Hogwarts, Dormitório masculino da Sonserina, Algum lugar da Escócia.
Novamente a manhã de Natal chegou, Severo acordou com um peso quente e uma língua áspera como lixa lambendo a sua boca.
Ao abrir os olhos ele viu os enormes olhos negros de Salem que o lambia e ronronava com as orelhas baixas e cara de sono.
-Bom dia pra você também.- Severo fez carinho no gato que logo deitou sobre ele se esticando.
-Deixe de ser oferecido !-Ele bufou e passou a mão pela barriga do gato que estava enorme e muito gordo.
-Você precisa de uma dieta e menos visitas à casa de Hagrid.- Ele disse se sentando, Salem ronronou e rolou na cama pedindo por carinho.
-Oferecido !-Severo disse rindo para a carência insaciável de seu gato.
Ele se arrumou e desceu para o salão comunal, seria mais um natal sozinho, Elisa como todos os anos voltou pra casa para passar o natal com a família dela.
Ele se aproximou da árvore de natal e pegou alguns embrulhos destinados a ele, esse ano ele havia batido o recorde de presentes recebidos.
O primeiro era um embrulho verde muito bonito e elegante, era de Eileen.
Ele abriu o envelope e leu a carta que ela havia enviado.
“Não sabia o que você estava precisando, mas acho que este livro irá te auxiliar melhor em sua pesquisa. Lembre-se sempre que as artes das trevas podem ser muito persuasivas e sedutoras, combatê-las é como combater um monstro de muitas cabeças, no qual, cada vez que cortamos uma cabeça, surge outra ainda mais feroz e inteligente do que a anterior. Adquira o maior conhecimento possível, mas tenha sempre em mente quem você é e o quê você quer.
Sinto muito por não estar com você, sinto a sua falta.
Com amor, sua mãe, Eileen. “
Severo ficou um tempo apenas relendo as últimas frases e imaginando que Eileen estava ali falando aquelas palavras para ele.
Ao abrir o embrulho ele quase não pode acreditar.
“Criaturas das trevas e maldições de sangue.”
Eileen havia lhe enviado um dos poucos livros de artes das trevas aprovados pelo ministério da magia britânico, não era um livro fácil de se conseguir e também não era barato.
Ele estava ansioso para começar a ler e estudar, principalmente o capítulo a respeito de lobisomens.
Ao pegar o segundo embrulho ele arqueou uma sobrancelha ao ver que era de Frank.
“Feliz natal, de seu mais novo amigo.
Frank Longbottom.”
Frank lhe um livro sobre as melhores jogadas e estratégias lógicas de xadrez bruxo.
Severo estava surpreso com aquilo, de fato ele tinha passado bastante tempo com Longbottom nos últimos dias mas não tinha parado para pensar se já o considerava um amigo.
Como em todos os anos Hagrid lhe enviou biscoitos de chocolate exageradamente grandes.
O último presente era de Elisa, ele quase não acreditou que aquele presente havia sido enviado por ela.
“Alquimia das poções: Estudos avançados e científicos no preparo de poções mágicas.”
“Feliz Natal Sev, espero ter acertado na escolha.
Passei uma tarde agradável na Floreios e Borrões com a sua mãe, ela gentilmente me ajudou a escolher um livro que você gostasse.
Já estou com saudades.
Ps: O gorrinho verde e amarelo é para o Salem.
Com todo o meu coração E.J.”
Ele ficou pensando o quão íntima Elisa já estaria de Eileen para que as duas passeassem juntas pelo beco diagonal.
Ele pegou o pequeno gorro de tricô verde com listras amarelas e colocou em Salem.
-Ela pensa que você é uma boneca para usar isso.- Ele disse rindo.
Severo passou o feriado de Natal lendo e fazendo anotações, ele estava quase chegando aonde queria em sua pesquisa sobre a complexa poção do acônito.
No último dia do feriado Severo estava sentado no pátio do castelo sozinho pensando no resultado de suas pesquisas, ele bufou irritado para a falta de interesse do professor Slughorn em ajudá-lo com aquela poção, o professor não estava interessado em correr riscos desnecessários com uma poção que apresentaria resultados incertos e possivelmente fatais, caso algum lobisomem se voluntariasse como cobaia do experimento.
-Velho preguiçoso !-Severo bufou consigo mesmo.
-Quem é preguiçoso ?-Lupin perguntou com um sorriso tímido.
-Posso ?-O maroto perguntou apontando para o lugar ao lado de Severo.
Severo deu de ombros.
-Eu não o vi nos últimos dias, pensei que tivesse ido para casa.- Lupin disse puxando assunto e oferecendo um pedaço de chocolate para ele.
-Eu estive ocupado.-Severo respondeu avaliando a aparência de Lupin que não estava tão debilitada.
Lupin percebeu que o Sonserino ao seu lado o estava avaliando.
-A fase da lua nova é menos difícil.-Lupin disse com um sorriso tímido, Severo notou que embora estivesse sorrindo o garoto a seu lado tinha um olhar triste e abatido.
Severo não respondeu, não sabia o que dizer e preferiu ficar calado.
-Você quer jogar uma partida de xadrez bruxo ?-Lupin perguntou se encolhendo e tremendo um pouco de frio.
-Pode ser.- Severo respondeu se levantando.
Sem que percebessem eles estavam animadamente conversando sobre teorias de defesa contra as artes das trevas, assim como Severo Lupin também demonstrava muito interessante na matéria.
-Eu gostaria de ser um professor, ou um auror quando me formar, claro que são apenas sonhos.- Lupin disse se encolhendo um pouco, a animação pareceu sumir um pouco quando eles começaram a falar sobre o futuro.
-Não vejo porquê você não possa lecionar.-Severo disse concentrado nas peças de xadrez diante dele.
-Claro, tenho tenho certeza que muitos alunos adorariam ter aula com um lobisomem.- Lupin disse cheio de nojo de si mesmo.
Severo pela primeira vez levantou o olhar e o encarou.
-Você não é obrigado a contar para seus alunos que é um lobisomem.- Severo respondeu dando de ombros.
-Eu sou realista, sei que ao terminar a escola um futuro desprezível e fracassado me espera.- Lupin disse fazendo uma jogada qualquer.
-Xeque.- Severo disse encurralando o rei de Lupin.
-Se for para jogar de qualquer jeito eu tenho mais o que fazer !- Severo disse irritado com a jogada desleixada de Lupin.
-Sinto muito.-Lupin disse cabisbaixo.
-Não tenha dó de si mesmo, se não pode mudar o que é aprenda a conviver e a lidar com isso. -Severo disse encarando Lupin que abaixou a cabeça sem ter coragem de o encarar.
-Não mendigue amizades, você não é um coitado !-Severo disse mais rude do que gostaria.
Severo se irritou ao ver o quanto Lupin se sentia inferior, ele queria dizer que estava pesquisando sobre a poção mata-cão desde o natal anterior mas não quis dar falsas esperanças para o garoto a sua frente.
-Eu não... Quer dizer, você não entenderia, você não sabe o que é estar sozinho.-Lupin disse ofendido.
-Você não sabe nada sobre mim !-Severo respondeu calmamente.
-E você não sabe o que é ser vigiado o tempo inteiro, ser indesejado e desprezado. -Lupin disse começando a se exaltar.
-Fazer o possível para estar com os únicos amigos que te aceitam da forma que é não é mendigar amizade !- Lupin disse desviando o olhar.
-Se você está dizendo.- Severo disse calmamente começando a guardar as peças e o tabuleiro.
-Não é problema meu.-Severo disse se levantando.
-Eu agradeceria pelo jogo mas não gosto de que me deixem ganhar.- Severo disse sério.
-Me desculpe, eu não quis te ofender.-Lupin disse se levantando também.
-Eu só não estava com cabeça para jogar, e queria alguém para conversar.- Lupin admitiu, Severo arqueou uma sobrancelha.
-Sabe que nós não somos amigos, não sabe ?- Severo perguntou com forçada indiferença.
-Sei, você só é o desconhecido que joga xadrez comigo uma vez por ano e sabe o maior e mais terrível segredo da minha vida. -Lupin disse dando um fraco sorriso.
Severo riu também.
-Eu tive medo que você espalhasse o meu segredo ...-Lupin disse baixando o olhar.
-Obrigado por ser leal, mesmo que não queria ser meu amigo. A gente se vê.- Lupin disse com um sorriso de sincera gratidão e começou a se afastar com tristeza.
-Eu não disse que não queria ser seu amigo.- Severo disse contrariado, internamente ele sentiu pena por Lupin estar sozinho quando parecia muito necessitar de um amigo.
Lupin sorriu voltou a se sentar.
-Outra rodada? Prometo que desta vez você não vai ganhar ! -Lupin disse com o primeiro sorriso de felicidade que dera desde que começaram a conversar.
-Veremos !- Severo disse se sentando também.
Eles passaram o restante da tarde conversando sobre defesa contra as artes das trevas, feitiços, jogadas estratégicas de xadrez e alguns livros que gostavam de ler.
-Esse gato pesa uns seis ou sete quilos !-Lupin disse assustado quando Salem apareceu e subiu no colo dele.
-Ele pesa seis quilos e meio !- Severo disse indiferente concentrado em seu jogo.
-Ele era uma bolinha de pelos de quinhentos gramas no ano passado, eu o deixei com Hagrid por um tempo e ele ficou assim !- Severo disse com a sobrancelha arqueada ao ver Salem deitar de barriga para cima no colo de Lupin que sorriu gentilmente para o gato.
Eles conversaram e jogaram xadrez até a hora do jantar.
Depois de jantarem sanduíches de peru, bolinhos, gelatina e bolo de frutas, eles se sentiram demasiado fartos e sonolentos.
-Bom acho que vou me retirar.-Severo disse se levantando.
-Obrigado pelo jogo.- Ele disse observando Lupin balançar Salem como se ele fosse um bebê, o gato dormia preguiçosamente com a boca aberta e língua para fora.
“Esse gato só pode ter vindo da Elisa mesmo!”
Ele riu internamente ao comparar o quanto o comportamento de Salem era parecido com o de Elisa.
-Disponha.- Lupin disse tentando soltar Salem que miou em prospeto.
-Vamos preguiçoso!- Severo chamou o gato que se espreguiçou e bocejou preguiçoso.
Severo e Lupin se despediram e cada um voltou para seu salão comunal, Severo estudou um pouco mais antes de dormir, agora ele tinha mais vontade de conseguir realizar aquela poção.
Salem se deitou sobre o peito dele e ficou ali ronronando, às vezes ele dava algumas lambidas no rosto do dono e logo voltava a dormir.
Severo fechou os olhos e esperou ansioso pelo sono pois no dia seguinte Elisa estaria de volta.
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