História Severo Snape e a Lufana - Capítulo 93 - O lince e a coruja

Hogsmead, Casa da Família Snape, Algum Lugar da Escócia. 

-Então a senhorita também é lufana?-Kingsley perguntou para Elisa com seu largo sorriso gentil, durante o jantar.

-Sim, por favor só Lizy já está bom.- Elisa respondeu retribuindo o sorriso.

Estavam presentes na mesa de jantar Severo, Bárbara, Remus, Elisa, Kingsley (o convidado) e Eileen que já estava em sua terceira taça de vinho. 

-É um encontro bem peculiar não ? Grifanos, Lufanos, Sonserinos e um Corvino reunidos para o jantar, o mundo estaria muito melhor se esses encontros se tornassem mais rotineiros, não acham ? -Kingsley perguntou se divertindo com a agradável conversa durante o jantar.

-Dizem que os lufanos e os corvinos não se dão bem ...-Lupin comentou, Bárbara bufou e fez uma careta.

-É uma meia verdade... Porém, estamos aqui reunidos para jantar, tendo uma conversa agradável e civilizada não é senhoritas ?-Ele brincou olhando para Bárbara e Elisa.

-Bárbara tem um extenso histórico de duelos contra corvinos, a maioria seus ex-namorados...-Elisa comentou casualmente, Lupin olhou para Bárbara como a expressão de uma criança que acabara  de descobrir que papai Noel não existe. 

-Acho que mais alguém não consegue manter a língua dentro da boca !-Bárbara respondeu apontando o garfo para Elisa que soltou risadinhas, Severo se manteve neutro, como expectador, internamente maravilhado com os risos e discussões durante o jantar, como uma grande família. 

O jantar prosseguiu de forma natural e agradável, Kingsley distribuía sorrisos e encantava Lupin com suas estórias de auror, contando sobre capturas de comensais da morte e também sobre coisas engraçadas no departamento para regulamentação e controle das criaturas mágicas. 

-Sério, uma vez nós estávamos no elevador na companhia do secretário do ministro da magia, então Amos abriu sua maleta, olhou com desconfiança para mim e para o secretario, depois olhou dentro da maleta com cuidado e sussurrou:  “Tem ar suficiente aí dentro?”. Vocês podem imaginar que o secretário o considera louco até hoje.- Kingsley contou aos risos enquanto todos ouviam atentos e fascinados.

-Amos ficou chateado por ninguém ter entendido a piada, ou a referência.-Kingsley comentou aos risos, Eileen também sorria, a terceira ou quarta garrafa de vinho já tinha sido aberta. 

-Só tem graça se ele for lufano...-Elisa disse franzindo as sobrancelhas, Bárbara riu e concordou, enquanto os outros riam da vergonha alheia do tal Amos Diggory, colega de trabalho de Kingsley.

-Exatamente, é um tipo de piada interna na Lufa-lufa ? - Kingsley perguntou, confirmando que o colega era um lufano. 

-Não, mas nós Lufanos valorizamos os nossos...-Bárbara respondeu aos risos, por incrível que pudesse parecer naquela ocasião ela estava perdendo para Eileen que de tão nervosa tomaria um barril de vinho como se fosse água. 

-Ainda não entendi ...-Lupin disse com as sobrancelhas franzidas, Eileen bufou, para ela estava clara a referência.

-Newt Scamander.-Elisa respondeu se servindo de mais um pedaço da gelatina de abacaxi feita por Kingsley.

-O que tem ele ?-Lupin perguntou ainda sem entender a referência, Elisa suspirou e Bárbara revirou os olhos.

-Ele é CORVINO.-Kingsley respondeu com convicção.

-O quê?!- Elisa arquejou quase engasgando com a gelatina, Bárbara bufou ainda mais alto e o sorriso sumiu de rosto.

-E é assim que se inicia uma guerra com os pacíficos Lufanos.-Kingsley comentou com Severo e Lupin, erguendo as mãos em sinal de rendição, Eileen sorriu para jeito espontâneo que o rapaz levava a conversa. 

-Nossa eu estava pronta para te azarar.- Bárbara comentou demonstrando alívio, os corvinos tinham a mania de diminuir os Lufanos e atribuir grandes feitos de Lufanos famosos aos corvinos, por isso a fama de rivalidade entre as duas casas. 

-Foi uma piada.-Kingsley disse fingindo se justificar, Lupin riu, como se aquele bruxo alto e forte fosse se intimidar com duas tampinhas, que mais pareciam dois grãos de arroz que eram Elisa e Bárbara.

-O assunto está ótimo e muito descontraído, mas eu gostaria de dizer algo sério é muito importante para mim.- Kingsley anunciou ficando um pouco sério, Salem dormia no colo de Eileen que até o momento não havia proferido nenhuma palavra desde que se sentaram para jantar. 

-É um pedido de casamento ?-Elisa perguntou entusiasmada, Eileen quase cuspiu o vinho que estava tomando, Severo se endireitou desconfortável, Lupin e Bárbara trocaram olhares e risadinhas ansiosas. 

-Não, não é senhorita Lizy, por mais que eu queira um cavalheiro não deve pular as etapas de um relacionamento.- Kingsley respondeu com seu largo sorriso, ele se inclinou para o lado de Elisa e cobriu a boca como se fosse compartilhar um segredo com ela.

-Eu ainda estou na fase da conquista.-Ele sussurrou alto, brincando com a situação. Elisa sorriu e seus olhos brilharam, Kingsley piscou para ela e agiu como se ninguém tivesse ouvido o que ele havia dito.

-Então diga!- Bárbara disse tão ansiosa que parecia ela quem esperava algum tipo de declaração do bruxo forte e bonitão. 

-Bom, acho que eu vou me sentir mais confortável comigo mesmo quando falar abertamente sobre os reais motivos de eu ter aceitado vir até aqui nesta noite tão agradável.-Kingsley disse com seus olhos marrons brilhantes, todos o olhavam com expectativas, menos Eileen que já podia imaginar o que viria.

O coração dela se acelerou, internamente ela ponderava se deveria ou não encerrar o jantar já que todos estavam satisfeitos. 

-Eu quero lhes dizer abertamente que eu estou apaixonado pela mãe de vocês, me encantei por ela no momento em que a vi pela primeira vez na casa dos gritos no ano passado, desde em tão foi amor à primeira vista.- Kingsley disse para Severo e Lupin, Eileen ficou vermelha e sem reação, Elisa e Bárbara pareciam dois foguetinhos prestes a estourar de felicidade e empolgação. 

-Gostaria de sua aprovação para corteja-lá de forma correta, não que ela seja uma menina, mas como eu a amo, devo primeiro amá-los e respeitá-los como filhos da mulher que amo. Este é meu primeiro ato de amor verdadeiro por você Ell, amar e respeitar seus filhos em primeiro lugar. -Ele se virou para Eileen com os olhos suplicantes por aprovação.

-Eu aprovo.- Lupin foi categórico.

-Eu também.- Bárbara disse com convicção, começando a sentir os efeitos do álcool em seu organismo. 

-Se for da vontade dela, eu não me oponho.-Severo respondeu observando com atenção as reações da mãe, discretamente tentando penetrar as barreiras de oclumência levantadas por ela, claro que tamanha audácia não passou despercebida por Eileen que apenas o alertou com um olhar. 

Elisa estava emocionada e muito feliz, ela olhou para Eileen cheia de expectativas, esperançosa que a sogra ao menos tentasse dar uma chance ao Kingsley. 

-Ell, poderia me dar a chance de ser seu parceiro, não apenas em missões perigosas...-Ele deu uma risadinha.

-Mas na vida também. Estou disposto a passar minha vida tentando te fazer feliz.-Kim pediu com olhos suplicantes, olhando para Eileen que estava à beira de um lapso emocional. 

Salem que estava até aquele momento dormindo tranquilamente no colo dela de repente se eriçou e pela primeira vez em sua vida felina sibilou com olhar feroz. 

-Temos um ciumento aqui...-Kingsley comentou sem graça e surpreso com a reação do gato gordo que sempre se mostrou dócil.

-Não !-Eileen disse séria.

-Não ?-Kingsley perguntou triste.

-Não ?!-Elisa e Bárbara perguntaram ao mesmo tempo, chocadas que Eileen pudesse jogar fora um cara tão legal quanto Kingsley.

-Ell ao menos...-Elisa começou a protestar mas foi interrompida por Eileen.

-Shiii.... Ouça !-Ela disse se levantando como Salem, com os ouvidos atentos. Todos na mesa se entreolharam sem entender do que ela estava falando.

-Algo está errado !-Ela disse muito séria com a testa franzida de preocupação.

-E é assim que se dá um perdido em alguém que esteja te cortejando de forma indesejada...-Bárbara comentou baixinho com Lupin, ela pensou ter falado baixo, porém todos os presentes ouviram o comentário dela.

Kingsley se endireitou sem graça, um silêncio constrangedor predominou o ambiente enquanto Eileen permaneceu imóvel tentando ouvir ao longe o que havia de tão errado naquele silêncio estranho, uma atmosfera diferente os cercava, tornando o ar pesado. 

-Já esta tarde, talvez eu deva ir...- Kingsley disse muito constrangido, era visível sua frustração diante da reação inesperada de Eileen. 

-Não, Kim !-Eileen segurou no antebraço dele com uma expressão de terror no rosto.

-Kim ...-Elisa comentou maliciosamente ao ouvido de Severo, erguendo as sobrancelhas para a forma informal e íntima com a qual Eileen falou com Kingsley.

-Algo está errado !-Eileen tornou a dizer com os olhos negros cravados nos olhos marrons de Kingsley.

-São eles !-Bárbara se levantou de súbito quando percebeu do que Eileen estava falando, a aura de magia negra pesava o ambiente e aos poucos todos os presentes sentiram a magia negra que os cercavam.

-Aparatação, agora !- Severo imediatamente falou para Elisa.

-Não vai funcionar, eles lançaram um feitiço anti-aparatação no vilarejo todo !-Kingsley respondeu preocupado, Eileen conjurou seu patrono, uma coruja branca brilhante e translúcida, ela enviou uma mensagem de emergência para Dumbledore que coincidentemente ou não, não estava na escola naquele final de semana.

Kingsley também enviou seu patrono, um lince, para pedir reforços ao ministério.

Antes que pudessem falar mais alguma coisa um grande “Bum” explodiu ao lado de fora, a casa tremeu, Severo por extinto segurou com firmeza na mão de Elisa que arregalou os olhos assustada, os patronos não passaram despercebidos pelos atacantes que de imediato tornaram a casa de Eileen seu primeiro alvo principal. 

-Estão aqui !-Barbara falou atordoada, os olhos castanhos da loira imediatamente pararam em Elisa depois correram em direção a Eileen, como se elas estivessem em uma conversa mental. 

-Bárbara tire a Elisa daqui, Severo e Remus eu vou precisar da ajuda de vocês, os idosos não vão conseguir fugir a tempo ...Muito menos duelar !- Eileen falou com os olhos fixos nos filhos.

-Eu não vou deixá-la ! -Severo protestou colocando Elisa de forma protetora atrás de si.

-Não é hora para isso Severo !-Eileen gritou irritada, outro “Bum” alto e estrondoso se fez ao lado de fora, as defesas postas por Eileen não aguentariam para sempre contra ataques de magia negra.

-Eu disse não !-Severo retrucou, o medo de perder Elisa era muito maior do que qualquer outra coisa naquele momento.

-Sev ... -Elisa segurou a mão dele e o puxou para que ele a olhasse.

-Lizy não ...!-Ele começou a contestar mas ela o beijou. 

-Não me insulte dessa forma.-Ela disse soltando a mão dele.

-Elisa isso não é brincadeira !-Ele a segurou pelo pulso.

-Eu sei, e também sei que ambos estaremos em maior perigo se ficarmos juntos.-Ela disse o encarando com firmeza, a careta segura choro após tantos anos voltou ao rosto dela. Ele entendeu o que ela estava falando, ambos dariam a vida para salvar um ao outro sem pensar nas consequências se entrassem em um duelo juntos. Severo bufou, ele não queria deixá-la  mas sabia que Bárbara e Elisa juntas seriam capazes de causar grandes estragos caso fossem atacadas. 

Kingsley e Eileen já haviam saído da casa que estava sob forte ataque para conseguir tempo para que os jovens pudesse fugir.

-Não morra !-Ela o ordenou apavorada.

-Você também, me prometa que não vai lutar, apenas corra com Bárbara para longe daqui... -Ele respondeu tão apavorado quanto ela, Elisa deveria ser a única nascida trouxa no vilarejo naquele momento e se fosse capturada seria morta.

Hogsmead era um povoado calmo, a maioria dos bruxos ali eram idosos e alguns poucos casais com crianças menores de onze anos, eles precisariam de toda ajuda possível para conseguir evacuar todos em segurança. 

-Eu te amo.-Elisa o beijou e antes que ele pudesse responder outro “Bum” destruiu as paredes da casa, Bárbara que já havia se despedido de Lupin puxou Elisa pelo braço e elas correram para fugir pela porta dos fundos.

A última coisa que ele viu antes entrar no caos foi lágrimas de medo caindo dos olhos de Elisa.

Hogsmead estava devastada, o povoado inteiro estava em chamas, comensais corriam e atacavam de todos os lados. Uma fumaça muito densa e maligna cobriu o vilarejo tornando impossível enxergar com clareza ao redor. Eileen e Kingsley haviam sumido em meio às chamas e fumaça, Lupin acabou se perdendo em meio a tantos gritos e correrias, Severo se viu novamente sozinho e com medo de perder  aqueles que tanto amava. 

Uma brisa quente e um forte clarão alaranjado surgiu em meio a fumaça, o fogo maldito começava a consumir o vilarejo. 

A noite “se tornou dia”, sombras corriam em todas as direções, gritos de medo se misturavam com gargalhadas transformando o pacato vilarejo em um pedaço do inferno na terra.