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História Seven - No escuro do cinema.


Escrita por: cryomancer

Notas do Autor


Boa leitura!

Capítulo 11 - No escuro do cinema.


                                                                        Ato I


             Sakura

— Quem? – ela perguntou, me lançando um olhar míope.

— Evelyn.

— Eu só conheci uma Evelyn em toda a minha vida, ela era uma cadela. Por quê?

— Seja quem for, voltou. – eu disse, sentando-me numa poltrona escura.

— Não sabe o quanto torço para que esteja enganada.

— Ela estava no clube, hoje cedo. Naruto pareceu surpreso em vê-la, disse que ela era doente.

— Homens gostam de cuspir no prato que comeram. No caso dela, foram os quatro.

— Como assim?

— O quarteto fantástico que conhece... os meninos da banda. Eu costumava chamá-la de Eve Corrimão porque tinha motivos para tal. Não sei o que aconteceu entre ela e o Sasuke, mas desenvolveu um tipo de obsessão por ele. – a ruiva suspirou, parecendo se divertir ao falar sobre o assunto – Quando o Velvet começou a fazer shows sérios, ela vivia junto deles dizendo ser a empresária da banda, e eles a deixavam cantar de galo porque nos intervalos das apresentações, ou em qualquer outra hora que quisessem, Eve Corrimão estava lá para sanar as necessidades carnais de todos.

— Eles dividiam uma mulher entre os quatro? – eu questionei, sem acreditar.

— Eu estava tentando ser mais delicada com isso, mas já que prefere falar assim, que seja.

— Nossa...

— Então um belo dia, no caso uma bela noite, o Naruto estava fazendo um solo de guitarra durante mais de dez minutos, e quando os rapazes voltaram para o camarim, a Evelyn disse ao Sasuke que estava grávida dele. Bom, tudo que ele respondeu foi: “Tudo bem, quando eu estiver livre nós vamos a uma clínica fazer um teste de DNA. Se for meu, assumo.” E foi uma postura ótima, totalmente entendível, já que é da Corrimão que estamos falando, só que ela não aceitou a incerteza dele e começou a quebrar tudo dentro do camarim. – ela maneou a cabeça positivamente, muito provável em meio as risadas que dava diante de minha expressão facial – Não sei como aconteceu direito, o Sasuke tentou segurar ela, só que não conseguiu conter tamanha loucura sozinho, e quando Neji e Deidara apareceram para ajudar, algum deles dois a empurrou sem querer e ela se machucou. A garota nem quis ir para o hospital, foi direto para a delegacia ameaçando dar queixa do Neji, e o Sasuke deve ter falado com tanto jeitinho que ela desistiu da ideia depois de passarem a madrugada inteira lá dentro esperando.

— E a criança? – perguntei, preocupada.

— Bom, depois do que aconteceu ela deve ter resolvido se dar valor, e decidiu ir embora. Foi para Beaumont.

— E a criança, Karin?

— Depois que se viu sem esperanças, sem um idiota do qual sugar o sobrenome e dinheiro, ela abortou o feto lá, e ninguém nunca soube de quem, realmente, era o filho. Poderia ser de qualquer um dos quatro, a verdade é que nem ela sabia quem... só tentou o Sasuke primeiro porque parecia realmente apaixonada por ele.

— Ainda é.

— Bom, nem tudo é um mar de rosas, não é? Eu tentei dar uns conselhos, disse a ela que fizesse os testes com os quatro rapazes, só que ela não quis, parecia que apenas o Sasuke era o alvo, e como ele reagiu de um jeito inesperado para ela, foi embora. E agora voltou, infelizmente.

— Então essa mulher abortou um filho porque o homem o qual ela pensava ser o pai pediu um teste? Que tipo de ser humano é esse? – questionei, perplexa. – Ela fez isso usando remédios?

— Não, se jogou de uma escada. E quando estava prestes a se jogar, ligou para o Sasuke. Por isso eles acham que ela é louca, e têm motivos para isso.

— Até eu acho que ela é louca!

— Vou pensar em alguma malandragem para que ela volte para o lugar do qual nunca deveria ter saído... ela pode te atrapalhar, e muito. – Karin bufou, ajoelhando-se na minha frente – Bom, eu quero muito ir dormir, mas antes preciso saber como está o relacionamento de vocês dois.

— Nós dois quem?

— Você e o peixinho. Sasuke.

— Eu não tenho relacionamento algum com ele, por que teríamos?

— Por que se beijaram? – ela revirou os olhos. – Você é estupida, precisa aprender a viver e enlaçar aquele cara de vez! A amizade pode ser uma consequência do amor, e se você cultivar algum relacionamento com ele, vai saber dos segredos dele, e ele vai te abraçar muito, ou seja, missão cumprida! Pense nisso.

— Quando foi que meu desafio mudou de “descubra o segredo dele” para “namore com ele”?

— Fecha os olhos, Sakura.

— Hã? Não!

— Fecha os olhos. – ela tapou minha visão com a palma de sua mão, e fiquei observando a escuridão, exceto pelas fendas mínimas entre seus dedos. – Certo, estão fechados?

— Estão.

— Agora imagina o Sasuke com aquela roupinha de lobo mau, só que em um quarto nota mil, meia luz, velas aromáticas, morangos e chantilly, e vinho. Imagina ele tirando aquela capa, depois a camisa e vindo para cima de você munido com aquele corpinho de nadador e todas aquelas tatuagens adoráveis que ele tem! Está imaginando?

Eu bufei, mas só porque eu realmente estava pensando naquilo. Montando mentalmente toda a cena descrita por ela na minha cabeça de um jeito que fazia com que eu me surpreendesse em como o fato de “eu não querer” não me impedia em fazer, ou no caso pensar nas coisas mesmo assim.

— Estou, Karin.

— Então ele começa a te beijar e você pode ter livre acesso para tocar seu corpo inteiro, vocês estão sozinhos, ele começa a sussurrar coisas sujas no seu ouvido com aquele sotaque e...

Quando a porta se abriu, ela sobressaltou e caiu de bunda no chão.

Eu fiquei imóvel, em um momento minha imaginação estava à todo vapor e depois a magia é interrompida por... por ele mesmo, o personagem principal de meus devaneios.

Acho que eu estava tão presa no mundo fictício que Karin criou para mim que não pude ouvir o ronco da moto dele, porque, acredite, se eu houvesse escutado, não passaria por um momento constrangedor daqueles.

Ele olhou para nós duas, e a ruiva rapidamente levantou-se do chão.

Eu torci para que alguém dissesse alguma coisa, e como um anjo, Naruto descia as escadas, tendo acesso à sala.

— Vim buscar minha cesta! – ele nos olhou, rindo.

Só que logo percebeu a presença do amigo.

Sasuke já estava vestido normalmente, escondendo o corpinho escultural que tive a chance de ver hoje.

— Soube que deu uma de Moisés, abriu as águas e ainda passou desfilando por elas, NZ. Meus parabéns! – Karin o provocou, ácida.

— Foi, obrigado por não ter ido. – ele respondeu simplesmente, deixando a mochila escura sobre o acento do sofá.

— O que não me impediu de saber que Eve Corrimão esteve lá!

E então, como se um juramento satânico houvesse acabado de ser proferido, Sasuke ergueu um olhar petrificante em direção a Karin.

Ele desviou a atenção ao Naruto em seguida, que com os fortes braços ao redor da cesta, estalou a língua, como se houvesse sido flagrado em um ato vergonhoso.

— É verdade? – o baterista inquiriu ao amigo, que desviou o olhar, encabulado.

— É, Sasuke.

E então, com uma expressão facial bem diferente da que eu vi hoje cedo, ele encarou Karin, que manteve o sorriso sarcástico nos lábios.

Em seguida, ele olhou para mim, e engoli em seco.

— Sakura, quero falar com você.

Fiquei em sérias dúvidas entre me esconder atrás da poltrona e fazer o que ele pediu.

Só que ele havia acabado de ser fatalmente provocado, e eu estava lá, ou seja, podia tranquilamente ter pensado que eu havia dito sobre a maluca, só que eu nem sabia sobre o passado dos dois.

Se ele me perguntasse, eu negaria até a morte.

Sasuke já estava subindo as escadas quando decidi recobrar o fôlego e o seguir.

Naruto e Karin continuaram lá, então tive certeza de que ele reclamaria muito com ela por acabar com “o dia mágico do Sasuke”.

Cada degrau que eu subia parecia mais um passo em direção a minha morte, só que concluí que seria melhor manter a calma, afinal pensamos e argumentamos melhor quando calmos.

Esperei que fôssemos conversar no corredor, só que ele nunca seria idiota o suficiente para dar a Karin ou a Naruto a chance de ouvirem o que falaríamos, então ficou esperando, enquanto segurava a porta, que eu entrasse em seu quarto.

E quando dei o primeiro passo adiante, pareceu que um novo mundo se abrira diante de mim.

Enquanto o quarto do Naruto mal tinha dez centímetros de espaço livre no chão, o dele era plena e quase angelicalmente organizado.

A cama de casal estava arrumada, só não tinha os lençóis dobrados. O criado-mudo ao lado desta também encontrava-se vazio, exceto pelo abajur e um livro grosso que ele provavelmente lia antes de dormir. A porta da suíte estava trancada, mas havia uma televisão grande chumbada à parede, com um videogame no chão e dois joysticks sem fio.

Sasuke segurou um pequeno controle, apontando-o rapidamente em direção ao ar-condicionado, que ligou rapidamente.

Eu cruzei os braços, aflita.

— Você contou a Karin sobre a chantagem? – eu devo ter feito uma careta tão exagerada ao ponto de fazê-lo se explicar direito – As coisas que te falei. Você disse a ela?

— Claro que não! Isso iria te prejudicar, não iria?

Sasuke me fitou em silêncio durante alguns segundos. Ele se sentou em sua cama, cruzando os dedos das mãos; parecia pensativo.

— Ela quer que eu te leve para sair outra vez.

Uni as sobrancelhas, estarrecida.

— O que? Como assim?!

Sasuke suspirou, passando a língua pelos lábios.

— Não foi o bastante... o beijo, não foi suficiente.

— É da Karin que estamos falando aqui, Sasuke. – dei de ombros, ajoelhando-me na frente dele – E você não precisa fazer isso, sabe que não. Eu poderia te acobertar, se não quiser, ela não vai descobrir se não for comigo, e isso é apenas um detalhe inútil perto do que você sabe sobre ela.

Ele me encarou, depois piscou, desviando o olhar.

— Sabe, eu te impediria de chantageá-la de volta, mas o que Karin está fazendo não é legal, e mesmo que beneficie a mim, eu não posso fechar os olhos e tratar isso como certo. Sinta-se à vontade.

Nem tive tempo de respirar depois de terminar de falar.

Agora ele estava olhando atentamente para mim, enquanto eu tentava digerir a arapuca na qual eu mesma havia me colocado, simplesmente por falar demais.

“E mesmo que beneficie a mim, eu não posso fechar os olhos e tratar isso como certo.”

“E mesmo que beneficie a mim...”

— Sakura, você tem alguma coisa a ver com esta situação? Você pediu a Karin que fizesse isso?

— N-n-n-não! Não, eu... não! – parei para suspirar bem fundo, sentindo meu pulso tremer – Eu não pedi! Eu sei que parece estranho, sei que o fato de ela ser minha amiga e estar fazendo isso com você parece culpa minha, mas não é! Por favor, acredite.

— Tem que concordar que é bem estranho... você sabia meu nome quando não fomos apresentados, me perseguiu como uma maluca... parece que...

— Não! Eu não gosto de você, tá bom?! – exclamei, perdendo o controle sobre minhas pernas e me sentando no chão, olhando-o por baixo – Só lembra das partes que te beneficiaram, mas esquece que dei um tapa na sua cara.

— É, me deu um par de baquetas caríssimas também, e me beijou quando fui bem claro que não era preciso. Sério, você vai negar que eu tenho motivos de sobra para achar que Karin está obedecendo a ordens suas?

— Olha, Sasuke, quer saber? Você tem tudo que precisa para se ver livre de mim o resto da sua vida! Esta conversa não é mais necessária!

Então me levantei totalmente irritada.

Ele realmente tinha motivos para achar que eu poderia pedir a uma amiga que o chantageasse para sair comigo, mas por favor, eu o contei um segredo da Karin que ele não precisava saber, algo que pode o livrar do fardo de estar comigo... que pessoa faria algo assim?

Quando puxei a maçaneta, a porta não veio, e grasnei zangada. Estava trancada!

Então me virei em sua direção, vendo que ele continuava me observando com aquela cara de tacho altamente irritante.

— Sasuke! Pode abrir a porta?!

— Não vai dar... nossa conversa não acabou ainda. Você pode voltar aqui e tentar ser civilizada?

— Rapaz, eu poderia te...

— Vamos supor que eu decidisse chantageá-la de volta, ela iria surtar, mas ia dizer que eu estava enlouquecendo e que era uma mentira absurda, então, eu iria falar com o Sai e dizer o que eu sei. Você sabe qual a primeira pergunta que ele me faria? “De onde você tirou isso”, e o que quer que eu responda? A verdade? Porque se eu disser que você me falou isso, ele vai acreditar e ir tirar satisfações com a Karin, que a julgar pela maneira desesperada com a qual a ameaçou no dia da cabine, vai acreditar, e então a amizade de vocês acaba totalmente. Então, proporcionalmente, eu tenho mais você em minhas mãos do que ela.

Franzi o cenho, sem acreditar nas palavras que estava ouvindo.

Ele era um canalha!

Eu estava tentando o ajudar, e então ele faz um raciocínio totalmente coerente que pode acabar com a minha vida aqui em Los Angeles.

Tudo que eu não precisava era que aquele joguinho se voltasse contra mim, e acabou acontecendo da pior maneira possível, porque enquanto eu pensava ser mediadora em uma guerrinha de egos entre Karin e ele, acabei me enforcando junto.

— Você está me ameaçando? – perguntei, embasbacada.

Ele estalou a língua, maneando a cabeça negativamente com impaciência.

— Não, Sakura. Vai ser um banho de sangue se eu fizer isso... olha, a Karin sabe mais de mim do que deveria, e mesmo magoada com você, caso eu decidisse “jogar a merda no ventilador”, ela não teria nada a perder, se não contar o que sabe sobre mim. Eu não quero isso.

— Ótimo. É bom que tenha a perder com isso, assim eu não sou a única.

— O que eu quero dizer é que dependendo da rota que decidirmos seguir, você e eu vamos sair encrencados nisso, entendeu?

Maneei a cabeça positivamente, parecendo finalmente estar acompanhando o raciocínio dele.

Eu estava em onde ele queria, e honestamente, ainda não entendia como nós dois éramos “aliados”, e Karin, mesmo sem saber do que acontecia, estava totalmente segura.

Eu não estava zangada com ela, no fundo, só decidiu me ajudar de maneiras impróprias. Eu estava zangada comigo por me deixar levar pela ira e falar demais na cabine.

Agora eu estava nas mãos do Sasuke, e ele estava nas mãos da Karin.

Era como um castelo de baralhos mantido em perfeito equilíbrio, mas se qualquer um dos lados caísse, todo o resto desmoronava, então achei melhor ouvir tudo que ele tinha a dizer, e fazer o que fosse melhor.

— Entendi. Então o que quer fazer?

Perguntei, e vi que me analisava enquanto eu esperava sua resposta.

Ele passou a mão pelos cabelos, parecendo intrigado.

— Para onde quer ir desta vez? – perguntou.

Arqueei as sobrancelhas, sem entender direito.

— Como assim?

— O encontro, Sakura. Para onde quer ir desta vez?

Pensei seriamente em dizer algo sobre a palavra que ele havia usado. “Encontro”. Mas preferi não fazer muito alarde da situação, principalmente porque ele provavelmente nem percebeu que disse aquilo.

— O lugar realmente não me importa, contanto que seja possível chegar lá de carro ou ônibus, por mim estará tudo bem.

Vi as bochechas dele se encherem de ar, e Sasuke bufou, encarando-me com tédio.

— Não vou pedir o carro do Naruto emprestado, e muito menos pagar passagens de ônibus. Se você acha que vai me fazer ir a algum lugar sem minha moto, só pode estar fora de si.

— E por que não comprou um carro, droga?!

— Já disse, são lentos.

— Sasuke... por favor, eu estou começando a ir com a sua cara, não estrague tudo!

— A cada vez que você fala algo idiota sobre minha moto, também está estragando tudo.

Fechei os olhos ao suspirar, tentando não ficar irritada. Era quase impossível, beirava o inalcançável.

— Tudo bem. Promete que vai devagar, pelo menos.

— Quando pode ir?

— A questão aqui é quando você pode ir, você que é ocupado, tem que treinar bateria, natação e sei lá mais o que... você decide.

Sasuke deitou-se em sua cama, debruçando o corpo para o lado direito desta e abrindo uma gaveta.

Quando ele fez isso, o tecido de sua blusa ergueu-se, e eu pude ver a tatuagem de relance. Foi um movimento rápido, e não tive uma visão tão boa assim.

Logo ele se sentou na beirada do colchão, abrindo um jornal, que cobria sua visão de mim.

Ele demorou alguns segundos, e comecei a observar a manchete sobre um assalto que havia ocorrido no principal banco da cidade. Realmente, aquele desafio, a vida que eu vivia estavam me ocultando a realidade. Não fiquei nada feliz em constatar aquilo.

— Vai ter uma sessão às sete amanhã. – ele comentou, fechando o periódico para olhar nos meus olhos. Só que eu estava tão atenta à notícia que pigarreei, concentrando-me nele.

— Eles tem sessões o dia inteiro. – eu disse – Se o filme começar nesta hora, vamos sair de lá bem tarde, e você já é suicida o bastante naquela moto.

Ele abriu o jornal outra vez, e ouvi o suspiro pesado que dera.

— Só que o melhor filme amanhã vai passar às sete horas.

Então finalmente entendi.

Ele queria assistir o filme que passaria às sete horas, o que diferia de sugerir uma participação minha na escolha.

Sasuke estava, indiretamente, definindo sozinho o nosso encontro amanhã, e fiquei me sentindo avulsa, quase como uma boneca de plástico que não tem vez, nem voz.

— Olha, também não precisa ser amanhã. – eu disse.

— Na terça eu tenho o último treino de nado da temporada, quarta eu e os meninos vamos conversar com o Ricky e quinta vamos definir o setlist da gravação do show.

— Quem é Ricky? – perguntei.

— Ricky é o dono da hamburgueria que fomos juntos, o gordo.

— Ah tá, ele levou a sério aquela coisa sobre vocês fazendo uma apresentação lá?

— Sim, por que não levaria? Eu levei. – ele ergueu os ombros, deixando o jornal sobre o colchão, ao seu lado.

— E vocês vão gravar um show? Isso sim é maneiro.

— Ainda estamos pensando nisso, é caro, mas vai servir como uma lembrança.

Arqueei uma sobrancelha.

— Lembrança? Como assim?

Sasuke mordeu o lábio inferior, parecendo desgostoso sobre tocar naquele assunto.

— Estamos pensando em parar nossas atividades como banda por um tempo.

— Por quê?! – indaguei, abismada.

— Porque não estamos mais conciliando a faculdade, a vida e a banda como antes. Cheguei ao quarto período, preciso estudar. O mesmo para Neji, Naruto e Deidara. É tolice continuar com isso, nós gostamos de música, somos bons juntos, mas simplesmente não tem futuro. É perda de tempo...

— Não, Sasuke. Não é perda de tempo fazer algo que se gosta. – ergui os ombros, percebendo indiferença em seus olhos escuros. – Olha só, eu desenho. Sei que não vou viver disso, mas gosto de desenhar, e não sinto como se estivesse perdendo meu tempo. Porque não estou.

— Cada um é cada um, Sakura. Você se sente assim, mas eu não.

— Foi você que propôs isso, ou surgiu de iniciativa coletiva?

— Eu sugeri que déssemos um tempo, eles prometeram pensar no assunto, mas só o fato de estarem tentados a isso já mostra que querem.

— Está sendo egoísta, Sasuke. – eu disse, sabendo que iniciaria uma discussão desnecessária.

Levantei do chão, sentando-me ao seu lado.

Ele provavelmente não esperava por essa atitude, mas achei que seria melhor, só achei. Porque quando olhei nos olhos dele a primeira vez, decidi que seria melhor brincar com meus pés.

— Não, eu estou sendo realista.

— Você quer que eles pensem como você, ajam de acordo com suas necessidades. Só que se decidissem continuar sozinhos com um substituto na bateria, você provavelmente ficaria zangado.

— Lógico que sim. – ele afirmou veemente, depois disso umedeceu os lábios com rapidez, empolgando-se com a discussão. – O Naruto é uma anta, ele não estuda, se continuarmos com a banda, isso só vai atrapalhar ele ainda mais. O Neji faz engenharia aeroespacial, ou seja, é quase como um curso que te suga a vida, e o Deidara tem aulas práticas de mergulho em seu curso de Oceanografia, ou seja, ele precisa ir à excursões com sua turma o tempo todo, e no período que se inicia agora, isso só aumenta. – ele me olhou atentamente. – Eu posso sim estar sendo egoísta, mas penso como se estivesse libertando todos nós para o que realmente queremos.

O argumento dele foi bom, na verdade, eu dificilmente poderia rebater aquilo.

Estávamos tendo uma discussão sensata, mas não pude responder imediatamente.

Eu continuei o observando mesmo assim, os cabelos finos dele brilhavam azulados com o brilho da luz , e sua barba estava crescendo na bochecha, rala.

Sasuke não estava usando o colar, talvez por medo de perdê-lo na piscina, mas tenho sérias desconfianças de que fui tola o suficiente para usar o objeto como desculpa para observar o pescoço dele.

Eu não gostava daquele cara, mas é viável admitir que a “tara” que sinto por ele, totalmente carnal e irracional, era quase absurda. Quase como se cada pequena coisa vinda do Sasuke houvesse sido especialmente projetada para me atrair. Irremediavelmente.

Só que na minha opinião, ele ainda estava sendo egoísta com os garotos. E não havia beleza no mundo que pudesse me fazer fechar os olhos diante daquilo.

Karin não estava brincando quando disse que o interesse dele por seguir carreira musical era nulo.

— Isso é o que você quer, Sasuke... o que você quer. Eu até entendo que assuma o papel de liderança na banda, mas não pode induzi-los a pensar seguindo a linha de raciocínio que você deseja que sigam. A música é uma paixão, não é? Se Naruto, Neji e Deidara desejarem seguir com isso, claro que, conscientes das consequências, não pode prendê-los a você.

— Eu sei disso, mas não...

— Você pretende se tornar um nadador profissional, Sasuke? – eu o perguntei, mantendo um tom de voz ameno, que pareceu desestimular qualquer irritação que ele pudesse sentir.

— Não.

— Então por que “perde tempo” nadando?

Sasuke ficou em silêncio, e eu sorri. Não de um jeito zombador, só sorri.

Caminhei em direção à porta, até que ele me interferisse outra vez.

— Eu ganhei dez mil dólares com a natação. – disse.

— Sim, mas perdeu no ano passado... e isso não te impediu de continuar praticando e ir com força total hoje. Você foi perfeito. É um mérito seu, mas se houvesse aplicado a lógica da “perda de tempo” quando foi derrotado antes, não teria conseguido vencer hoje. Espero que entenda onde quero chegar...

Outra vez, nada além do canto de passarinhos lá fora.

Sasuke se levantou, tirando o molho de chaves do bolso. Ele se aproximou de mim, e depois que seu pulso girou, destravando a tranca, ele não abriu a maçaneta, do contrário, continuou me observando por cima, até que eu adquirisse culhões para fazer contato visual com ele.

— O que a Karin te contou sobre a Eve Co... – ele fechou os olhos, estalando a língua – Sobre a Evelyn?

Engoli em seco, tentando parecer confiante por meio de linguagem corporal antes de sequer proferir alguma coisa.

— Nada. Pode ficar tranquilo. Vou estar pronta amanhã às sete em ponto.

Então pus minha mão sobre a dele, abrindo a porta.

No segundo em que a brecha foi o bastante para que eu passasse, eu fui, rápida como um foguete.

 

                                                                       (...)

                                                                       Ato II

Sakura

 Karin havia escapado do campus naquele dia para comprar um pequeno balde de batatinhas fritas, eram tão boas que me perguntei se estava pecando por gula ao lanchar aquilo no refeitório, durante o intervalo.

A propósito, ela estava ao lado do Neji, e de vez em quando trocavam uns selinhos carinhosos. O mesmo se aplica à Hinata e Kiba, que estavam em outra mesa distante, junto com Ino.

Temari havia arrumado alguma picuinha com Shikamaru, e por isso ficava resmungando um palavrão diferente a cada vez que olhava para ele (em intervalos imensos de dois em dois segundos) e o rapaz não estava olhando para si. Felizmente, Sai foi o sortudo que ficou ao lado dela.

Só que naquele dia, eu estava entre Naruto e Sasuke, e enquanto o primeiro me mostrava fotos de suas guitarras e palhetas prediletas em um tablet, o outro saboreava um azedo energético gelado, com fones nos ouvidos.

— Então esta é a Jojo, a última, mas não menos importante, afinal, foi com ela que aprendi a tocar. – ele sorriu, e seu dedo deslizou pela tela, possibilitando que eu visse outra imagem mais próxima da guitarra escura – Esta é um clássico, e eu quero passá-la ao meu filho, pois foi dada a mim por meu pai, e quando eu passar de geração, quero que esteja intacta, por isso não a uso muito. Mas é uma Gibson Explorer 120. Minha preferida!

— Realmente não conta com filhas, não é? – eu ri.

Ele parecia maravilhado com a simples foto de sua guitarra, por isso mal me desviou o olhar, resmungando um: “Uh? O que disse?” muito distraído.

— Herdeiras. Sexo feminino. Meninas. Realmente não conta com isso, não é?

— Hehe... – ele ergueu os ombros, desligando a tela do aparelho eletrônico em suas mãos – Bom, quem sabe depois que eu fizer uma vasectomia.

— Nossa, isso sim foi rude. – comentei, jogando outra batatinha na boca.

— Olá, queridos! – Hinata aproximou-se da mesa, sozinha, sorridente.

Todas as atenções da nossa mesa desviaram-se até ela.

Naruto foi rápido em passar o braço por trás das minhas costas e puxar o fone direito do Sasuke, que o olhou de maneira hostil, antes que o loiro gesticulasse com o queixo para a Hyuuga, que acenou sem jeito na direção de Sasuke.

O Uchiha bufou, retirando o outro fone.

— Bom, eu preciso voltar para lá, mas quero fazer um comunicado especial aqui! – ela esfregou as mãos, ainda sorridente – Bom, no próximo sábado, é comemorado o Dia do Amigo... – Hinata disse. Só que neste mesmo momento, Karin maneou a cabeça negativamente, algo que pensei em fazer, afinal, definitivamente não era verdade. –... Na Rússia! – vi que Neji e a ruiva entreolharam-se, e não foram os únicos. Deidara, Naruto, Sai, Temari, o próprio Sasuke e eu estávamos achando aquilo bem estranho. – E como a Rússia é tão importante para a história da humanidade, achei que não poderia passar em branco, e seria ótimo se nos juntássemos para um jantar maravilhoso feito por moi!. E então, o que acham? Vão estar livres no sábado a noite?

Agora tudo estava muito claro.

Karin ajeitou a coluna na cadeira, unindo as sobrancelhas nada discretamente na direção da morena, que parecia uma boneca com aquele sorriso medonho estampado sem interrupções no rosto enquanto esperava por uma resposta de todos.

Estiquei o braço, pegando três batatinhas de uma vez, e enchi a boca com elas.

A alegria de ser convidada para comer algo diferente junto de todo mundo se esvaiu quando me dei conta de que o jantar seria uma merda, com o grande intuito de fazer Naruto Uzumaki dispensá-lo. Ou seja, teria que ser muito ruim.

Só que a proposta inicial era que ela fizesse aquilo sozinha com o loiro, ou seja, Karin, Sai e Temari pareciam tão confusos quanto eu, e nos entreolhamos na medida do que foi possível, por nossas posições na mesa.

Era obrigatório que todos os membros do desafio pudessem presenciar o fato. Para isso ela precisaria fotografar e enviar, como Temari fez, mas ver Naruto cuspindo comida e fazendo caretas por causa de pêssego ao vivo seria demais, então me manifestei primeiro:

— Claro que sim, eu estou. Vai ser ótimo.

Karin inclinou o corpo para a frente, fugindo até do abraço do cabeludo para me lançar um olhar significativo. Então, a encarei, e bastou o contato entre nossos olhos para que eu a mandasse um tipo de mensagem mental e visual entre amigas.

“Sei o que estou fazendo...”

— Tudo bem, eu também estou livre. – e disse.

— É, não temos nada no sábado, e bem... a Rússia é legal, não é? Pelo menos as russas são. – Deidara se manifestou também.

Tenten chegou por trás de Hinata, e logo segurou os ombros do vocalista, abaixando a cabeça ao nível da dele, e olhando-o com um sorriso gigantesco, disse:

— Fico muito feliz que estará lá, Dei. Eu também vou!

Logo, puxou uma cadeira na ponta ao lado do Sasuke. Seu olhar era altivo, arisco.

— Um jantar? Porra, mas é claro! Poderia ser o Dia do Amigo em Cuba, e eu estaria lá sem problemas... – Naruto comentou.

— É, por mim pode ser também. – Neji proclamou calmamente.

— Temari não estará nas avenidas no sábado à noite, não é, querida? Vai ser um prazer tê-la lá sem acompanhantes masculinos. – Hinata provocou a loira, que foi calada por Sai. Aliás, presumi que sua provocação se referisse a Shikamaru, mas não dá para ter certeza.

— Vamos estar lá sim, com certeza! – ele determinou, aumentando o tom de voz.

Evitei olhar para o Sasuke, mas Naruto, outra vez batendo em mim ao exercer força nos dedos e empurrar o neozelandês, fez o mesmo que Sai.

— Sasuke Uchiha também estará lá. Vamos comemorar a vitória na competição com comida boa e amigos.

Quase senti pena do coitado.

Sasuke maneou a cabeça positivamente, e sem liberar sequer um sorrisinho simpático, olhou para Hinata ao confirmar sua presença com um “pode ser”.

— Então é isso, espero todos no Saint Monique Hall, às oito. O traje pode ser casual, estaremos entre amigos. Beijinhos!

Ela logo saiu, e supus que para se juntar a Kiba, Gaara, Ino e Shikamaru.

— Sua prima é realmente inteligente... eu não fazia ideia que se comemoravam essas datas na Rússia. – Deidara comentou, fitando Neji.

— É, parece que sim. Acho que é mais uma desculpa para cozinhar... não sei não... – ele dizia com um olhar desconfiado.

Karin o roubou um beijo rápido, e eles sorriram, trocando palavras e frases inaudíveis para nós.

E assim se passaram os próximos minutos. Sasuke não voltara a usar os fones, então bebia calado seu energético, enquanto todos nós comíamos no maior tédio.

Ainda faltava um bom tempo para o fim do intervalo, e Sai logo desocupou a garrafa na qual dividia Coca-Cola com Temari, para deitá-la horizontalmente sobre a mesa.

— Chega, que tédio. Vamos brincar!

— Brincar de que? – Karin perguntou.

— Que tal de não ficar beijando perto dos amigos a cada cinco segundos? – replicou, ácido. Inexplicavelmente, ele não trocou olhares com ela ao responder, o que me fez conter um riso – Vamos brincar de Jogo da Verdade.

— Sem desafios? Assim não tem graça. – Deidara disse.

— Rapaz, os meus desafios seriam bem pesados, então se quiser fazê-los aqui, em meio aos seus colegas de turma e pessoas munidas de celulares, não tem problema. – Sai respondeu – Seguinte, o fundo da garrafa se direcionará ao questionador, a parte com a tampinha, a quem responderá.

Tenten sentou-se mais confortavelmente, batendo palminhas. Um sorriso malicioso nasceu nos lábios de Temari, que sussurrou algo no ouvido de Sai rapidamente.

O branquelo girou a garrafa, e enquanto eu orava para tudo quanto era santo pedindo que não caísse em mim qualquer um dos dois lados, Tenten ficava se inclinando para os lados que a garrafinha mostrava tendência a parar, quando perdia a força.

Temari perguntaria a Karin.

— Manda a ver! – a ruiva disse.

A loira sorriu, e por algum motivo, olhou para mim antes de se pronunciar.

— Me diga, o que faria você perder a vontade de se declarar a um garoto o qual é interessada? – e perguntou.

A feição no rosto de Karin mudou completamente, e aproveitei a deixa para observar Temari, que sorria, e em seguida Sai, que estava com o queixo apoiado ao dorso da mão tranquilamente, esperando como todos nós a resposta dela.

Nem sei o que eu esperava, cochichos? Sai não fazia ideia do que acontecia na realidade.

— Bom, Temari, se ele fosse comprometido eu jamais...

O discurso dela foi interrompido pela gargalhada do próprio Sai, que erguia o dedo indicador em negação. Eu também não consegui me controlar e comecei a comer tentando parar de rir.

— Isso não te impediu, Kaká! – ele disse, ainda entre risos.

— Bom, logicamente, se ele tivesse uma orientação sexual que o impedisse de me corresponder também seria algo que eu levaria em conta. E só isso. – ela retomou o sentido de sua frase anterior, cruzando os braços.

Quando eu olhei para o Sasuke, ele estava atento à situação também.

Só que nem depois daquilo o Sai percebeu, do contrário, apenas girou a garrafa outra vez.

Os dois loiros da mesa trocaram sorrisos assim que ela parou. Deidara faria a pergunta para o Naruto.

— E então, cara, como sei que tem muitas histórias engraçadas, quero que me conte qual foi o momento mais constrangedor da sua vida. – o vocalista disse, enquanto seus dedos brincavam com o canudo de plástico dentro da latinha.

Naruto riu, e fiquei ansiosa para ouvir aquilo.

— Bom, tive vários momentos memoráveis durante a adolescência, mas o melhor deles foi quando perdi minha virgindade no ginásio. – ele parou para pegar uma das minhas batatinhas e comê-la.  Quando mencionou a palavra “virgindade” eu soube que uma grande merda estava prestes a ser anunciada. – Bom, era uma garota muito bonita que eu queria fazer amor doce durante muito tempo, então depois do Baile de Formatura, eu a levei para casa e ela me convidou para dentro, lógico que aceitei. Eu estava vestindo um chapéu de Papai Noel, e foi isso que causou uma brincadeira entre nós dois e então rolou. Só que... ela já tinha experiência no assunto, e eu era... como posso dizer... um “donzelo”...

O discurso dele foi interrompido por uma risada da Karin, e ela não foi a única, eu também ri, e o Deidara em seguida.

Naruto tinha uma expressão facial inexplicável ao contar aquilo, e as piores palhaçadas sempre eram esperadas que viessem dele, ou seja, ninguém podia conter a ansiedade pelo fato.

— Continua! – Neji o encorajou.

— Eu não queria fazer feio, mas era virgem, muita energia guardada, sabe?... Então foi o seguinte, digamos que eu estava por baixo, quase explodindo com a imagem daquela garota maravilhosa, e porra, eu realmente estava chegando lá, só que o que parecia uma eternidade para mim, era o começo para ela, então eu já estava tremendo quando decidi fechar os olhos e pensar em algo menos excitante, que no caso foi o elenco do Real Madrid na época...

A mesa inteira se explodiu em risadas.

Nem eu aguentei ouvir aquilo e ficar séria. Naruto apenas ria sem jeito, e assim que virei a cabeça na direção do Sasuke, vi que nem ele havia resistido. O punho fechado ocultava a boca, mas eu sabia que ele estava rindo.

— PORRA, CARA! EU TE AMO! – Deidara gritou, divertindo-se.

— É sério, a garota estava lá, no ritmo dela, eu estava morrendo, e ficava pensando o tempo todo: ”Casillas, Pepe, Kaká, Özil, Alonso, Di Maria, Granero...”, e quando eu achava que estava mais calmo abria os olhos, só que quando eu via aquilo, voltava desesperadamente: “Cristiano Ronaldo, Benzema, Higuaín, Khedira...”.

Deidara chegou a bater na mesa sonoramente de tanto que ria. Karin estava da cor dos cabelos.

— Naruto, somos amigos de longa data, eu não me surpreendia com você há um bom tempo, mas cara... – Neji bateu nas costas dele, rindo – Parabéns! Você é o maior filho da puta que conheço!

Ainda envergonhado, ele esperou que Sai voltasse a girar a garrafa, e então, de braços cruzados, sussurrou no meu ouvido:

— Que fique claro, hoje em dia eu não preciso mais disso...


                                                                                  (...)

                                                                    Ato III


              Sakura

— Você não acha que está muito curto não? – perguntei, fitando meu próprio reflexo no espelho.

— Nada disso, você está estonteante, minha amiga. – Karin comentou, sentada no leito da minha cama. – Vira, eu adorei esse detalhe de corte nas costas... um arraso!

Eu fiz o que ela pediu.

Karin se levantou e caminhou em minha direção, soltando o bobe grosso na minha franja, e ela caiu sobre meu rosto, modelada.

— Karin, eu não quero que ele perceba que eu me arrumei tanto assim. – eu disse, enquanto ela ajeitava meu cabelo.

— Ué, mas você se produziu toda!

— Eu não me produzi toda, toda mulher se arruma quando vai sair à noite. E tem mais, Sasuke sempre dá uma de “anjo da morte” quando está em cima daquela moto, ou seja, todo o seu esforço aqui vai para o ralo!

— Coloque o capacete, querida.

Ela amassou as ondas nas pontas das minhas madeixas, penteando-as com os dedos.

Logo, segurou meus ombros ao virar-me de frente para o espelho, e ficou me olhando com um sorriso no rosto.

— Obrigada. – agradeci.

— Você está arrasando, amiga! Pronta para o crime!

— Não é para tanto, porra.

Escapei de suas mãos, sentando-me no colchão para calçar as sapatilhas.

— Olha só, você é do tipo imbecil que gosta de dividir a conta? Por que se quiser posso te emprestar dinheiro. – ela avisou, agachando-se em minha frente.

— Eu não acho que vamos comer algo além de pipocas. – resmunguei.

— Eu estava falando do motel depois do cinema, sabe... – bastou que meu dedo indicador forçasse um pequeno empurrão em seu tórax para que ela se desequilibrasse, apoiando o corpo com as duas mãos. – É sério, Sakura!

— Por que não cala essa boca?

Eram seis horas e trinta e dois minutos quando abri a porta zangada e saí marchando pelo corredor até alcançar as escadas. Karin veio me seguindo, com seu perfume importado em mãos, espirrando-o em mim como se fosse água.

— PARA COM ISSO! – gritei.

Na sala de estar, Naruto e Sasuke conversavam sozinhos.

O loiro estava sentado confortavelmente no sofá vestindo uma cueca samba-canção estampada, enquanto Sasuke estava em pé, apoiado à porta, com os dois capacetes atrelados à seu antebraço.

Meu grito atraiu a atenção dos dois, e infelizmente, precisei aturar os olhares deles enquanto descia o último lance de escadas.

— Caralho, Sakura... – Naruto proferiu.

Eu sorri sem graça, desejando que Karin não fizesse nada que pudesse me constranger sob o olhar do gavião. Ele ficou me observando em silêncio, o cenho levemente franzido.

Sasuke abriu a porta para mim, e acenei para os primos, pegando um dos capacetes ao cruzar a saída.

Soltei o ar pela boca, sentindo o ar frio da noite, e olhei ao redor enquanto enfiava o objeto de segurança na cabeça. Uma suave neblina estava se formando no parquinho do condomínio, logo à frente da casa deles, e agradeci pelas mangas longas daquele vestido, só que não acho que seria o suficiente quando eu estaria em alta velocidade em uma moto de corrida.

Se já estava frio daquela maneira tão cedo da noite, previ que estaria azul e em estado de congelamento quando voltasse.

Ele não disse uma só palavra, e fiquei me perguntando se estava de mau humor, mas no momento em que precisei abraçar sua cintura para que fôssemos embora, não havia nada em minha cabeça além de vergonha e constrangimento.

Talvez ele estivesse zangado pelas coisas que o disse ontem, ou mesmo por estar sendo chantageado outra vez a sair comigo, e saber que tem um cara zangado, que não queria estar ali comigo foi totalmente degradante para mim. Eu tive a confirmação de que não deveria ter me arrumado tanto, dando-o a certeza de que eu me importava com minha aparência ao lado dele, ou até mesmo fazendo-o pensar que eu estava querendo ficar bonita para ele.

Vez ou outra eu soltava do agarre de segurança que exercia nele para puxar o vestido para baixo.

Aquela era a primeira e última vez que eu usava vestido sabendo que o meio de transporte usado seria uma moto.

Quando ele deixou a moto no estacionamento subterrâneo do shopping, foi um alívio. Então pegamos um elevador junto de outras duas pessoas, um homem e uma criança, até o piso principal.

Nós saímos diretamente próximos à praça de alimentação, mas achei que seria melhor apertar o passo, já que passavam das sete horas, e eu não havia comido nada durante aquela tarde, ou seja, ficaria responsável por um grande balde de pipocas.

Ele foi comprar os tickets enquanto eu continuava na fila das comidas. Os clientes eram despachados rapidamente, então não demorou até que fosse minha vez, então pedi duas barras de chocolates, um balde grande de pipoca e dois copos grandes de refrigerante.

Só percebi a merda que havia feito depois que me entregaram as bolsas com o pedido. Primeiro, Sasuke não comia doces, ou seja, aquelas duas barras seriam minhas. Segundo, eu pedi apenas um balde de pipoca, quando deveriam ter sido dois.

Ele não pareceu se dar conta daquilo quando se aproximou de mim. Nós dois caminhamos juntos pelo corredor em direção a porta da sala 003, e outras pessoas iam junto de nós.

Eu bufei assim que vi um pôster do filme que estávamos indo assistir.

— É sério que estamos indo assistir Vielas de Sangue: Trucidando o Inimigo?

— O primeiro filme foi legal, e eu estava esperando pela continuação. – ele disse, com uma calma irritante.

— Eu vi o trailer dessa coisa na televisão! Só vi sangue, luta, tiro e faca para tudo quanto é lado!

— Não é tão ruim assim, Sakura.

Foi uma idiotice deixá-lo tomar as rédeas de tudo.

Eu até gostava de filmes de terror, mas esses filmes de ação extrema onde o sangue salta como se fosse um chafariz não me atraíam em nada. Ou seja, assistir um filme infantil de desenho ou algo de horror teria sido muito mais rentável do que aquilo.

Só que como as pessoas do mundo tinham um gosto estranho, a sala estava cheia. Todas as cadeiras das primeiras filas estavam ocupadas, inclusive as do meio, então o que restou? O refúgio dos casais pervertidos que decidiam assistir filmes no cinema, sabendo que era dinheiro desperdiçado.

Ficamos na penúltima fila. Havia um velho sentado na ponta, e só. Atrás de nós, como eu disse, havia um casal, que soltava risadinhas enquanto alguns comerciais e trailers de outros filmes passavam.

Eu esperava que ao menos fizessem silêncio durante a trama.

Passei para Sasuke seu copo de refrigerante, e enfiei a pipoca no buraco destinado justamente aquilo no braço da cadeira, deixando-a entre nós dois.

Percebi que ele ficou olhando para aquele balde gigantesco, provavelmente com pensamentos rondando sua cabeça. “Beleza, essa aqui é a pipoca dela, mas cadê a minha?”

E eu preferi não dissertar sobre o assunto até que o filme começasse, e foi quando apontei para a comida e disse que aquela pipoca era nossa. Até inventei uma desculpa sobre falta de atenção da mulher que havia me atendido.

Só que ele parecia mais ocupado em saborear a bebida. De vez em quando pegava umas duas unidades de pipoca e comia, mas só, então fui a grande responsável por comer tudo até a metade do filme.

— Então a filha dele... você acha que vão persegui-la? – perguntei inocentemente.

Ele continuou com os olhos vidrados à tela grotesca. Mal piscava.

— Não sei... – respondeu.

— Mas o propósito não é justamente levar a garota para atrair a atenção do artista e matá-lo?

— Não, eles querem levar a garota para atrair o cara ao “Vielas de Sangue”, que é o torneio de luta estilo livre, onde apenas um sai vivo. Ele tem a chance de ganhar, mas acho que vão usar a menina como prêmio. – explicou – No primeiro filme, essa garota era apenas um bebê. Ele venceu o torneio, casou com a mulher do chefão do tráfico, e isso despertou uma rixa entre os dois... bom, então esta continuação se passa oito anos depois, quando o homem traído decidiu se vingar.

Ele realmente parecia gostar daquilo, e eu percebia a maneira frenética como suas íris acompanhavam as quedas, socos, tiros.

As pessoas naquela sala pareciam tão excitadas quanto ele, mas gritavam em cenas marcantes. Sasuke apenas acompanhava tudo em silêncio, porém estava atento.

Afundei na cadeira, agarrada ao meu copo de refrigerante. Eu estava sendo idiota o suficiente para arranjar uma maneira de gostar daquela coisa, por isso acabei com toda a bebida.

Então comecei a comer o chocolate, vendo dois personagens secundários se enfrentarem em uma luta emocionante.

Assim que um deles enfiou um machado no peito do outro, Sasuke me desviou um olhar, como se quisesse ver minha reação.

— Certo, mas ao invés de estar aí, por que ele não vai atrás da filha dele? – eu perguntei.

— Ué, ele precisa assistir a luta para saber o estilo dos outros oponentes.

— A filha dele pode estar sendo maltratada, estuprada, torturada e todo tipo de coisa ruim, e ele continua aí... só em filme mesmo.

Bufei, sentindo um desconforto na coluna pela maneira como estava sentada, então ajeitei-me melhor na cadeira.

— Você teria ido sozinha até o fundo da colmeia? – ele me indagou.

— Lógico, se minha filha estivesse nas mãos de um psicopata maligno, eu iria sim!

— Ele passará honrado assim que vencer o torneio... por que se arriscaria em enfrentar sozinho um monte de capangas loucos para matá-lo? – ele desviou o olhar até mim, esperando resposta.

— Porquê a filha dele está lá, ele não sabe com quem está lidando. E se o torneio for uma mentira? Se a garota já estiver morta?!

— Isso é um filme. Não se esqueça.

— Um filme sem sentido.

Sasuke permaneceu olhando para mim, e eu não sabia bem a razão, foi estranho.

Fiquei bem surpresa e sem jeito.

— Está sujo. – ele disse.

— O que?

— Seu queixo... está sujo.

— Não! Sério?

— Ahã, aqui. – ele apontou com o dedo a área entre seus lábios e o queixo.

Depois que me mostrou no próprio rosto a área suja no meu, fiquei esfregando o polegar no queixo como uma idiota, passando mais vergonha ainda. Era chocolate. E o pior de tudo é que eu havia dado meu melhor para comer com classe, sem me sujar, e claro que evitar passar por aquilo.

— Obrigada por avisar. – agradeci, enquanto espiava muito mal meu reflexo na tela do celular, já que aquele lugar era completamente escuro.

— Sabe, Sakura, nunca entendi o motivo de ter feito aquilo na festa.

Então arregalei os olhos, vendo os dentes do cara no filme voarem até o chão.

Existia ilusão de ótica, mas será que havia ilusão auditiva também? Eu havia mesmo ouvido aquilo?

— Bom, todo mundo sabe que mentir é pecado, então por que mentir se poderíamos falar a verdade? – respondi, fingindo ainda remover a mancha de chocolate. – Foi rápido e indolor, mas se você não queria, desculpa.

— Você realmente acredita nisso?

— Nisso o quê?

— Nisso que diz para tentar enganar a si mesma, Sakura... acho que nunca se importou antes com o quão grave era mentir. – ele sussurrou.

Eu ri, e assim que virei a cabeça em sua direção, foi o momento exato em que ele fez o mesmo. Estávamos perto demais, mas minha cabeça estava tão quente por seu preciosismo que simplesmente o encarei.

Como estávamos dentro de um cinema, falei bem baixo.

— Não vai começar com seu complexo de Super-Homem, vai? Porque se for, me avise, assim eu posso sair. Acho que fui bem clara quando disse que o universo não gira em torno de você, e ao contrário do que pensa, eu me importo sim.

Ele riu com descrença, apoiando o cotovelo ao braço da minha cadeira.

Sasuke chegou bem perto de mim, com todo aquele ar de superioridade que me tirava de sério, e então sussurrou no meu ouvido:

— A mãe do Naruto provavelmente discordaria disso se soubesse a verdade... você ainda lembra, não é?

Eu fechei os olhos, louca para puxar os cabelos dele e causá-lo muita, muita dor.

Eu havia sim mentido para a mãe do Naruto, mas foi unicamente para defendê-lo.

Ele, sempre ele. Sempre sendo gentil com ele, sempre o livrando de suas mancadas, sempre engolindo seus “sapos”. Aquele desafio estava me levando à beira da loucura, porque eu estava fazendo coisas, tomando atitudes que eu nunca tomaria. E aquilo conseguia ser tão irritante quanto o sussurro do seu timbre masculino no meu ouvido, o cheiro de perfume masculino, naquele escuro, causando uma tensão absurda.

Aquele cara estava me testando da pior maneira que podia.

— Você lembra daquela chave de pescoço que um lutador deu no outro durante o filme? Então, se não sair de perto de mim, eu vou fazer a mesma coisa e te matar. – eu sussurrei em resposta.

— Se assumir que me beijou simplesmente por vontade própria, eu te deixo fazer de novo.

Foi nesse momento que abri os olhos, esbugalhando-os.

— Ah, você deixa?

— Uhum.

— Azar o seu, porque que eu me lembre, não fui eu que fiquei toda nervosinha quando o Naruto e a Karin chegaram atrapalhando tudo, não é?

— Eu não fiquei nervosinho, você que saiu correndo.

— Pois é, no mínimo saiu todo ansioso para fumar um cigarro porque estava de bem com a vida, né? – ironizei. – Se você assumisse as coisas, tudo seria bem mais fácil na sua vida, Sasuke. Por exemplo, essa sua sede repentina em acabar a banda. A verdade é que você quer sair, mas não suporta o fato de que eles podem arranjar outra pessoa para ficar no seu lugar. Isso é egoísmo.

— Eu não sou o único que precisa assumir coisas, também não tenho problemas com isso. Não fui eu que usei desculpas esfarrapadas apenas quando seria bem mais fácil falar a verdade e dizer de vez que estava louca para dividir uma pipoca comigo. O que é uma besteira sem tamanho, a propósito.

— Então honre o que está dizendo e assuma que odiou quando Naruto e Karin abriram a porta, assuma que odiou ser interrompido lá. Que queria mais.

Senti como se estivesse amarrando minha própria corda de forca ao redor do pescoço.

Eu já cedi demais esse tempo todo, era chegada a hora de ele fazer o mesmo ao menos uma vez.

Mesmo que fosse um completo imbecil na frente dos amigos e que eu não tivesse um aparelho gravador para guardar aquilo até o resto da vida.

Qual é, era esperar demais que ele assumisse. Aquele cara era a personificação do orgulho.

Mesmo assim, ele era o tipo de pessoa que requeria habilidade em leitura de sinais. Então, quando Sasuke colou seus lábios aos meus, me beijando, eu tomei aquilo como a resposta que queria.

As pessoas sempre falavam sobre beijar no cinema, e até aquele dia, nada do tipo havia acontecido comigo, e bom, era melhor do que eu esperava que fosse. Especialmente quando o casal que sentava atrás de nós fazia o mesmo.

Toda aquela pressa e loucura da cabine havia me deixado pendente com ele também, mas ali, eu senti como se nada pudesse nos interromper. Porque estávamos praticamente sozinhos. Todos estavam cumprindo seus respectivos interesses e ninguém ligava para quem decidisse se beijar, ou até fazer coisas piores, contanto que o filme não fosse interrompido.

E nós, bom, estávamos em silêncio total.

Quando a galera começou a gritar, empolgados por algo emocionante que acontecia no filme, o Sasuke parou o beijo, e quando abri os olhos, vi que ele olhava para o lado, tentando ver o que estava acontecendo. Ele era um imbecil por fazer aquilo, mas não deixei que assistisse, e ele também não pareceu tão interessado assim no filme.

Ele segurou minha nuca, e me surpreendi.

Na verdade, aquela era uma situação difícil. Eu não sabia dizer se tinha alguma coisa a mais ali além de atração, e muito menos como seria dali para a frente.

Torci para que não ficasse muito complicado, mas ia ser impossível, e digo isso por mim.

Como seria quando eu olhasse para ele depois?

Como diabos eu poderia olhar nos olhos dele depois que nos separássemos?

Eu não podia me permitir criar qualquer tipo de afeição, ou então estaria arruinada.

Então a única opção válida era fingir que nada aconteceu depois? Talvez agir normalmente na frente dos nossos amigos, mesmo que nós dois soubéssemos o que aconteceu... Eu tenho certeza que seria algo que ele faria, mas eu estava confusa.

— E agora? O que eu faço com você? – ele disse, com os lábios ainda colados aos meus.

— Se pudesse fazer algo por mim, eu preferia que agisse de maneira menos idiota.

— Isso é impossível para mim.

— E depois? – eu perguntei.

— Não sei...

Eu quase ri da situação desgraçada na qual me encontrava depois que ele respondeu aquilo.

Mas eu estava encrencada demais até para rir, mesmo que não significasse exatamente felicidade.

Só que ele me beijou outra vez, e achei melhor esquecer tudo... Por ora.



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