A porta se fecha atrás de mim com um baque, o cheiro do cigarro dela infelizmente me acompanhando mesmo que ela esteja lá na casa dela e eu na minha. Deve ser mental. Minha mente deve tá destruída pra cacete!
- 2D. Seu telefone tocou. - Diz Russell ao me ver chegar na cozinha, apontando para meu celular abandonado sobre a mesa bagunçado. - Umas oito vezes.
E como se estivesse esperando por ele, o telefone do garoto toca mais uma vez e ele o desliga, sabendo se tratar da outra. Não dessa que cheira a cigarro, mas da outra que tem a voz mais fina que uma agulha.
2D não vai atender a ligação. Ele nunca atende. E também não vai ligar de volta. Mas a culpa não é dele. Ela deveria saber disso.
- São elas de novo? - Pergunta Murdoc, marocando o visor do telefone de 2D enquanto vai na geladeira pegar um leite azedo.
- Sim. Pela nona vez agora. - O baterista responde, sentado à mesa enquanto a batuca com uma caneta.
- Argh. Por que você é tão besta? Atende a ligação dela hoje e a de outra amanhã! Isso se chama ser esperto. - Ele fecha a porta da geladeira velha com um baque e vai embora, fazendo 2D revirar os olhos sem ter ouvido nenhuma palavra dele. Como sempre.
Na real, ninguém ouve o que o Murdoc fala.
Desde Paula Cracker, 2D parou de lembrar dos nomes das garotas com quem saia. Não que fossem muitas como o Niccals, que troca mais de garotas do que de cuecas (literalmente falando) nem poucas como o Russell que, na verdade, nunca saia com ninguém.
2D tinha sua quantidade. E não se importava nem um pouco com ela. Mas se essa garota que nem lembra quem é ligasse de novo, com certeza, ele diminuiria sua lista para menos um.
- Por falar em garotas, será que a Noodle tá chegando? Eu tô com fome de verdade. - Reclama o negro, mordiscando a tampa da caneta como se fosse uma batata-frita.
- E a Noodle agora é delivery?! - Mesmo do outro lado da casa, Murdoc manda um coice desses.
- Tem razão. Já era pra ela ter chegado. - Diz o Stuart, ligando a tela do celular para verificar a hora.
E se surpreendendo de que, dentre os nove toques de chamada que ouviu, três eram da sua querida "irmãzinha".
O garoto acelerou até a porta, segurando a chave do carro junto com um terço do Murdoc sem querer (sim, essa casa é um lixão) e acelerou o automóvel pelas ruas de Londres até freiar na discoteca Strobelite, procurando por ela com os olhos enquanto senta no capô.
E lá está ela, de casaco azul felpudo, saia preta e justa acentuando suas pernas, um óculos de lentes coloridas e seu cabelo sempre espetado pra cima. Até a carranca que ela está fazendo é adorável para ele.
- Por que não atendeu as minhas ligações? - Noodle reclama, mas o garoto já estava viajando na vibe que era ouvir a voz dela.
Stuart Pot nunca atendia as ligações das outras. E nunca ligava de volta. Mas tinha uma que ele atenderia sempre, seja de manhã ou de madrugada, que ligaria de volta nem que fosse pra ouvir um "tô ocupada" e desligar, e tinha uma por quem ele sempre correria atrás.
Como se estivesse conectado a ela por uma coleira.
- Por que não atendeu as minhas ligações? - A garota repete, alheia à viagem de 2D, ambos entrando no carro para dar a partida.
- Pensei que era outra pessoa. Desculpe.
- Estou plantada aqui a séculos! Podiam ter me roubado! Ou me sequestrado! Ou feito coisa pior!
- Você com seus anos de treino militar, com certeza, não seria sequestrada por ninguém.
- Isso não é justificativa pra você ter demorado tanto.
- Tá bom, dramática. Eu já pedi desculpas.
- Tanto faz. - A japonesa tira de dentro da bolsa um bombom de chocolate meio amargo e joga no colo dele, virando a cara. - Você demorou tanto que já deve ter derretido. Culpa sua!
- Você está linda, sabia? - Com a mudança abrupta na conversa, ela apenas revira os olhos enquanto ele fica lá, divagando em pensamentos.
2D não estava mentindo. A cada ano que passava e que ela crescia, Noodle ficava cada vez mais bela aos olhos do garoto azulado, fazendo-o esquecer que um dia ele a considerava como uma "irmã".
Russell tratava ela como se fosse sua irmã mais velha, sempre manhoso e carinhoso com a garota. Murdoc a tratava como sua caçula, sendo superprotetor a beça. Mas 2D não fazia mais parte disso. Quando lembrava de Noodle, palavras como linda, bela, maravilhosa e estonteante eram o primeiro que ecoava em sua mente, o termo "irmã" caindo no esquecimento aos poucos.
"Por que procurar por outras garotas? Por que simplesmente não investir na única por quem ele realmente se importa?" Essas e outras perguntas já haviam se passado em sua mente e ele ainda não tinha nenhuma resposta plausível. Falta de coragem? Falta de ciúmes? Falta de amor? Ele não sabia, mas nenhuma delas parecia ser a certa.
Então, por enquanto, ele continuaria assim, desejando-a em silêncio.
- O que vamos jantar? Quer cozinhar comigo ou vamos pedir pizza de novo? - Pergunta a garota fazendo-o rir, sempre cuidando dele, sempre deixando-o iludido demais.
Ela. Noodle. A sua coleira. Precisa de explicação melhor do que essa?
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