História Seven Days (SD) - Supercorp - Chapter VII: Ganori effect.

Ganori

Uma semana depois 

Sobre o tal passeio no qual Lena inseriu a si própria, Kara querendo ou não, as coisas tinham tudo para correr bem, do jeito que Koch comentou pela primeira vez. Isso não significa que Kara havia cedido em sua decisão. Ela ficaria. Ela pensaria em algo inteligente. Ela pensaria em sua família. E ela pensaria em Lena lá fora.

Ok, ela estava sendo ingênua ou incrivelmente correta? Ela confiava em Luke? Ela confiava em Lizz? Ela confiava em Lena sob a proteção deles? Ela absolutamente não tinha resposta. Mas sabia que, caso algo desse errado e Lena viesse a sentir algum efeito adverso, mínimo que fosse, ela seria capaz de usar superforça, mesmo seu corpo podendo chegar à exaustão por somente tentar.

Ela viu de longe enquanto Lena saía pela porta principal. Kara não sabia dizer se ficar com G'ravor era sorte ou azar, já que o homem não era de conversar. Pensando melhor, era bom. A presença dela seria inexistente para o pai de Luke.

— Kara.— ou quase inexistente.

Ela estava prestes a retornar ao quarto e nunca mais sair, quando a voz de G'ravor lhe invadiu os ouvidos. Kara se virou com calma, olhando diretamente para ele.

— Koch é protetor. Lena ficará bem, não precisa se preocupar.— ele parecia falar a verdade.— E sim, está um pouco na cara que você não gosta muito dele...— pela primeira vez Kara viu um princípio de sorriso no rosto de G'ravor.

Ela franziu a testa.

— Eu não disse que não gosto dele.— se defendeu. Não que ela precisasse... mas ela realmente não mencionou com essas palavras.— Apenas disse que ele é muito aventureiro. E Lena não pode embarcar em uma loucura assim agora... nós não podemos.— explicou, mesmo que G'ravor soubesse.

— Então você está entre os pensamentos de que Lena tem sua vida, mas você precisa protegê-la e não sabe como?— se ele tentasse acertar mais, não conseguiria.

— É... é exatamente isso.— Kara suspirou. Ela nem percebeu que já estava sentada, ao contrário de G'ravor.— Eu não quero que ela pense que eu quero controlar tudo o que ela faz. Eu não quero. Eu a quero bem e estou tendo um momento difícil para externar isso.

— Lena não me parece ser tão fácil de lidar. Imagino que ela seja assim por ter passado por algumas coisas que ninguém deveria passar.

— Eu sou uma dessas coisas, G'ravor.— disse Kara em voz alta, sorrindo sem muita graça.— Falar em voz alta parece pior. Ela confiou em mim e eu-

— A protegeu.— Kara sentiu uma surpresa incrível quando ouviu G'ravor dizer tal coisa.— Você está se martirizando por algo que saiu do controle. Veja, Kara, o passado você não pode mudar.

E ela tinha meios para isso.

— Mas você pode tentar fazer com que Lena enxergue o seu real ponto de vista. O que você está guardando tão dentro de você a ponto de nem mesmo você conseguir decifrar?

Saber que G'ravor, Luke e Lizz tinham a capacidade de interpretar batidas do coração não era algo que Kara considerava fácil de entender. Porque era como leitura de mentes, mas... cardíaca? G'ravor sabia o que ela estava sentindo. Ele sabia que para ela algo estava errado. Apagado. G'ravor deveria saber tantas coisas a mais e Kara sequer tinha noção.

— Eu não sei como acessar isso.— ela confessou, ganhando um leve desconforto.— Eu não posso tentar me desculpar com ela, mostrar meu lado real, e perdê-la novamente. Eu acredito que a perdi dessa vez. Ela é a única que tem poder de decisão.

E Kara achava que Lena tinha essa noção. Mas caso não tivesse, como Kara falaria abertamente sem Lena estranhar?

— Então diga isto a ela. Deixe Lena saber que ela detém as cartas. Ela detém a mão mais forte deste jogo entre vocês. Deixe-a saber. Você pode se surpreender com o poder dar palavras, Kara. Principalmente quando são palavras necessárias. Lena sente como se... como se tudo o que ela pode oferecer é sua inteligência. E ao ver que aqui as coisas são diferentes, a mente dela remete somente ao único e fatídico momento no qual a confiança entre vocês foi quebrada. Eu tenho certeza que você já pensou sobre isso.

Novamente, G'ravor era menos assustador quando calado.

— Eu vou tentar.— Kara levantou.

Pela primeira vez em tempos, ela sentiu alguma ponta de esperança.

— Obrigada por isso, G'ravor.— Kara sorriu.

— Uma hora as águas serão passadas, certo? Você pode passar com elas e cair no esquecimento, ou... aproveitar a nascente.— G'ravor sorriu também.

Ela aproveitaria a nascente. Faria de tudo para aproveitar. Ela deixaria Lena saber que tem o poder. Somente Lena poderia acabar com aquilo entre elas. Era do desejo dela? Era realmente do desejo dela?

-♦-♦-♦-

Quando a noite caiu e Kara não recebera sequer uma notícia sobre Luke, Lena, Lizz e Koch. Ela decidiu juntar-se a G'ravor e esperar na entrada da pousada. Espécie de pousada.

G'ravor era capaz de sentir Luke e Liz à distância, pois eram sua família. Então ele fez questão de assegurar que Lena estava bem também, mesmo não sentindo sua energia, sua vibração. Foi errado da parte dele, e G'ravor sabia disso. Ele não queria precipitar algo, não queria desencadear a ansiedade de Kara, que já estava a um passou de estourar a porta e tomar conta da loira. E foi quando Luke chegou rindo, acompanhado por Koch. Eles conversavam animadamente sobre um assunto qualquer, Kara não se importou em saber. Porém, somente eles apareceram.

— Oi, pai!— Luke cumprimentou G'ravor assim que entrou e Koch fez o mesmo.

Eles continuaram conversando quando Kara fez a esperada pergunta.

— Onde está Lena?— ela franziu a testa, olhando para frente.

Estava completamente escuro na rua. Algumas pessoas andavam, outras corriam da chuva que se aproximava. E nada de Lena. Ou Lizz.

Luke voltou para perto de Kara e sua feição não foi a mais agradável.

— Elas estavam bem atrás de nós.— ele explicou, começando a pensar em várias coisas ao mesmo tempo.

Não demorou muito para Koch se aproximar.

E foi incrível o jeito animalesco com que o relógio passou os minutos. E Kara os contou em sua cabeça. Aproximadamente, em medidas terrestres, quarenta e cinco minutos.

Koch, depois de algum tempo, voltou para perto de Kara, que estava quase saindo atrás de Lena. O motivo de ela não sair antes foi G'ravor. Mas ela não esperaria para sempre.

— Elas estavam conversando e nós também. Não perc-

Koch foi interrompido por Kara, que o jogou com força contra a parede mais próxima, colocando seu antebraço contra a traqueia dele.

— Você disse que era seguro lá fora.— ela vociferou.

Koch parecia assustado com a reação, mas mesmo assim não mostraria isso.

— E é. Por que eu estou aqui, então?— ele rebateu com um pouco de dificuldade.

Kara sentiu que poderia perder quinze anos de vida a cada vez que ele abria a boca.

— Kara?

Quando a voz de Lena lhe invadiu os ouvidos depois de horas sem notícia, Kara sentiu algo que há muito tempo não sentia. Foi quase como sentir a luz do Sol. E sem pensar duas vezes, ela correu até Lena, verificando se ela estava inteira.

— Você está bem?— Kara perguntou sem medo algum em mostrar preocupação.— Você está machucada?— ela tinha as mãos nos ombros da Luthor, verificando o resto de seu corpo com os olhos.— O que acontec-

— Kara — Lena a chamou.— eu estou bem.

Os olhos de Kara foram guiados pela voz de Lena até os verdes encontrarem os azuis, antes aflitos.

— Ok — Kara respirou fundo, voltando à pose de dias atrás. Aquela Kara contida.— certo.— ela deu um passo para trás e tirou as mãos de Lena.

— Por que você estava o colocando contra a parede?— Lena perguntou em seguida ao ver Koch passando a mão no pescoço. Ela estranhou, mas até a página dois. Ela não imaginou o real motivo e Kara suspirou audivelmente antes de olhar para Lena e, provavelmente, decepcioná-la mais uma vez.

— E-eu... pensei que alguma coisa tinha acontecido com você e...

Kara não precisou terminar. Lena entendeu de imediato e a única coisa que entrou em sua mente, é que Kara estava prendendo alguém contra a parede por livre vontade. Alguém que não estava errado. Koch não era um dos vilões de National City. Ele estava lá para ajudá-las. Bem, pelo menos ele estaria... e se ele fosse embora depois disso?

— Lena — Kara a chamou assim que percebeu o olhar da cientista.— Lena, espera.— Kara a seguiu.

Lena estava indo para o quarto, sentindo a presença de Kara. Era incrível como de repente todos os movimentos de Kara a atingiam desde a revelação. Era fodidamente incrível.

— Lizz e eu desviamos do caminho sem querer.— Lena virou abruptamente.— E só. Você... você não precisava agir assim. O que ele fez de tão errado, Kara?— Lena entrou no quarto e sem querer deu acesso a Kara também.

— Ele me disse que você estaria protegida.— Kara explicou.— E você não voltou. Como eu deveria me sentir? Ele não tinha a menor ideia de onde vocês estavam! Nem mesmo Luke sabia! Eu não pensei, ok?— Kara dissera tudo muito rápido, mas rapidez na fala não era problema para Lena.

Elas ficaram em silêncio por alguns segundos. 

— Você o prendeu contra a parede...— Lena continuou sem acreditar. Mas, em algum ponto, ela entendia Kara. E se odiava por entender todas as coisas que faziam de Kara a pessoa que ela era.

— E eu vou me desculpar.— Kara declarou.— Eu não posso perder você, Lena. Eu sinto muito se passei dos limites.— ela abaixou a cabeça, suspirando. Depois, voltou a olhar para a cientista. Ela não tinha esperança de conseguir mais algumas palavras.

A ideia de perder Lena em Ganori foi tão complexa que as atitudes tomadas por Kara acerca de tal pensamento poderiam ser conectadas diretamente a efeitos da Kryptonita Preta. Como se Kara não fosse ela, e sim uma versão completamente diferente. Sem limites. 

Com o silêncio de Lena, ela decidiu sair do quarto sem tentar. A voz de G'ravor surgiu na cabeça de Kara durante seu caminho até o outro quarto. Mas o que ela poderia fazer? Parecia que cada ação sua estava fadada a ser malvista por Lena.

O Efeito Ganori. Ou apenas... Efeito Kara Danvers?