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História Seven - Confissões


Escrita por: cryomancer

Notas do Autor


Olá!
Primeiro, queria agradecer tipo, muito mesmo pelos 100 favoritos. Eu fiquei muito feliz, não fazem ideia do quanto.

Boa leitura!

Capítulo 15 - Confissões


Fanfic / Fanfiction Seven - Confissões

 

                                                                                          Ato I

Sakura

No dia seguinte, Sasuke e eu faltamos à faculdade.

Naruto e Karin foram na moto dele, apenas para que o carro ficasse.

A minha salvação foi que Mona já zanzava pela casa, preparando o café da manhã para nós dois, então eu acordei cedo, tomei uma ducha quente e já estava pronta antes mesmo das oito e meia.

— Você tem pais engraçados... – ela comentou, preparando os pratos sobre a mesa.

— Eu tenho pais tradicionais demais, chatos demais, irritantes demais.

— Será que meus filhos também me odeiam?

— Nenhum filho odeia os pais, vocês são só... incômodos, às vezes.

O Sasuke chegou segundos depois, trazendo aquele perfume.

Sentou-se na minha frente e não desejou ‘bom dia’ de volta à Mona, ele simplesmente ligou para o tal de Ricky ali, na mesa mesmo.

A manhã estava completamente ensolarada, e ele usava uma camisa de mangas compridas e botões preta, de linho. Fiquei pensando o quão pirracento alguém pode ser, ele parecia de mau humor e não se dava conta de que apenas vestir aquela mesma camisa ontem poderia ter evitado tudo isso.

Ele olhou para mim justamente quando eu o estava observando.

— O que foi? Não quer uma foto? Assim você pode lamber e ficar encarando sossegada.

— Quero jogar na sua cara que se houvesse usado esta camisa ontem, tudo seria diferente hoje.

— Não, eu queria que o dia fosse exatamente assim. Como eu disse, preciso de alguém para contar meu tempo. – ele pegou uma torrada, mordendo-a rispidamente.

— Que digno... mas eu não queria que o dia fosse assim. Agora meu pai pensa que namoro um marginal.

— Bom... dane-se você, dane-se seu pai.

Encarei Mona, que assistia a situação com os olhos arregalados.

Bastou que Sasuke a reservasse um olhar breve, ela logo voltou a seus afazeres.

Pegou uma vassoura e saiu, nos deixando sozinhos ali.

— Meu pai é um oficial da reserva, herói de guerra. Ele serviu o país durante dez anos, e continua trabalhando, você não pode falar dele assim!

— Então vou falar de forma mais polida: eu sugiro veementemente à Vossa Senhoria oficial da reserva e herói de guerra que procure receber contribuições inusitadas em sua cavidade anal.

Joguei um pão nele.

— Você está falando do meu pai! Do MEU PAI! – eu gritei, já furiosa.

— Sakura, não começa.

— Pelo menos meu pai não é um mentiroso! Meu pai é um homem honesto que trabalhou para ter tudo que tem e não fica puxando o saco de outros políticos canalhas!

— Sinta-se livre para falar o que quiser do meu pai, tenho certeza que vou até concordar com seu ponto de vista. – ele bateu as mãos, provavelmente expulsando os farelos de comida. – E então, podemos ir?

Eu tomei o suco e desci do banco, sendo seguida por ele.

Além de ter ouvido tudo que ele disse sobre meu pai, ainda precisaria escutar as reclamações do próprio logo mais, e o pior, da minha mãe também.

Eles já estavam na calçada esperando por nós, Mebuki, sorridente, sentou-se ao meu lado lá trás depois de beijar o Sasuke pela janela aberta do carro. Meu pai só desejou bom dia.

— E então, como foi a estadia? – perguntei.

Eu sabia que se não demonstrasse importância a eles, feriria o ego da minha mãe.

Como eu disse, sabia de tudo que precisava fazer para agradá-los.

— Ah, um excelente hotel. – respondeu.

— Que tipo de lugar não deixam servir o próprio café da manhã? O cara chegou ao nosso quarto com uma carrocinha, e quando abriu os pratos eu só vi mato, mel e soja! Tenho cara de bicho para comer grama? – Kizashi reclamou, abrindo os vidros da janela com brutalidade.

— Sasuke, querido, perdoe-nos por fazê-lo faltar à faculdade... – Mebuki se desculpou, sorrindo.

— Sem problemas. – ele respondeu normalmente.

Como assim? Eu também perdi um dia de aula, merecia desculpas.

Ela realmente havia gostado dele, e eu fiquei me sentindo totalmente deslocada quando ele parava o carro e apontava para os lugares, explicando aos meus pais com a maior paciência do que se tratavam. Eu deveria estar fazendo aquilo.

— De que horas está agendado o voo de volta? – foi minha participação em toda a conversa.

— Às duas e meia. Poderiam nos deixar no aeroporto?

— Claro.

— Então, lá fora está a Calçada da Fama. Estamos na conhecida Hollywood Boulevard, provavelmente já ouviram falar... – ele disse outra vez, e meu pai abriu a porta, saindo.

Imediatamente fui atrás, eu sabia exatamente onde ele estava tentando chegar.

Eu o segui, e Sasuke ficou para trás com a minha mãe, provavelmente tirando mil fotos dela e ouvindo coisas que não deveria sobre minha infância. Era cem por cento menos degradante ficar junto do meu pai.

— Vai ser difícil encontrar a estrela do Elvis Presley aqui, pai. Tem milhares delas, você sabe disso. – eu falei, me aproximando dele.

— Eu não gostei do garoto, Sakura. Você sabe disso, não sabe?

— Sei.

— Como o filho de um político pode se portar desta maneira?

— Ele foi educado com vocês, o único problema são as tatuagens dele, não é? Até da sua banda preferida ele gosta, precisa abrir a mente, pai. Isso não é nada demais.

— Minha filha não namora com marginal. Sua mãe o adorou, defendeu o menino a noite inteira, mas se eu disser que torço pelo relacionamento, estarei mentindo.

— Eu já sei disso, papai.

— Então você vai terminar com ele?

— Não vai ser preciso... – eu disse, desviando o olhar até os prédios daquela rua. – Ele vai embora.

— Voltar para o país natal? Ótimo! Nenhuma criança pode ficar tão longe assim dos pais, você está a alguns quilômetros de distância de mim e eu mal consigo dormir todas as noites.

— Nem toda família é igual a nossa.

— Não importa, contanto que ele fique longe de você o mais rápido possível, por mim tudo bem.

— Se ele não tivesse as tatuagens seria outra história?

— Não, Sakura...

— Claro que seria! Assuma que está sendo preconceituoso!

— Eu assumo que quero o melhor pra você, é o suficiente. Não me irrite mais sobre isso.

Não aguentei mais, parei, e o assisti ir embora.

Ele que procurasse sozinho, eu já estava irritada, torcendo para que fossem embora logo.

A coisa mais inteligente a se ter feito naquele momento era continuar no meio, papai à frente, mamãe atrás junto com o Sasuke e eu sozinha, tranquila.

Só que eles dois me alcançaram.

Ele segurava um sorvete de casquinha na mão esquerda, enquanto minha mãe mexia na grande bolsa.

— Você era bonitinha quando criança, Sakura... o que aconteceu? – ainda sussurrou, chegando ao meu lado.

Fingi que não ouvi, e assim que Mebuki deixou a bolsa de lado, ele a devolveu o sorvete.

Quando Kizashi acenou, há muitos metros de distância, eu soube que havia encontrado a estrela do Elvis, e minha mãe correu para fotografá-lo.

Saí voltando na direção do carro, e por mim, aquele passeio já estava totalmente acabado.

Sasuke me seguiu, e quando meus pais chegaram, notei que ainda era cedo.

Kizashi estava emocionado pela foto, enquanto eu já bufava por causa da minha mãe, lá trás, que ficava segurando as pontas dos meus cabelos enquanto eu tentava puxá-las.

— O que você disse sobre a catapora da Sakura? Eu não ouvi direito naquele momento, estava muito barulhento lá fora. – Sasuke perguntou.

Eu estava encarando o cenário urbano normalmente pela janela, mas o movimento que minhas íris fizeram até o retrovisor foi instantâneo. Ele estava dirigindo tranquilamente.

— Ela teve uma catapora tarde, aos dezesseis... eu sempre disse que ela pegou com o namoradinho, mas nunca quis aceitar que o “glorioso perfeito” pudesse adoecer. Você me perdoe por mencionar outro garoto aqui, Sasuke.

— Sem problemas...

— Então foi a coisa mais linda do mundo, os dois idiotas lá abraçados com catapora. Essa foi a primeira e única vez que Kizashi o permitiu entrar em nossa casa, ela namorou escondido até adoecer. Foi como descobrimos.

— Certo, todo esse papinho do passado da Sakura está emocionante. Sasuke, leve-os até o Pier de Santa Mônica e depois vamos para o aeroporto.

— Não seja tão insensível, princesa. Eu tenho que saber um pouco da sua vida, concorda?

— Eu concordo que você disse algo muito bonito sobre meu pai quando estávamos em casa, ainda lembra? Vossa Senhoria e as contribuições inusitadas?... papai, gostaria de ouvir o que Sasuke disse sobre o senhor?

— Pier de Santa Mônica... é um lugar bonito, vão poder tirar fotos.

Eu ri, e assim que encontrei o olhar dele no retrovisor, mostrei-o meu dedo médio, sem que a velha ao meu lado visse.

— O que disse sobre mim, rapaz? – meu pai perguntou, logo em seguida.

— Eu disse que alguém como o senhor é uma contribuição imensa à força policial. Soube que foi um herói de guerra, e agora está na reserva, então como pode estar atuando na polícia?

— Estive no Afeganistão durante dois anos, antes da Sakura nascer. Quando minha filha veio ao mundo, eu vi que não poderia continuar vivendo daquela maneira, eu ainda era novo, recebi um treinamento especializado, e comecei a atuar na Polícia Federal. Foi uma coisa boa, pude assistir a infância da minha filha.

— Tem razão.

— E como ser um Federal me dá o direito de atuar nas mais diversas áreas do país, tentarei uma transferência ao sul, quem sabe aqui, para ficar junto dela...

— Não!...

Só percebi o que havia feito segundos depois. Passei a mão pela testa, recebendo um olhar interrogativo do meu pai, e um sorrisinho sacana nos lábios do Sasuke.

— Como assim “não”? Não me quer aqui? – vociferou, girando o corpo para me olhar.

— Não é isso, eu sei que a burocracia é imensa, levaria muito tempo até que o senhor conseguisse, então simplesmente estou tentando evitar aborrecimentos...

— E agora ela não está mais sozinha, Kizashi. Existe um homem responsável aqui, cuidando da nossa menina. – minha mãe disse, esticando o braço para acariciar os ombros do velho.

— O único homem responsável que posso enxergar neste carro, sou eu.

Sasuke não o respondeu, apenas puxou as mangas da camisa para cima, até o antebraço.

Uma provocação e tanto, tratando-se de quem tentava atingir.

E meu pai caiu na dele, encarando de soslaio o braço dele e arfando. Logo em seguida, virou a cabeça como uma criança.

Levou muito tempo para que chegássemos até Santa Mônica.

Marcavam onze horas quando chegamos ao píer, o carro foi estacionado e saímos, testemunhando o grande movimento de turistas no lugar. A visão da grande roda-gigante e parque de diversões colorido que atraía todas as crianças pareceu cativar minha mãe o bastante, e ela tirou muitas fotos.

— Vamos, juntem! Quero uma foto dos três!

O Sasuke tentou se afastar, mas Mebuki o empurrou de volta, insistindo que deixasse ser fotografado.

Então ele ficou ao meu lado direito, com as mãos nos bolsos, sério.

Abracei meu pai e sorri, só que o velho também não parecia nada contente, então simplesmente juntou-se à minha mãe depois que a fotografia foi tirada.

— Mebuki, só comi mato e grama hoje, estou com fome. – Kizashi disse, rabugento.

— Espere, quero uma foto do casal antes.

— Tem um restaurante muito bom, no fim do píer. Podemos ir agora. – o Uchiha disse, tentando evitar que minha mãe insistisse com aquilo. Foi ótimo.

— Vamos nos atrasar cinco segundos. Juntem os dois, isso, isso! Rapaz, abrace ela!

Ele continuou lá parado, com as mãos dentro dos bolsos. Como a velha pareceu insatisfeita e começou a gritar pedindo por mais contato entre nós, segurei o antebraço dele e forcei um sorriso para a câmera.

Outra foto, e então me separei instantaneamente.

— Vamos comer! Preciso de alguma proteína. – o velho voltou a falar.

Como ele era o tipo de gente que se irritava com fome, achei melhor irmos e fazer as vontades dele.

 

                                                                                     (...)

                                                                                    Ato II


             Sakura

Assim que os velhos pegaram o voo de volta, foi como se o céu voltasse a brilhar azul.

A última frase que meu pai disse antes de ir foi: “Vou fazer um depósito gordo. Mude de casa, e assim que o fizer, me mande o endereço”.

Todo o peso que senti foi embora, e agora eu poderia voltar a ser quem era.

Por sorte, os primos haviam voltado para casa quando chegamos, o que deve ter demorado séculos, já que saímos de Santa Mônica para o Aeroporto, e depois voltamos a Coral Gables, o que tomou quase duas horas de caminho.

Mas agora eu estava ali, torrando abaixo de um sol escaldante enquanto aquele idiota nadava.

Deitei-me na beirada da enorme piscina, o cotovelo cobria os olhos do brilho exagerado.

Quando fiz, o que naquele momento, poderia ser considerado esforço máximo, virei a cabeça para o lado esquerdo, vendo que ele já estava voltando.

Aquela era a primeira volta, das muitas que certamente viriam.

Ele saiu da água, apoiando os braços à beira da piscina, alguns poucos centímetros distante de onde eu estava.

— Não me molha! – gritei, ao sentir os pingos gelados atingirem  meu braço.

— Quanto foi?

— Um minuto e dois segundos, ida e volta. Meus parabéns.

— Parabéns? Foi lento.

— Só pode estar brincando com a minha cara, você se parece com um peixe quando cai na água!

— Cala a boca, você não entende nada.

Ele deu impulso nos braços, apoiando os joelhos, e logo em seguida saiu da piscina, posicionando-se outra vez.

— VOCÊ ESTÁ ME MOLHANDO!

— Você está na beirada, percebeu? – perguntou, ofegando.

Sasuke parou alguns segundos para pegar fôlego e descansar.

Quando ouvi o barulho de seu corpo sendo jogado na água, pressionei o botão do cronômetro e esperei. Quando uns vinte segundos se passaram, abri os olhos e esperei que fizesse a volta, marcando o momento exato, e ele chegou outra vez, me molhando novamente ao sair.

— E agora? – questionou, arfando.

— Cinquenta e oito segundos e sete décimos. Você fez a volta em vinte e um segundos e três décimos.

— Merda! – gritou, estapeando fortemente a água.

Um chafariz de água saltou, e boa parte caiu em mim.

— Desgraçado! EU DISSE QUE NÃO QUERIA ME MOLHAR!

— Então não fique deitada na beira da piscina, porra!

— Me diz, quanto tempo você quer fazer? – me sentei, jogando o cabelo para os lados.

— Se eu não fizer, pelo menos quarenta e nove, não vou poder parar de treinar agora. E eu quero parar. – ele puxou a touca, liberando os cabelos molhados.

— Quem te mandou fazer quarenta e nove?

— Eu. – respondeu, apoiando os cotovelos à beirada.

— Então “eu” pode economizar tempo, e mandar cinquenta e oito segundos, o que já é bom. Acredite.

Ele baixou os óculos até o pescoço, olhando ao redor enquanto respirava profundamente.

Passou a mão pelas madeixas escuras, empurrando-as para trás.

— Se eu não fizer quarenta e nove hoje, você vai voltar comigo aqui todos os dias até que eu faça.

Sasuke me encarou, apertando os olhos pelo sol.

Ergui as sobrancelhas, incrédula.

— Sabe, é perigoso ficar cansado dentro da água... é o que eu poderia alegar quando viessem aqui buscar seu corpo afogado. – eu disse, bufando.

— Afogar um nadador? Boa sorte. – ele sorriu sacana e inclinou o corpo para trás, fechando os olhos e batendo as mãos levemente, quase como se estivesse deitado na água. Preciso admitir que fiquei morta de inveja, estava calor, e aquilo o relaxou o bastante para que não me respondesse com ignorância. – Hm, deve estar fazendo calor aí fora...

— E está.

— Não quer vir?

— De jeito nenhum.

— Não sabe nadar?

— Sei.

— Então venha.

— Não, Sasuke. Saia, nade novamente e consiga seus quarenta e nove segundos. – respondi, me sentando.

Cruzei as pernas, apoiando o cotovelo ao joelho. Ele esticou o braço, abrindo a mão molhada bem próxima a minha.

— Me ajuda a sair. – e pediu.

— Eu não caio nessa, imbecil. Não quero me molhar.

— Eu poderia puxar você, tenho todos os meios possíveis para isso.

— Então me puxe, e veja do que sou capaz. Te fiz sangrar pegando leve naquele dia, imagine agora como seria, estou com o ódio daquela vez multiplicado por mil.

— Uh... – ele ergueu os braços em falsa redenção, fingindo tremer. – Então você tem medo de água?

— Tenho medo de você. Multifacetado como é. Pode me afogar aí dentro, ou fazer coisa pior.

— Não sou multifacetado, é que está bem refrescante aqui dentro, e estou relaxado. Só isso.

— Já entendi... você gosta tanto da água que cada oportunidade dentro dela é causa de bom humor repentino. Até te vi sorrindo naquele dia. – resmunguei, ativando o cronômetro.

— Tipo isso.

Parei a contagem e deixei-o em uma área seca do piso porcelanado.

Eu realmente estava com inveja do quão “refrescante” aquela água era, então retirei as sapatilhas e enfiei os pés na água. Foi como se outro mundo se abrisse diante de mim, estava bem fria, deliciosa.

Senti as mãos dele envolverem meus tornozelos, e quando ele fechou os dedos, abri os olhos, entrando em desespero.

— Não faça isso!

— Fazer isso, comigo logo à sua frente é o mesmo que implorar que eu te puxe pra cá. – rebateu ele, fazendo força nos braços.

Senti minhas pernas deslizando pelo piso liso.

— Sasuke, não faça isso!... é muito...

— Muito?

— Muito clichê! Se eu quisesse cair na água, teria trazido roupas! – bradei, desesperada. – Além do mais, se me puxasse eu provavelmente cairia aí dentro como uma âncora e morreria.

— Ué, não disse que sabia nadar?

— Sei nadar estilo cachorrinho!

Ele uniu as sobrancelhas, me encarando curioso.

— Estilo cachorrinho? Por favor, Sakura, está passando vergonha.

— É exatamente isso. Eu cresci em uma fazenda, imbecil. Por que iria saber nadar?

— Não tinham rios lá, na sua rocinha?

— Tinha um lago, mas meu pai nunca me deixou entrar nele... a água era escura, medonha, profunda. Eu vi o mar pela primeira vez aos quinze anos, sente-se devidamente esclarecido?

— No momento, estou com muita pena de você.

— Tsc. Por que menosprezar o estilo cachorrinho? Já é alguma coisa.

— O estilo cachorrinho é fácil, mas cansativo. Se alguém te jogasse dentro de uma piscina como essa, as chances de sobreviver nadando assim são mínimas, você iria ficar exausta rápido demais.

— Tudo que ouvi nessa explicação idiota foi um blá blá blá inútil. Além do mais, na hora do sufoco, ninguém fica cansado. Eu nadaria esses cinquenta metros em cachorrinho com a maior facilidade do mundo...

— Tem ideia da imensidão que é esta piscina? Você acha fácil o que eu faço aqui? É terrivelmente, quase diabolicamente cansativo. Falar é fácil.

— Uma pena eu não estar em apuros, se não mostraria a você do que sou capaz. Fica para outra hora...

Ele maneou a cabeça positivamente, e logo em seguida me puxou com uma força absurda para dentro daquela água. Eu não tive tempo de terminar o que estava falando, sequer respirar. Já sentia meu rosto e corpo serem submersos pela água fria.

Fora o choque de temperatura, afinal, eu já estava suando de calor lá fora.

Sasuke ficou observando enquanto eu me debatia.

— Você está em apuros agora, porque eu não vou te salvar. – murmurou, tranquilamente.

Ele era um calhorda, porque eu estava desesperada.

Tentei lembrar das lições do meu pai, quando entrei no mar pela primeira vez, e comecei a bater as mãos e os pés, conseguindo permanecer com a cabeça para fora. Tudo que eu conseguia fazer era me movimentar daquela maneira e pegar a maior quantidade de fôlego possível enquanto o fazia. Porque à medida em que eu avançava, mesmo que lentamente, já criando uma distância de poucos centímetros entre nós dois, ele continuava observando inexpressivamente todo o meu esforço.

— CARA, EU TE ODEIO DEMAIS! TIPO, DEMAIS ME... MESMO!

— Ué, não vai fazer os cinquenta metros “com facilidade”? Salve sua vida, Sakura.

E o pior de tudo é que: ele estava certo.

Realmente era cansativo ficar nadando daquele jeito, especialmente porque eu não estava avançando, só me movia com intenções de manter a cabeça fora d’água.

Então comecei a avançar até a beirada, logo atrás dele.

E Sasuke riu, como um insensível.

Assim que minha mão alcançou a parede, impulsionei o corpo para cima, apoiando-me pelos cotovelos.

Fechei os olhos, apoiando o queixo ao chão frio, e percebi que estava chorando de nervosismo. Eu podia sentir minha própria pulsação, e meu corpo estava totalmente arrepiado.

Continuei respirando ofegantemente, e ele me encarava, logo ao meu lado.

— Tudo bem?

— Tudo bem? – indaguei, incrédula – Você quase me mata e pergunta se eu estou bem?!

Soltei o braço direito e comecei a empurrá-lo com o máximo de força que eu tive, mas não pareceu ter muito efeito.

— Você não ia morrer, sabe nadar cachorrinho, esqueceu?

— Para com isso! Cala essa boca, você está me irritando! Você me irrita há muito tempo, aliás! – berrei, arregalando os olhos em sua direção. Vi que sua expressão facial mudou da água para o vinho, ele bufava, tedioso, e naquele momento me fitava sério, absorvendo o clima da situação – Eu sempre fui legal com você! Desde o início! Tirei paciência de onde não tinha, fingi não ouvir muita coisa, esqueci cada merda que você fazia comigo! Esqueci cada palavra grosseira e soberba que disse! Aceitei vir aqui contar a porra do seu tempo quando nem deveria, e é assim que me agradece?! Você é o cara mais insuportável que conheci em toda minha vida! Quantas vezes repeti que não queria entrar?! Quantas vezes pedi que parasse de me molhar, fingindo não perceber que era de propósito?!

— Não foi de propósito... – ele tentou argumentar, mas honestamente, eu estava tão irritada que mal ouvi.

— Eu te dei as baquetas, ouvi tudo de ruim que tinha pra dizer, eu torci por você quando estava nadando aqui, antes! Tudo que eu fiz por você, e não pode reconhecer nem um pouquinho?!

— Sakura...

— EU NÃO AGUENTO MAIS! – gritei alto, sem me importar com a possibilidade de haver outras pessoas naquele clube – Uma hora você é escroto, um merdinha, outra hora está calmo, depois volta a ser o mesmo cretino de antes e segundos depois é legal, na medida do possível! Eu não tenho mais paciência pra aturar isso, essa inconstância, essa indiferença! Que droga!

Parei pra respirar, apoiando a testa à quina da parede.

— Eu... sinto muito.

Aquela frase ecoou na minha mente durante alguns segundos, e o silêncio voltou a reinar soberbo naquele lugar.

Vi suas duas mãos se posicionarem ao lado das minhas, ele estava atrás de mim.

— Isso foi um pedido de desculpas? – perguntei, atônita.

Ver a inconstância da água, as pequenas ondas formadas por nossos movimentos nunca me pareceu tão interessante. Mas foi o que eu fiz durante o breve momento de silêncio que se formou outra vez.

— Vamos, eu vou te ajudar a sair.

Sasuke segurou meu quadril com uma mão no segundo seguinte, fazendo força para tentar me impulsionar para cima, mas permaneci lá.

— Foi um pedido de desculpas? – repeti, parecendo mais ríspida do que queria.

— Foi, Sakura. Você tem razão, me desculpe.

Então, eu me virei de frente para ele só pra ter certeza de que estava falando sério.

Minha mão continuou sobre a beirada, era ela que me mantinha firme dentro d’água sem precisar bater os pés.

Comecei a encará-lo fixamente. Eu precisava saber se aquilo era sério, porque julgando apenas por seu tom de voz, eu juro que o pedido de desculpas não foi apenas por causa da péssima brincadeira que fez, e sim por tudo.

Maneei a cabeça positivamente como uma idiota, só então sentindo outra vez o significado de “paz de espírito”.

Agora, eu finalmente estava em paz.

— Está mais calma agora? – indagou, parecendo atencioso.

— Sim. – funguei, sorrindo levemente. – Obrigada, Sasuke.

Só que assim como seu pedido de desculpas não havia sido por apenas uma razão, meu agradecimento também não foi, e mesmo que fossem raros, já tivemos bons momentos juntos.

Por exemplo, apesar de ser passada para baixo e quase morrer espremida depois, eu adorei bater nele depois que me sacaneou no estacionamento.

Uma tensão pairou no ar quando percebi que estávamos em silêncio há alguns segundos, mas não fui capaz de fazer nada.

— Sabe... eu teria salvado você, se não houvesse conseguido.

— Hm.

— Não é como se eu me sentisse tão bem em ver alguém morrendo na minha frente, que ficaria de braços cruzados assistindo...

— Foi exatamente o que fez. – o interrompi, e aquilo pareceu incomodá-lo.

— Mas se você estivesse morrendo, eu teria te salvado. Portanto não precisa fazer uma grande coisa disso tudo.

— Eu sei.

— Então já que está aqui, quer ir até o meio? Saber a sensação?

— Até o meio da piscina? Nunca! – respondi, já ficando afoita.

Segurei a quina da piscina com mais força, pronta para lutar com unhas e dentes, caso ele tentasse outra coisa.

Só que uma das mãos dele continuavam em minha cintura, e ele a apertou, como se censurasse minha atitude.

— Certo, se você não quiser, eu não vou fazer... pode confiar em mim.

— Eu confiei antes, e agora nem sei como vou para casa sem pegar uma hipotermia. Eu não trouxe roupas!

— Eu trouxe...

— Ótimo, passe isso na minha cara também!

— Não estou passando na sua cara, você realmente não entende as intenções das pessoas...

— Acabei de entender... – ri, sem graça. – Quer que eu use suas roupas para atravessar a cidade? Roupas masculinas?

— Vai estar usando um capacete, não tem risco de alguém ver seu rosto e arruinar sua vida.

Então aquele silêncio voltou outra vez, eu olhei ao redor, sentindo meus ombros se arrepiarem com uma simples e leve brisa. Então submergi aquela parte na água, e Sasuke continuou me assistindo.

— Estamos sozinhos aqui? – perguntei, sentindo meu queixo tremer pelo frio.

— Deve ter gente usando as outras piscinas, mas isso fica do outro lado... é recomendado que apenas profissionais, ou quase isso, usem esta. Então acho que estamos sozinhos aqui... por quê?

— Por nada, só curiosidade.

— Faz alguma diferença?

— Acho que não... fora o fato de que existem seis metros de água abaixo de mim, e eu só sei nadar cachorrinho.

— Por quê? Você queria um salva-vidas?

— Não acho que seria necessário. O grande vencedor do torneio de natação está aqui comigo.

— Tem razão... – ele disse, e logo sua mão livrou minha cintura de um agarre firme.

Eu estava por mim mesma naquele momento.

Sasuke se aproximou ainda mais, suas duas mãos pousaram uma a cada lado dos meus ombros, segurando a quina também.

— Sua mão está eriçada e trêmula... por que não a submerge? – ele perguntou, naturalmente.

— Se eu tirar a mão da parede, vou afundar.

— Então me abrace... – juntei as sobrancelhas, e ele revirou os olhos em seguida – Usando as pernas.

— Não me parece menos constrangedor.

— Somos namorados. – Sasuke argumentou, como se aquilo fosse a solução para todos os problemas mundiais – Agora até seu pai pensa assim.

— Bom, meu pai te odeia.

— E você sabe que é totalmente recíproco. Vamos, faça... eu te seguro.

Meu pulso realmente arrepiava-se constantemente pelo frio, mas permaneci com as mãos exatamente onde estavam.

Muito lentamente, minhas pernas envolveram seu quadril submerso, e eu me soltei completamente, sentindo um alívio ao deixar apenas minha cabeça do lado de fora.

Era constrangedor, mas o corpo dele era morno mesmo abaixo d’água, e o alívio se sobrepôs a vergonha, mesmo que eu soubesse que não seria por muito tempo.

Apoiei o queixo ao seu ombro, suspirando enquanto observava a imensidão azul à minha frente.

Imaginar que aquilo não parecia nada assustador para ele, como era pra mim, era espantoso por si só.

Eu sabia que logo abaixo do meu queixo estavam os desenhos tatuados em seu corpo, e foi o que acendeu minha curiosidade.

A memória da mais misteriosa delas estava intacta em minha mente, o retângulo de quase vinte centímetros que ele carregava na costela, os escritos hebraicos que eu tanto ansiava saber o que significavam, e não pude conter o impulso de levar os dedos até lá, onde supus estar.

— Qual o significado? – sussurrei, não seria necessário mais do que aquilo para que ouvisse. Tudo estava tão calmo e silencioso como eu surpreendentemente me encontrava.

— São pessoais... – respondeu, após alguns segundos silenciosos.

“São”.

Era mais de um escrito. Agora, eu poderia me morder de tanta curiosidade.

— Ninguém sabe o significado?

— Eu sei. É o bastante.

— Por isso o idioma escolhido... entendi. Se você usasse sua inteligência para o bem, Sasuke, o mundo seria melhor.

Ele ficou em silêncio, foi quando me afastei, apoiando as costas à parede gelada. Eu queria ver seu rosto, cada reação vazada.

— E a do braço? – voltei a indagar, na esperança de ser respondida.

Eu a alisei, em seu ombro e bíceps direito.

— Um cavaleiro da Ordem dos Templários.

— Eu gosto de latim, mas você poderia ter escolhido algo menos macabro para levar no corpo o resto da vida. – meus dedos se encaminharam ao antebraço dele, onde a frase dita por Naruto estava.

Vendo-a de perto, parecia bem mais clara.

Ego sum a Deo poena. Si tibi non feci et magna, nunquam poena visit me.

— Foi dita por Genghis Khan.

— “Eu sou um castigo de Deus. E se você não cometeu pecados tão grandes, Deus não teria enviado um castigo como eu”.

— Como sabe? – ele arqueou uma sobrancelha.

— Naruto me contou.

— Tsc. A do peito são símbolos indígenas, antes que pergunte.

Eu ri, já que era exatamente a próxima coisa que eu faria.

Só que conversar com ele, ou rir, nada aliviava a tensão da maneira como estávamos dentro daquela piscina imensa.

Eu sabia que deveria acabar com aquilo de vez, sair e medir o tempo dele, como deveríamos estar fazendo durante o tempo daquela conversa, mas lembrei de algo que não queria lembrar.

Algo que me fez permanecer ali.

— Sasuke, você... vai embora?

E ele não pareceu ter gostado nada da pergunta.

— Foi o Naruto?

— Não, eu redisquei sua chamada no telefone fixo. Me desculpe, não pude resistir. Só que você não respondeu a pergunta.

— Nossa, Sakura...

— Eu sei que foi ruim invadir sua privacidade, mas por favor, só responde isso.

— Por uma semana. Vou voltar depois.

— Por quê?

Ele mordeu o lábio e ficou em silêncio.

Bufei, percebendo que Sasuke não tinha a menor obrigação de me responder. E não parecia querer fazê-lo.

— A posse do meu pai acontece na semana que vem. Ele foi reeleito, e precisa dos dois filhos lá para a cerimônia. Então vou vestir um terno, aplaudir e sorrir durante umas duas horas, depois encarar perguntas ou provocações do meu irmão, e tentativas de transferir o curso para alguma faculdade lá e ficar de vez, esta parte é do meu pai, claro.

— Provavelmente sente sua falta.

— Talvez. Enfim... mais alguma pergunta?

— Muitas.

— Então não faça.

Maneei a cabeça positivamente, sem conseguir sorrir.

Sasuke continuou me olhando, e de um momento para outro fiquei nervosa achando que tinha algo de muito errado com meu rosto.

— Vai ser uma longa semana... – eu disse.

— Sim, vai.

— Mas vamos ter razões diferentes para achar isso.

— É.

— Você vai perder aulas para aturar chatice, gente velha e poderosa. E eu vou ter muitas aulas, vou aturar chatice, pessoas jovens e perigosas.

— Eu sei.

— Você ativou o modo automático?

— Não. Adoraria que você calasse a boca um instante.

Empurrei seu peito pela patada recebida, e ele bufou.

Apoiei minha testa à dele, fechando os olhos.

— Você precisa ir mesmo?

— Preciso.

— Tudo bem.

— Tá.

Passaram-se uns cinco segundos, e ele continuou lá.

— Não exagere, eu já estou calada!

— Não, você não está calada. – ele respondeu, com o maxilar trincado.

Eu não entendi nada, mas fiz o que ele queria.

Pareceu ser apenas o que ele precisou para chupar meu lábio inferior, e estremeci. Tudo pareceu muito claro naquele momento.

Levei minha mão instantaneamente até sua mandíbula.

Sasuke soltou a mão esquerda, descendo-a pelo meu quadril até a coxa, quando sua língua pediu passagem, e eu o abracei.

Eu confiava nele, mas assim que fez isso, senti meu corpo deslizar junto com o dele ainda mais para dentro da água, como se a concentração que ele desviasse para nos manter com as cabeças para fora e respirando fosse embora.

— Sasuke...

Sua mão em minha nuca fechou-se entre meus cabelos, e usando um pouco de força, ele puxou minha cabeça para trás. Eu suprimi um gemido, estava doendo, ele também sabia daquilo, mas quando lambeu meu pescoço, fechei os olhos.

Foi quase como se Evelyn estivesse ali, sua voz me pareceu tão real quando recordei o que disse, e até me assustou.

“Mas o Sasuke... ah, o Sasuke...”

Se havia uma coisa em que concordávamos, era naquilo.

Então ele voltou, sedento. Parecia imerso em uma realidade alternativa, ansioso, viril.

Eu mal conseguia lidar com o ritmo dele, e cada vez mais era como se estivéssemos afundando. Senti a água em meu queixo, o corpo dele cada vez mais pressionando o meu contra aquela parede gelada e... um volume extra.

Tomei aquilo como um aviso de que era o suficiente, e quando descruzei as pernas, ele me apertou, puxando minha coxa de volta com brutalidade.

— Sasuke...

Estiquei o pescoço para cima, tendo a impressão de que seus dedos estavam deslizando pela parede, como se ele quisesse se soltar da beirada, e aquilo faria com que ficássemos submersos, então me assustei.

— Sasuke!...

— Quieta. – foi o que ele grasnou, parecendo impaciente.

Eu estava me sentindo sufocada, preparada para perder o ar a qualquer momento.

Ele nunca havia me beijado daquela maneira, meu corpo inteiro reagia diante daquilo. Era o melhor beijo que recebi na vida, mas eu não deveria estar nervosa, não deveria estar com medo dele, daquela brutalidade.

Foi quando o barulho da água nos separou. Nós dois olhamos para o lado imediatamente, e havia alguém nadando em outra raia.

Sasuke me encarou outra vez, sério, e então me soltou completamente.

Me virei de costas, impulsionando o corpo para cima, e saí da piscina.

Senti o choque do vento, o dia estava quente, mas sair da piscina parecia sempre ser algo gelado demais, e eu me encolhi, sentada no chão.

Funguei, zerando o cronômetro.

Eu tentaria tratar aquela situação da maneira mais leve possível, só poderia torcer que ele fizesse o mesmo.

— Vai fazer seus quarenta e nove segundos?

— Cinquenta. – ele disse, saindo da piscina logo em seguida. – Coloque cinquenta segundos em contagem regressiva. – colocou os óculos no rosto logo após.

Eu bufei, fazendo o que ele pediu.

Foi o momento em que o cara colocou a cabeça para fora da água e nos olhou rindo.

Quando ele fez isso, quase enfiei a cabeça dentro da água para tentar me matar.

— E aí, Sasuke! Também veio fechar a temporada?

Ele esticou os braços, estralando os dedos e flexionando o pescoço em seguida.

— É. – respondeu, inclinando-se para frente.

— Você não precisa disso, cara... é a “musa inspiradora” de todos aqui.

Não soube distinguir ao certo se estava zangado por aquele cara ter nos interrompido, ou se estava envergonhado pelo comportamento selvagem que teve, o qual eu não esperava, sob hipótese alguma.

Quando ele caiu na água, ativei o cronômetro.

Ele havia prolongado um segundo, então torci que conseguisse, eu precisava voltar pra casa.

Aquele cara e eu trocamos um olhar rápido, antes de assistimos juntos o desempenho do Sasuke.

Quando ele fez a volta, o cara riu, parecendo até desestimulado.

Então eu revi, em minha cabeça, o que havia acontecido. Se eu poderia me deixar envolver, dada a situação na qual me encontrava, o desafio e tudo mais.

Sasuke bateu na parede, e eu parei a contagem no mesmo segundo. Ele tirou os óculos, me encarando ansioso.

— Quarenta e nove segundos, e seis décimos. – o informei, vendo o curto sorriso soberbo que veio logo a seguir.

Ele saiu da água, e assim que vislumbrei a figura masculina e totalmente desejável, percebi a verdade.

Eu estava completamente perdida.

 

                                                                                                (...)

                                                                                              Ato III

Sakura

Não tive certeza se eu poderia ter visto qualquer coisa mais exótica do que o que vi ao chegar em casa.

Sai estava deitado no tapete, de bruços, com uma almofada no rosto.

Karin estava sentada no traseiro dele, fazendo uma massagem nos ombros.

Sasuke e eu trocamos olhares confusos.

Ela nos olhou, gesticulando exageradamente para ordenar que fôssemos embora, e nós dois caminhamos em direção às escadas.

— Alguém chegou? Quem chegou? Sakura? – Sai se manifestou, erguendo o rosto e sorrindo para nós.

A ruiva bufou, Sasuke saiu, e eu me sentei no sofá assistindo a cena.

Na televisão, um canal especial ou filme tutorial ensinava como fazer a massagem.

— Oi! – exclamei, tentando parecer simpática ao ignorar a situação.

— Sai de cima, ferrugem! – ele disse.

— Seja mais gentil, asno! – bradou ela, levantando-se.

— Então agora eu posso perguntar? – questionei, tentando conter o riso.

— O que, amor?

— Que porra é essa?!

— Estudar a psique humana não é nada fácil, querida.  Nós fomos a uma reunião judaica hoje, levamos horas para chegar lá, e eu precisei ficar calado e respeitar a religião alheia só em honra da Psicologia!  - ele explicou, deitando-se virado em nossa direção, com o cotovelo no chão e a cabeça apoiada à palma da mão – Amo meu curso, mas é cansativo. Depois fomos até algo relacionado à religiões africanas e eles nos serviram um jantar delicioso.

— Sim, mas você não respondeu minha pergunta.

— Ele estava cansado, me pediu uma massagem e o casalzinho da hora fez o favorzão de interromper! – Karin arfou, revirando os olhos.

— Foi o bastante, já me sinto melhor. – ele sorriu, flexionando os ombros. – Aquela hora que você ficou em pé nas minhas costas foi foda... eu vi estrelas.

— Eu também vi estrelas, querido. Pode crer.

— Mas e então, linda, por que seu cabelo está assim e veste esta blusa masculina ridícula? – ele me olhou com nojo.

— Dei um pulo na piscina e o Sasuke me emprestou essa camisa.

— Tá, continua. Eu quero saber.

— Eu também quero saber! – Karin se ajeitou no sofá, me encarando atentamente – E então, a Corrimão falou a verdade ou não?

— Karin, pelo amor de Deus!

— Eve Corrimão... eu esqueci que o apelido dela era esse. Bons tempos! – Sai riu, usando o controle remoto para desligar a televisão – E aí, onde levou seus pais?

— Em Hollywood, meu pai tirou uma foto na estrela do Elvis e logo depois fomos até Santa Mônica. Eu também estou exausta.

— Gente, eu já contei como foi quando tirei uma foto junto da estrela da Diva?! Foi o melhor momento da minha vida!

— Quem? A Britney Spears? – perguntei, vendo Karin fechar a cara.

— Beyoncé, amor. Foi ótimo, conheci um...

— Sakura, pode nos contar o que seu pai falou do Sasuke? – ela o interrompeu, coçando a cabeça.

— Todas as  coisas ruins que podia. Ele vai me dar dinheiro apenas para que eu saia daqui.

— Vou adorar torrar o dinheiro do Lorde Haruno com margaritas!

— Vocês não vão torrar o dinheiro do meu pai com absolutamente nada, em especial porque estou considerando a oferta dele.

— Sakura, meu amor, você não vai me deixar sozinha com eles dois aqui. Além disso, o máximo que pode conseguir é uma quitinete no subúrbio que vai resultar em uns três metrôs para chegar à faculdade. Pense bem nisso.

— O que quer que eu faça?

— Minta. O velho está do outro lado do país, não tem como ele saber. Dã. – ela bateu na testa, e Sai maneou a cabeça positivamente.

— Argh, ele não vai me deixar ficar sob o mesmo teto do Sasuke.

— Conte uma mentira bem feita e resolva a situação. Não quer que eu faça isso por você também, quer?

— Não, sem graça, eu sei mentir. Aliás, o que está fazendo fora do SMH essas horas?

— Soube que Naruto Uzumaki chegou ao lado roxo da força ontem e vim saber se conseguiria ser contemplado. Mas foi só um fingimento... – ele entortou o lábio, deprimido – Se fosse verdade, eu ficaria feliz e a Hinata bem triste.

— A Hinata está com o Kiba, imbecil. – Karin comentou, deitando-se no sofá e deixando as pernas no meu colo.

— Certo, e? Você não é ingênua, ferrugem, viu como ela deu um pulo e saiu correndo para comprar os antialérgicos do Naruto? Ela quase morreu junto com ele.

— Pensando por esse lado, o Sai está certo. – eu disse, só então me dando conta da realidade.

— Vocês acham que... será? – Karin esbugalhou os olhos.

— Com certeza, meu amor! Vamos fazer umas comparações físicas. O Naruto e o Kiba são gostosos, mas o Naruto tem  olhos azuis e aquele jeito amorzinho, o Kiba é um estúpido, bonito, mas tem ideais totalmente nojentos e amigos horríveis como Gaara. – ele argumentou, parecendo empolgado.

— Pois é, além disso tem o fato de que ela trocou o Naruto pelo Kiba antes, e poderia fazer tranquilamente de novo...

— Eu não acho que a Hinata mereça uma segunda chance, mas não posso escolher pelo meu primo, e além disso, acho que não seria preciso. Minha tia a odeia com todas as forças, e olhe que não existe uma mulher de coração melhor que Kushina.

— Você não pode escolher por ele, azeda. Eu prefiro mil vezes a Hinata com o Naruto do que com o Kiba, ela só quer companhia por estar frustrada, está perdendo tempo e energia que poderia ser desperdiçada com o loirinho delícia. Eu poderia ensinar sobre a vida a todas vocês! – ele revirou os olhos, levantando-se – Onde fica o quarto do Naru?

Karin o destinou um olhar raivoso, totalmente não usual.

Segurei o riso.

— Onde fica o banheiro?

— Use o do meu quarto, a Mona está lavando o social. – ela respondeu, totalmente amarga.

O Sai subiu as escadas, e ela bufou.

— Preciso afogar minhas mágoas no Neji. – resmungou, mal-humorada.

— Precisa fazer uma trança no cabelo dele.

— Isso também.

— Tem consciência de que a Hina conseguiu e agora é sua vez?

— Beijar o Neji é uma coisa, tocar naquele cabelo dele é outra... vai ser difícil conseguir.

— Hm...

Ela olhou para trás, na direção das escadas.

— O Sai já saiu, pode falar o que aconteceu. – entrelaçou a mão aos cabelos, me parecendo deprimida.

Karin não parecia a mesma pessoa que conheci meses antes, ela estava séria, inexpressiva.

— Aquilo que disse sobre ele estar indo embora, estava certa. – eu disse, encolhendo as pernas no estofado.

— Eu sempre estou certa, a novidade aqui não é essa, e sim o gostosão indo embora. Por quê?

— Vai ser por uma semana... a pedido do pai.

— Então tem envolvimento com política. Sinto pena dele pela primeira vez na vida.

— Você sabia que o pai dele era senador?

— Todo mundo sabia. O Sasuke também foi alvo de trocadilhos estúpidos da parte do Naruto por isso.

— E por que nunca me disse?! – arqueei uma sobrancelha, instigada pela omissão.

— Porque nunca me perguntou, docinho.

— Fala sério...

Caminhei até as escadas e passei pelo Sai ao subir.

Tirei aquelas roupas e tomei um banho longo e demorado. Eu estava com sono, cheguei até a deitar na cama, mas a camisa do Sasuke ali, ao meu lado, me impedia de ficar tranquila.

Eu a trouxe para perto de mim e a cheirei, sentindo um cheiro suave de roupa limpa e perfume.

Então saí de lá e bati em sua porta.

Felizmente ele não demorou a abrir, e olhando em seus olhos, eu não sabia se estava exatamente feliz em me ver ali.

Ele esticou o pescoço, olhando para os lados como se verificasse o corredor, e entrou, deixando  a porta aberta.

Eu dei cargo de fechá-la, e ele se sentou no colchão, vestindo uma camisa.

— O que é?

Sentei-me ao seu lado, colocando a peça de roupa em seu colo.

— Obrigada... – sorri, sem graça. – Eu também queria dizer que... você não precisa ficar agindo de maneira estranha só por causa daquilo, não foi nada demais.

Ele passou a mão esquerda pelos cabelos molhados, sem me olhar, e mordeu o lábio, parecendo incomodado.

Era um fato para mim, ele havia, sim, me assustado, mas eu não queria que as coisas entre nós ficassem piores do que já eram.

— Você deveria ter entendido exatamente o que aconteceu lá, como eu entendi.

— Como assim?

— Eu não acredito em acaso, mas... você deveria ficar longe de mim.

Estreitei os olhos, sem entender nada.

— Por que eu ficaria?

— Seria bem melhor pra você.

— Por quê? Sério, está me deixando confusa, eu não estou compreendendo o que você tá falando!

— Porque eu vou acabar te machucando...  e não quero fazer isso.

Eu não queria que ele visse a expressão em meu rosto, então olhei para qualquer outro lugar no quarto. Comecei a ficar nervosa, senti minhas mãos suando.

— M-Machucar como?

— Sentimental e... fisicamente.

 

 


Notas Finais


Eu disse que ia sair logo a alguns de vocês, mas provavelmente deve ter demorado, rs. Desculpa!!!!
E então, algum comentário?
Até a próxima, galera!


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