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História Sexercise (HIATUS) - Tentações


Escrita por: SKRabbit

Notas do Autor


Oi pessoal!

Não sei nem bem por onde começar...A ideia para a fic havia surgido com os meus próprios problemas, então é bem possível que haja mais gente que, ao ler, se identifique com os personagens. Muita coisa aqui foi baseada em mim e meus problemas, então tentei dar um toque pessoal aos sentimentos.
Para quem lia "Confie em Mim", tive de excluir por motivos pessoais, sorry ;-;
Espero que gostem do capítulo e que acompanhem a vida de Park Jimin e seus probleminhas!
Não vos vou fazer perder mais tempo, boa leitura e até às notas finais!

PS: Capa linda, não é mesmo?! >< Passem no tumblr WILDFIRE DESIGNS, a capista um amor em pessoa e faz umas capas de dar inveja, demasiado talento numa pessoa só!
PS2: Sobre os Personagens Originais, serão apenas os pais, certo? Não haverá ninguém como sendo principal, apenas os pais, por isso que acrescentei ali, sim?

Capítulo 1 - Tentações


– Mãe, eu já disse que estou bem! – vociferou o ruivo, descendo pelas escadas enquanto remexia em alguns papéis na mala – Eu não preciso de mais comida, ainda tenho um monte de potes que me deu na semana passada!

Assim que pôs os pés na cozinha foi até uma das cadeiras para colocar a mochila em cima e remexer tudo outra vez, queria ter a certeza de que não se esquecera de levar nada de importante do seu quarto, já que não conseguiria voltar à casa por um bom tempo.

– Mas você anda comendo tão pouco, filho! – a mulher reclamou com preocupação nos olhos – Eu tenho medo de que fique doente, querido! Ainda mais agora que está morando sozinho e eu não posso controlar as suas refeições.

– Mãe, menos. Sério, eu estou bem. – Jimin começava a irritar-se com o assunto. Não queria ser grosso com a sua progenitora, mas o tema comida passou a ser um tabu para ele, especialmente na presença dela – Acha mesmo que com esta pança eu vou conseguir emagrecer ou adoecer tão cedo assim por pular uma ou outra refeição? - pronunciou, dando leves tapinhas na barriga seguido de um sorriso soprado.

Se a sua mãe soubesse 1% sequer do quanto odiava aquela barriguinha… Mas pior do que odiar, é que ele não podia fazer nada para se livrar daquilo. Quer dizer, poder podia, mas era tão difícil de se controlar...havia tanta comida boa nesse mundo, tantos molhos deliciosos para degustar, carne tão suculenta para saborear...sentia água na boca só de imaginar todos esses pratos à sua frente.

Por um lado, culpava a sua mãe por sempre lhe ter enchido de comida, sem nunca lhe privar de nada. Ele comia às 9h da manhã batata frita, comia bolo antes de ir dormir, bebia refrigerante praticamente todo o dia com a desculpa de que a água não tinha sabor, ficava deitado no sofá vendo TV metade do horário diário...e sua mãe nunca fazia grande esforço para lhe negar qualquer um destes prazeres. Mas por outro lado, sabia que a culpa era na verdade sua. Tinha sim momentos que a mulher pedia para ele se exercitar, sair com os amigos, só comer no horário que ela mandasse, no entanto tudo acabava com um, na altura, moreno chateado e fazendo birra. E no fim era ela que cedia. Jimin agora era grandinho o suficiente, deveria ser ele a dizer para si mesmo para parar, para comer de forma saudável, para não comer porcarias tão regularmente e naquela quantidade. Só que não o fazia. Não tinha poder sobre si próprio, sobre a sua mente tão iludida com a “fome”. E agora chegou ao ponto que chegou: uma barriga que quase rasgava sua camisa. Pronto, exagero. Era só um pouco para fora da órbita abdominal, fazia um pequeno meio círculo, não uma reta toda bonita e sedutora. Ela podia ser ao menos lisa, sem qualquer cubículo, sem nada, apenas e só uma tábua pálida, mas nem isso era...

– Jimin, por favor, coma bem, sim, meu filho? Não o quero ver passando fome ou dietas loucas, alimente-se apropriadamente! Eu vou estar sempre ao seu lado, querido! – a mão da senhora agora acariciava a bochecha farta do ruivo.

– Por favor mãe, não vamos entrar por aí. – pôs a sua própria mão por cima da dela e sorriu terno – Eu estou bem, você sabe que eu sou responsável, eu não vou fazer nenhuma asneira com a minha saúde. Até porque eu tenho esta gordura toda para me proteger, né?

Os dois deram uma risada, ainda que a do rapaz tivesse um tom mais amargo por causa das suas próprias palavras. Não queria ter de preocupar a sua mãe, já bastava tudo o que ela havia passado uns anos atrás, não lhe tencionava dar mais desgostos. Só a desejava ver feliz, era o seu propósito de vida.

(…)

Assim que Jimin chegara ao seu apartamento, deu um longo suspiro ao ver o que o campo de visão lhe permitia. Era a sua nova moradia e tinha passado a semana tão ocupado no seu novo trabalho e alguns documentos, que deixou a casa chegar a um estado de bagunça que nunca antes vira. Havia roupas espalhadas pelos cómodos, pareciam até fazer trilhas de boas vindas desde a porta de entrada até ao seu quarto. Seria engraçado se não fosse trágico. Essas roupas todas já deveriam ter sido postas para lavar, mas a preguiça era tanta que acabava se esquecendo e quando se lembrava, apenas deixava para outra hora. De hoje não passaria. Tinha mesmo de organizar aquilo, caso contrário todos os móveis novos que estariam para vir no dia seguinte não caberiam ali, no apartamento aparentemente minúsculo.

Iniciou a arrumação com o apanhar de todas as peças de pano dispersas pelos vários compartimentos. Para não correr riscos, apanhou todas as roupas, sem se importar se estavam ou não realmente sujas, iria lavar todas sem exceção. Assim que encheu o cesto, foi à pequena lavanderia e pôs-se a separar cada peça pela sua cor. Rendeu um trabalho de 5 minutos, mas conseguiu.

Pôs as mãos na cozinha. Pensou que fosse morrer quando viu a pia cheia de louça, potes de ramen em cima da mesa de jantar – só para não mencionar os que estavam no seu quarto e sala –, papéis jogados no chão entre outros mil e um detalhes. Suspirou e começou a limpar tudo. Juntou o lixo e separou por cada pequeno contentor de reciclagem ali da cozinha (desde pequeno que sua mãe o obrigava a separar o lixo, ao início achava chato, mas com o passar dos anos foi-se transformando de uma obrigação para uma necessidade, um hábito). Retirou os pratos, copos e talheres, encheu a pia de água e quando ia começar a lavar, lembrou-se do que faltava. Não havia posto música! Como assim lavar a louça e arrumar a casa sem música?! Não, não, não dava, era por isso que tudo estava a demorar tanto!

Com a música a soar pelo telemóvel, continuou com as limpezas. Aspirou, limpou o pó de todos os móveis, lavou o chão – caiu de bunda uma vez –, desempacotou algumas das caixas que havia trago de casa com seus pertences, estendeu a roupa da primeira lavagem e, finalmente, quando na sua humilde opinião havia feito tudo o que tinha para fazer, deixou-se desabar no sofá, completamente exausto.

Quantos quilos será que perdi só com isto?, questionou-se mentalmente enquanto mantinha os olhos fechados, o braço sobre eles e tentava regularizar a respiração, com direito a suspiros profundos.

A casa até mesmo parecia ter ficado 5x maior de tamanho, tinha tanto espaço livre que não conseguia sequer imaginar com quê que haveria de o preencher! Vasos? Não, ele sempre acabava se esquecendo de regar as plantas. Estantes de livros? Também não parecia ser a melhor opção, pouco livro lia, havia perdido o interesse por ser tudo tão igual. Sim, era isso mesmo, compraria um armário com portas de vidro e enchê-lo-ia com as suas preciosas figurinhas! Não havia escolha melhor que essa!

Ouviu o telemóvel vibrar na mesinha do centro, mas não lhe deu atenção, não tinha forças. Pela duração da vibração sabia que era uma mensagem, podia lê-la mais tarde. Alguns poucos minutos se passaram e o aparelho voltou a vibrar, agora indicando uma chamada. Ainda que a contragosto e com os músculos tensos, pegou nele e viu no visor o remetente, logo atendendo.

– Sim, Tae? – inquiriu com voz gasta.

– ...Ei, tá tudo bem? Sua voz está muito ‘pra baixo...

– Estava muito bem até ter de atender a sua ligação – fez uma pequena pausa – Mas diga aí o que queria de tão importante.

– Estávamos a pensar em ir ao McDonald's, quer vir connosco?! – a animação do outro era bem evidente na fala.

Assim que escutou a proposta, sua mente pareceu paralisar, incapacitada de decidir algo. Na verdade, Jimin estava a tentar fazer dieta – havia começado uma ontem, mais uma das cento e cinquenta tentativas falhas anteriores –, então comer fast food estava fora de questão.

Só uma vez...será a última vez, antes de entrar de cabeça na dieta! Só hoje!, tentava convencer-se. Era como comemorar a entrada na dieta, certo? Iria ganhar uns quilinhos e tal, mas a partir do dia seguinte os perderia, não é mesmo? Uma vez não fazia mal a ninguém...

– Então, vai ou não Jimin?! Não tenho tanto dinheiro assim para gastar em chamadas onde não obtenho respostas!

– Calma estressadinho, vou sim! – pronunciou-se por fim – É no mesmo lugar de sempre?

– Sim, daqui a meia hora.

– Então vou só me arrumar e vou logo pra lá.

– Tá bom, só não me faça esperar outra vez!

– Sim, sim

A chamada terminou e logo Jimin voou até ao quarto. Abriu o guarda-roupa e viu o desespero lhe consumir: não tinha nada para vestir, havia posto tudo para lavar. Andou até ao estendal e tocou nas roupas, com uma esperança inocente de elas terem secado.

– Ainda estão molhadas... – resmungou, tristonho.

Não podia sair com a roupa que estava, havia suado o dia inteiro, definitivamente carregava um cheiro horrível. A única solução eram as roupas velhas que tinha e que havia trazido consigo, só para usar por casa mesmo. Bom, não é que uma saída ao Mc se tratasse de um desfile, de qualquer modo.

Pegou uma camiseta preta com estampa de super-herói, uma calça desportiva bem folgada e as primeiras cuecas limpas que achou na mala, levando tudo para o banheiro a fim de tomar uma ducha rápida. Já todo cheirosinho a sabonete, arranjou-se em frente ao espelho pequeno que havia no seu quarto e foi até à sala, pegando o celular e a carteira, pronto para sair de casa.

O McDonald's onde haviam combinado se encontrar ficava a 5 minutos de distância da sua residência. Ainda que Jimin não fosse exatamente fit, ele conseguia correr bastante graças à resistência que tinha nas pernas – adquirida com longas horas de dança – e sua respiração era extremamente regularizada. Graças a isso chegou ao estabelecimento em menos de 3 minutos, logo sendo recebido pelos amigos que já haviam feito os pedidos, até para o Jimin (já se conheciam tão bem que sabiam o que cada um queria comer, era um hábito comprar uns para os outros).

– Nem acredito que hoje só se atrasou por 2 minutos! Gente, registem este recorde, pelo amor de deus, porque duvido que ele o bata tão cedo.

Jimin gargalhou com isso e sentou-se ao lado do amigo, dando-lhe uma cotovelada pela provocação.

Os outros dois garotos sentados à frente acabavam-se a rir daquilo tudo. Se Taehyung e Jimin não discutissem por coisas bobas, com certeza eles haviam sido trocados por algum alienígena!

– Mas o que interessa é que tou aqui, não é?! Agora coma o seu hambúrguer calado, a alface está a cair toda!

O moreno logo olhou para a comida e deu uma trinca, não se dando por vencido na discussão.

– E bocê coma essa bapata frita, já debe tar toda bria!

– Não fale de boca cheia, seu mal-educado!

O moreno com uma mecha verde perdida entre os fios o olhou com olhar mortífero, mas tudo acabou com risadas. Todos os quatro naquela mesa falavam quase que ao mesmo tempo, querendo partilhar as últimas novidades das suas vidas. Era engraçado como aquele quarteto se mantinha tão unido ao longo dos anos. Os outros dois sentados ao lado de Taehyung e Jimin eram Yoongi e Namjoon. Juntos, conheciam-se desde o ensino médio. Nesses tempos, Taehyung era um cabeça no ar e Jimin partilhava do mesmo dom, gerando assim uma atração magnética entre os dois, que desde esse dia não se largaram mais. Na época dos exames, ambos se viram ferrados, as festas haviam sido tantas que a cabeça não conseguia mais processar as informações das aulas. Não houve outra escolha senão, envergonhados, pedirem ajuda para o loiro génio da escola: Kim Namjoon. Ele sempre ficava no Top1 dos exames nacionais, com certeza ajudaria. Graças a isso, os três se aproximaram bastante e desenvolveram uma forte amizade, aprendendo com o Kim mais velho a ser mais responsáveis com tudo na vida.

Já com Yoongi a história foi muito diferente. Na escola, o rapaz era presidente do conselho estudantil e também o capitão da equipe de basquetebol. Ainda que fosse popular entre as garotas ele jamais saiu com alguma delas. Entre os garotos, ele geralmente apenas falava com os da equipe, não se esforçando muito para estabelecer relações com os outros. Já nesses tempos Yoongi era magro, mas não tanto como atualmente. Um dia, quando Jimin, Taehyung e Namjoon procuravam um lugar para lanchar no pátio agitado, notaram o presidente sentado no relvado, debaixo de uma grande árvore e escutando de olhos fechados música nos fones. Como era o único espaço sossegado, resolveram ir até lá perguntar se podiam lanchar perto dele, o que acabou abrindo brecha para uma amizade sem igual. Yoongi logo se enturmou no grupinho; ele e Namjoon partilhavam do gosto pela música; Taehyung encontrou o especial amigo que lhe ajudaria a conquistar as lindas garotas da escola e Jimin viu nele alguém a quem pudesse confessar os seus medos e segredos sem ter receio de ser julgado.

– Tá escutando Yoongi? – o loiro do grupo questionou, estalando os dedos em frente ao rosto do outro.

– Ah...? Desculpem, acabei por me distrair a meio da conversa...

– Tava pensando em quê seu safado? – Taehyung perguntou com um sorriso malicioso, deixando o platinado ao seu lado confuso – Eu bem vi como você encarava a gata da mesa à frente à nossa!

Nesse instante, todos olharam para trás e confirmaram a beleza da moça. Ela tinha mesmo um corpo lindo, daqueles de roubar o olhar por onde quer que passe.

– Eu não tava olhando pra ela, você que presta atenção em qualquer saia curta que apareça por aí!

– Ei! Ao menos eu aproveito bem a vida tá?! – os meninos caíram na risada com seu ar confiante – Já vos falei da atriz com que estou a trabalhar agora?! Ela é fodidamente gostosa, pena que a personagem dela exija roupas mais reservadas...

Com aquela fala, mais uma conversa animada se iniciou no quarteto. Os rapazes, agora adultos, tinham seus próprios trabalhos. Taehyung, que entre eles sempre era o mais estiloso, acabou se tornando um estilista, fazendo imenso sucesso nos sets de filmagem. Os atores dos doramas dos quais ele era estilista sempre recebiam elogios pelas roupas. E para o moreno, mais do que esses louvores, o que lhe dava prazer era poder trabalhar com todo o tipo de mulher linda. Já Namjoon, com o crânio que tinha, por insistência dos pais acabou se tornando um professor de matemática numa das universidades mais prestigiadas de Seoul, ainda que muito jovem – ser inteligente e ter pais com muitos contactos era o caminho para o sucesso profissional. Jimin finalmente arranjara um emprego como professor numa academia de dança, por causa disso teve de sair da casa onde vivia e arranjar um apartamento, para assim ficar mais perto do local do trabalho. Já Yoongi era o único desempregado entre os garotos. Era o mais velho, mas ainda não conseguiu o que queria. Também não desejava viver de algo que não fosse do seu interesse. Era rapper underground de momento, vez ou outra alguma empresa comprava suas músicas, mas nunca lhe davam direitos autorias, ele era apenas um meio para o sucesso dos cantores famosos pouco se importando com moralismos, apenas querendo fama e dinheiro. E Yoongi nada podia dizer, havia assinado contratos de sigilo, era assim que o mundo do entretenimento funcionava, nem sempre jogava limpo. Mas com o passar do tempo, acabou se apercebendo que valia muito mais do que aquelas notas sujas, deixando tal vida, ganhando apenas com seu próprio esforço.

– Pois é! Como foi seu primeiro dia de aulas como professor, Jimin? – questionou Namjoon, animado para saber detalhes, logo atraindo a atenção dos outros jovens igualmente curiosos.

– Nem me diga nada... – bebericou um pouco de Coca-Cola – Os miúdos deviam estar a achar que encontrariam um deus grego, só pode! – bufou, visivelmente chateado.

– Não acredito! – Taehyung gargalhou – Você foi gozado por alunos de 16 anos?!

– Cale a boca Tae! – resmungou – O facto de eu estar acima do peso não me impede de ser um ótimo dançarino e muito lindo, tá?!

– Eu não estou a contrariar nada, agora os seus alunos... – riu mais uma vez, agora acompanhado pelos outros.

– Posso saber porque eu sou sempre o alvo das vossas piadas?! Sério, parece até que virei ator de comédia...

– Desculpe Jimin, mas gostaria imenso de ver a cara de desapontamento das mocinhas a quem vai dar aulas... – proferiu Yoongi, ainda rindo.

– Eu só entrei e fingi que não notei nada disso... depois da aula só as vi a cochichar coisas sobre mim, mas ignorei. O que importa é que eu faça bem o meu trabalho, o que falam sobre a minha aparência não me importa... – falou as últimas palavras com um peso no coração, com o tom de voz mais baixo.

Abaixou o rosto e deixou cair a batata no tabuleiro. Queria chorar por não se conseguir controlar. Caramba, qual era a dificuldade?! Era só não comer aquela carne gostosa e aquelas batatas salgadinhas tão boas...Não! Não! Ele tinha mesmo de parar de pensar nisso! Tinha mesmo de fazer o impossível para não comer porcarias tantas vezes, fazer ainda mais exercícios, ter uma alimentação saudável.

Jurava para si mesmo que iria mudar o estilo de vida assim que aquele convívio deles acabasse, iria mostrar para si mesmo que era ele que controlava a sua vida e não os seus desejos e impulsos.

(…)

Voltou para casa ainda cabisbaixo. Sabia que emagrecer era algo que dependia de si mesmo. Tinha de se privar de algumas coisas para obter resultados. Tinha de pôr esforço no que fazia. Uma semana não chegava. Duas também não. Teria de ser mais de um mês para ver efeitos evidentes. O difícil não era começar, mas sim se manter naquele regime. Ele queria resultados logo, sem exigir muito de si e era aí que residia todo o problema. Pior que tudo era ter consciência disso e não fazer nada, ser incapaz de lutar consigo próprio. Desistir sem ainda ter resistido até ao limite.

Entrou no seu quarto e deixou-se cair sobre a cama de lençóis macios. As lágrimas começaram a fazer o seu trabalho, escorrendo pelas macias maçãs do seu rosto. Sentiu a fúria o dominar. Queria acabar com aquela gordura toda, estava tão farto dela. Num impulso, passou as curtas unhas das mãos pelo seu próprio abdómen, trilhando retas vermelhas. Na zona que separava a sua barriga da virilha, apertou com bastante força toda a massa em excesso acumulada ali. Desejava tanto viver sem se sentir desconfortável com sua aparência...

(…)

Acordou a meio da noite, sentindo sua cabeça latejar. Chorar e dormir nunca se deram bem juntos. Levantou-se da cama e foi até ao banheiro buscar comprimidos para aliviar a dor. Olhou para o relógio no seu telemóvel e viu que eram apenas 22:47. Queria desabafar com alguém, tirar todo aquele fardo das suas costas, falar abertamente das suas preocupações e não ser julgado pelas escolhas erradas que fazia. E sabia bem com quem poderia contar para isso.

Foi à marcação rápida do celular e clicou na foto da pessoa, sendo logo redirecionado para a chamada. Estava ciente que teria de esperar três toques passarem, o amigo dizia amar demais o ringtone que usava e por causa disso só atendia no quarto toque.

– E aí? - ouvia a voz rouca do outro lado da linha.

– Oi Yoongi...Ainda tá acordado?

 Não, não, aqui fala o espírito do sono de Min Yoongi, ele está dormindo agora.

– Ah, hyung, pare com isso! – riu do sarcasmo do outro.

– Você faz com cada pergunta Jimin que o meu lado irónico não se aguenta sossegado!

– É, acho que já percebi isso faz uns tempos!

– Mas diga aí, porque me ligou? Passa-se alguma coisa?

O ruivo fez uma pausa para pensar em como ia abordar, deixando o outro rapaz ainda mais preocupado pela demora a responder.

– Hyung, eu preciso da sua ajuda.

– Ajuda para quê?

– Eu não sei o que fazer hyung...

Explicou a situação para o amigo com todos os pormenores. Na verdade, ambos já conversaram sobre isso, mas nunca se aprofundaram muito no tema, visto que Jimin acabava sempre mudando de assunto. Para o mais novo, Yoongi era o único que lhe podia realmente aconselhar algo útil, sem fazer piadas das suas palavras e seus pensamentos. Enquanto que o de cabeleira vermelho-alaranjada sofria por excesso de peso, o platinado estava abaixo dos números normais. Mas Yoongi não se importava com isso, ele se sentia bem vivendo naquele corpo.

– Jimin, você sabe que eu não posso ser de grande ajuda. Eu não me consigo transformar em você e parar de comer, né?

– Eu sei hyung, mas eu não me consigo controlar, parece até maldição! Quando tento fazer dieta, de início é tudo fácil, mas aí venho com desculpas do tipo “só vou comer mais uma vez” ou “só hoje não tem mal” e acaba voltado ao de sempre, eu me entupindo de ramen às onze da noite!

– Se você sabe disso tudo porque não luta contra si mesmo e essa vontade incontrolável?

– Lá está...eu luto, mas perco sempre...

– Desculpe, Jimin, eu não sei mesmo como o incentivar a isso. Eu nunca tenho vontade de comer, às vezes só como mesmo por obrigação, então é meio difícil pôr-me na sua pele...

– Entendo...

– Não fique assim, é só voc--, espere, você já tentou ir numa academia? Talvez se você for lá ganhe mais motivação.

– É, eu sei e não, nunca fui... – respondeu com um tom mais baixo e receoso.

– Porquê? Você dá aulas de dança, mas isso não quer dizer que seja suficiente para dar-lhe um corpo lindo, tem de trabalhar nele todos os dias. Ir à academia só lhe faria bem.

– Eu não posso, hyung... – tinha um pouco de vergonha de confessar a razão disso, mas se queria mesmo ajuda, teria de o fazer –...é que eu tenho medo de ser zombado, entende? Eu teria de usar roupa mais curta para não fazer tanto calor enquanto me exercito...Além disso, terá muita gente me observando, e provavelmente todos serão bem mais musculosos que eu, não quero chamar atenção para o meu corpo...

 Jimin, você ao menos entende que academia não é só para se manter em forma? É também para começar a ficar em forma! Terá mais pessoas como você, com receios iguais aos seus. Aliás, nenhum deles estará ligando para a sua existência senão os instrutores. As pessoas vão lá para cuidar dos seus corpos, não dos outros. Com toda a certeza eles estarão focados nos seus exercícios, sem se importar com quem os rodeia.

Após escutar isso, o ruivo refletiu nas palavras do mais velho. Se calhar ele tinha razão, talvez devesse dar uma chance, afinal não custava e pode ser que até gostasse do ambiente.

– Mas quer mesmo que eu lhe seja sincero Jiminnie? Eu acho que só ir na academia não lhe vai chegar... – ouvindo tal coisa, o coração do pequeno pareceu apertar mais do que o normal – ...não estou dizendo que você não consiga, só acho que não tem bases para isso. Deveria tentar arranjar um personal trainer ao invés disso, ele sim lhe ajudaria mais.

– Um personal trainer? – agora o rapaz parecia curioso.

– Sim. Ele poderia dizer o que você teria de fazer, além de organizar detalhadamente as porções que deveria comer a cada refeição. Ouvi dizer que é muito eficaz, além de que eles parecem incentivar muito os seus clientes, que definitivamente é o que você precisa, mais do que qualquer outra coisa.

– Acha? Será que vai resultar?

– Bem, eu não lhe posso dar certezas, mas não custa nada tentar... quer dizer, custar custa, e não parece que seja pouco... sabe que vai ficar caro arranjar um Personal Trainer, não sabe?

– Se ele me conseguir fazer ficar em forma e manter-me nesse caminho, acho que não será dinheiro mal investido. Até porque agora que comecei a ganhar bem, acho que devo aproveitar este momento...

– Ahah, força aí meu dongsaeng, sei que vai ser capaz!

– Ver você me encorajando é bom, sabia? É raro, mas é bom.

– Não se habitue muito moleque, eu não sou sempre assim generoso.

– Eu sei hyung – fez uma pausa para sorrir bem largo – Obrigado por tudo.

– Ei, somos amigos, estou aqui ‘pra isso.

– Sim. Vou desligar, huh? Está a ficar tarde e eu amanhã tenho de trabalhar.

– É melhor mesmo. Durma bem.

– Você também, boa noite.

Assim que encerrou a chamada, caiu na cama, encarando o teto com uma linda curva iluminando seu rosto e deixando expostos os dentes branquinhos. Estava extremamente feliz por ter compartilhado as suas preocupações com o mais velho, o fardo que carregava tornou-se mil vezes menos pesado.

Estava na hora de dormir e foi exatamente isso que fez. Levantou da cama e foi até ao armário para tirar uma t-shirt negra. Ainda que fosse outono lá fora, dentro do apartamento estava bastante quentinho. E ele mesmo odiava dormir com muitas roupas, se sentia desconfortável. Dormir de cueca box e camisa leve era o melhor.

Agora que finalmente estava devidamente vestido e debaixo dos cobertores aconchegantes, deixava sua mente vagar por aí. Sentia-se ansioso por ir numa academia, como aconselhado pelo seu amigo. O coração parecia flutuar, querer sair da pequena zona de conforto. Sempre tinha esse sentimento antes de fazer algo novo, parecia um garotinho da primária animado para ir numa viagem.

Mas era tão bom dormir com a consciência tranquila. Com a sensação de que tudo iria mudar a partir do dia seguinte. Que ele se tornaria outra pessoa. E assim ficava imaginando como seria se emagrecesse, o quanto sua rotina iria mudar. Tão absorto nesses pensamentos, acabou não se apercebendo de quando todos os seus músculos relaxaram e ele se deixou levar para outro mundo.


Notas Finais


Bem, e é tudo por agora! Pra semana tem mais, com certeza! <3
Eu corrigi umas 4 vezes antes de publicar, mas qualquer erro me avisem, tá? Comentários e opiniões também são muito bem vindos ><
Este capítulo foi como um remate para o resto da fic, no próximo terá mais interações e mais coisinhas!
Vá, vou deixar-vos em paz, hehe! Beijinhos <3


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