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História Shadow Grooves - The Black Guardian


Escrita por: Drankenoff

Notas do Autor


Faz um tempo que não apareço por aqui... Faculdade, trabalho, um acidente recente.
De qualquer jeito, peço perdão pela demora, e trago este novo capítulo da história.

Boa leitura.

Capa do capítulo: Hyoru e Leon, sentados na mesa de um bar, jogando xadrez, jogo este onde Leon parecia vencer. Hikari, sentada junto deles e observando a partida, tinha Hakuro em sua forma menor em seus braços.

Capítulo 6 - The Black Guardian


“Eu agradeço que vocês tenham aceito o convite, depois de sermos tratados...” – Amalia dizia, dando um leve sorriso enquanto sentava-se na cadeira de uma das mesas nos fundos do bar de Lara, que, mesmo com a invasão tendo um término favorável há poucas horas, abriu o bar sem medo, embora o mesmo ainda estivesse um tanto vazio.

À frente da capitã jaziam Hyoru e Hikari, ambos já com seus ferimentos tratados e cicatrizados, cabelos molhados pelos recentes banhos, e roupas diferentes, ambos comendo sanduíches enquanto tomavam seus drinks; saquê para ela, e vodca para ele.
Hyoru tinha uma nova enorme cicatriz em sua testa, acima de sua sobrancelha esquerda, cortesia do Lion Fist de Leon, e o rapaz apenas trocara sua robe de capuz, agora com Hikari por conta do frio, por um sobretudo branco sem mangas de capuz.
Hikari, por outro lado, possuía diversas finas linhas em seu braço esquerdo, causados pelo chicote de Jiga, e ela substituíra o qipao branco por um negro com detalhes brancos, suas calças agora eram brancas, e os sapatos continuavam negros.
E, ao contrário de Hikari e Hyoru, Amalia tinha várias partes de seu corpo enfaixadas, em especial seu braço esquerdo, que havia sofrido os maiores danos do confronto com a besta negra, e ainda sim, ela usava um vestido branco sem mangas e botas negras cano-longo, lembrando seu “uniforme” de capitã.

“Bom, primeiramente, eu queria agradecer, de novo, pela ajuda que nos deram hoje. Sem vocês, a resolução desta invasão seria outra.” – Amalia continuou, notando como a expressão de Hikari tornara-se triste, a capitã então tomando um gole de seu próprio sakê.

“Não precisa... Foi, de certa forma, culpa nossa eles terem atacado essa cidade.” – Hikari dizia, sua voz carregada com culpa e tristeza, e Amalia notou como Hyoru também abaixara momentaneamente os olhos com as palavras da garota.

“Eu chegarei nesse ponto em breve. Mas antes...” – Amalia dizia, sendo interrompida antes que pudesse completar a frase ao que Hyoru engoliu a metade restante de seu sanduíche.

“As perdas.” – Hyoru pronunciou-se, sua expresse séria natural retornando ao que ele tomou metade da sua garrafa em um gole, surpreendendo ambas as mulheres não só com o ato, mas como ele não parecia afetado pela bebida. – “Com quantos eu falhei...?

"Eu nem tomei meu sakê direito e já estou começando a sentir os efeitos, mas ele..." - A Lightslinger pensava, observando o rapaz. - "Vodca pura, e nenhum efeito, nenhuma reação... desde que o conheço, ele bebe com certa frequência, mas em pequenos goles... mas agora, ele..."

“Trinta e três soldados ficaram feridos, enquanto dezessete soldados morreram. Doze civis morreram, e outros vinte e cinco ficaram feridos.” – Amalia respondeu, e novamente Hikari abaixou os olhos em tristeza, embora Hyoru não tivesse esboçado reação. – “A pronunciação oficial será amanhã à tarde.”

“Os capitães?” – Ele continuou, visto que ela não havia comentado sobre si ou sobre os outros capitães. – “Eles se põem a frente de seus soldados... alguns capitães ainda são bons.” – Ele pensava, lembrando-se de Wagol também.

“Eu vou ficar sem o uso completo do meu braço esquerdo por uns dias... mas estou bem.” – Ela disse, sinalizando para que a bartender os atendesse, e após fazerem seus pedidos, a capitã retomou a fala. – “Slaw e Nagor ainda estão no hospital. Nagor, embora bastante ferido, não tem nada sério, mas Slaw já estava ferido antes, então ele vai demorar um pouco... mas vai melhorar. Sua regeneração incrível dá até inveja, com todo o respeito, Hikari.” - Ela admirava, vendo como a moça já não tinha mais praticamente quaisquer marcas de seu confronto sangrento com Jiga.

“Não tem problema. Mas até mesmo eu estou descobrindo meus limites... Eu posso curar mais rápido, mas aparentemente, eu não sou imune à cicatrizes.” – Hikari disse, apontando com sua mão direita cicatrizada às linhas em seu braço esquerdo. – “Mas... e ele?” – Hikari pronunciou-se, referindo-se à besta.

“Sedado e preso com algemas seladoras de mana, para que pudesse ser tratado sem problemas. A aura dele desestabilizou-se um tempo depois de ser liberto, e ele teve de ser contido. Ele esteve possuído por um longo tempo, aparentemente.” – Amalia contava, dando um suspiro. – “Seu golpe, embora não letal, foi bem danoso à ele, Hyoru.” – Ela disse, embora deixando claro em seu tom que ela não o reprimia.

“Anular, da forma mais pragmática possível, todos os problemas...” – O rapaz comentou, fechando momentaneamente os olhos enquanto ele entornava o restante de sua vodca, um leve sorriso de canto de boca surgindo ao que ele ouviu uma certa movimentação. Um segundo depois, uma pesada e dura mão pousou sobre seu ombro, fazendo com que o rapaz de cabelos brancos se surpreendesse não com o dono dela, mas novamente com como ele em si não reagira fortemente ao contato. – “Eu estou amolecendo, eu acho...

“Por isso você matou aquela mulher tão rápido? As lutas não têm graça assim...” – A voz barítona de Leon fez-se presente à todos ali na mesa, para a ligeira surpresa de Amalia e Hikari. Olhando em direção ao rapaz, elas puderam ver que ele estava acompanhado da bartender, que trazia, além de novas garrafas aos três à mesa, uma garrafa de uísque que pertencia ao ruivo. O rapaz também já estava completamente recuperado dos confrontos, embora o Blaze Overdrive de Hyoru tivesse o deixado com uma enorme cicatriz vermelho-escura em seu torso, e ele usava agora um sobretudo de cores invertidas, sendo negro com as bordas vermelhas, os cabelos ruivos similarmente molhados. – “Mas comigo não funcionou, hn?” – Ele gabou-se, dando um pequeno sorriso.

“Não. Eu não queria matá-lo. Mas ainda sim...” – O Darkslayer respondeu, observando a cicatriz que ele deixara no ruivo, e Leon deu uma leve risada em resposta.

“É... você também não saiu ileso, mesmo sem intenção de matá-lo...” – O Red Beast respondeu, apontando à nova cicatriz na testa do espadachim, que assentiu em resposta enquanto esboçava um minúsculo sorriso.

“Leon! Sente-se conosco.” – Hikari disse, animada, enquanto Lara colocava os pedidos à mesa. – “Você... se recuperou muito rápido, também.”

“Yo. Obrigado pelo convite.” – O ruivo cumprimentou mais “formalmente”, puxando uma cadeira e sentando-se junto dos três. – “Não achei que vocês fossem de beber...” - Ele então notou a garrafa vazia de Hyoru que Lara retirava com a permissão do Darkslayer, abrindo um sorriso. - "Vodca pura, e nem corado você tá...?"

Ele desconversou... a cura dele não é normal. Ele tem esse jeito descontraído, mas esconde segredos também...” – Hyoru pensou, decidindo então responder o ruivo ao que a bartender se retirou completamente. – “Minhas chamas... queimam o álcool. Não fico bêbado.”

"Oh? Então você é um trem humano, queimando combustível?" - O lutador levantou uma sobrancelha, seu sorriso se tornando mais malicioso ao que ele levantou a sua garrafa de uísque em convite à Hyoru. - "Então eu finalmente tenho uma companhia à altura pra beber...!"

E vendo Hyoru levantar e bater levemente a sua garrafa de vodca contra a de uísque de Leon em brinde, os dois entornando grande parte das mesmas em um único gole, Hikari pôde claramente ver dois amigos, tão recentes mas que pareciam se conhecer há tanto tempo, divertindo-se, a cena a trazendo um espontâneo sorriso ao que ela também resolveu erguer sua garrafa de sakê, brindando junto com os dois logo em seguida.

E fora então a vez de Amalia notar como eles pareciam amigos longínquos, os sorrisos de Leon e Hikari contagiando até mesmo Hyoru.

“Precisávamos resolver certos assuntos... Mas sua presença é bem-vinda, Red Beast.” – Amalia disse, e Leon sorriu de canto de boca com o título. – “Você, afinal, também ajudou a conter a invasão. Deve receber sua recompensa, também.” – A moça continuou, retirando de sua bolsa no chão um pequeno e pesado saco negro, colocando-o em cima da mesa. Com isso, foi possível aos três forasteiros verem o conteúdo do saco: moedas de ouro.

“São mais de quarenta moedas...” – Hikari contou visualmente o saco por um breve segundo, observando então Hyoru. – “Então é assim que ele ganha a vida...

“...A Redskull era um grupo de foragidos, com recompensas sobre suas mortes. Como eram demônios, não deixam corpos, mas deixaram suas Soul Weapons, com exceção de Ybon, que não usava.” – Amalia explicou, observando Hyoru e Hikari diretamente. – “Eu os agradeço por nos entregarem elas, depois que tudo se resolveu.”

“Não as entregamos. Vocês as conseguiram." - Hyoru corrigiu, e Amalia entendeu a mensagem implícita do Darkslayer, a capitã assentindo com a cabeça.

“Shuura atacou Rosário... Então eles realmente estavam lá. Mas ainda sim...” – Amalia pensava, quando então Hikari terminou de contar as moedas do saco.

“São quarenta e duas. Que bom, podemos dividir igualmente entre nós seis...” – Hikari disse, dando um pequeno sorriso.

“Igualmente? Não. Não teríamos parado o ataque sozinhos. Dividam entre vocês.” – Amalia contestou, séria. – “Nós três concordamos.”

“É mesmo?” – Hikari disse, e passando os olhos por Leon e Hyoru, que assentiram com a cabeça, ela sorriu. – “Então nós concordamos em dar metade das nossas moedas à vocês.” – Ela declarou, separando metade das moedas para si, Leon e Hyoru, e colocando à frente da capitão o resto das moedas, tomando então uma expressão surpreendentemente séria em seu rosto. – “É uma ordem, capitã.”

Caramba...” – Leon pensava, surpreso com as palavras da Lightslinger, vendo a capitã perder o confronto de olhares com a garota.

“...Tch. Você venceu...” – Amalia suspirou, derrotada, colocando então as moedas de volta ao saco negro, fazendo com que Hikari trocasse a seriedade por um sorriso singelo, a capitã retribuindo com um pequeno sorriso. – “Dividirei com os capitães.”

“Dá pra beber por um tempo...” – Leon disse, sorrindo de canto de boca, deixando então três moedas à frente de Hikari, que, ao tentar contestar, foi interrompida pelo ruivo. – “Não preciso de tanto... e também não participei tanto assim. Você precisará mais do que eu, minha intuição diz. Não é mesmo, Hyoru?”

“Sim.” – O Darkslayer concordou, deixando quatro moedas à garota. – “Aceite, como um de vários pedidos de desculpa.” – Ele disse, e quando Hikari tomou uma expressão séria para contestá-lo, ele em si franziu os cenhos ainda mais. – “Comigo não adianta.” – Ele disse, e tentando ainda alguma coisa, ela virou-se à Leon, que levantou uma sobrancelha à si, dando um ligeiro sorriso, e então, Hikari percebeu ter sido derrotada em seu próprio jogo.

“Vocês dois são tão...” – A dama reclamou, não terminando a frase, mas recolhendo as moedas em seu próprio saco, suspirando e sorrindo então. – “Obrigada, rapazes.”

“A população em geral agradece, também.” – Lara disse ao voltar a mesa após atender alguns clientes, dando um pequeno sorriso. – “Foi bom vocês estarem por aqui. Por isso... essa rodada é por conta da casa.” – Ela disse, observando então Hyoru e aproximando-se um pouco do rapaz, aparentemente não intimidada pela aparência e reputação do assassino. – “...Mas bem que você podia tomar cuidado com o frio que você causa em lugares fechados.”

“...Eu peço perdão pelo incômodo.” – O rapaz disse, recebendo como resposta um aceno brincalhão de cabeça da bartender. – “Eu preciso tomar mais cuidado, realmente...

“Assim a bebida fica gelada por mais tempo.” – Lara brincou, e Hyoru levantou uma sobrancelha, Hikari dando uma breve risada em resposta.

“É, assim eu nunca mais vou sair daqui...” – Leon disse em um tom sacana, observando Lara, que sorriu de volta. – “Bebida por conta da casa, e gelada ainda!” – Ele adicionou enquanto observava Hyoru, que apenas grunhiu em resposta.

“Qualquer coisa, é só chamarem.” – Lara disse, dando uma piscadela à Leon antes de retirar-se mais uma vez.

“Por conta da sua atuação nessa invasão, e por entender o que aconteceu, eu vou ignorar o ocorrido desta madrugada... Contanto que não aconteça novamente.” – Amalia disse ao ruivo, sua expressão séria, mesmo quando ela sabia que, pelo menos fisicamente, ela não tinha a menor chance de pará-lo.

“Eu já disse... é só não me perturbarem, e fontes não serão destruídas...” – O Red Beast respondeu, dando um pequeno sorriso quando a expressão de Amalia tornou-se levemente irritada, enquanto Hikari e Hyoru não entendiam sobre o quê eles falavam.

“Agora que tiramos isso da frente, e antes que eu prossiga com vocês dois...” – A capitã dizia, voltando seu olhar à Hikari e Hyoru. -  “Eu preciso saber... o que aconteceu em Rosário. Nós recebemos uma mensagem dizendo que não houve sobreviventes, e de repente...”

“Vocês não receberam a mensagem diretamente de Wagol, capitão estacionado em Vila Rosário, mas sim do capitão em Sagria ao qual ele enviou essa mensagem, através de um manacythe, dizendo que não houve sobreviventes.” – Hyoru disse, surpreendendo a capitã com a veracidade das informações. – “Nós o encontramos pouco depois do término da luta, enterrando seus soldados. Na hora que Wagol usou o manacythe, eu não sei se ele já sabia da morte de Shuura. Mas, o ocorrido em si...”

“Me deixe contar.” – Hikari pediu, surpreendendo Hyoru novamente com sua força. – “Quanto mais cedo eu superar isso... melhor.”

“Não se force demais, Hikari.” – Hyoru reprimiu, sem notar seu tom levemente mais suave com a garota, embora Amalia e Leon tivessem notado.

“Obrigada pela preocupação... Mas é um fardo meu também.” – A dama afirmou, e Leon sorriu de canto de boca com a determinação da garota, que observava o rapaz de cabelos brancos fundo nos olhos. Ela então colocou seu braço direito à sua frente, exibindo mais as cicatrizes no mesmo.  – “Essas cicatrizes... são marcas da minha falha também. Era a minha vila.”

“...É verdade.” – O Darkslayer concedeu, embora a contragosto, reclinando-se para trás em sua cadeira. – “Prossiga.”

“Antes que você comece...” – Leon interrompeu, sentindo-se levemente fora de lugar naquela mesa. – “Não é por mal, mas vocês mal me conhecem, e vice-versa. Se você quiser, eu posso me retirar.”

“Não precisa. Você não é uma pessoa má.” – Hikari afirmou, observando o ruivo fundo nos olhos também, e o próprio Leon surpreendeu-se com a certeza com a qual ela afirmava aquilo.

“Você fala com mais certeza que eu...” – O Red Beast disse em um tom brincalhão, dando um gole em sua garrafa e reclinando-se em sua cadeira também.

Sem mais interrupções, Hikari retomou a fala, contando os acontecimentos da noite passada em Rosário. Sua voz falhara diversas vezes, assim como ela parara diversas vezes para acalmar-se e não chorar durante sua contagem, especialmente na parte em que Tazuna era assassinado bruscamente, de como ela vira a seu pai morrer a sua frente sem conseguir fazer nada, e como ela libertara sua magia naquele momento de raiva, de como ainda sim não fora o suficiente para derrotar Shuura, como Hyoru aparecera quando tudo parecia perdido e a salvara ao assassinar o bando do Katsu Demon, e como eles haviam encontrado o capitão Wagol em seus últimos momentos, antes de abandonarem as cinzas de Vila Rosário e seguirem viagem por Sagria, até chegarem à Cidade Santuário horas atrás.

“Então foi isso que ocorreu...” – Amalia suspirou, triste. – “O quanto você perdeu...”

“Ao menos as pessoas daquela vila foram vingadas... ainda mais hoje, com o fim da Redskull. Eu me culpo por não conseguir protege-los..." - Hikari dizia, seus olhos baixos. - "...mesmo descobrindo minha magia, eu ainda sim não fui capaz de ao menos derrotar Shuura, quem dirá mata-lo.”

“Você não tem real experiência em combate, mesmo tendo sido treinada por um dos melhores capitães que o Reino já teve, e estava enfrentando o segundo líder mais perigoso da organização. Mesmo que sua magia pareça afetar demônios e bestas com mais força, se você não tem experiência... você não teve culpa.” – Hyoru afirmou, o tom dele deixando claro que ele próprio se culpava por aquilo. – “Você devia me culpar, e não a si mesma...

“A paz eterna aguarda aqueles que se sacrificam na guerra, pequena. Seu pai alcançará o Seshkath.” – Leon ofereceu suas palavras de conforto, tomando mais um gole de sua garrafa. Desde que ele se sentara junto à eles, tanto o Red Beast quanto o Darkslayer já haviam tomado outras seis garrafas de suas bebidas, nenhum dos dois apresentando qualquer sinal de embriaguez, para a dúvida e surpresa das moças.

“Obrigada, Leon.” – A dama agradeceu, embora ela desconhecesse o exato significado do termo usado pelo ruivo, a garota imaginando ser algum sinônimo de paraíso.

“E pensar, ainda, que você é filha de Tazuna, um dos ex-capitães... Seu pai foi um ótimo homem, Hikari.” – Amalia complementou, ligeiramente surpresa pela descendência da garota. – “Um capitão muito forte, e muito justo... Embora, sinceramente, você não pareça muito com ele. As tatuagens, as marcas, as orelhas, a aparência em si... Você é infinitamente mais bonita.” – Ela adicionou com um sorriso, e Hikari deu uma leve risada em resposta, lembrando-se carinhosamente de fazer o mesmo comentário quando pequena.

“Bem, eu fui abandonado pelos meus pais biológicos quando ainda era bebê... Tazuna me achou, e me criou desde então. Ele não é meu pai biológico, mas é meu pai verdadeiro...” – Hikari respondeu, dando um leve sorriso. – “Ele me contava de vez em quando sobre algumas experiências dele como capitão, mas eu não sabia que ele era tão reconhecido assim. Deve ser por isso que ele foi pra uma vila pequena, pra ter paz na aposentadoria...”

“O que vocês vão fazer agora?” – Perguntou a capitã, para ligeiro desconforto de Hyoru. – “Não pretendo repassar as localizações de vocês para outros capitães. É por pura curiosidade, visto que eu não acho que vocês continuarão por aqui.”

Ela está certa, mas... bem, mesmo que ela seja amigável e saiba da história de Hikari, eu não sei se é confiável... Ela é do Reino, afinal de contas.” – Pensava o rapaz de cabelos brancos. – “Saber o meu caminho é...

“Pra onde a vida me levar.” – Respondeu Leon antes que Hikari pudesse fazer o mesmo, um sorriso pequeno em seus lábios e um brilho em seus olhos verdes. – “Debaixo das estrelas eu cresci, e eu não tenho laços que me segurem. De todos os lugares que eu vou, eu só trago o orgulho e sabedoria... Viajante, errante, nômade, vagabundo, me chame do que quiser. A Terra é o meu trono, e a estrada, a minha noiva.” – Ele terminou ao dar um gole em sua sétima garrafa, dando um pequeno sorriso de canto de boca em seguida, e Hikari parecia divertida com a declaração do ruivo.

“Eu... irei até Cidade Santuário, onde um amigo de Tazuna vive.” – A Lightslinger respondeu, observando o Darkslayer em busca de aprovação, que, após alguns segundos de pensamento, ele concedeu com um assentimento de cabeça. - "E o Hyoru vai me acompanhar até lá."

“Entendo. Então vocês têm um destino...” – Amalia disse, dando então um pequeno sorriso enquanto observava Hyoru. – “E, novamente, não se preocupe, andarilho. Eu não vou repassar essa informação.”

“Você é muito... tranquila, capitã Amalia.” – Questionou Hyoru, tomando um gole de sua garrafa. – “Especialmente considerando eu e o Leon... mais eu, ainda.”

“Vocês nos ajudaram, e agora que eu lhe conheço um pouco melhor... Chame de intuição, ingenuidade, o que quiser.” – Amalia o respondeu, observando cada um fundo nos olhos antes de continuar. – “Mesmo que a força de vocês seja ainda maior do que nos é dito, vocês não são os demônios que lhes fazem parecer.”

Ah, que ironia...” – O Darkslayer pensou, enquanto Leon deu uma leve risada em resposta.

“O problema, porém, é que se vocês vão pra Santuário...” – A arqueira disse, rapidamente olhando em direção ao relógio do bar. – “Os horários de trem foram alterados devido aos ataques recentes. O único que sairá para Santuário hoje sairá daqui uma hora. Eu não sei se você pretende passar a noite aqui...”

“Não. Se podemos ir antes, ótimo, mas...” – Hikari dizia, lembrando-se da besta. – “Ainda tem ele...”

Foi então que, para ligeira surpresa deles, Amalia retirou um manacythe dourado de um bolso em seu vestido, e, concentrando um pouco de mana no mesmo, ele revelou a forma de Nagor após a pedra ganhar um pouco mais de cor. O homem tinha sua cabeça enfaixada, assim como partes de seu torso, visíveis pela imagem projetada na pedra.

“Capitã Amalia.” – O homem cumprimentou. – “A besta acordou... e deseja conversar com a garota.” – Ele adicionou à contragosto. – “Se recusa a falar, a não ser que seja com ela.”

“Já acordou? Interessante... Estaremos aí em breve, Nagor. Obrigada.” – A capitã respondeu, e desfazendo sua concentração, a imagem de Nagor desapareceu, assim como o manacythe voltou à sua cor fosca. - “Bem, parece que somos requisitados...” – Ela disse, sinalizando à Lara para que trouxesse a conta.

“Podem ir... eu faço questão de pagar, visto que eu encontrei alguém que consiga me acompanhar na bebida." - O Red Beast comentou enquanto observava o Darkslayer, que enchia sua cabaça com o resto de sua última garrafa. - "E eu ainda vou resolver alguns assuntos com a dona...” – O ruivo completou, e com um assentimento de cabeça geral, eles assim fizeram.

 

A besta fora tratada e selada no maior hospital da cidade, na área veterinária aos fundos do mesmo. A caminhada até lá fora tranquila, e Hyoru não se surpreendera com a boa recepção que Amalia tinha ao passar pelas ruas, sendo cumprimentada e acolhida por diversos civis durante o caminho, enquanto ele e Hikari andavam alguns metros afastados da capitã, de forma a não atrair atenção desnecessária.

Realmente, ainda existem capitães bons...” – Hyoru contemplava.

“Ela é boazinha, não?” – Hikari comentou, trazendo a atenção de Hyoru à si. – “Quer dizer, nós ajudamos eles, mas por você ser... bem, você, eu achei que ainda fossem tentar nos prender, ou coisa do tipo. E ela nos acolheu...”

“De fato. Deve ser também porque você está aqui.” – Hyoru concordou, observando novamente a garota, vendo mais uma vez as diversas novas cicatrizes pelo braço esquerdo da mesma, assim como as recentes de queimaduras no lado direito do corpo dela. – “Eu continuo falhando... assim como eu falhei, anos atrás...

“Então, o que você achou do Leon?” – A garota o perguntou, fazendo com que ele voltasse à olha-la diretamente. – “Ele me parece um rapaz bom. E forte...”

“Ah, sim...” – Hyoru concordou, dando um sorriso de canto de boca. – “E bom de bebida, também."

"Eu mal consegui tomar metade da minha garrafa de saquê, e vocês beberam várias de vodca e uísque..." - A Lightslinger disse, observando o rapaz mais de perto em busca de algum sinal de embriaguez. - "Eu nunca vi ninguém beber assim e não ter efeito..."

"Eu já estou acostumado, e como eu disse, também, minhas chamas queimam o álcool." - O Darkslayer respondeu, dando de ombros ao que ele tomou um gole de seu cantil. - "Mas, pelo menos, com esse tanto de vodca... talvez eu consiga dormir no trem."

"Eu consigo sentir... ele não bebe só porque gosta." - Hikari analisava quietamente. - "É também uma forma de suportar todo o peso que ele carrega, de amortecer um pouco a dor e culpa dele..."

Eles não demoraram a chegar ao enorme hospital da cidade, movimentado devido à invasão. Dividido em duas enormes estruturas, o hospital atendia também animais e outros seres, e tendo a entrada permitida por Amalia como seus acompanhantes, Hyoru e Hikari a seguiram até os fundos da ala veterinária, onde a besta estava selada, e ao se aproximarem do local, os três encontraram Nagor fora da sala onde a besta era mantida, assim como dois outros soldados do reino ao lado das portas.

“Hikari, Hyoru, Amalia, boa noite.” – Nagor cumprimentou, recebendo acenos de cabeça dos três.

“Boa noite novamente, capitão. Alguma novidade?” – Amalia tomou a frente da conversa, recebendo um aceno negativo de resposta de Nagor.

“Não. Recusa-se a falar, a não ser que seja com ela.” – O capitão respondeu, observando Hikari, notando então a chegada de um rapaz ruivo. – “Você é...”

“Leon Ironheart, prazer.” – Leon disse, trazendo a atenção de todos à si, o ruivo sorrindo com o olhar de Nagor à si. – “Não imagino que vá tentar me prender, hm?”

“Não há muito que fazer aqui fora, então. Vamos entrar.” – Amalia disse, quebrando o clima e acenando aos dois soldados, que abriram a porta em seguida.

A sala era grande e levemente escura, com poucas luzes artificiais a iluminando, e em seu centro jazia a besta, que tinha uma algema vermelha ligada por uma corrente ao chão ao redor de seu corpo. A besta, diferente de antes, agora estava em sua forma menor, assim como seus olhos agora eram azuis com as escleras brancas, ao contrário dos vermelhos com escleras negras de quando estava possuído.

“Então, enfim, a luz retornou...” – A besta vociferou, sua voz grossa assim como em sua forma maior, para a ligeira surpresa de Hyoru e Leon, que ainda não haviam ouvido a besta falar.

“Como você se sente?” – Hikari o questionou, sentando-se a sua frente, um tanto curiosa para saber porque ela sentia-se familiar com aquela besta.

“Pesado. Culpado. Livre, mesmo com essa algema.” – A besta respondeu, observando os artefatos, antes de retornar seu olhar à garota. – “Mas, finalmente... eu te encontrei de novo, Aria.”

“Aria? Meu nome é Hikari.” – A garota respondeu, para ligeira surpresa da besta, que entendeu então o que acontecia.

Aria, então você...” – A besta pensava, sentindo o pesar de sua realização, preferindo manter-se calada sobre aquele assunto. – “Eu entendo. Então ela...

“Você tem um nome?” – Hikari perguntou, estendendo sua mão direita em direção à ele, e ao que ele não recuou ou demonstrou receio, ela o tocou em sua cabeça, o acariciando.

“Não. Fui exilado antes que me dessem um.” – O animal respondeu, seu tom levemente mais calmo.

“Você é uma criatura mística, diferente de tudo que já vimos... Qual sua raça?” – Ela perguntou, tocando-lhe levemente o chifre direito com um dos dedos.

“Eu sou um Shingo, uma raça de animais capazes de falar, usar magia, e mudar de forma, como podem ver.” – A besta admitiu, seu tom triste. – “E, provavelmente, sou o último que restou.”

“Você quer... falar sua história?” – Hikari o perguntou docemente.  – “Eu sei que você está selado, e talvez...”

“Para quem foi controlado por tanto tempo, isso não é nada... E se é você quem pergunta, responder é um privilégio, dama.” – A besta disse enquanto a observava fundo nos olhos, fechando os olhos em seguida. – “Os de minha raça manipulam gelo, e tem as cores invertidas às minhas. Eu fui o único que nasceu assim, e por conta disso, eu fui exilado, pouco antes de minha raça inteira ser aniquilada no durante a Guerra Vermelho-Negra. Eles morreram junto com um clã de humanos com os quais eles viviam, mas quando eu voltei lá, as ruínas eram indecifráveis... eu não sei qual era o clã.“

“E a Redskull?” – Hikari perguntou, e a besta fechou os olhos, concentrando-se em suas memórias.

“Eu vivi em solidão desde então, escondido em florestas e cavernas, longe de contato com humanos e demônios...” – A besta dizia, pausando então ao que ele lembrou-se de um único, fatídico encontro com ela, mas ele manteve-se calado sobre aquilo. – “Até que, um dia, aqueles quatro me encontraram por acaso, enquanto eu migrava. O demônio da névoa me cortou o chifre esquerdo. O das explosões me deixou essa cicatriz no rosto. O gorila me enfrentava diretamente, enquanto a mulher tentava me restringir e controlar de longe. Eu resisti, lutei contra os quatro ao mesmo tempo, mas, no final, eles me venceram em suas formas demoníacas, e a mulher passou a me controlar desde então.”

“Você se lembra de algo enquanto estava possuído?” – Hikari questionou com uma voz trêmula, lágrimas caindo de seus olhos em empatia ao passado da besta, e Leon pôde notar como não apenas a besta, mas o próprio Hyoru reagiram às lágrimas da garota, a expressão da besta tornando-se mais gentil, enquanto Hyoru parecia lutar contra si mesmo para manter-se de braços cruzados e não tomá-la em um abraço.

“É difícil lembrar. Ela me fazia dormir quando não precisava diretamente de mim, provavelmente porque era difícil me controlar todo o tempo, e enquanto acordado e possuído, eu parecia estar delirando. Eu não lembro muito... mas sei que há sangue em minhas garras, que as minhas chamas já deixaram cicatrizes que nunca vão curar.” – A besta dizia, observando as cicatrizes de Hikari, apontando então à cicatriz em seu “ombro”, cortesia de Hyoru. – “Essa nova cicatriz... é a marca de minha liberdade, e ao mesmo tempo, de minha prisão.” – Ele terminou, e mesmo sem expressar, Hyoru não podia deixar de simpatizar com as palavras e o sofrimento da besta negra.

“Sua história é pesada, Hakuro.” – Hikari dizia, secando as lágrimas com as mãos. – “Mas seu sofrimento acabou, finalmente.”

“Hakuro?” – A besta questionou.

“O seu nome, a partir de hoje. Concorda?” – A garota o respondeu, mas antes que a besta pudesse respondê-la, Nagor fez-se presente novamente.

“Dama, você não está pensando em...” – O capitão pôs-se ao lado da garota, que levantou-se de sua posição para ficar frente-a-frente com o alto capitão.

“Sim, eu ficarei com ele.” – Ela disse, o olhando fundo nos olhos, surpreendendo os dois capitães e fazendo com que Leon sorrisse abertamente, e Hyoru desse um discreto sorriso de canto de boca.

Aço, escondido em seda...” – Leon pensava, admirado com a garota. – “Você teve sorte, Hyoru.

Eu já esperava por isso...” – O Darkslayer pensava, não surpreso pelas palavras da garota. - "Ela é muito mais forte que qualquer um de nós."

“Você tem noção que...” – Nagor começava a argumentar, quando Hikari o cortou.

“Sim, ele participava de uma organização negra. Mas ele estava sendo controlado, e, sinceramente, eu não consigo deixa-lo sozinho e preso. Ele não é mal, assim como nós também não somos, capitão.” – A garota respondeu sem quebrar contato visual com o capitão, mesmo que, para tal, ela tivesse de afastar-se um pouco dele para conseguir observá-lo olho no olho.

“Eu não...” – Nagor continuou a se opor, quando Leon fez-se presente ao estralar seus dedos.

“Bom, se vocês continuarem a negar ela, eu mesmo quebro essas correntes...” – O Red Beast ofereceu, acenando então com a cabeça à Hyoru, que descruzara os braços. – “Ou ele as corta. Vocês decidem.”

“Se ela assim desejar...” – O Darkslayer concordou.

“Vocês...!” – Ele rosnou, encurralado, ciente de que não seria capaz de impedí-los, ao mesmo tempo tentando imaginar alguma saída àquela situação. – “Eu e Amalia devemos...!” – Ele começou a pensar, quando Amalia colocou uma mão em seu peito.

“Você já viu... a força e a bondade deles. Se eles bem quisessem, eles já teriam nos nocauteado ou matado, e fugido com ele. E para foragidos como eles, tenho certeza de que um motivo a mais não seria nada, se eles realmente fossem de má fé.” – Amalia argumentou, também ciente de que, naquela situação, não havia nada que eles pudessem fazer.- “Ela foi capaz de pará-lo com uma mão... E eu confio na habilidade dela em para-lo caso necessário, assim como de que eles não serão problemas futuros à nós. Eles não precisavam nem ter nos ajudado hoje... Deixe-os partir, Nagor.” – Ela ordenou, suspirando em seguida. – “Eu também não sou totalmente partidária a idéia, mas...

“Eu também sou grato pela ajuda, mas ainda não concordo com isso.” – Nagor disse, coçando a cabeça em nervosismo. – “Mas como você os concedeu esse direito... que assim seja, Amalia.” – Ele concedeu, fazendo com que Hikari curvasse a cabeça aos dois.

“Obrigada por entenderem.” – Ela agradeceu ao levantar-se, sorrindo, e mesmo contrariado, Nagor não pôde deixar de entender porque Amalia confiava tanto naquela garota.

Sua magia não é seu único poder. O poder de trazer todos à seu lado... em um mundo como o nosso, esse é um dos mais perigosos poderes.” – Hyoru pensava, e observando rapidamente Leon, ele percebeu que o ruivo provavelmente pensava a mesma coisa.

Fazer a vontade dela, de acordo próprio, sendo que mal a conheço?” – Leon questionava-se. – “Eu posso ser mulherengo, mas eu não tenho interesse sexual por ela, e não faria isso tão repentinamente... essa garota é realmente interessante.

“Agora só falta ele concordar...” – A garota acrescentou, lembrando-se de que ela nem ao menos perguntara à besta se ele concordava em ficar com ela, ou ao menos com o nome dele, como se ela mesma já soubesse que ele aceitaria. Virando-se à besta novamente, ela estendeu sua mão à ela. – “E então, o que me diz, Hakuro?” – Ela questionou, vendo então uma lágrima descer do olho direito da besta.

“A promessa se cumpre... a minha redenção. Sim, eu aceito.” – Hakuro concordou, ansioso por liberdade e companhia após tantos anos de sofrimento. – “E por você, dama... eu darei a minha vida, se for necessário.”

“Então, está decidido.” – Amalia disse, e pouco depois, Hakuro fora solto de sua algema por Nagor.

E no instante em que ele conseguira sua liberdade, ele encontrara seu novo refúgio no pescoço de Hikari ao deitar-se nos ombros dela, como se fosse um cachecol usado pela garota, e até mesmo Nagor não pôde deixar de sorrir com a cena. Havia algo ligeiramente confortante, e até cômico, em uma besta que antes causara tanta destruição e era tão amedrontadora em sua forma maior, mas agora comportava-se como um bicho de estimação da garota em sua forma menor. Enquanto saiam da sala, Amalia notou no enorme relógio fora do hospital o horário, lembrando-se então do trem que passaria pela cidade em breve.

“Bem, eu não quero ser chata...” – Amalia retomou, quebrando um pouco o clima. – “Mas o trem de vocês passará em breve... É melhor se apressarem, e irem à estação.”

“Então temos de ir...” – Hikari decidiu, tocando-se então de que não necessariamente Leon seguiria o mesmo destino que eles, a morena virando-se ao ruivo para despedir-se então. – “Leon, eu...”

“Não é necessário. Nos veremos em breve, novamente.” – Leon disse, um sorriso de canto de boca em seus lábios enquanto observava tanto Hyoru como Hikari, passando a observar os capitães então. – “Então, já que tudo terminou relativamente bem... mandem melhoras à Slaw. Algum dia eu volto pra revanche, se ele quiser.”

“Preferimos que volte pra beber, e não lutar, Red Beast.” – Amalia respondeu, tirando um sorriso e um assentimento de cabeça de Leon, que, satisfeito, deu as costas à todos, andando para a saída traseira do hospital.

“Chegou a nossa vez...” – Hikari retomou, ela e Hyoru ficando frente-a-frente com Amalia e Nagor. – “Obrigado pela compreensão e pela recepção.”

“Nós que agradecemos. Seria muito bom ver vocês de novo por aqui, caso algum dia voltem para essas bandas.” – Amalia disse, dando um sorriso de canto de boca. – “Até mesmo você, Hyoru.”

“Lembrarei disto.” – O Darkslayer respondeu enquanto assentia com a cabeça, vendo então Nagor estender-lhe a mão direita.

“Não preciso fazer um discurso, não é, Hyoru?” – Nagor perguntou, oferecendo um ligeiro sorriso, o uso do nome do rapaz tentando passar um pouco de leveza ao Darkslayer, que, mesmo sem expressão, entendeu o significado.

“Não é necessário, Nagor.” – Hyoru o respondeu, apertando a mão do capitão perante os olhares das duas moças.

Eles despediram-se finalmente dos dois capitães, saindo do hospital e seguindo pelas ruas em direção à estação da cidade. Enquanto andavam, Hyoru notara novamente alguns olhares estranhos aos dois, mas ele preferira ficar quieto, observando ocasionalmente de canto de olho a garota e a besta, que pareciam em um estado de paz familiar nostálgico ao rapaz.

“Ei, Hyoru.” – Hikari o chamou, retirando-o de seus pensamentos e fazendo com que ele prestasse atenção em si. – “Eu estava notando... mesmo tentando, nós ainda chamamos atenção, hm?” – Ela adicionou, e Hyoru suspirou em resposta.

“É culpa minha. Minha aura. Minhas roupas. Meu tamanho.” – Ele respondeu, tentando em vão colocar a culpa apenas em si, embora ele soubesse que ela e Hakuro também chamassem atenção, tomando mais um gole de seu cantil.

“Então é bom que não tenha uma garota cicatrizada e um animal místico junto com esse rapaz alto, não é mesmo?” – Ela adicionou em um tom sacana, e novamente Hyoru surpreendeu-se com a capacidade dela de regeneração, tanto física quanto emocional. – “Mas não é como se eu me sentisse completamente bem com elas... mas eu vou superá-las, e eu vou ser mais do que isso.

“Kintsukuroi.” – Ele respondeu sem pensar, e a garota o observou com olhos curiosos. – “A filosofia de que aquilo que foi reconstruído é mais bonito por um dia ter sido quebrado.” – Ele disse, e a garota corou instantaneamente, o rapaz arrependendo-se de suas palavras. – “Quero dizer, você...”

“Você também é.” – A Lightslinger devolveu, um leve rubor em suas bochechas, sua mão esquerda pousando sobre suas cicatrizes no braço direito. – “Não marcam fins. Marcam novos começos.” – Ela disse, e ele deu um sorriso de canto de boca.

Uma filosofia idealista... mas interessante, Hikari.” – Hyoru concedeu em pensamento, preferindo não comentar em voz alta.

“Vocês são... um casal?” – Hakuro questionou, vendo a ligeira familiaridade com a qual eles se tratavam, trazendo a atenção dos dois à si.

“Não. Nos conhecemos ontem, pra falar a verdade.” – Hikari o respondeu, fazendo com que a besta desse um pequeno sorriso.

Mas bem que parecem... quem sabe.” – A besta pensou, não descartando a ideia.

Foi então que, ao aproximarem-se da estação, eles ouviram ao longe o apito do trem, e de onde estavam, eles podiam ver que ele já aproximava-se com velocidade da estação, sem dar sinais de que ele pararia.

“Calma aí... ele não vai parar?!” – Hikari questionou, franzindo os cenhos. – “Nessa velocidade, ele não vai parar na estação...!”

“Ela não disse que ele pararia.” – Hyoru disse, não culpando a capitã por manter a informação em segredo. – “Talvez até tenha sido bom...

“E como vamos... hm?!” – Hikari foi interrompida ao que Hyoru simplesmente passou um dos braços por sua cintura e a retirou do chão, colocando-a junto de seu peito para logo então mover-se como um borrão pela rua que dava à estação, para a surpresa e medo cômico da garota e da besta, que viam as pessoas e casas passando com extrema velocidade. – “O que...!”

“Assim não o perdemos. Segurem-se firme.” – Hyoru insistiu enquanto desviava das pessoas, chegando rapidamente à estação, onde eles puderam ver que o trem que passava não era de passageiros, e sim de transporte agrícola.

“Mas e agora?” – Hikari questionou, embora ao ver que Hyoru não dava sinais de parar também, ela temia pela resposta dele.

“Você não pensa em...” – Hakuro começou, quando Hyoru interrompeu ambos.

“O abordamos.” – O Darkslayer respondeu simplesmente, e com um último e forte impulso, ele desapareceu em um movimento de extrema velocidade ao que o trem passou a estação, reaparecendo já dentro de um vagão de porta semi-aberta cheio de sacos de arroz, caindo de costas nos mesmos enquanto Hikari e Hakuro o montavam.

VOCÊ PODIA TER NOS MATADO!” – Hikari exclamou comicamente, batendo sem força no peito do rapaz, que apenas levantou uma sobrancelha e apontou um dos dedos para que a garota olhasse para trás, e assim que ela e Hakuro o fizeram, eles puderam ver Leon, sentado do outro lado do vagão, observando a briga com um sorriso de canto de boca.

“Leon?!” – Hikari exclamou enquanto os três tomavam suas devidas posições dentro do vagão, e o ruivo em questão assentiu com a cabeça. – “Mas você...”

“Eu disse que nos veríamos em breve, não disse?” – O ruivo brincou, e Hikari sorriu em resposta. Vendo a garota sorrindo, não apenas Hakuro, mas Hyoru também sorriu levemente, o clima leve como se eles já se conhecessem há tempos.

“E então, nós damos adeus à Camélia...” – A dama disse, vendo pela porta semiaberta  a cidade distanciando-se cada vez mais, as luzes e casas sendo substituídas por florestas e a luz do luar. – “E damos oi a um novo começo.” – Ela disse, seus olhos abaixando à Hakuro ao mesmo tempo em que um melancólico sorriso surgira em seus lábios.

Mas nos lembramos de nossas falhas e nossas cruzes a carregar...” – Hyoru adicionou mentalmente enquanto tomava um grande gole de seu cantil, imaginando que a garota também pensava o mesmo.

“A viagem é longa, mesmo de trem, até Cidade Santuário... Provavelmente chegaremos lá no começo da manhã. Até lá, podemos descansar.” – Leon notou, estendendo sua mão direita à sua frente com um pequeno sorriso, na direção de Hyoru. - "E eu sei que a pequena não bebe muito, mas eu sim. Quero um gole disso aí, rapaz.”

Eles passaram alguns minutos conversando e espairecendo, quando o sono e o cansaço finalmente bateram, e quietamente os quatro puseram-se a dormir no vagão. Leon, com um dos braços cobrindo seus olhos, dormia completamente largado sobre os sacos de arroz, babando abertamente. Hakuro, no abraço de Hikari, dormia em uma paz que ele desconhecia há anos, enquanto a dama, por si, dormia encolhida e envolta pelos braços de Hyoru, a cabeça dela apoiada no peito do rapaz enquanto o resto de seu corpo, dobrado, encontrava-se entre as pernas dele, a garota descobrindo naquela paz que, mesmo com a aura fria, o corpo dele era naturalmente mais quente ao toque que o de um humano comum, seu calor a aconchegando na noite fria. O Darkslayer havia se surpreendido quando a White Dancer colocara-se naquela posição sem uma única palavra, como se fosse algo natural entre eles, e ele sentiu ainda mais naturalidade ao que ele passara os braços pelo corpo dela para trazê-la aconchego, o Darkslayer pousando sua testa sobre o topo da cabeça dela ao que ele fechou os olhos, seu nariz aguçado imerso nos fios negros de cabelo dela, e mesmo que aquilo fosse algo que ele fizera no passado com ela, as memórias dos cabelos ruivos dela logo foram vencidas pelos cabelos negros da dama; e mesmo normalmente tendo dificuldades para encontrar o sono, naquela noite ele fora tomado rapidamente pelo mesmo, sendo levado pela luz da garota à escuridão do sono.

 

E então, eles deixavam que o sono e o trem os levassem para longe, enquanto se aproximavam mais a cada segundo de Cidade Santuário...


Notas Finais


Breves comentários sobre Hakuro:

Desde que republiquei a história, eu queria um "animalzinho" ao grupo de Hyoru, de forma a dar um pouco mais de "leveza". Ele mudou de aparência e poderes diversas vezes até chegar a sua versão final, embora ele tenha sempre sido um inimigo do grupo antes de trocar de lado.
Ele serve diversos pontos da história: É o primeiro inimigo que se arrepende e tenta se redimir (E que sobrevive o grupo, por sinal, até porque ele não fazia tudo por vontade própria); ele dá um pequeno preview do quão importante Hikari realmente é; mostra o quão forte o "animalzinho" do grupo pode ser sem ainda ser mais forte do que os protagonistas; e também dá um preview de pontos que serão abordados posteriormente ("Qual era o clã que os Shingos viviam juntos?", "Quantos anos ele tem?", entre outros...); além disso, ele serve de contraste à todos os membros do grupo, de formas diferentes a cada um, e que talvez só fiquem aparentes com o passar da história.
Por fim, ele faz referência à Pokémon (Arcanine), League of Legends (Gnar e Warwick), Hulk, e Final Fantasy XII (Behemoth King), e seu nome é uma junção de "Haku" e "Kuro", "branco" e "preto" em japonês.


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