhas dúvidas bobas quando eu precisei e por me manter a par de tudo quando eu ficava perdidona.
@semaaash, obrigada pela capa estupendamente sensacional que você arquitetou, porque olha… tenho certeza que palavras não descrevem totalmente a minha satisfação e o meu agradecimento.

Agradeço também à equipe de betagem: @inrealspace, @blobfish, @miyushi, @Usfuckng, @Nepturn_, @Wisepack e @btsletters, agradeço profunda e imensamente pelo trabalho sensacional e tão legal de vocês.

Agradeço também a toda a administração do galaxiataegi, porque, durante toda a minha vida, eu nunca consegui ver tanta gente show de bola, tanta gente simpática em uma única equipe. Obrigada por tudo!


PRÓXIMO CAPÍTULO AMANHÃ!!!! 💜
off @galaxiataegi: a @finity é uma doçura de pessoa, fiquei soft, é isto


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