Fomos para casa bem cedo. Elena tinha saído e o apartamento estava vazio. Era o que precisava para que Ian e eu pudéssemos conversar. Pela expressão dele quando nos sentamos no sofá, ele parecia um tanto nervoso e arrependido de ter dito que iria me contar. Mas agora eu precisava saber. Não queria me arrepender do que havia acontecido entre nós ou me decepcionar, mas eu precisava saber.
— Você já deve ter percebido que eu tenho problemas com o Tom e o Brian — ele começou.
Assenti.
— Eu soube quando te conheci. Bem, quando te reencontrei, naquela noite, em frente a casa do Tom.
— Então, aconteceu alguma coisa. — Ele não conseguia mais olhar nos meus olhos. — Eu tinha uma namorada. Ray. Nós namorávamos desde quando eu terminei o Ensino Médio, então ela se tornou uma pessoa importante para mim e eu sou um cara que quando gosto, gosto de verdade. Eu realmente gostava da Ray. E ela tinha essa amizade com o Tom e o Brian.
— Sim, eu conheci a Ray, nas festas e tal. Mas, sério, nunca imaginei que ela fosse sua namorada. Ela parecia tão... solta. Sei lá, sempre pensei que ela fosse solteira. Uma época até cheguei a sentir ciúmes do Tom por causa dela — comentei.
— Solta. Sim, solta, leve, enfim. Ela gostava de sair à noite e era muito amiga dos caras, tipo, ela vivia abraçando eles e fazendo coisas que me despertavam ciúmes. E eu não sou um cara muito ciumento, mas a Ray é o tipo de pessoa que sabe como despertar o ciúme num cara e ela conseguia. Tínhamos brigas constantes por causa dos amiguinhos dela e uma vez tivemos uma briga feia. — Procurei por seus olhos e vi dor, mas ele desviou rapidamente e encarou o chão. — Eu errei. Disse para ela coisas horríveis nessa briga, coisas que não deveria ter dito e vice-versa. Foi uma briga feia. Ela saiu dizendo que iria numa festa com o Brian e o Tom e nem quis ouvir o que eu achava. Ela estava muito brava. Quando percebi que errei, fui até a festa para pedir desculpas, mas ela não estava lá.
— Não?
— Ela nunca chegou lá. — Ele me contou, arrasado. — Recebi uma ligação perguntando se eu conhecia a Ray e dizendo que houve um acidente. E sabe o que aconteceu, Carol? — Ele finalmente me olhou, com os olhos marejados. — Ela estava morta entre as ferragens. Quando cheguei lá, não quis saber de nada, só queria que ela estivesse viva. Quando tiraram ela das ferragens, constataram a morte dela e eu fiquei louco de raiva. Estava triste. Tom e Brian estava dando um depoimento para o policial e eu escutei eles dizendo que a Ray estava dirigindo o carro.
— E não estava?
— Realmente ela estava no banco do motorista. Mas foi colocada lá. Por dois covardes. Por aqueles malditos covardes que não são homens para assumir o que fizeram! — Ian socou o sofá. — Eles costumavam beber antes das festas, diziam que era o "aquecimento" e provavelmente estavam bêbados quando bateram naquele outro carro. No desespero, ao notarem que ela estava morta, para livrarem a própria pele, colocaram a Ray no banco do motorista.
— Meu Deus — murmurei, surpresa. Eu não conseguia acreditar que fui apaixonada por um cara como o Tom.
— Eu não soube disso na hora. Fiquei dentro de casa por muito tempo, sem sair, tomando remédios para dormir, cara... Fiquei muito mal. Só voltei a fazer as coisas quando o pessoal da banda me chamou para voltar e eu voltei a ensaiar. Ensaiava direto para tirar aquilo da minha cabeça, para ocupar a minha cabeça e não pensar merda... — ele continuou. — Mas uma coisa vinha à minha cabeça: eu não consegui pedir desculpas a ela. A Ray, puta merda, uma garota tão cheia de vida, divertida e sagaz. Eu era totalmente apaixonado, Carol. Não conseguia esquecer tão fácil.
— E?
— Aí eu descobri tudo que os covardes fizeram, que eles andavam zombando da Ray por aí e fiquei com muita raiva. Fui até a casa do Brian e o enchi de porrada. Não bati simplesmente. Eu queria matá-lo. Só parei quando alguém, que descobri mais tarde que tinha sido o Tom, acertou algo na minha cabeça e tudo se apagou. Quando acordei havia policiais ao meu redor e eu fui preso. Eu fiquei preso boa parte do ano passado porque enchi o cara de porrada. Logo ele, logo aquele merdinha que devia estar preso... — Ian cerrou os punhos e grunhiu de frustração. — Naquela noite em que nos conhecemos fazia quinze dias que eu tinha saído da prisão. Eu estava com sede de vingança e queria matar aquele cara. Não só ele, mas o Tom também, mas aí vi você...
— Não entendo. Por que socou o Brian e não o Tom?
— O Brian estava dirigindo — ele explicou. — Mas o Tom foi cúmplice e, claro, o parceiro que é tão merda quanto o Brian.
— Meu Deus, tô surpresa.
— E aí eu vi você... Cara, foi como se eu saísse da escuridão e achasse a luz. Sei lá, eu me lembrei no mesmo instante quem você era e me interessei.
Não consegui falar nada por dois minutos.
— Você amava a Ray? — Ele assentiu. — Então eu não tenho porquê julgar você por ter sido preso ou batido no Brian. No seu lugar eu faria o mesmo ou pior. Enfim, você devia ter amado ela muito mesmo...
— Depois de você, meu amor platônico da adolescência, eu a conheci e ela me ensinou muita coisa, Carol, então, sim, amei muito. — Ele me olhou. — Mas vejo em você uma chance de recomeçar. Eu quero muito. Agora que você sabe você quer?
Olhei para ele. Abri a boca para responder, mas a campainha tocou. Ian foi até a porta, abriu, se demorou um pouco, encostou a porta e veio até mim:
— Tem uma garota lá fora que diz que te conhece. Ela pediu para eu deixá-la entrar e deixar vocês duas conversarem. — Ian depositou um beijo nos meus lábios. — Eu vou lá para o quarto e vou deixar você me dar a resposta depois.
Então ele foi.
Provavelmente é a Agatha, pensei. Mas quando abri a porta, me surpreendi. Era a Tamara.
— Meu Deus, o que você tá fazendo aqui? — perguntei, irritada.
Ela passou por mim e entrou.
— Temos que conversar — ela anunciou.
Fechei a porta, relutante.
— O que você quer, Tamara?
— Paz.
— Ah — eu ri. — E você vem me pedir paz? Por favor, garota, eu nem me lembrava que você existia.
— Ah, mas você lembrava! Lembrava sim porque foi isso que encerrou o relacionamento que você tinha com o marido da sua mãe.
— Ex-marido.
— Marido, sim. Ela ainda não assinou o divórcio. — Tamara revirou os olhos. — Só estou fazendo isso porque eu quero me casar.
— O quê? Do que está falando?
— Estou falando sobre o que você viu no consultório.
— Eu sei o que eu vi.
— Mas não o que está por trás do que você viu — disse ela. — Eu não dei em cima do Sean porque eu quis. Eu fui paga para isso.
— Paga?
— A Eve me pagou.
Fiquei em choque. Eu não sei porque estava tão surpresa, mas eu esperava tudo, menos aquilo. E muito menos a visita da Tamara contando aquele absurdo logo quando eu me decidi ficar de vez com o Ian e não me importar com o que diziam.
— Está surpresa? — Tamara debochou. — É o que as mulheres apaixonadas fazem, fofa. E se prepara que ela não vai parar.
Tamara pegou a bolsa e saiu.
Eu me sentei no sofá, perplexa. Será que fui injusta com o Sean? Claro que isso não anula nada. Eu o vi com a Tamara. Ninguém o obrigou a ficar com ela. Assim como ninguém me obrigou a ficar com a Agatha. Durante muito tempo pensei no que aconteceu, no fato de eu ter feito a mesma coisa, porém com a Agatha, e muitas vezes me senti culpada. Mas eu sentia raiva, medo e frustração, tudo ao mesmo tempo.
Eu fiz o mesmo que ele. Sean só não me pegou transando com a Agatha, mas foi o que aconteceu. E eu estava indo contar para ele quando o vi com Tamara. Fiquei com tanta raiva, cega de ódio, que nem percebi o quão hipócrita eu estava sendo.
Mas agora não era apenas sobre o Sean e eu. Existia o Ian. Após tudo acontecer, eu me envolvi com outra pessoa e aconteceu.
Meu Deus, eu vou surtar!
Ian apareceu no corredor me lançando um olhar triste.
— Desculpa, eu ouvi tudo — ele admitiu. — Isso foi... Céus, não sei como dizer — ele me olhou com os olhos tristes. — Você vai voltar para ele?
POV EVE
Eu soube do que aconteceu. A incopetente da Tamara contou tudo para a Caroline e depois teve a coragem de me ligar e me contar sobre o ocorrido. Agora eu tinha certeza de que Caroline iria voltar para o Sean e estragar os meus planos de reconciliação.
Mas eu não podia deixar-me abater.
Eu e o Sean vamos voltar a ficar juntos ou eu não me chamo Evelyn Madison.
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