História She Bad - He would never do this to me

Los Angeles - Califórnia 

17 de julho de 2017

Point of view — Pedro Miller

Ansioso. Isso com certeza é algo que não sou, mas consigo sentir esse sentimento oscilando dentro de mim a cada passo que dou em direção a porta. 

– Anna cheguei – grito assim que entro, não obtenho resposta, apenas silêncio, será que ela está dormindo? Mas são quase 13h – Anna? – pergunto antes de entrar no quarto. Vazio. Ela não está aqui. 

[12:45] Eu: Onde você foi? Acabei de chegar e o apartamento está vazio

Ela só me responde uns 15 minutos depois.

[13:01] Anna Martinez *coração azul*: Nos Jack’s, vim pra cá ontem porque não queria ficar sozinha, acabei dormindo aqui

[13:01] Eu: nem para me receber

[13:01] Anna Martinez *coração azul*: desculpa pe

[13:01] Anna Martinez *coração azul*: vem pra cá, vou passar a tarde aqui

[13:02] Eu: quero descansar um pouco, que horas você chega? preciso falar com você

[13:02] Anna Martinez *coração azul*: não sei.. vou sair para jantar com o Matt

[13:02] Eu: jantar com o Matt huh? 

[13:02] Anna Martinez *coração azul*: só porque perdi uma aposta

[13:02] Anna Martinez *coração azul*: aconteceu algo

[13:03] Eu: não 

[13:03] Eu: nos falamos quando você chegar

[13:03] Eu: aproveite por mim

[13:04] Anna Martinez *coração azul*: Deixa comigo

[13:04] Anna Martinez *coração azul*: quero meu abraço quando chegar 

[13:04] Eu: quantos você quiser

Eu me sinto mal por mentir para Anna, porque ela pode ter muitos defeitos e ser difícil de lidar mas ela deixa claro que é assim, gosta quem quer. Sinceridade exala em cada palavra e ação dela, é raro a ver mentindo, ainda mais para mim, sei o quanto ela confia em mim e isso torna a situação toda pior. 

Eu menti sobre passar três dias em San Diego, disse a ela que veria um amigo mas a verdade é que nunca sai de Los Angeles, fiquei hospedado em um hotel no centro perto da Faculdade da Califórnia do Sul, onde eu fui fazer uma entrevista.

Quando eu morei em San Diego por cinco meses me inscrevi em algumas faculdades, essa era a que eu menos queria, Los Angeles é muito grande e tudo aqui sempre tão longe, nunca gostei disso.

Mas essa foi a única que me chamou e é muito boa, quando recebi a carta não pensei duas vezes em comprar a passagem, Anna mora aqui agora eu podia ficar nesse apartamento e passar um tempo com ela, motivo pelo qual cheguei com antecedência e escolhi a data limite para voltar.

Ela me incentivou a fazer o vestibular de medicina quando a gente tava no Brasil, mesmo eu nem sabendo se queria aquilo porque vinha pra Califórnia não iria fazer faculdade naquele momento, também não achava que passaria, mas ela disse que eu tinha potencial para conseguir mesmo que eu não visse isso, acreditou em mim, e no final eu passei, devo isso a ela. 

Quando eu disse que talvez fosse me inscrever aqui ela me incentivou a preencher e novamente acreditou em mim, mesmo que eu não acreditasse. Mas queria ter certeza de que iria dar certo antes de contar a ela, então não falei nada sobre a entrevista, dependo dela para ser aprovado. 

Se eu for aprovado vou morar aqui, neste apartamento, compensar o tempo que passei fora, quero estar aqui quando ela precisar, mas acho que depois do que estou prestes a fazer não sei se ela irá me perdoar.

[13:17] Will: chegamos ai as 18h

[13:17] Will: cara eu estou animado

[13:17] Will: ver você, estarmos juntos em Los Angeles

[13:17] Will: mas por favor quero só nós dois juntos em Vegas na próxima 

[13:18] Eu: claro irmão

[13:18] Eu: vou te mandar o endereço daqui 

[13:18] Will: fechou

William é meu melhor amigo, desde sempre, mas as coisas se complicaram quando a Amber entrou na jogada, a história toda é complicada.

Eu e a Amber ficávamos, mas todos nós sempre fomos amigos, eu a conheço desde pequeno, sempre existiu um carinho, ela não era uma garota qualquer que eu ficava e sempre soube onde estava se metendo, que era apenas aquilo, sem compromisso. Só que isso não te impede de ter sentimentos, eles só acontecem, os dela acabaram acontecendo por mim. Não ela nunca me disse isso, mas era claro nas ações. Tudo foi por água abaixo quando no começo do ano passado eu fiquei com a Stephanie, depois dela era somente ela e mais ninguém, eu nunca quis magoar a Amber, ela nunca foi honesta sobre os sentimentos dela por mim, então que culpa eu tenho nisso? 

Como modo de vingança a Amber ficou com o Derek, um outro melhor amigo meu, achando que isso ia me incomodar, o que não aconteceu. As coisa com a Stephanie começaram a ficar mais sérias e a relação de amizade que eu tinha com a Amber cada vez mais distante, isso me chateava, a amizade deveria prevalecer sempre não? Eu era feliz com a Stephanie, completamente apaixonado por ela, isso acontece no seu primeiro amor. 

E então ela fez algo que realmente me incomodou, ficou com o Will. “Como você pode ficar bravo por seus amigos ficarem se você gostava da Stephanie? Você nem ligava para a Amber”. Não isso não é verdade, sempre existiu uma consideração, não a tratava igual as outras garotas que eu ficava, era sim diferente, mas não existia esse sentimento, eu não era apaixonado por ela. Me irritou o fato de Will saber todo meu “carinho” e fazer isso mesmo assim, não adiantou colocar a culpa na bebida ou no momento, nós conversávamos sobre ela, eu contava a ele tudo que acontecia entre mim e Amber. Isso me incomodou e magoou de certa forma, mas eles são meus amigos, quero sempre o melhor para eles.

Uma ficada levou a outra e depois de uns dois meses após ter assumido meu namoro com a Stephanie, Will e Amber fizeram o mesmo. Nossa amizade nunca mais foi a mesma desde então, eu não sei explicar o que mudou ou porquê, mas eu sinto isso até hoje. Com ela não é diferente, era completamente estranho conviver junto a eles todos os dias. 

Todo mundo foi afetado pelo namoro deles, eu, Will, Anna, Mia, tantas outras amizades. Sim eles são muito fofos, o casal que você olha e pensa “tão perfeitos juntos”, mas todo o contexto é completamente estranho, ela era apaixonada pelo melhor amigo do namorado, coincidência não? De verdade achei que não duraria muito, Anna deu dois meses, mesmo sabendo que isso era mentira, Will se dedica ao máximo nos namoros dele, por isso fazem dois anos e ai estão eles, vindo a Los Angeles, passar sete dias comigo. 

E esse é o motivo pelo qual Anna vai me matar, eu chamei eles para ficarem aqui, vou avisa-lá assim que vier aqui antes do jantar, ela ficar furiosa mas aí já não dá mais tempo de desistir. 

Não é que Anna odeie eles mas existe todo um contexto dela com os dois, Will e ela já foram muito amigos, Amber também já foi sua amiga, mas agora.. bom ela não desgosta deles e também não gosta, mas com certeza não são pessoas que ela receberia por sete dias em sua casa. Anna mantém uma relação de colega com eles por causa da escola e só vê eles quando há encontros escolares para reunir toda a turma, por isso ela mantém toda essa educação com eles, para o clima não ficar pesado, e qualquer coisa que tenha acontecido Anna só parou de se importar, mas como sempre isso não apaga o que aconteceu, ela não esquece esse tipo de coisa.

Ok ela definitivamente vai me matar.

 

Point of view — Anna

Eu amo passar um tempo com os Jack’s, é tão leve o clima aqui, com qualquer um dos meninos, mas esses dois me acolhem sempre que não tenho para onde ir, ou quando preciso, seja lá qual for a situação.

Sinto o sol entrando pelos poros da minha pele, como eu amo isso. Meu celular toca. 

– Qual é Anna, a gente está esperando você entrar faz quase uma hora – fala um Gilinsky ansioso pelas brincadeiras.

[17:36] Pedro Miller❤️: Você já está chegando? 

Começo a digitar mas o telefone é arrancado da minha mão.

– Devolve Johnson – grito pulando para pegar. Ele é bem alto para quem tem cara de 16 anos. Meu celular é jogado para Gilinsky. 

– G sério, só me deixa responder o Pedro, eu disse que ia para casa mas vou acabar me arrumando aqui 

– Ah claro o tal jantar com o Matt – fala debochado. 

– Esconde Johnson – meu celular é jogado de volta para o loirinho que corre para buscar e quando tento fazer o mesmo sou agarrada por trás envolvida com fortes braços. 

– Gilinsky me solta! – me debato tentando sair mas é inútil, mesmo eu não sendo fraca ele é muito mais forte. 

Jack J nem demora e quando Gilinsky alivia um pouco eu escapo, mas quando corro o loiro me pega, os dois me arrastam e sou jogada na piscina.

Eu ficaria brava se não estivesse tão gostoso, porque eu enrolei tanto para entrar? Fiquei esse tempo todo suando no sol, eu poderia ter ficado aqui, na verdade não tenho problema em ficar o resto do dia aqui. 

– Muito melhor não? – diz um loirinho saltando na piscina. 

– Isso sim é aproveitar o verão – G grita enquanto salta assim com Jack J.

– Só um pouquinho 

Eu perdi um pouco a noção do tempo já que passamos o resto da tarde jogando (ou tentando) vôlei, apenas arremessando a bola um para o outro, conversando sobre a vida ou fazendo guerra de água.

– Vocês podem devolver meu celular – digo ao sair da piscina.

– Tá legal – Jack J fala revirando os olhos.

– Puta merda são sete e dez – me assusto ao ver a hora na tela, ainda mais com a quantidade de mensagens e ligações do Pedro.

[17:38] Pedro Miller❤️: Anna?

[17:43] Pedro Miller❤️: você estava digitando e agora sumiu

[18:01]Pedro Miller❤️: não vai voltar para casa?

[18:19] Pedro Miller❤️: eu precisava muito falar com você 

Em meio à todas essas mensagens tem nove ligações perdidas. 

[19:12] Eu: desculpa pe, os Jacks’s esconderam meu celular e depois perdi a noção da hora na piscina

[19:12] Eu: desculpa mesmo

[19:12] Eu: aconteceu alguma coisa grave?

[19:13] Eu: vou me arrumar porque vou sair com o Matthew as 20h

– Posso tomar banho no seu banheiro? – pergunto a Gilinsky quando ele passa.

– Só porque você vai sair – diz ao revirar os olhos.

[19:14] Pedro Miller❤️: nada

[19:14] Pedro Miller❤️: conversamos quando você chegar

[19:15] Pedro Miller❤️: bom encontro

[19:15] Eu: tem certeza? posso passar ai antes do jantar

[19:16] Pedro Miller❤️: tenho sim, não precisa

Procuro nos meus contatos.

[19:17] Eu: estou nos Jack’s me busca aqui

[19:17] Eu: talvez eu me atrase um pouco

[19:19] Matt: ok eu passo ai

[19:19] Matt: contanto que você não desista

[19:20] Eu: tinha essa opção? droga devia ter escolhido ela

[19:21] Matt: há-há não tinha, estarei ai as 20h

[...] 

Nunca na minha vida eu me arrumei tão rápido, mas a verdade é que estou natural, só tive que secar meu cabelo. Paro na frente do espelho do corredor, nossa meu rosto está vermelho do sol mas eu fico linda assim, sempre gostei desse tom natural, o jeito como o sol deixa a pele mais bonita. O resto do meu corpo não esta diferente, completamente bronzeado e vermelho em algumas partes. 

Olho na tela do celular 20:03. Com certeza um recorde. Dou tchau para os Jack’s e agradeço por me acolherem mais uma vez, eles me desejam um bom jantar e fico na porta da casa esperando, Matt ainda não chegou, parece que não sou eu a atrasada no final das contas.

 

Point of view — Pedro Miller

Meu olho se abre e me assusto sozinho, olho no relógio 17:30. Droga. Vou até a sala, Anna ainda não chegou, mando uma mensagem, ela começa a digitar mas não responde, mando outra e nada, mando mais uma e mais uma. Sem resposta. Começo a ligar desesperadamente. Também sem resposta.

Desespero é o que sinto agora. Eu preciso falar com ela antes que Will e Amber cheguem aqui, sabe-se lá o que ela faria se chegasse e desse de cara com eles no próprio apartamento.

Os últimos minutos se arrastaram na esperança de qualquer barulho de mensagem, e quando chega não era o que eu queria ler.

[18:18] Will: já chegamos, pegando um táxi, acho que logo estaremos ai

Não sei como fiz isso, como criei essa confusão da qual não consigo mais sair. 

Ligo para Cameron mas ele não está com ela, então para Matthew, eles vão jantar as 20h só, os únicos com ela são os Jack’s que também não atendem o celular. 

Só passam 40 minutos até a campainha tocar. Abro a porta e vejo os dois a minha frente, Will me abraça forte e Amber me cumprimenta com um beijo na bochecha.

– Cadê a Anna? – ele pergunta ao passar os olhos pelo apartamento vazio.

– Ela saiu pra jantar, mais tarde vai estar aqui – respondo, gostaria muito que ela dormisse fora, assim poderíamos conversar calmamente, sem eles aqui – Fiquem nesse quarto – aponto para o meu.

– Cara eu to morrendo de fome – fala Will.

– Vou pedir umas pizzas pode ser? 

– Claro – Amber responde pelos dois. 

Quando termino de pedir meu celular toca, a notificação que eu tanto queria.

[19:12] Anna Martinez *coração azul*: desculpa pe, os Jacks’s esconderam meu celular e depois perdi a noção da hora na piscina

[19:12] Anna Martinez *coração azul*: desculpa mesmo

[19:12] Anna Martinez *coração azul*: aconteceu alguma coisa grave?

[19:13] Anna Martinez *coração azul*: vou me arrumar porque vou sair com o Matthew as 20h

Isso definitivamente não é comum, ela saindo para jantar com um cara, mesmo que eles sejam amigos é completamente estranho vê-lá falando isso. Mas segundo ela foi uma aposta.

[19:14] Eu: nada

[19:14] Eu: conversamos quando você chegar

[19:15] Eu: bom encontro

[19:15] Anna Martinez *coração azul*: tem certeza? posso passar ai antes do jantar

Olho para o casal no sofá da sala e depois para a tela, não vou estragar o jantar dela.

[19:16] Eu: tenho sim, não precisa

 

Point of view — Matthew Espinosa

Viro a esquina e antes de estacionar a vejo parada na porta da casa mexendo no celular. Sua cabeça se levanta ao me ver chegando, até ganho um sorriso quando ela entra no carro. 

Ela está linda. Diferente dos dias que saímos a noite, totalmente sem maquiagem e suas bochechas estão rosadas do sol, o cabelo ainda um pouco molhado.

– Oi – sua voz é suave e completamente feliz.

– Parece que alguém está de bom humor hoje – digo enquanto dou um beijo em sua bochecha.

– Só feliz com esse maravilhoso dia de verão – fala sorridente.

Passamos o caminho falando sobre o clima e ela explica que aqui é completamente diferente, não demoramos muito para chegar, é um pequeno restaurante japonês. 

Sentamos do lado de fora porque há uma brisa gostosa de verão, a garçonete traz os cardápios. 

– Eu quero essa barca número um – digo a moça loira, ela é jovem, não deve ter mais que 30 anos.

– Eu quero um tepan de carne com fritas – Que? A gente veio a um restaurante japonês e ela pede carne? É uma piada né? 

Mas ela faz o pedido com a maior seriedade do mundo. Quando a garçonete sai ela começa a rir.

– Desculpa 

– Não acredito que você vai comer carne 

– É que.. – ela respira fundo para recuperar o ar, ainda tentando não rir – Você me trouxe no lugar que eu menos gosto de vir – acho que minha cara ficou confusa porque ela explica – Eu não como peixe Matthew

Ótimo. A única coisa que eu como de “carne” ela não come, devia ter ido na casa de massas. Bela maneira de sair para um jantar, levanto a pessoa que está com você em um lugar onde ela não come nada.

– Desculpa, eu não sabia

– Relaxa, não tinha como você saber – diz sorridente. Na verdade aposto que ela está se divertindo com isso. 

– Isso não é engraçado, você devia ter me avisado assim que viu onde eu parei 

– Matthew você veio aqui porque gosta desse tipo de comida, ta tudo bem, podemos ir em um lugar onde os dois comam da próxima vez

Próxima vez?

– Tudo bem

Conversamos sobre comida, acabo descobrindo que ela é extremamente fresca e não gosta de coisas que eu nem sabia que era possível não gostar, tipo batata, ela só come se for frita. 

Finalmente nossa comida chega e a fala acaba porque estamos ocupados demais devorando ela. Eu sinto repulsa por essa carne, pra ajudar ela ainda come mal passada, vejo o sangue no prato dela. Eca. 

– Para de me olhar assim – diz cortando meus pensamentos.

– Assim como? 

– Como se fosse vomitar a qualquer momento 

– Desculpa, mas isso – aponto para o sangue no prato – Me faz querer vomitar a qualquer momento 

– Eu também acho seu sashimi de salmão nojento e não estou fazendo essa cara 

Abro a boca para falar mas fecho, ela tem razão, cada um com seu gosto. Mesmo que o dela seja ruim.

Ela já está quase no final, apenas comendo algumas batatas e eu já terminei.

– E então por que você estava nos Jack’s?

– Acabei dormindo lá ontem – diz dando de ombros – É chato ficar sozinha

– Você passou o dia lá? 

– Sim

– Achei que fosse para casa 

– Eu ia mas não deu tempo então me arrumei por lá mesmo

– Você ainda não viu seus amigos? 

– Meus amigos? – sua testa se franze.

– Sim os que chegaram de Las Vegas hoje, Pedro me ligou te procurando e acabou comentando – sua expressão feliz vai embora e assume o lugar uma seriedade. Ela começa a mexer no celular e seus olhos se arregalaram. – Anna? O que houve? 

– Eu preciso que você me leve pra casa – é tudo que diz.

– Anna mas o que.. – ela nem me deixa terminar.

– Matthew agora – fala levantando da mesa.

Ela parece furiosa, apenas faço o que pede, pagamos a conta, entramos no carro e sigo rumo ao seu apartamento.

 

Point of view — Anna

Matthew só precisou falar Las Vegas para meu cérebro se lembrar da foto que vi no instagram domingo. 

“Las Vegas com a minha gatinha”

Matt também disse que estavam aqui, perguntou porque não fui para casa vê-los. Mas não pode ser. Pedro nunca faria isso comigo. Ele sabe que não suportaria nada mais que um jantar com aquele casal. Sabe quantas coisas podem voltar quando se trata dele. 

Não ele nunca faria isso comigo. Tudo não passa de um mal entendido. Eu tenho certeza. Confio no Pedro. Ele jamais seria capaz. 

 

Point of view — Matthew Espinosa 

– Você está bem? – pergunto. 

Anna não disse uma palavra desde que entramos no carro, apenas olha para a janela mas seu punho esquerdo está fechado de raiva, parece que ela vai explodir a qualquer minuto.

– Eu só preciso chegar em casa – responde seca.

Nós vamos chegar a qualquer minuto, no máximo dois, e eu ainda não entendi o que aconteceu no restaurante, foi por causa que lembrei dos amigos dela? 

Chegamos, não para o carro na porta, entro na garagem. Não vou embora sem respostas.

– O que você está fazendo?! – ela pergunta irritada. 

– Vou com você – digo enquanto descemos do carro. 

– Não vai não – sua mão vai até meu peito o que me faz parar de andar. 

– Você tá nervosa, eu quero saber o que está acontecendo – tiro sua mão de mim – Então sim eu vou 

Ela apenas se vira e sai pisando forte, acho que a pressa não permite debater. 

 

Point of view — Pedro Miller

Estamos jogados nos sofá, essa pizza era muito boa, não notei o quanto estava faminto. 

– Cara eu senti sua falta – fala Will. Amber se deitou sobre ele, o mesmo faz cafuné na cabeça dela.

– Eu também, lembra a gente sempre pedia pizza na terça-feira? Porque era em dobro – falo

– Claro – diz rindo – Também tinha..

Ele não termina porque a porta se abre, com um barulho mais alto que o normal, meu coração dispara quando vejo duas pessoas na porta: Anna e mais atrás Matt.

O queixo dela foi no chão e voltou depois de alguns segundos. Ela se recompõe, como sempre sem transparecer suas fraquezas, um sorriso só com os lábios se forma em seu rosto, reconheço a falsidade e a raiva nele. Cada passo em nossa direção me faz temer o que vai acontecer agora.

 

Point of view — Anna 

Sinto o sangue borbulhando nas minhas veias, vou matar o Pedro, matar. Mas como sempre todo esse sentimento está apenas dentro, sigo exibindo um sorriso no rosto e não preciso chegar muito perto para que Will se levante e venha em minha direção.

– Tava rezando para você chegar antes da gente dormir! – ele diz me abraçando, o cheiro dele ainda é o mesmo depois de todo esse tempo, retribuo bem fraco, espaço pessoal por favor.

– Bom suas preces foram atendidas – digo me afastando. 

Ele continua o mesmo garoto que conheci há 3 anos atrás, com a mesma cara e o sorriso perfeito inocente, esse jeito meigo dele que apesar de tudo ele não perdeu. 

Me viro em direção a Amber, faz mais de um mês que não a vejo, desde a última reuniãozinha da nossa sala, ainda é a mesma, com os cabelos loiros no ombro e um sorriso sonso.

– Oi! – diz com a voz alta dela, também me abraçando, por deus pra quê tanto abraço? 

Matthew está parado perto do balcão sem entender nada. 

– Gente preciso falar em inglês para que ele possa entender – explico – William Amber esse aqui é o Matthew, um amigo meu aqui de Los Angeles

Will e Matt se cumprimentam com as mãos e Amber acena. 

– Então como você está? – pergunta Will. 

Porque te interessa? Caso você não se lembre nós não somos amigos. Seguro firme na pouca sanidade que me resta para não falar isso na cara dele.

– Bem e como estava Vegas?

– Ai lá é ma-ra-vi-lho-so – diz Amber.

– Mal posso esperar para conhecer – sorrio. 

Falsidade é algo cansativo.

– Bom nós já íamos dormir então.. – nem deixo Will terminar.

– Claro, boa noite

Os dois saem em direção ao quarto do Pedro. Ótimo porque se fosse para o meu eu arrastava os dois para fora pelos cabelos.

Finalmente olho para Pedro, ele está assustado, sua boca se abre e faço sinal para ele parar.

Entro no meu quarto e pego uma bolsa grande qualquer e jogo um pijama, algumas blusas, calcinhas e um short.

– Posso dormir na sua casa? – pergunto a Matthew. 

– C-claro.. – ele foi pego de surpresa, mas aposto que está bem feliz.

– Anna você não precisa ir, eu vou dormir no sofá e.. – peço que ele pare novamente.

– Seja qual for a desculpa que tem, eu não quero ouvir, nada vai justificar isso – aponto para a porta do quarto dele.

– Anna, por favor vamos.. – quando ele começa eu vou em direção a porta. Matthew apenas me segue sem dizer nada. Quando estou prestes a sair Pedro segura meu braço.

– Solta – ele não se mexe e me encara – Pedro me solta agora! – digo firme e ele larga a mão. 

Saio do apartamento sem nem olhar para trás.

 

Point of view — Matthew Espinosa

Anna não fala uma palavra no caminho até meu apartamento. Eu não entendi nada do que aconteceu lá, ela estava tão brava e no final só falou com aquele casal e foi embora, mas não sequer olhou na cara do Pedro, eles não são todos amigos?

Entramos no apartamento, é bem espaçoso para mim que vivo sozinho aqui, mas só tem um quarto.

– Eu fico no sofá – digo assim que ela larga as coisas dela perto dele.

– Não tudo bem, eu fico aqui – ela se senta no sofá e encara o chão.

– Anna o que aconteceu lá? 

– Eu não quero falar sobre isso – seu tom é sério então acho melhor deixar para lá, por enquanto.

Saio para pegar um travesseiro e cobertor para ela, quando volto ela veste um pijama fofo e ao mesmo tempo sexy. Volto para meu quarto e faço o mesmo, saio pronto para debater sobre eu dormir no sofá mas ao chegar na sala a vejo deitada no mesmo, completamente ajeitada. 

– Não era parar você.. – como pode alguém ser tão teimosa?

– Admiro seu cavalheirismo mas eu to bem aqui – ela sorri fraco, o que é completamente estranho, seu sorriso é sempre tão confiante – Mas fica ainda melhor se você me trouxer água 

Começo a rir, a folga dela não foi atingida. 

Pego uma garrafa pequena na geladeira, ela se levanta um pouco para beber e me sento em um espaço do sofá ao lado dela, ele é bem grande para conseguir fazer isso.

Fico ali olhando-a, os olhos azuis em um tom escuro, o sorriso apagado. 

– Que foi? – pergunta quando me vê olhando.

– Nada – abaixo e dou um beijo em sua testa, um pequeno sorriso se formou mas logo sumiu.

– Você sabe que pode dormir aqui se quiser né? – digo parado a porta do meu quarto, não muito longe da sala.

– Hoje não, boa noite Matthew – mesmo longe vejo o azul sumir.

Apenas me jogo na cama confuso com toda essa noite, esse jantar foi um desastre em quase todos os sentidos.