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História Shangri-Lá - Capítulo 9 - Dias Chuvosos e Sorriso Carmesim


Escrita por: Alaska_sKa

Notas do Autor


É, eu voltei.
Demorei um tiquinho de nada, mas estou aqui. E, meu deus, que saudade que eu estava de postar essa nenezinha aqui.
Gostaria de agradecer a todas as mensagens de apoio, e a todos os fav e feedbacks que SGL vem recebendo, mesmo estando a meses sem qualquer att. Obrigada, de verdade.
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Capítulo 10 - Capítulo 9 - Dias Chuvosos e Sorriso Carmesim


C A P Í T U L O  N O V E
O medo está diretamente ligado com toda as ações dos seres humanos, principalmente quando envolvem a mais pura sinceridade
.

 

Dias chuvosos eram sempre mais interessantes do que dias ensolarados. Pelo menos era algo que eu pensava com frequência.

Acordar escutando aquele suave som da chuva, das finas gotas atingindo minha janela fechada e o frio me embalando naquela deliciosa sensação familiar, era minha maneira preferida de despertar — ficar preso na cama por alguns minutos arrastados, olhando apenas para o teto escuro acima de mim, era uma das coisas que eu mais gostava na vida,

Eu tinha uma lista mental sobre as coisas que gostava e as quais desgostava.

Mas havia um motivo para eu  ter uma leve queda por dias chuvosos, principalmente levando em conta um ponto essencial; dormir.

Não era lá algo muito frequente, mas meu Sábado atípico deve ter mudado alguma coisa da minha rotina, já que eu havia conseguido dormir duas noites seguidas. O que era estranho, muito estranho. Eu ainda não estava sonhando, mas se isso voltasse a acontecer eu tenho certeza que iria ter um ataque nervoso — mais um para meu bingo semanal, onde eu marcava cada crise nervosa que eu tinha naqueles apáticos sete dias.

Mas eu havia dormido, e isso era algo importante demais para mim. Foi inevitável não me deixar levar por aquela — seguindo as palavras de Karin — vitória, mesmo ela sendo minúscula para qualquer outra pessoa. Mas, como sempre, as coisas eram um pouco diferentes comigo.

Normalmente Itachi estaria na minha casa em uma Segunda-feira, me acordando e me enchendo de informações que eu não prestava atenção — apenas escutava, olhando para seu rosto e pensando em como as suas olheiras estavam mais profundas. Ele era acabado demais para alguém tão jovem, deveria ter até alguns cabelos brancos —. Mas dessa vez, contrariando aqueles dias que eu passava longe da sua presença e perdia a maioria das minhas lentas 24 horas deitado naquela escuridão, levantei por conta própria antes do meio dia e fui direto para a cozinha.

A casa estava gelada, mas isso apenas pareceu somar ao meu humor. Não me importei com os arrepios que subiram por meu corpo ao pisar naquele assoalho congelante, muito menos me designei a por uma camiseta.

Eu gostava de sentir o frio, era uma coisa até que meio prazerosa.

Coloquei uma música enquanto esperava a água ferver, e tenho certeza que aqueles gatos gordos de Mei devem ter se assustado com a repente melodia nada suave saindo no meu humilde apartamento — as paredes eram finas e nenhuma camada de isolamento seria o suficiente para suavizar o som que ecoava por toda minha casa.

Eu não escutava nada desse tipo a alguns anos, mas havia acordado inspirado.

Dias chuvosos sempre melhoram meu humor.

Centuries era memorável até mesmo na minha playlist que estava alguns tempos intocada. Alguns bons meses.

Tomo meu café olhando para a janela da sala, assistindo em contemplação aquelas gotas incessantes e aquele céu nublado. Um dia que seria definido como feio por qualquer um, mas por mim estava sendo apenas a versão real de alguma pintura capaz de fazer algumas pessoas chorarem — nunca fui muito fã de arte, mas havia tido uma época que eu havia ficado meio obcecado por qualquer coisa sobre uma tela.

Eu definiria aquele dia como a personificação da vida capitalista em Tokyo. Poético, tenho certeza.

Tão poético que me passou até mesmo a estranha vontade de caminhar — franzo ás sobrancelhas ao pensar nisso, ainda olhando para o céu nublado e com a caneca de café em meus lábios.

Era um péssimo dia para caminhadas, e eu duvidava que deveria passar das 9 horas.

Demorou apenas alguns minutos para trocar de roupa, escovar os dentes e calçar meus tênis quase novos — outro ponto que eu tinha certeza que Itachi ignorava; a maneira que meus tênis de corrida sempre estavam limpos, exalando aquele cheiro de recém comprados e, obviamente, sem qualquer coisa que mostrasse que eu estava fazendo caminhadas.

Talvez ele ignorasse isso, ou achava que eu era um maníaco louco por limpeza. Eu não saberia dizer.

Sai de casa e tranquei a porta atrás de mim, ficando parado por alguns segundos enquanto contemplava aquela chuva torrencial caindo abundante a minha frente. Suspirei, ainda pé e com minhas mãos dentro dos bolsos do meu moletom e com meus pelos se arrepiando pelas rajadas de vento frio que atingiam meu rosto — estava chovendo muito, bem mais do que eu estava esperando.

Suspirei mais uma vez, apenas para tirar as mãos dos bolsos e colocar o capuz da blusa sobre a minha cabeça. E eu meio que agradeci o fato do meu celular ser a prova d'água.

Desci as escadas em passos rápidos e não demorou para eu ser atingindo por aquelas gotas ferozes, que não demoraram para penetrar o tecido grosso da minha blusa. Mordo minha boca, confiro se nenhum carro estava se aproximando e atravesso rua, apenas para começar a correr na calçada quase vazia — algumas pessoas andavam com seus guarda-chuvas transparentes, e eu cruzava seus caminhos com meus trotes rápidos.

Estava frio até mesmo para mim. Porra.

Passei em frente de algumas casas e suas luzes acesas, e por algumas lojas que tinham suas portas bem fechadas. As poucas pessoas que eu encontrei estavam agasalhadas, causando-me rápidos segundos de inveja enquanto eu mantinha meu ritmo — meu corpo esquentava de maneira lenta, mas eu já ofegava antes mesmo dos quinze minutos de caminhada.

O sedentarismo tinha suas consequências, afinal.

Meus cabelos já estavam encharcados e a chuva escorria pelo meu rosto. Chacoalhei a cabeça, mas meu capuz acaba caindo, e meus cabelos — presos na maneira de sempre — foram atingidos sem trégua pelas gotas frias e duras. Franzi as sobrancelhas, mas não alterei meu ritmo.

Meu estômago acabou mexendo, e uma dor aguda no centro do meu peito começa a crescer.

Talvez não houvesse sido uma boa ideia ter começado aquilo.

Puxei uma lufada de ar e pontos pretos começaram a surgir na minha visão. Erguo minha cabeça olhando ao redor — tinha consciência que estava apenas dando uma volta pelo meu bairro, então não estava em nenhum lugar desconhecido por mim — mas foi uma surpresa chegar na rua da loja de conveniência 24 horas, pois isso me impulsionou a constatar o óbvio; Eu deveria ter corrido menos do que imaginava — estava completamente sedentário, se Naruto, ou Itachi, resolvessem me arrastar para qualquer dia de exercícios físicos minha mentira iria morrer nos primeiros cinco minutos de caminhada.

Ofeguei, parando sobre a esquina e esperando o farol abrir para mim. Ergui minha cabeça, olhando para o outro lado vazio.

Um arrepio subiu por minha coluna, muito mais frio do que o clima que me rodeava.

Engolu em seco, mantendo meus olhos fixos sobre aquele ponto.

Um beijo frio e perigoso tocou minha nuca, arrastando-se por minha pele como uma língua fria e curiosa; lenta, deixando um rastro de veneno corrosivo em meu pescoço, causando ao meu corpo um estado febril e capaz de imobilizar todos os meus membros inferiores. Como um amargo beijo de uma cascavel, capaz de retirar minha vida em apenas rápidos minutos. 

Entretanto, não era como se eu estivesse prestando atenção no tempo que corria ao meu redor pois, ante que eu percebesse ou notasse para qual caminho estava indo, me vi preso naquela redoma sufocante de paranoias. Meu triste e destrutivo limbo mental.

Travei minha respiração, fecho minhas mãos em punhos. Minhas pernas eram membros inúteis.

Uma sombra correu ao lado do meu olho. Um simples borrão que causou uma suave reação em meu corpo; uma dor ardente em minha barriga, como se eu tivesse acabado de levar um soco no estômago — já havia levado muitos na minha vida, então sabia identificá-los sem um menor problema.

Um carro passou à minha frente, então acabei tendo que dar dois passos para trás para não ser atingido pela água suja da poça que ele havia passado por cima. Ou para não ser atropelado, não sei — minha vista me pregava peças, pois agora qualquer ponto de luz estava tomando proporções grandes demais e que confundiam minha mente. 

Pisquei, voltando a lembrar da existência das minhas pernas. Olhei para baixo apenas para certificar que elas ainda estavam ali, tendo meus pés calçados por tênis imundos, e que não pareciam aqueles pares semi-novos que eu havia calçado antes de sair de casa. Entretanto, ignorando esse ponto que me incomodaria em qualquer outro momento, noto o prevísivel.

Eu tremia.

Olho para o lado oposto da mancha negra, acovardado. Semicerrei meus olhos na direção da rua, tentando olhar por cima das gotas gélidas que se acomulavam em meus cilcios — após segundos angustiantes e com meu coração pulsando em meus ouvidos, vi que nenhum carro se aproximava.

Não hesitei em atravessar, muito menos em começar um trote ritmado para a direção oposta da sombra.

Ouvi passos  atrás de mim. Passos infantis e que pareciam pular sobre as poças de água — tive essa certeza quando uma risada aguda soou em meus ouvidos, como se as minhas alucinações estivessem se divertindo em meio a uma crise psicótica de seu progenitor.

Eu não conseguia respirar.

Os passos se aproximaram.

Próximos demais, próximos demais.

Mordo com força o meu lábio inferior e o gosto ferroso do sangue surgiu em meu paladar, colorindo minha boca com seu vivido tom carmesim.

Uma risada infantil ecoou pela rua, mesclando-se ao som da chuva. Isso fez com que ela ecoasse em meus ouvidos, me passando aquela letárgica sensação de que estava correndo, mas sem sair do lugar — da mesma maneira que eu sentia quando tinha pesadelos do tipo. Bem antes do coma e quando eu já tinha um sério problema de insônia crônica.

Desesperado e com o medo fazendo até mesmo meus órgãos internos tremerem, corro até as portas de vidro e que mostravam o interior bem arrumado da loja. Sequer pensei que poderiam haver algumas pessoas ali, e que provavelmente poderiam testemunhar um surto de um homem qualquer — um entre tantos naquela cidade.

Entrei como um louco, empurrando a porta  de vidro com força, fazendo uma barulho gritante em todo o silêncio típico — tirando aquela música ambiente —. A fecho com força atrás de mim, fazendo com que até com que a prateleira simples próxima a ela — feita para apoiar jornais, revistas e essas coisas — tremesse.

Engolu em seco, respirando como um animal e olhando para o mundo chuvoso por trás daquela caixa de vidro que havia acabado de me enfiar. Espalmo minhas mãos trêmulas sobre a superfície transparente, e abaixo minha cabeça, puxando uma grande lufada  de ar — dolorosa da mesma proporção que a de alguma agressão ao meu corpo, pois eu senti aquela corrente fria entrando por minha boca e queimando todo o percurso até meus pulmões debilitados. 

Me viro lentamente, deixando com que minhas costas se apoiassem na porta lacrada e que meus olhos ficassem voltados para um ponto a minha frente. Não olhei realmente para aquilo, mas foquei no percurso que as gotas de água — vindas do meu cabelo encharcado — faziam sobre minha face; escorrendo lentamente por minha testa, passando pelo meu nariz e até mesmo meus lábios, apenas para chegarem ao meu pescoço e se perderem na gola do meu blusão.

Não sei quantos minutos fiquei daquela maneira, mas tinha noção que não foi nada muito rápido. MInhas crises nunca eram muito rápidas.

Até que uma voz preguiçosa soou a minha esquerda:

— Vai comprar alguma coisa? — erguo minha cabeça em direção ao ponto em um dos extremos daquele lugar, encontrando dois olhos azuis em minha direção. Franzo o cenho, e a garota arqueia uma das suas sobrancelhas. — Tá molhando todo o chão, e eu que tenho que secar. — Tirou o pirulito que estava em sua boca, me olhando nos pés a cabeça. Torceu o nariz. — Se não for comprar nada pode ir embora, não preciso de mais nada para limpar aqui.

Assinto silenciosamente, desencostando-me da porta. Ainda tremia, mas poderia fingir que era por causa do frio e pela maneira que eu estava molhado igual um cachorro de rua.

— C-Certo. 

A garota semicerrou seus olhos em minha direção, apenas para revirá-los logo em seguida e voltar a atenção para o celular em suas mãos. Olho uma ultima vez para ela, analisando seus finos traços; Eu jurava que era um garoto que trabalha ali — seria meio impossível esquecer aquela maquiagem em seu rosto. Principalmente por ter uma paleta de cores bem diferenciada.

Orochimaru iria gostar de conhecer aquele cara. 

Fui em direção a fileira de lanches prontos e que só precisavam de alguns minutos no microondas. Não me atentei em nenhuma marca, apenas pego o primeiro que  meus olhos encontraram. Atravesso a loja em passadas largas — uma tentativa fajuta de tentar diminuir o  rastro de água que eu  estava deixando —, indo para a parte que tinham algumas mesinhas redondas distribuídas, enquanto um microondas ligado estava sobre a bancada fixa a parede.

Coloquei o lanche ali, digitei os minutos e fui buscar um refrigerante, apenas para voltar e esperar o tempo certo.

Sentia que estava sendo seguido por aqueles olhos azuis, mas mantive minha atenção apenas aquele lanche que rodava dentro do microondas — como se minha vida dependesse daquilo, pois eu preferia parecer um louco obcecado por um lanche que exalava a promessa de um câncer, do que ficar olhando para aquelas desgostosas gemas azuis.

Foi quase um alívio sentir meu celular vibrando.

O peguei, apenas para encontrar o rosto de Itachi na tela — não havia trago meus fones, mas me prendi na ideia de que  estava distante demais da caixa raivosa para ela poder escutar  minha conversa com meu irmão.

Suspirei.

— Bom dia, Itachi. — murmurei, apoiando a lateral do meu corpo no balcão.

Sabia que existe um aplicativo de mensagens, e que eu faço questão de te mandar uma todos os dias?! — revirei os olhos, ainda mantendo-os sobre o microondas e meu lanche quase pronto — Eu não preciso te ligar para tudo. Aliás, poucas pessoas ainda usam isso!

O microondas apitou, e eu apoio o celular entre meu ombro e minha orelha. Pego meu lanche e coloco a caixa sobre a mesinha, para em seguida me sentar e abrir minha latinha de refrigerante.

— Eu estava ocupado. — Abroa caixa, e uma onda de vapor saiu de dentro dela. 

Sasuke, nem você acredita nas suas mentiras! — Itachi grita de maneira contida, apenas para seguir uma pausa. Consegui ver a cena perfeitamente em minha mente; ele pressionando aquele ponto do seu nariz, entre seus olhos, e contando até 10 para não surtar. — Certo, o que você está fazendo?

— Estou comendo  um lanche depois de fazer uma caminhada matinal. — Mordi meu lanche logo em seguida.

Um vinco surge em meu rosto. Não era lá uma das melhores coisas do mundo.

Nossa, que novidade. Eu já estava começando a achar que era mentira da sua parte esse lance de exercícios, você sempre parece magro demais.

Contenho uma risada, mas quase engasguo por isso. Tusso de maneira descarada, colocando uma mão em frente a minha boca.

Me faltavam palavras para explicar meu irmão. Simples assim.

— Pensa assim do seu irmão caçula? — Em sorriso apareceu nos meus lábios, e eu mordi mais um pedaço daquele lanche horrível.

Você pode me culpar? Até eu que vivo enfurnado em escritórios tenho mais cor que você. E muito mais massa, vale ressaltar.

Eu senti um sorriso maldoso surgindo em meus lábios antes de eu raciocinar minha frase corretamente.

— Manter uma barriga é ter mais massa?

O segundo de silêncio que surgiu apenas confirmava o que eu pensava; ponto para mim.

O tom nitidamente afetado soou como um muxoxo:

Eu só estou assim porque não tenho tempo para fazer academia.

— Você é assim apenas por orgulho. Sabe que Madara consegue muito bem gerenciar as ações, não sei porque tem que trabalhar tanto.

Mais uma mordida no lanche.

Eu gosto, Sasuke. Me sinto útil. Me sinto mais próximos deles dois. — Engulo o lanche com certa dificuldade. Ele havia se tornado ridiculamente pior em apenas alguns milésimos de segundos. — Mas isso não significa que eu estou fora de forma! Quem precisa engordar alguns quilos é você, pirralho.

Rebato sem sequer pensar:

— Posso pedir alguns emprestado de você?

Sasuke, vai se fuder.

Foi impossível não rir.

Meu humor estava mesmo muito bom. Eu estava gostando disso.

Bebo mais um gole do meu refrigerante, olhando para frente e observando todo aquela pequena lojinha que seguia o mesmo padrão que tantas outras espalhadas por Tokyo; corredores estreitos, luz clara, pisos limpos e aquela música  ambiente meio chata. Uma coisa completamente igual a tudo, sem nenhum contraste ou algo que fizesse eu me apegar aquela pequena loja, mas que conseguia deixar meu coração minimamente confortável.

Eu gostava de coisas assim; simples, que eu conhecia e não precisava sair da minha zona de conforto. E o fato dela ser vazia, como se seus clientes fossem apenas alcoólatras solitários e depressivos problemáticos — como eu e Tsunade — que frequentavam apenas as madrugadas, era bem satisfatório.

Ficar sozinho,  ocupando o primeiro lugar na categoria pessoal antissocial, já era um traço imutável da minha personalidade. E ali, felizmente, eu sempre me via sozinho.

Pelo menos teoricamente, mas eu não costumava me importar com os atendentes. Eles sempre eram na deles, e eu sempre era na minha.

Estava bom assim.

Fiquei sabendo que teve um encontro.

Fecho os olhos, franzindo o cenho no processo.

Merda.

Merda.

Merda.

Suspiro, deixando a latinha sobre a mesa e levando minha mão até o ponto entre minhas sobrancelhas, massageando o vinco que havia se formado ali. 

Merda. Outra vez.

— Karin? — falei de uma maneira tão preguiçosa, desgostosa, que soou  mais apenas como um murmúrio.

Parecia até um daqueles adolescentes que viviam apenas emitindo sons, mas eu não sabia se naquela situação cabia alguma coisa além daquilo.

Naruto. Ele estava bem empolgado, mas preocupado na mesma proporção.

Mas é claro que seria Naruto, ele não iria aceitar aquilo tão facilmente. Por que eu ainda me dava o trabalho de ficar surpreso? — talvez pelo fato de ainda pensar que tinha qualquer mínima intimidade com a minha vida pessoal e que não era comentada por aquelas três pessoas que estavam frequentemente nos meus dias..

Eu deveria esperar aquilo, era bem óbvio. 

Eram meus amigos, afinal.

Mantenho aquele tom que não chegava a ser uma fala, de fato. Parecia uma estranha mesclagem de um murmúrio e um resmungo:

— Sim, com a mesma garota da semana passada.

— Que milagre você repetindo encontros, acho que eu nunca tive o prazer de presenciar isso. —  Abri meus olhos lentamente e abaixei minha mão. Comecei a rodar e brincar com a latinha, não sabendo o que eu fazer com as minhas mãos ociosas. — Ela deve ser uma pessoa legal. Eu fiquei esperando você me contar como foi o encontro, mas você é sempre tão resguardado. Foi até uma surpresa saber que teve uma segunda vez, e na mesma semana ainda.

Eu queria me afundar naquela cadeira e desligar o telefone na cara de Itachi, mas isso apenas o deixaria ainda mais curioso — não precisava do meu irmão aparecendo na minha casa Sábado de manhã e já me encher de perguntas, como eu sabia que ele iria fazer.

Eu tinha duas opções; lidar com aquilo agora, eu esperar até o final de semana e ter que aguentar um Itachi mil vezes pior e decidido em arrancar todos os minúsculos detalhes. E me conhecendo, sabendo muito bem meu grau de paciência quando o assunto era meu irmão, eu sabia que iria acabar falando coisas que não deveria — não que eu fosse algum boca aberta, mas Itachi sabia muito bem como me afetar, e muito mais como arrancar algum segredo meu.

Ele era especialista nisso na mesma proporção que eu era especialista em irritá-lo. Um bom equilíbrio de pessoas insuportáveis.

— Ela é estranha, na verdade. 

HAM?! 

Fecho os olhos mais uma vez. Eu precisava ter muita paciência. Muita mesmo.

Mas a  teoria era sempre mais fácil que a prática.

— Ela é meio imprevisível, e você sabe qual é minha opinião em relação a pessoas assim — Rodei a latinha na mesa, ouvindo o pouco conteúdo que ainda restava chacoalhando ali dentro. — Ela não segue nenhum padrão, parece viver seguindo as próprias vontades. Eu conheci pouco dela, mas, não sei. As ações dela parecem mostrar mais do que palavras, sabe, é tudo muito expressivo.

O oposto de mim — ponderei silenciosamente.

Nossa, Sasuke. Percebeu isso em dois encontros? — reviro os olhos, bufando minimamente — É bem estranho você ser tão incisivo nos seus comentários, mesmo com essa sua personalidade questionável. 

Murmurei em advertência:

— Itachi.

Ele me ignorou completamente.

Desculpe, mas você sabe que é verdade. Por mais que dessa vez você tenha se superado. Tipo, eu sei  que você tem problemas com pessoas que não agem como vampiros estranhos de filmes adolescentes, mas eu não acho  que  seja para tanto.

Arqueei uma sobrancelha.

— Vampiro de filmes adolescentes? Sério?

É a verdade, você é chato da mesma maneira. Mas, voltando o assunto, não acho que seja para tanto. Tem certeza que não é apenas um surto  seu por estar saindo fora da zona de conforto?

Gemo, deixando minhas costas escorrerem na cadeira.

— Porra, você está falando igual a Karin. Você não está tentando ficar com ela outra vez, né? Eu não preciso de mais traumas.

Itachi resmungou algo do outro lado da linha.

Como você é sensível, até parece que é virgem. E, não. Não estou tentando ficar  com a Karin outra vez — Sorri, aliviado. Eu realmente não precisava de todo aquele drama novamente, uma experiência bastou para que eu pegasse um trauma de toda a vida amorosa de Itachi. — Eu acho que você tem que parar de analisar tudo, como eu sei que você faz. Não tente me fazer pensar o contrário, eu te conheço. — Volto a rodar a latinha — Talvez você a enxergue assim apenas porque ela é seu oposto, não? Você costuma ser assim, lembra do Naruto? Você o odiava.

Não contive o pequeno sorriso que despontou em meus lábios.

— Ele era detestável.

Você é detestável, Sasuke.

— Você nem a conhece.

— Sim, mas eu conheço você, e sei que você nunca repetiu nenhum encontro nesses três anos. É um feito novo, e tenho certeza que não seria qualquer pessoa que seria capaz de fazer isso com você. Então podemos dizer que eu estou apoiando isso daí. — abri minha boca, mas ele continuou — Afinal, qual o nome dela? Tem alguma foto? Quero ver se ela é bonita da maneira que aparenta.

Paro de brincar com a latinha.

Um silêncio longo, mas nada desconfortável — pelo menos para mim — surgiu. Até eu abrir a boca, mas, ainda assim, levar mais alguns segundos para falar:

— Ela é..diferente.

É? Diferente como? — Itachi indagou no mesmo segundo, não contendo ou disfarçando sua curiosidade.

Tento não me atentar ao leve tom de humor que tomava a voz de Itachi. Nem me esforcei muito para isso, pois logo o rosto de Senju Sakura estava em minha mente, tendo como destaque aqueles olhos claros, beirando os tons cinzas, mas que tinham nuances de um verde peculiar. 

— Ela não tem muito corpo, e é bem baixa. Se você olhar pode pensar até que ela é uma colegial, talvez uma universitária que entrou recententemente. Não é nada muito chamativo, nem algo que possa destacá-la em uma multidão. Mas...ela tem um olhar interessante, meio intenso. Parece não ter medo de nada — Batuco meus dedos na mesa, seguindo um ritmo que nem eu entendia muito bem. — E ela tem cabelos rosas.

Itachi demorou alguns segundos para falar. Eu e ele ficamos em absoluto silêncio.

Mas a primeira coisa que ele falou, e que não era nenhuma surpresa, foi um simples:

Uou.

Como explicar Itachi? 

Sasuke, como você pode me dizer que uma pessoa assim é desinteressante?

— Não falei que ela era desinteressante, falei que ela era estranha. — Falo com calma.

Porra, qual é o seu conceito de estranho?

Fiz uma careta.

— Ah, Itachi. Sei lá. Ela?

Silêncio. Porém, nada muito longo.

Espero que essa garota se toque e fuja de você o mais rápido possível. A única pessoa desinteressante aí é você.

Sorrio com sarcasmo para mim mesmo, mas Itachi deveria imaginar que eu estava fazendo essa cara.

— Obrigada pelo apoio.

Sasuke, eu sei lá. Você é estranho, sabe disso. Só tome cuidado, por você e por ela, entendeu? — resmungo um “uhum”Certo, agora qual o nome da gar-

— Tchau, Itachi

Sas-

Desliguei a chamada.

Abaixo meu celular lentamente, olhando para a tela de bloqueio; uma foto escura, completamente negra, e que possibilitou que eu visse o reflexo do meu rosto.

Sorri. Mas um sorriso estilo eu. Mas, ainda assim, era um sorriso.

Agora restava saber o motivo.

—— Δ —— 

Chegar no consultório de Orochimaru sem Itachi era uma coisa um pouco estranha, já que eu estava mais do que acostumado com a presença  tagarela do meu irmão ao meu lado — pontuar os detalhes de todos os pacientes, formar teorias estranhas e apostar quem iria sair chorando do consultório aquele dia era uma coisa que eu estava mais do que familiarizado.

E, querendo ou não, era algo que fazia falta quando eu me via sozinho em uma daquelas poltronas impessoais e com meus óculos escuros sobre meus olhos — meu feed do Instagram não parecia mais tão interessante, e aquele lugar parecia chato demais. Na verdade, sem Itachi ao meu lado todo aquele lugar parecia um pouco intragável demais. Desconfortável demais.

A única coisa que conseguia puxar minha atenção e me entreter por aqueles minutos arrastados, enquanto eu aguardava eternamente pelo atendimento de Orochimaru, foi a cena atípica a minha frente e que conseguia ser um destaque entre as paredes brancas e que não passavam nada além daquele típico ar de recepção — um grande contraste com a sala colorida de Orochimaru, escondida no final do corredor ao meu lado.

Analiso com certo cuidado aquela excentricidade a minha frente; o homem ruivo e de inúmeros piercings em sua cara estava usando um chamativo terno amarelo naquela Segunda-feira, e eu realmente não fazia ideia de que tipo de surto ele deve ter tido para usar aquelas roupas — o morto vivo sempre usava roupas escuras, do estilo que me lembravam vagamente Suigetsu e suas estranhezas, mas que eram limitadas e tons escuros e monocromáticos.

Normalmente os mesmos que eu usava, por mais que eu gostasse mais de cinza do que de preto. 

Mas, sinceramente, nunca havia visto um terno amarelo como aquele. 

A garota de cabelos roxos estava sentada ao lado dele e, surpreendentemente, sem uma poltrona de distância os separando. Tentei não arquear a sobrancelha para aquela cena, mas os dois estavam tão embalados em uma conversa própria que sequer lembravam da minha existência, frente a eles.

Quais seriam os tópicos debatidos? O quanto materiais de papelarias estavam caros ou como os dois pareciam ter combinado suas roupas? 

Konan estava estranhamente peculiar com aquele vestido amarelo de bolinhas, mas era incontestável o fato de que eles pareciam um casal que havia fugido de algum manicômio.

Talvez pelo meu bom humor estranho e imprevisível que, surpreendente, eu acabei tendo uma sequência de pensamentos um tanto quanto babacas — Itachi gostava de dizer que eu vivia entre dois extremos; um tremendo escroto ou um boneco sem expressões.

Eu não poderia discordar. Entretanto, meu foco estava total naquilo que acontecia à minha frente — me senti como uma nuvem negra em frente ao casal de estranhos. Soltei até mesmo uma lufada risonha pelo nariz, analisando-os com atenção; expressões, gestos. Até a minha indiferença constante se dissipou enquanto eu analisava aquilo, como se eu realmente estivesse os enxergando depois de tantos meses frequentando o mesmo terapeuta.

Meu celular vibrou e eu demorei alguns segundos para voltar meus olhos para ele, atento demais a cena; os dois tinham suas mãos unidas de maneira suave, discreta, quase imperceptível. Umedeço meus lábios, contendo o sorriso que estava querendo aparecer — Itachi iria resmungar como um velho quando eu contasse sobre aquele novo romance. Uma versão um pouco mais amarga de algum triste amor adolescente, daqueles livros que sempre estavam nas bancas de jornais ou nas propagandas de qualquer coisa.

Eu iria amar vê-lo se doer por não estar presente, vendo com seus próprios olhos tudo  aquilo. 

Abaixei meus orbes de maneira despreocupada e, então, todo mundo ao redor pareceu perder a importância. Principalmente o peculiar casal de roupas coloridas e com condições mentais de estabilidade questionável.

Abro a mensagem sem hesitar, apenas para ser recebido da melhor maneira; estilo Senju Sakura — que era, basicamente,  algo que eu estava longe de entender.

Senju Sakura 

“Boa tarde, Stalker.”

“Dormiu bem? Espero que sim.”

“Eu acabei tendo um sonho muito estranho (eu costumo sonhar todas as noites, mas esse foi muito diferente)”

“Acho que deve ter sido algum sinal, sabe?”

15:02

Franzo as sobrancelhas ao ponto de sentir um vinco profundo surgir entre elas, obviamente confuso. Por mais que isso pudesse ser considerado eufemismo para o estado que eu me encontrava quando o assunto era Sakura.

Abro minha boca, semicerrando meus olhos para as mensagens brilhosas e que tinham destaque na tela do meu celular. 

Com certeza confuso era apenas um dos mais leves dos adjetivos que eu poderia receber. 

Não sei por quantos segundos prorroguei aquele choque, mas o mundo pareceu parar por aquele tempo — isso soava de uma maneira muito egocêntrica, mas eu não conseguia fazer toda associação além dessa, por mais idiota que isso soasse. 

Umedeci meus lábios, começando a digitar. 

“Boa  tarde, Nerd.”

“Dormi como sempre.” 

“Eu achava que o louco era eu. Acho que me enganei.”

“Sinais não existem.”

15:05

Sakura, como eu já esperava, não demorou para responder. Aguardei com meus olhos presos aqueles três pontinhos na tela, pressionando a carne machucada de minha bochecha entre meus dentes e batucando os dedos na traseira do celular — escutei alguma coisa à distância, talvez a voz da recepcionista no telefone, mas meu foco estava sendo apenas aquela conversa aberta.

“Como você é engraçado, Sr. Ateu.”

“Estou quase morrendo de rir.”

“Seu humor é mais mortal que o câncer.”

15:05

Arqueeio uma sobrancelha, me acomodando mais relaxadamente na cadeira. 

Sakura estava mais grossa naquela Segunda? — um sorriso pequeno surge em meus lábios, quase tão discreto como qualquer outra de minhas ações. Minha língua passa de maneira vagarosa por meus dentes, apreciando essa nova faceta que eu descobria.

Não entendi muito bem de onde surgiu essa tal dinâmica, mas levando em conta que após o meu surto no Sábado e nossa conversa banal sobre comidas instantâneas, quando enfim fomos encher nossas barrigas, havia meio que se fundado aquele tipo de conversa — eu não tinha com quem contar sobre aquele estranho fenômeno, mas debati na minha própria cabeça em meio a horas de reflexão que, provavelmente, Sakura só estava adotando a mesma postura que eu.

Aquela típica história; trate os outros como eles te tratam. E, para minha felicidade ou não, Sakura estava levando isso ao pé da letra — talvez por culpa minha. Mas isso apenas fez com que eu digitasse com mais velocidade ainda, rebatendo logo em seguida:

“Humor ácido? Que surpresa vindo de você, Sra. Simpatia.”

“O que tem demais esse sonho que você teve?”

15:05

“Aprendi com você, Stalker.”

“Me sinto intimamente próxima de você, isso me dá alguns privilégios.”

“Agora fique quieto e deixe eu falar. Eu perco o foco se mensagens continuarem aparecendo na conversa”

15:05

Pressiono meus lábios, contendo um sorriso que aparecia ali. Seria mentira se eu negasse o fato de ter me sentido tentado a mandá-la mais mensagens, apenas para ver até onde aquele bom humor característico aguenta ir.

Foquei naqueles três pontinhos, aguardando com extrema atenção.

“Eu sonhei que estávamos no meio do oceano ártico, mas não sentíamos frio.”

“Você não sabia nadar e estava afundando, mas eu não conseguia ir atrás de você porque algo me prendia a superfície.” 

“Eu comecei a gritar e você agarrou meu pé, isso acabou não deixando que você afundasse mais.”

“Mas, estranhamente, você começou a falar algumas coisas dentro d'água.”

“Eu não consegui entender, obviamente. Mas (agora chega a parte estranha) eu consegui entender duas palavras (pelo menos eu acho que entendi)”

“Dai e Miko”

“Eu tenho a impressão que eu ouvi as palavra cortadas, mas esse  começo foi nítido para mim”

15:06

Fiqo alguns segundos encarando aquelas mensagens, lendo e relendo.

Minha constatação foi simples, limpa e certa. Um tanto quanto óbvia, levado em conta aquele pequeno dossiê de informações que eu estava armazenando sobre Senju Sakura — nada muito relevante, mas o que havia conseguido acumular em meio aos nossos recentes encontros. 

Sakura também era louca. Talvez uma loucura um pouco mais aguda que a minha.

Eu não tinha muitas informações guardadas sobre ela, mas sua expressividade exasperada e a maneira que parecia não ter qualquer receio em falar, sentir e fazer tudo que quisesse, também me passava a sensação que a própria sentia — de sermos próximos, mesmo que isso sequer fizesse sentido.

Isso só intensificou aquilo que eu já sentia desde daquele trágico encontro perto da loja de conveniência. Que havia descoberto recentemente não ter sido um delírio — isso me deixava ainda mais preocupado, pois eu voltava a cair no mesmo caminho de perguntas sem repostas.

Haruno Sakura havia levado minha vida, Senju Sakura estava levando minha paz — quantos mais perguntas surgiam, mais ansioso eu ficava. Era lógica aplicada, daquelas que até uma criança conseguiria entender.

Eu travo, pois sabia quais nomes tinham aquele começo tão singular. Sento meu corpo tremendo, meus órgãos instáveis dentro de mim e a corrente incessante de energia que fazia uma poça de suor se acumular em minha nuca. Engolu em seco, sentindo o mundo se fechar ao meu redor.

Aquilo não fazia sentido.

Suspiro, acalmando qualquer coisa que houvesse surgido em meu corpo. Mais uma daquelas crises.

Sakura agia como todas as pessoas que haviam vencido o câncer agiam: sem qualquer impedimento em suas vidas, vivendo como se aquele fosse seu ultimo dia na terra.

Havia sido apenas uma cruel coincidência aquele sonho, não duvido que fosse seu subconsciente agindo — deveria ter falado o nome de meus filhos para ela, e sua consciência deveria ter apagado. Mas, claro, os nomes ainda estavam frescos em seu subconsciente, encaixando-se naquelas milhares de possibilidade entre sonhos e pesadelos.

Era apenas uma coincidência.

Digitei lentamente, inseguro.

“E que tipo de sinal isso passa?”

15:06

“Olha, para mim isso é claro sinal que temos que nos encontrar outra vez.”

“O que acha?”

15:06

Abro a boca, apenas para fechá-la alguns segundos depois.

Eu não estava esperando aquilo.

Talvez uma análise meticulosa sobre o sonho, que iria me deixar desconfortável, e que acabaria me levado para um abismo de paranoias, fazendo com que eu parasse e responde-la. Mas aquilo? Eu definitivamente não estava esperando.

Semicerro meus olhos em direção aquelas mensagens fluorescentes em meu celular, não sabendo ao certo como processá-las. Mas, agindo por conta própria e se aproveitando naquele vazio que se apossou da minha cabeça, um riso trouxo — solto mais como um suspiro — saiu de meus lábios.

“Eu acho que você é louca.”

“Está usando um sonho estranho para me chamar pra sair?”

15:07

“Talvez.”

“Isso vale para as duas respostas.”

15:07

Solto mais uma vez aquele riso estranho, mas que soou alto o suficiente para ser notável naquela sala silenciosa. Desvio meus olhos rapidamente, passando por todo ao meu redor e certificando-me que ninguém havia visto aquilo — em consequência me afundei ainda mais na poltrona, tentando me esconder, por mais que eu não soubesse ao certo do que.

Umedeci minha boca, arqueando uma sobrancelha.

“Você não deveria ter medo de mim, ou algo do gênero?”

“Porque eu estou ficando com medo de você, e (alerta spoiler, princesinha do câncer) eu que sou o louco aqui”

“Eu espero que isso seja mais um delírio meu, e que eu vá acordar daqui alguns minutos. Só isso poderia explicar a sua inconsequência”

15:07

Eu não queria soar tão grosseiro, mas era meio que uma reação automática; Sakura caminhava um passo à frente, eu dava três para trás e ainda me escondia atrás de alguma coisa.

Entretanto, aquele ar risonho ainda estava em mim. Talvez fosse efeito das vitaminas.

“Princesinha do Câncer? Que amargo”

“Quase gostei. Posso te chamar de sociopata imaculado?”

“E eu achei que já tínhamos superado isso, Stalker. Com medo de perder o posto de esquizofrenia para a rainha da quimioterapia? Eu sou bem competiva”

“Dessa vez vai ser uma coisa mais calma, sei que seu coração sensível não aguenta isso”

15:08

Não voltei a fechar meus lábios entreabertos, pois havia esquecido completamente como coordenar seus movimentos.

Não pisquei, não me movi. Apenas li aquelas mensagens mais algumas vezes, alternando entre a pequena foto do perfil e as recentes palavras que pesavam em minhas costas — não por serem realmente pesadas, com aquele tipo de humor que não era nada correto, mas por terem algo que eu não estava esperando.

Sakura rebatia tudo no mesmo nível. Na verdade, acredito que ela conseguia fazer isso até com um pouco mais de força, porque eu estava desnorteado.

Engoli em seco, voltando a digitar.

“Quando e onde?”

15:10

“Terça que vem?”

“E é segredo, Stalker.”

“Não duvido que você mude de ideia se saber onde é.”

15:10

Reviro mes olhos, voltando a minha postura normal.

“Uma parte minha não consegue ficar surpreso com isso.”

“E eu só vou porque não tenho nada muito importante na semana.”

15:10

Eu nunca tinha nada muito importante para fazer, além de ficar remoendo toda a minha melancolia. Mas ela não precisava saber disso.

Uma voz rouca surgiu no fim do corredor, puxando minha atenção e fazendo que eu quase largasse o celular sobre meu colo — assustado, totalmente imerso naquela conversa, ao ponto de esquecer o lugar que estava.

— Uchiha Sasuke.

Por alguns segundos, com minha atenção dividida entre os dois pólos distintos, acabei entrando em um impasse; meus olhos estavam presos ao celular, atentos a possível mensagem que Sakura enviaria — me levantei de maneira lenta, adiando o quanto conseguisse a minha entrada no consultório, e me contendo para não xingar aquela demora exagerada apenas para digitar uma mensagem.

Andei em direção ao corredor, e só então meu celular vibrou — sabia ser ela, pois não tinha nenhuma chance de ser qualquer outra pessoa.

“Até Terça-feira, Stalker. Me encontre em frente aquela lanchonete.”

“17h”

“Não se atrase”

15:11

Eu soube que a conversa havia acabado ali, faltando apenas alguns metros para a sala de Orochimaru, por isso não me importei em respondê-la, já guardando o celular de volta ao meu bolso.

Fiz o caminho que já havia decorado em passos vagarosos, quase arrastados, e acabei cruzando com aquele trisal estranho, mas que me cumprimentaram com seus rostos inchados — provavelmente a consulta havia sido um pouca intensa, dava para ver isso nos três corpos abatidos e com seus ombros caídos. Outro ponto que teria  que comentar com Itachi depois.

Estava pensando seriamente em fazer um bingo de “pessoas fodidas na terapia” quando parei em frente a porta de vidro fosco, aberta à minha espera — pedi licença ao entrar, fechando-a atrás de mim. 

O percurso rápido que demorei para chegar a estranha pontrola laranja possibilitou que eu olhasse para o ambiente, analisando a cor escolhida do dia; as luzes de led brilhavam em um rosa forte, e a luminária de bolhas tinha um degradê de tons pastéis que beiravam do branco ao vermelho. Sobre a mesa ampla e carregada de coisas, sendo um destaque  para qualquer um que entrasse na sala, havia uma grande Rosa em um vaso rebuscado, com suas pétalas abertas e que deveria ser do tamanho da minha mão esquerda.

Fazia tempo que meu psicólogo não usava aquele tom. Uns bons meses, para não dizer anos.

Me sento na poltrona giratória, colocando minhas mãos sobre meu colo e erguendo minha cabeça; meus olhos caíram incisivamente sobre os orbes amarelados de Orochimaru, que estavam fixos em mim como se ele fosse um animal prestes a dar o bote — eu sempre associava ele a algum bicho, e eu não fazia ideia do porque.

Analiso seu rosto da mesma maneira que havia feito com seu consultório; Orochimaru tinha seus olhos caramelos rodeados por aquele esfumado tom róseo, enquanto um delineado vermelho estreitava suas pálpebras felinas. Suas unhas tinham um tom que quase beirava o branco, mas seus dedos compridos estavam livres de qualquer adereço ou anéis que poderiam facilmente ser confundido com olhos, já que suas pedras eram enormes.

Ele sorriu para mim assim que cheguei, enquanto arrumava seus cabelos naquele alto rabo de cavalo — em suas orelhas havia grandes brincos de pompons, obviamente róseos.

Ele usava uma túnica básica, mas uma árvore de cerejeira tinha destaque sobre o fundo pálido, de um brilhoso tom marfim.

— Boa  tarde, querido. — Orochimaru ronronou, acomodando seu rosto a própria mão e me proporcionando-o um olhar atencioso — Como foi seu final de semana? 

Pressioando meus lábios. retirando meus óculos escuros e colocando-o sobre meu colo.

— Foi bom. — murmuro, ainda sem ter vontade de olhar para aquelas esferas tão diretamente sinceras. 

— Hm, isso é o motivo pelo seu bom humor? — ergulo meus olhar, podendo assisti-lo se debruçar sobre a mesa esticar seus braços sobre ela. As pálpebras coloridas semicerram-se em minha direção, e eu senti o que ele estava fazendo; lendo minhas expressões como se eu fosse um simples livro aberto e de fácil compreensão.

Engolu em seco, e ele sorri.

 — Você estava sorrindo, consigo ver os traços de um sorriso em seu rosto. — piscou, batendo aqueles cílios alongados por algum produto — Tenho certeza que foi um ótimo final de semana.

Abri minha boca, prestes  a rebate-lo, mas a fechei logo em seguida — em contrapartida acabei abaixando meus olhos, assumido e confirmando as palavras de orochimaru.

Falar ou não falar, eis a questão.

Batuco meus dedos sobre as pernas do meu óculos, analisando meu reflexo sobre a superfície escura e constatando o motivo do porque Orochimaru pensar que eu estava feliz, sorrindo; eu mesmo sentia que estava um pouco mais leve durante aquela Segunda feira, uma das consequências boas após conseguir dormir duas noites seguidas e até mesmo fazer uma caminhada no meio da chuva — fumei dois maços de cigarro depois, mas apenas para compensar os minutos que havia disponibilizado aquela atividade física.

Estava claro que alguma coisa estava diferente E, eu tinha certeza, que meu psicólogo pensava que tinha a ver com aquela pequena sugestão dada na sua última consulta; esquecer Sakura.

Esquecer ela antes já era algo quase impossível, agora era mais do que impossível; eu não queria.

Mordisquei meu lábio inferior, falando sussurrando como se fosse um segredo sórdido:

— Eu saí como uma garota. — ergui meus olhos lentamente, pousando-os sobre as orbes do homem à minha frente; Orochimaru arqueou uma de suas sobrancelhas, justamente aquela que estava rodeada por pequenas lantejoulas de um rosa intenso — E vou sair com ela outra vez semana que vem.

Ele demorou alguns segundos me analisando, não tirando aquele sorriso dos seus lábios. Parecia até mesmo ter sido entalhado em seu rosto, como aquelas esculturas gregas que tinham uma beleza própria — movi suavemente minha cabeça, analisando Orochimaru sobre aquela perspectiva Grega, antes de Cristo.

— Isso é algo novo. — o sorriso se alargou, os  orbes amarelos brilharam pela curiosidade palpável — Pode me falar um pouco sobre ela?

Abri a boca, mas hesitei. Passei minha língua sobre meus dentes, pensando nas palavras que iria dizer. Pensando realmente o que iria dizer.

Minha cabeça era um grande vácuo em branco, sem qualquer palavra pronta para descrever aquela pessoa que eu conhecia a tão pouco tempo. Porém, indo contra coisas que eu estava acostumado e desarmando-me por alguns segundos, murmurei as mesmas palavras que havia dito mais cedo para Itachi:

— Eu sinto como se fosse ter uma crise nervosa todas as vezes que estou perto dela. — ergui uma sobrancelha, olhando para as minhas mãos e dando de ombros.

Orochimaru me analisou por mais longos segundos, e eu me senti sendo lido e desvendado à medida que meu psicólogo, com todos seus anos de estudo e aqueles diplomas — postos em uma das paredes daquele consultório exotico — utiliza de seu estudo para analisar as características simples e que estavam estampadas em minhas ações.

Talvez ele estivesse calculando o ângulo de meus ombros, além da maneira que eu umedeci meus lábios e o intervalo de tempo que eu utilizava nisso. Não duvidava que ele também estivesse medindo até minhas esferas  ansiosos dentro de meus orbes, esperando qualquer sinal silencioso aparecer em meio as minhas lacunas.

Ele era o profissional, e eu era apenas o paciente. Estava óbvio para mim que tinha mais conhecido em desvendar os outros.

Orochimaru aprumou sua postura, deixando que suas mãos se entrelaçaram em cima da mesa. Eu soube apenas por aquele gesto, mesmo que os lábios finos se mantivessem selados, que o que viria dali em diante seria o suficiente para me arrancar mais alguns tufos de cabelo, e noites de insônia.

Nossos corpos falam mais que nossas bocas. 

— Que tipo de crise nervosa? — a voz mansa indagou devagar, e eu tive a leve impressão que o ambiente se tornou um pouco mais apagado, como se eu não estivesse cercado de tons e subtons de rosa. 

Olhei para as luzes em suas costas, emoldurando aquela janela ampla e que dava para aquelas ruas íngremes e suas casas estreitas, largas, tradicionais. Uma mistura entre o moderno e o tradicional, onde o pequeno tomava espaço com o grande, sobressaindo as casas com terraço largo e portas de correr, entre os prédios prontos, que sustentavam apartamentos que mais pareciam caixas de sapatos — igual o meu.

Falei de maneira calma, concentrando-me nos tons pastéis que tomavam os céus atrás das costas do meu psicólogo. Ironicamente, ou não, o mundo parecia ter se aberto apenas para trazer cores que combinavam com o consultório estranho de Orochimaru.

— Daquelas que me deixam sem sono, mas que ficam na minha cabeça durante dias. — mexi em meus dedos, limpando sujeiras invisíveis alojadas embaixo das minhas unhas — Eu..eu sinto uma vontade absurda de correr quando vejo ela. É muita..não sei. — franzo minhas sobrancelhas — Ela é muito diferente de mim.

Silêncio. 

Abaixei meus olhos ao escutar o som de algo sendo posto na mesa, e, pela primeira vez em meses lado a lado de Orochimaru, o vi pegando um bloco de folhas brancas. O click da caneta se fez presente quase instantaneamente, chamando minha atenção — ergui meus olhos nesse momento. encontrando aqueles inconfundíveis orbes amarelos.

As feições de Orochimaru se mantiverem serenas.

— Ela é muito diferente de você em que pontos? — indagou com calma, enquanto sua mãe seguia em uma escrita rápida na folha branca.

Eu não sabia o que ele estava anotando. Talvez perguntasse quando a consultasse acabasse.

— Eu sou metódico, minhas brigas com Itachi são por causa dessa mania. Gosto de certezas, lugares que eu sei o que vou encontrar quando chegar no fim. Gosto de coisas simples, de fácil compreensão. — Ergui uma de minhas sobrancelhas, possivelmente parecendo um pouco surpreso, ou perdido. Talvez os dois — Mas ela..ela..eu não sei explicar. Pode soar até estranho, levando em conta que eu vi ela pouquíssimas vezes. Mas..sabe quando você sente que algo não orna em nada com o que você está acostumado? — abaixei lentamente meus olhos outra vez, reparando somente agora que eu os havia levado outra vez para o céu rosada a minha frente.

Os olhos de Orochimaru estavam presos sobre mim, e eu não pude lê-los, como sempre.

— Consegue ser mais claro?

Ele estava querendo me dissecar, arrancar de mim as verdades escondidas em meu peito, assim como faziam com os órgãos dos pequenos animais que eram usados para experimentos.

Soltei uma fina lufada de ar por entre meus lábios.

— Ela é imprevisível, consigo ver isso nos olhos dela. — a sinceridade soou mais densa do que eu gostaria, embalando-se naquele tom rouco que soava como um murmúrio consternado — Ela consegue ser diferente de mim em todas as coisas que eu conheço. E eu sei que sou anormal, seu que tenho algum problema profundo e enraizado na minha cabeça, ou eu não estaria aqui. — Orochimaru abriu a boca para adicionar a típica frase que eu estava acostumado “Nem todas as pessoas que frequentam terapias são loucas”, mas eu o cortei sem qualquer resignação — Ela parece ser aquelas pessoas que não pensam duas vezes antes de virar as costas e deixar tudo para trás. Ela não passa segurança. 

Só então notei que meu tom estava cada vez mais pesado, até mesmo para mim.

Cocei a garganta, abaixando meus olhos para meus dedos.

— E tudo fica pior ainda quando eu paro para refletir e vejo que conheço tão pouco ela. — crispei os lábios — É como se ela me repelisse, mesmo que as atitudes dela provem o contrário. Talvez seja o corpo dela a mantendo afastada de um fodido igual eu, e meu próprio corpo está repelindo alguém que pode piorar toda essa merda.

Ergui meus olhos lentamente, minhas orbes mais secas do que uma praia deserta embaixo do Sol escaldante do auge do verão.

Orochimaru me olhou por longos segundos em total silêncio.

Acomodou sua caneta sobre o papel, reparei que ele havia escrito algumas páginas naquele curto tempo.

A voz grave surgiu em meio aquele silêncio pesado — que infringiu aquele clima tão ameno  que sempre parecia fazer parte do consultório.

— Você tem medo do que possa acontecer no futuro por conta dessa personalidade inconstante que ela carrega? — assenti lentamente com a cabeça, segurando meus dedos ansiosos e que teimavam em querer batucar sobre meus joelhos dobrados — Então está baseando todas as suas ações em um futuro incerto? — assenti mais uma vez, pressionando meus lábios um contra o outro — Está afundando em suas próprias preocupações apenas pela ideia de que pode se machucar mais uma vez?

Hesitei alguns segundos antes de assentir mais uma vez.

Orochimaru soltou um longo suspiro, olhando para os itens sobre sua mesa.

— Sasuke, posso falar várias coisas sobre isso, fazer perguntas que irão estimular sua cabeça. — ergueu seus olhos novamente em minha direção — Mas eu preciso saber o que você quer disso tudo: Ir em frente, mas de maneira prudente. Ou apenas ter forças para se desvincular disso sem fazer muitos estragos, tanto para você e para ela. É bom aproveitar que vocês se conhecem a pouco tempo, e que seu medo ainda atinge apenas a você.

Também suspirei, engolindo em seco.

Hesitei mais uma vez.

— Eu..eu não sei. — fechei meus olhos rapidamente. — Uma parte minha quer levar isso para frente.

Orochimaru rebateu no mesmo momento, debruçando-se parcialmente sobre a mesa, e me fitando com aqueles claros orbes — pude reparar até mesmo nos diversos tons caramelados que orbitavam em suas esferas arenosas.

— Por que?

Eu travei, com seus lábios entreabertos e com minha respiração os ressecando.

O som da rua chegava até nós, ambos presos naquela bolha que eu não tinha palavras para nomear.

Murmurei:

— Eu também não sei. — nesse momento, vindo sem qualquer autorização e surgindo em minha mente como uma tela em aquarela, pintada como em um obra tradicional e com pinceladas delicadas, a imagem de Senju Sakura surgiu em minha mente; colorida, mas com suaves nuances de transparência, como se ela estivesse prestes a assumir a qualquer minuto. Engoli em seco, arqueando uma sobrancelha e falando sem pensar — Eu acho que quero parar de ser um covarde.

Voltei a enxergar realmente o Orochimaru. Ele ainda me encarava.

Mantivemos assim, um com seus olhos presos ao outro.

— Você sabe que ainda é muito sensível a qualquer relação com outra pessoa, não sabe? — Orochimaru indagou com placidez, embalando-me naquele tom ameno — Não é perigoso apenas para você, mas para ela também. — arqueou a sobrancelha rodeada por lantejoulas — Você sabe a analogia do homem bomba, não sabe?

Assenti lentamente com a cabeça, murmurado:

— Qualquer um que estiver perto vai sofrer com a explosão. — pisquei, engolindo em seco — Mas se eu não me dispor a mudar, nunca irei conseguir desarmá-la. — espalmei minhas mãos em meus joelhos, apertando-os — E eu acho que quero mudar. Eu..eu tenho medo de tudo, principalmente dela. 

Orochimaru mexeu distraidamente em suas unhas, mesmo tendo seus orbes presos a mim.

— Por que quer andar por um terreno que você sente tanto medo? 

Eu sabia o que ele estava fazendo, aquele jogo que todos os psicólogos faziam: Plantando perguntas em minha mente, fazendo com que um labirinto de indagações surgiram e mais dúvidas nascessem entre as lacunas de minha consciência. Entretanto, não me opus a responder lentamente, soprando como uma música melancólica as palavras sinceras:

— Eu não sei.

Orochimaru foi rápido.

— Você sabe que as perguntas que mais adiamos, são as que mais necessitamos das respostas. — voltou a pegar sua caneta, escrevendo mais algumas coisas naquelas folhas pálidas. Perguntou, enfim tirando os olhos de mim — Aconteceu mais alguma coisa?

Assenti mais uma vez com a cabeça, deixando com que meus olhos caírem sobre meu colo e minhas mãos em meus joelhos.

Elas soavam.

— Eu estou vendo as crianças quase todos os dias. — murmurei ainda mais  baixo, sequer piscando — Não quero tomar os remédios outra vez, eles deixam Itachi preocupado e acabam com meu corpo. — ergui meu olhos com lentidão, ignorando a latente sensação de hipocrisia que queimava em meu corpo — Mas eles voltaram, e parecem estar bem animados.

Orochimaru parou outra vez seus movimentos, mas hesitou antes de erguer sua cabeça lentamente em minha direção — seus olhos, rodeados por aquela  cor quente, parecem ainda mais afiados quando recaíram sobre mim. Não pude deixar de conter minha respiração, principalmente quando estava sendo posto frente a frente com aquela faceta que fazia meu psicólogo ser um dos homens mais requisitados de Tokyo.

Engoli em seco. Pude notar que eu  tremia.

Orochimaru deixou sua caneta sobre a mesa, mas arrastou sua mão até um pequeno telefone esquecido em um dos extremos da superfície lisa. Apanhou com aquela vagarosidade de sempre, levando-o ao ouvido e murmurando com uma calma que não condizia em nada ao que eu sentia:

— Avise os meus pacientes de hoje que eu iria atrasar um pouco as consultas. — os olhos amarelos vieram em minha direção, medindo-me silenciosamente — Talvez umas duas horas.

Orochimaru não demorou em deixar novamente o telefone no gancho, então voltando sua completa atenção para mim.

Entrelaçou os dedos em frente ao corpo, puxou uma breve lufada de ar, piscou com lentidão.

Apertei com mais força meus joelhos, pensando seriamente na possibilidade de vomitar em cima daquela mesa cheia de adereços estranhos. 

— Vamos começar outra vez, Sasuke.

Não poderia me opor a isso.


Notas Finais


Até semana que vem!
Me sigam no insta, tem uma caixinha de perguntas aberta! @alaska_sk.a

ps: Irei responder os comnt atrasados dos dois ultimos cap essa semana!


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