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História Shiro blue - White Day


Escrita por: Kjunn

Notas do Autor


É do tipo leve, colegial e espero que achem ela tão gostosinha quanto eu!

Capítulo 1 - White Day


Sasuke dava os primeiros passos ainda de olhos fechados após fechar a portinhola em frente sua casa. Abriu lentamente os olhos ainda ardidos e nada receptivos a luz do sol mesmo que os raios ainda não fossem fortes por serem ainda 7 da manhã. A rua foi tomando foco a sua frente, não era muito larga, pois se tratava de um distrito residencial e ainda não haviam muitas crianças uniformizadas andando na rua indo para a escola como ele. Daquele perímetro até a escola a caminhada durava apenas 15 minutos, andando com calma, por isso elas desfrutavam de alguns minutos a mais na cama ou quem sabe sentadas na cama olhando para o além até terem forças para se arrumarem e irem para a aula. Sasuke desde que se mudara para Mito na província de Ibaraki não gostava de ter a “companhia” de outros estudantes mesmo que eles não estivessem andando ao seu lado exatamente, era um incômodo total as conversas animadas demais para aquele horário ou ainda as encaradas que recebia de algumas garotas e garotos. Preferia andar só, em silêncio.

Era primavera e o clima estava bem mais ameno, a temperatura variava entre 18º e 20º, e naquele início de manhã estava mais para 17º. Vestia seu uniforme escolar composto por calças sociais pretas, camisa branca, terno preto bem ajustado a sua cintura, ombros e comprimento dos braços, como deve ser, e uma gravata de estampa quadriculada em tons de cinza. Parecia mais um jovem empresário do que com um estudante se não fosse o brasão de sua instituição de ensino entregar o fato de que era um estudante, além de, claro, seu rosto de jovem de 17 anos. Gostava de usar também um cachecol azul e branco não coincidentemente parecido com os usados nos filmes de Harry Potter, mas que naquela época do ano apenas jogava ao redor de sua nuca sem enrolar em seu pescoço, apenas como um item de sua vestimenta que ele não conseguia deixar em casa. Para todos os efeitos, ficava mais bem vestido com esse detalhe. Se considerava, ridiculamente até mesmo em sua cabeça, um membro da casa Ravenclaw ou Corvinal como preferir e gostava de exibir com orgulho sua casa pouco reconhecida, mesmo que não fizessem ideia de que era por esse motivo que aquela peça lhe fosse inseparável.

Respirou fundo passando pelas ruas ladeadas por muros baixos e casas de dois andares muito aceitáveis, com as plaquinhas do nome da família em seus muros e pequenos jardins enfeitando até a entrada de suas salas. Segurava com a mão esquerda sua maleta que continha seu material estudantil, mas trocou de mão para pô-la em seu bolso devido o vento um pouco mais frio do horário. Apesar de tudo estar perfeito como de costume, naquele dia em especial sua paz estava quebrada por um pequena chama, ardente demais, bem no meio de seu peito. Ela não só ardia como pulsava e fazia todo seu corpo seguir esse ritmo de batidas perturbadoras, mesmo que a todo custo tentasse controlar aquilo inspirando e expirando fazendo um “u” com a boca. Apertou a mão direita que agora segurava sua maleta que continha mais do que livros e cadernos, mas também uma caixinha branca e azul meticulosamente decorada, pelo menos demais para um garoto, mas esperava que o suficiente para aquela garota.

Ainda faltavam 15 minutos para o sinal soar avisando que todos deveriam estar em suas salas de aula, Sasuke já estava na escola onde alguns alunos já conversavam no pátio dando início ao dia de barulho que lhe aguardava. Algumas garotas, em bando como sempre, se empertigavam enquanto ele passava em linha reta em direção ao prédio sem dar a menor atenção a elas.

Odiava aquela atenção, odiava ser tão “famoso” por ter vindo de Tokyo e ter uma aparência boa demais, pelo menos na opinião da maioria das garotas dali. Não que não se importasse, era vaidoso e dava atenção especial aos mínimos detalhes de sua aparência. Cabelo sempre bem cuidado, sabia até a diferença entre os cremes de cabelo, roupas escolhidas sob olhar atento do que estava na moda, mas nada ousado e colorido demais, mantinha as unhas limpas, bem aparadas e serradas perfeitamente, usava perfume, cuidava de sua alimentação e praticava exercícios físicos disciplinadamente. Então, sim gostaria que o achassem bonito, bem apessoado e etc, mas ter fãs era um nível de admiração que ele desprezava. Até certo ponto.

Afastou sua cadeira e sentou, tirou os materiais básicos de sua maleta juntamente com um livro e pousou-a no chão ao seu lado. Deixou os materiais posicionados para quando a aula começasse e abriu o livro apoiando a maçã do rosto em sua mão fechada para apreciar alguns momentos de leitura enquanto a sala estava razoavelmente vazia. Estava relendo Inferno do Dan Brown antes de assistir o filme, não esperava uma adaptação perfeita, mas sentia certo prazer em prestar mais atenção nos detalhes do livro e enxergar os erros no cinema. Era apenas uma diversão, não um hater que saia reclamando de tudo, a não ser que fosse realmente grave.

Os minutos que tinha ali eram breves até demais, mas por algum motivo mantinha esse ritual, como sempre um grupo de garotas inrrompia porta a dentro aos risos, paravam olhando para ele arregalando os olhos de uma por uma e caiam na gargalhada cochichando ainda direcionando alguns olhares a ele deixando absolutamente claro que falavam dele. Sasuke não apreciava em nada essas atitudes, mas sempre observava sem nenhuma alteração de expressão aquele grupo chegar e se acomodar algumas cadeiras a frente mais para sua direita. Nem todas sentavam ali, por isso algumas sentavam-se sobre outras mesas ainda terminando seus assuntos fúteis ao redor da garota de cabelos cor de rosa que sentada sorria para as outras enquanto ajeitava seu material sobre sua mesa como ele fizera minutos atrás. Uma delas viu que ele as observava sem perceber para quem ele realmente olhava, cutucou as outras e logo vários pares de olhares se direcionavam a ele levando uma das mãos a boca envergonhadas provavelmente se perguntando se seria para elas. Por breves segundos seus olhos encontraram-se com os dela que sorriu sem dentes e desviou o olhar. Sasuke abaixou a vista para seu livro novamente ainda sem mover um músculo e muito menos dando a entender que se assustara por ter sido notado e apenas ouviu o som dos risinhos.

Haruno Sakura era uma de suas fãs da escola, uma das irritantes garotas que lhe seguiam na hora dos treinos de Aikido para assistir e gritar quando ele ganhava, ainda bem que tinham o mínimo de respeito para não fazer arruaça antes ou durante, depois já era ruim o suficiente. Era uma das emissoras de risinhos e cochichos na mesa da garotas que o encaravam de longe na hora de comer ou era parte do grupo de garotas que os outros meninos insistiam em chamá-lo para sair junto e encontrá-las. Na verdade, ela não era uma delas, mas sim a pior de todas. Falava alto jogando indiretas de “Dia mais bonito” quando ele passava para as outras rirem, colocava as mãos na cintura olhando para ele e dizia: “Que cara feia! Sorria Sasuke-kun!” apenas recebendo um pingo da atenção dele enquanto ela dava uma piscadela levando as mãos para trás do corpo sorridente. A Haruno era a abusada, a que tinha coragem de falar com ele dando cutucões sem mão e lhe tirava do sério por causa das piadas sobre o garoto gato da capital que bem que poderia dar uma chance para as “meras mortais” nas palavras dela.

Desde que chegou em Mito, fez poucas amizades, todas com garotos. Eles falavam muito sobre o sexo oposto, mas todas elas eram borrões para Sasuke, essa fama toda lhe fazia não ter a menor vontade de estabelecer contato com nenhuma das meninas daquela escola, mas Sakura… De tanto perturbar a sua vida passou a ser notada. Com total desprezo, é claro.

Aquela cabeça rosa podia surgir em qualquer canto de seu campo visual que lhe chamava a atenção não importava se realmente estava se direcionando a ele ou apenas rindo com suas amigas por algum motivo inútil. Era como auto defesa, se ela estava por ali ele sempre prestava atenção, às vezes ela nem fazia nada, mas ele ficava observando tentando entender do que ela tanto achava graça. Ela sempre estava sorrindo, sempre falando, sempre se movendo demais e aparecendo aos olhos de todos.

Era impressão ou… ela era realmente bonita?

De primeira a cor de seus cabelos doeu em seus olhos, achou uma atitude de garota cabeça de vento sem classe, mas aos poucos seus olhos começaram a lhe trair. Aquela cor combinava demais com sua pele leitosa e seus olhos estonteantemente verdes faziam uma combinação de tons que lhe fazia lembrar o mais simples dos desenhos infantis onde você pinta as pétalas de rosa e o caule de verde. Aquilo era tão meigo, tão menininha charmosa e vibrante. O som da gargalhada dela deixou de ser irritante para ser motivo de alegria, antes aquelas ondas sonoras percorriam seu corpo fazendo seus níveis de raiva subirem, mas aquilo passou a ser uma boa música, não importava que provavelmente fosse uma besteira das grandes, aquela gargalhada lhe fazia sorrir andando pra frente ou mesmo lendo algo sentado. Sabia que ela estava por perto e só isso já era engraçado o suficiente. Uma vez Naruto lhe perguntou o motivo de estar sorrindo, Sasuke só disse que havia lembrado de algo bom. Isso lhe fez pensar melhor sobre ela.

Algo que antes lhe era totalmente ignorável agora fazia com que prestasse atenção em cada detalhe. Quando a professora pedia que ela levantasse e lesse algum trecho de um livro ela o fazia com desenvoltura sem receio algum de ser observada enquanto lia, até mesmo textos inglês que por sinal parecia ter muita facilidade. Se era pedido que resolvesse questões no quadro, ao contrário da ideia que tinha de garota burra, ela ia com confiança e mais uma vez realizava a tarefa da forma correta, às vezes errava sim, mas sempre perguntava e procurava entender aquilo para que soubesse como fazer e tudo isso sem vergonha alguma de seu erro. Não via ela choramingar por não ter feito algum trabalho, apenas via ela sorrindo com pena de suas amigas quando uma delas se desesperava por ter esquecido ou levava bronca de um professor. Mesmo com todos os sinais surpreendeu-se ao vê-la logo abaixo dele no ranking de sua sala, ela era realmente inteligente, mas isso não bastava, também era uma pessoa com responsabilidade e interesse nos estudos. Era esforçada.

Que garota interessante...

Ela agora parecia brilhar aos seus olhos, não chamava mais atenção para que se preparasse para seus ataques bem humorados, agora esperava por eles. Não esboçava reação alguma a nenhum deles, mas sempre acabava trocando um olhar ou outro com ela por breves segundos, ela algumas vezes sorria tímida, mas em seguida brincava de alguma forma nova. Antes, quando ele chegava a fazer cara feia isso era mais motivo para ela pegar em seu pé, agora que ele apenas a fitava ela ficava sem graça.

...

O motivo de sua mudança foi a prática do Aikido, arte marcial que surgiu na província de Ibaraki, por isso os clubes escolares eram levados muito a sério e os campeonatos eram muito respeitados por todos. Vestia seu keikogi, traje de prática do Aikido, composto pela Hakama, calça pantalona preta com 5 pregas na frente e o Uwagi, casaco branco semelhante ao do Karate com sua faixa verde de 3° kyu amarrada na cintura. Andava usando seu par de Zoori, espécie de sandálias que faziam parte do traje até a beira do Tatame onde os outros membros do clube estavam. Seus olhos mais uma vez o traíram levando sua atenção até o canto onde ela sempre estava com outras garotas. A presença delas não devia ser aceita ali, mesmo que sempre se mantivessem em silêncio no começo, mas a arte marcial estava para Mito como futebol estava para o Brasil. Os rapazes do Dojo da escola eram “os caras”, mais isso pra sua ficha de novato. Como sempre, ela estava entre elas rindo, ele a olhava normalmente e ela murchava momentaneamente. Ela seria um Pinscher?

Desde o dia que tomou ciência de que na verdade gostava dela, sua presença incomodava muito mais, pois ele não conseguia simplesmente treinar com afinco, ficava sempre pensando se ela estaria olhando para ele e o achando incrível de alguma forma. Estúpido. Mais que isso só o dia em que resolveu aceitar um convite de seus amigos e ir em um encontro em grupo desses que eles marcavam, sem se dar conta exatamente de que para ver ela.

Encontraram as garotas próximas a um monumento na área de diversão da cidade frequentada pelos jovens de Mito. Admirou-a dos pés a cabeça avaliando a forma como havia se arrumado, com uma calça jeans corsaria cintura alta e blusa cropped manga longa de tricô branca que revelava bem pouco da pele de sua barriga dependendo de sua movimentação, também usava um cordão longo até abaixo de seu busto com um pingente de apanhador de sonhos, um relógio dourado, pulseiras pretas com pequenos pingentes divertidos no mesmo braço, brincos que pareciam pontinhos de luz, cabelo preso em um rabo de cavalo e sapatinhos de salto baixo presos por tiras de tecido que formavam um laço ao redor de seu tornozelo. Vê-la sem uniforme já foi uma experiência que roubou um pouco de seu fôlego, mas após tossir disfarçadamente conseguiu voltar ao normal. Então, como percebeu? Precisamente foi quando o incômodo por alguém dar em cima dela passou dos limites e ele teve que ir embora. Passou semanas mal humorado e só ficou de boa quando um amigo soltou aleatoriamente em uma conversa sobre um outro encontro que estavam marcando já que “Sakura nem tinha ficado com o ilustre senhor desgraçado”, essa última parte foi tradução de sua cabeça, “E quem sabe poderia rolar dessa vez”, então, ele teve que fazer de tudo para que o encontro sequer rolasse. Depois de esforços comedidos conseguir o cancelamento, ao sentar em sua cama cansado por ter sido o dia que mais falou na história de sua vida escolar se deu conta de que estava apaixonado.

Olhando pelo lado positivo, ela também estava não é?

O Valentine’s day chegou após as férias, era um dia especialmente animado na escola. Agitado demais para ele, mal chegou nos portões e já havia alguém com uma caixa e uma carta. Uma caixa e uma carta, Um caixa… E uma carta… Uma carta e uma caixa. Em outros anos as pegava bastante chateado, odiava doces, mas naquele ano estava esperando comer um em especial. Ela chegou na sala dela com as amigas, sentou como sempre e não lhe olhou, não naquele dia, o dia todo. Na verdade, parecia até mesmo evitar estar no mesmo local que ele. Nem um olhar, nem fala, provocação, indireta, proximidade, nada. Ela não queria ser notada, sem perceber que ele estava esperando receber a maldita caixa com a carta, mas o fim do dia chegou e nada.

- Sasuke! - O mestre advertiu com a voz grossa, Sasuke parou o que estava fazendo e olhou para ele que estava com o cenho franzido. Percebeu que estava prestes a usar um golpe não autorizado para o momento usando sua bokken, espécie de espada de madeira, em seu colega de Dojo. Ele iria se machucar bastante.

Recuou fazendo uma reverência elegante pedindo desculpas que foram aceitas e reiniciou a prática.

Droga! Por que ela não tinha lhe dado nada? Que espécie de fã ela era? O que aconteceu? O que estava havendo? Estava disposto a receber aquela maldita carta! Não iria jogar fora e distribuir os bombons em sua casa, dessa vez… Droga! Dessa vez realmente queria! Queria ler o que ela tinha a dizer de mais verdadeiro além daquelas provocações, queria dar uma resposta diferente de: “Me desculpe, mas não posso aceitar seus sentimentos.” Iria dizer… Não sabia o que, mas aceitaria o que ela dissesse. Estava lendo os sinais da forma errada? Não era burro! Não seria possível…

No outro dia, ela já estava como antes, até disse: “Não está com dor de barriga?” colocou uma mão na boca pensativa: “Me pergunto qual chocolate estava mais gostoso! Qual era Sasuke-kun?!” disse debochada e afastou-se como se ela não devesse ser uma das que lhe oferecesse bombons. Porém, ela se contradisse no mesmo dia, quando voltou a lhe lançar olhares, a torcer por ele na aula de educação física e lhe dar tchau como se quisesse ser seguida. O que acontecia na cabeça dessa garota? Só queria fazer graça?!

No início daquela semana foi que a ideia surgiu…

- SasukÊ - Naruto chegou pronunciando seu nome da forma que queria - Você sabe fazer chocolates?

- Não - Respondeu sem nem erguer o olhar para o garoto que balançava as pernas sentado sobre a mesa em frente a de Sasuke.

- Marshmallows?

- Não, por que eu saberia? - Folheou uma página de seu caderno verificando seus cálculos.

- É… Você odeia doces - Naruto cruzou os braços pensativo olhando para a direção das janelas da sala de aula - Mas, você é o sabe tudo não custava perguntar.

- Ensine sua mãe a usar o Google ou melhor, pesquise, imprima e dê a ela - Fez algumas anotações.

- Nhão… Eu mesmo quero fazer. - Sasuke ergueu a vista de cenho levemente franzido “nhão”?

- Eu queria fazer com minhas próprias mãos e entregar para… - Tossiu olhando para os lados feito cachorro - A garota que eu gosto - Piscou nada discreto - No White Day.

Oh sim…

White Day, dia branco. No início era uma data fruto de jogada de marketing de uma fábrica de Marshmallows que criou o dia de retribuição dos rapazes às garotas pelo Valetine’s day. Consistia em dar marshmallows para a pessoa amada ou trocar o doce com amigas e mulheres da família. Com o tempo o chocolate branco foi agregado a brincadeira, mas hoje em dia a data que acontece exatamente um mês depois do dia dos namorados fazia parte do calendário de comemorações do Japão. Sempre dava algo pra sua mãe, mas como não tinha amigas não gastava com doces obrigatórios, muito menos tinha namorada. Além dos doces, também era importante retribuir o presente que o rapaz recebeu e mais, tinha que ser de valor 3x maior que o recebido, Sambai-Gaeshi, triplo retorno.

Uma raio de ideia lhe atingiu.

- Se não pretende matar a garota que você gosta, apenas compre alguns - Recomendou já pensando que seria uma tortura provar, até porque nem saberia se estava bom ou não, para ele sempre estava ruim. Seria uma lástima dar algo que ela não gostasse…

A luta interna foi grande, se sentia idiota por estar cogitando esse tipo de coisa.

Se ela não tinha lhe dado nada, não tinha a obrigação de retribuir! Se ela não tinha lhe dado nada, significava que não gostava dele! No que estava pensando? Era algum tipo de desejo por dar com a cara na porta? Porque era isso mesmo que parecia ser o que aconteceria!

Todas as mercearias estavam enfeitadas em tons de branco e azul, branco por causa das cor dos doces, azul por ser o dia de retribuição dos rapazes. Caixinhas e mais caixinhas, anúncios na rua, na tv, redes sociais. Em casa ouviu seu irmão falando sobre isso para que comprassem algo legal para a mãe como todo o ano, completou com a piada costumeira de quando daria alguns para uma garota que fazia sempre, sem surtir efeito em Sasuke, diferentemente dessa ocasião.

Um dia antes, dia 13 de março, lá estava ele. Sentado em sua cama com uma caixinha branca e azul.

Agora estava com ela dentro da maleta, não a via, mas não esquecia. Entregava? Não entregava? Tentava? Deixava pra lá? Iria levar um bolo? Poderia se surpreender? Inferno!

O treino acabou, tomou banho, vestiu suas roupas, voltou para a aula. Sakura estava debruçada escrevendo em seu caderno, nem o viu passar. Sentou olhando para as costas dela e respirou fundo, ela passou a mão no pescoço bagunçando um pouco seus cabelos que repousavam em suas costas sem se dar conta do quanto aquele gesto era atraente. Sasuke vacilou olhando para a maleta ao seu lado, engoliu em seco meditando na ideia que amadureceu durante aqueles dias. Pegou a maleta e abrindo-a pescou a caixinha branca e azul, observou-a por dois segundos e subiu a vista para olhar as costas dela mais uma vez, mas coincidentemente nesse momento ela se virava para chamar alguém e viu o objeto em suas mãos. Seus olhos verdes se arregalaram e miraram os negros dele sem contida discrição. Controlado, Sasuke abaixou a caixinha e colocou na parte debaixo de sua mesa como se aquilo não fosse nada demais. Olhou para ela mais uma vez, um sorriso muito fraco se formou no rosto dela.

“Boa sorte”

Os lábios dela formaram aquelas palavras em um sussurro baixo, ninguém ouviu, nem mesmo ele. Sasuke entendeu apenas por leitura labial, ela se virou e após cerca de um minuto sentada levantou-se e saiu um pouco da sala.

A aula seguiu com a chama no peito de Sasuke ardendo, pulsando, cada vez mais forte a medida que as horas se passavam e o fim do dia se aproximava. O tempo estava acabando, aquele dia estava no fim, ele poderia entregar isso em qualquer outro dia, mas o objetivo era que fosse naquele! Faria com que aquele dia passasse em branco?

prrrrrrrííííííííííííí

- Por hoje… - O professor descansou da escrita que fazia - Nos vemos semana que vem - Disse sorrindo por trás da máscara, arrumou suas coisas e saiu. - Alguns alunos pularam para tirar foto do quadro e enviar no grupo da sala para que não tivessem que ficar mais tempo copiando nada. O restante juntava suas coisas na velocidade da luz para irem para casa, Sakura parecia especialmente empenhada nisso hoje. Observada por Sasuke que também se ajeitava para ir, via ela jogar tudo em sua maleta de qualquer jeito e sair deixando suas amigas confusas com apenas um “Preciso ir logo” e um sorriso falso.

Já era capaz de reconhecer seus vários sorrisos, eram meses de observação.

Era a hora mais esperada do dia pelas garotas, muitos meninos deixavam para entregar suas caixinhas brancas e azuis naquele momento. Algumas encaravam Sasuke sorridentes achando que poderiam ser as escolhidas, mas ele estava concentrado demais em atender o impulso de ir atrás dela que nem se dava ao trabalho de fazer qualquer tipo de cara feia. Saiu dando dois tapinhas nos ombros de Naruto que já começava a falar sobre ser a hora em que falaria com a tal menina e foi à diante. Andou rápido até a saída da escola, teve um vislumbre da garota de cabelos cor de rosa já bem adiantada quase passando pelos portões da escola. Agilizou o processo de pegar seus sapatos do espaço onde estavam guardados, colocá-los no chão, tirar seus Uwagutsu (“sapatos internos”), e substituir no local onde seus sapatos estavam antes. Tratou de calça-los e saiu andando apressado, não queria correr, mas andou rápido o suficiente para sentir certo vento em seu rosto. Ela já estava quase dobrando a esquina contrária a direção da casa de Sasuke, mas sem pensar muito bem no que estava fazendo foi naquela direção apressado. Quando alcançou a esquina, ela tinha sumido.

- Merda! - Soltou baixo resmungando. Colocou as mãos na cintura soltando o ar com força olhando ao redor como se fosse fazer alguma diferença ver que ela realmente havia desaparecido. E não fez. Virou-se já desistindo para voltar pelo seu caminho quando vislumbrou aquela cor através do vidro da cafeteria e lanchonete que ficava na esquina, olhando melhor era ela no balcão agradecendo a atenção da atendente e indo se sentar para esperar pelo seu pedido. Sakura veio em direção ao balcão que ficava de frente para o vidro e parou estática ao vê-lo na calçada lhe olhando.

A boca dela se abriu de leve surpresa, Sasuke a encarou com firmeza. Ela nem se sentou presa aos olhos dele. Ele quebrou o contato visual e seguiu andando na calçada. Hesitou por alguns segundos na porta de entrada, mas sem pensar em nada mais do que entrar, fez isso. Olhou para ela que estava com as mãos no rosto fazendo bico de peixe de frente para o vidro já sentada, depois dando-se algumas tapinhas de leve nas bochechas e chacoalhar a cabeça apoiando os cotovelos sobre o balcão. Foi até o caixa e pediu: “O mesmo que a moça ali” e foi andando em direção a ela com toda confiança que não tinha.

Sentou no banquinho ao seu lado como se fizesse isso sempre, sem olhar para os olhos esbugalhados dela sobre ele enquanto colocava a maleta ao seu lado e apoiava os cotovelos como ela fizera momentos atrás. Por brevíssimos segundos permaneceu olhando para a frente, mas devagar virou para ela que com violência olhou para a frente como se não tivesse sido notada antes e nem agora com essa girada de cabeça fenomenal.

“Vem sempre aqui?”

Não, definitivamente não começaria dizendo isso. O que estava fazendo?

- Oi - Ela disse olhando-o de esguelha.

- Oi - Respondeu olhando a rua vendo alguns alunos passarem.

Ficaram em silêncio alguns momentos, duros em seus lugares como se uma mexida diferente de lugar fosse provocar um grande desastre.

- Hum… - Ela começou - Não… Não teve sorte? - Sakura tentava descascar o esmalte de sua unha esquerda usando a mão direita.

- No que?

- Aqui está… - Uma garçonete muito educada aproximou-se deixando duas taças sobre o balcão, um na frente de cada.

- Isso é... - Sakura apontou.

- Dois sundaes não é? - A moça tomou uma expressão preocupada - Com tudo o que tem direito. - As duas taças estavam enormes na frente de ambos.

- Sim, obrigado - Sasuke agradeceu polido e a moça aliviada sorriu e afastou-se.

- Mas… - Sakura parecia confusa olhando aquilo - Você odeia doces - Ela parecia mais pensar alto do que falar com ele exatamente. - Bom, pelo visto todo mundo precisa de um doce na vida quando se trata de um dia sem sorte - Sorriu descontraída e tilintou de leve sua taça na dele - Que seja… - Deu de ombros, encheu sua colher e fez “hummmmmmmmmmmmm” bem fininho ao sentir o sabor em sua língua - Isso totalmente é coisa de Deus. - Estava tão concentrada em devorar aquela montanha de sorvete que nem se dava conta de que Sasuke nem tocara no seu, mas a fitava de cenho franzido. - Ela deve ser incrível - Falava gesticulando a colher sem olhá-lo, já estava no modo “que seja” - Mais ainda por ser capaz de recusar - Corou se dando conta do deslize - Bem, sabe… Eu não digo que você é bonito a toa - Fez uma cara de dor “mancada” - Eu preciso calar a minha boca - Cochichou para si mesma - Bem! - Voltou tentando parecer normal - Espero de toooodo coração que tenha mais sorte na próxima vez - Virou para ele e aí sim percebeu a expressão que ele fazia - Que foi?

- Do que está falando?

Os olhos dela foram para um lado, depois outro.

- Da caixinha, aquela… branca e azul - Sua voz ia morrendo - Estava com você… Achei que… Fosse dar pra alguém. - Ela riu extremamente sem graça, seu rosto estava desmanchado e não sorrindo - Você gosta de alguém não é? hehe… hehe… - Ficou séria de repente e abocanhou com pressa mais uma colher de sorvete mastigando como se fosse carne.

Sasuke movimentou-se e pegou a caixinha de dentro de sua maleta colocando sobre o balcão. Sakura fez um bico lamentável e tratou de fixar a vista sobre o sorvete.

- É uma caixinha linda - Ela engolia como se tivesse uma bola de pêlos na garganta, mas não esboçava mais nenhum sorriso.

- Como sabia que eu não gosto de doces? - Sasuke capturou os olhos dela, viu o susto que ela tomou ao perceber que havia deixado aquilo escapar.

- É… É… Eu… - Ela gaguejava com os olhos indo de um lado para o outro atordoada.

- Você gosta de mim… Não é? - Era aquilo que parecia estar escrito nas entrelinhas, ela não lhe deu por saber de sua peculiaridade, ele não havia esperado por aquilo em vão… Aquilo ainda poderia ser recíproco. Seu coração batia descompassado de ver aquilo tudo sair muito melhor do que o esperado. Ela parecia ainda melhor por ter se atentado aquele detalhe.

A mão dela apertava a colher forte demais ao lado da taça de sorvete. Seu rosto foi encrispando, apertou os lábios… - Não é óbvio? - Respondeu sem olhar para ele.

Caraca!

- Mas… - Sasuke tinha o cenho franzido agora, estava virado de frente para ela e não para o balcão - Você foi a única que não meu deu chocolates.

- Você não gosta de doces… Ouvi Naruto rir falando disso para você quando eu… Ia entregar, então… - Deu de ombros como se isso fosse completar sua fala. - Você não precisa fazer isso com todas as meninas sabia?! - Olhou para ele furiosa - Elas ficam… Todas ficam realmente felizes de você pegar todos os presentes, doces e cartas! Mal sabem que você ri delas pelas costas! Tenha o mínimo de respeito! Se todas soubessem não passariam horas tentando fazer um maldito chocolate pensando se você vai gostar ou não! Se vai aceitar cada gota de sentimento colocado naquele coração estúpido! Lutando contra a imensidão de certeza de que não tem chance para dar ouvidos aquele pontinho imbecil de que pode ser que naquele dia especial você as note! - Voltou a devorar o sorvete com empenho.

- Foi assim com você?

- Cala a boca - Disse de boca cheia - Você é um idiota! E eu sou mais ainda por mesmo depois de ter visto como você consegue ser babaca ainda continuar gostando de você! Eu queria mesmo te odiar! - Estava prestes a se lambuzar de massa quando a caixinha branca foi colocada na frente do sorvete pelas mãos dele como uma peça de xadrez para dar xeque-mate. - Mas, tanto faz! Seja feliz com seja lá quem você goste… Ou não né?! Parece que o jogo virou não é mesmo?!

- Isso… - Ele se ajeitou em seu lugar apontando para a caixinha - É pra você.

O miocárdio de Sakura fibrilou por uns segundos, ou seja, teve uma mini parada cardíaca.

- Não preciso de compaixão, eu sei que sou só mais uma garota boba que não consegue deixar de gostar do carinha popular da escola. Eu tô nesse fundo de poço há um tempo.

- Eu gosto de você. - Disse sério.

Os olhos dela estavam vidrados, tremiam um pouco, mas era como se quisesse olhar com mais afinco a caixinha à sua frente.

- Mentiroso - Ela dizia sem confiança nenhuma olhando o objeto a sua frente - E-eu já disse que não preciso disso.. - Sua voz foi diminuindo.

- Irritante - Sasuke disse levantando e deixando o sundae intocado sobre a mesa com o dinheiro do pagamento, pegou sua maleta e saiu dali.

PERDA DE TEMPO!

Sasuke saiu andando furioso de cenho franzido. O que aquela garota tinha na cabeça? Dizia que gostava dele! Não lhe dava chocolates! Ficava chateada, depois voltava a gostar e quando descobre que ele sente o mesmo fala uma porcaria dessas?! E… E ele… tinha se prestado a passar por esse tipo de situação ridícula! No fim ela não passava de uma criança! Idiota?! Ela quem era idiota! Todas aquelas brincadeiras inúteis, aquelas amigas mais imbecis ainda, as indiretas e esse malditos chocolates que ela fez e não teve coragem de entregar! Droga! Bastava entregar!

- Ei! - Ele parou ao ouvir a voz dela, virou-se raivoso - Você estava falando sério?! - A cara dela estava realmente confusa ao gritar cerca de 3 metros de distância dele, colocou as mãos na cintura com as pernas abertas numa atitude de garota mandona. Ela não tinha a menor noção? Sasuke soltou o ar fechando os olhos quando viu alguns alunos até mesmo pararem para entender o que estava acontecendo - Eu fiz uma pergunta! Você estava falando sério?! Não é brincadeira?! Eu não gosto de ficar confusa!

- Por que não age como uma pessoa normal E VEM ATÉ MIM E PERGUNTA?! - Irritado gritou como ela sem mover um músculo em sua direção.

Ela cruzou os braços virando somente o rosto para lhe olhar de lado desconfiada fazendo um bico sem se importar ou sem ver que alguns alunos cochichavam sobre o motivo da gritaria e o que seria “sério”. - É mais seguro daqui! - Fez bico novamente - Apenas responda! Assim, eu posso viver a minha vida sem achar que não entendi direito as coisas e… E… Ainda por cima sem… Sem pensar demais!

Ela queria dizer, sem pensar nele. Provavelmente ela ficaria estranha, não tinha como continuar normal depois de na doida falar que gostava dele e continuar a rotina de brincadeiras, ela não o seguiria mais, não falaria nada, não estaria no mesmo encontro que ele estivesse, faria de tudo para mal ser vista por ele. Ficaria com vergonha dobrada ainda por cima por estar nesse momento achando que pode ter entendido errado o que ele disse quando na verdade ele poderia gritar que NÃO! NÃO ERA SÉRIO, só pra fazer ela ficar desse jeito. Ela não parecia ser madura o suficiente para ele…

E ele sentiria falta dela.

- Não fica parado me olhando com essa cara! - Ela apontou para ele como um aviso - Diz alguma coisa! - Ela começava a vacilar, estava começando a notar os alunos curiosos, a vergonha que iria passar seria pior, agora teria que se esconder da escola toda, Sasuke pensava. Os ombros dela desceram enquanto ela de cabeça erguida desviou os olhos para o chão, depois estalou a língua e entrou na lanchonete. Pelo vidro, pôde ver ela muito irritada pegar suas coisas, deixar dinheiro para pagar o sorvete inacabado dela, falar com a atendente e sair apressada seguindo na rua com os cabelos balançando.

Os alunos que estavam ali encararam Sasuke curiosos. Ele não era o tipo de cara que falava, muito menos alto ou brigava na rua. Ele teria se irritado com a Sakura? Era engraçado ver ela o perturbando tanto, mas uuui pelo visto o Sasuke tinha se irritado.

“Ele fica bonitinho irritado…!”

“Ne… Ela deve ter passados dos limites...”

“Sempre achei ela uma abusada, sabia que ele iria se irritar...”

- Sasuke-kun - Uma garota aproximou-se de Sasuke de braços cruzados com a maleta pendurada no braço como se fosse uma bolsa, olhou na direção a qual Sakura se afastava rapidamente - Você não precisa mais aguentar ela agora - Disse presunçosa - Ela não vai mais ser descarada o suficiente para mexer com você - Inclinou-se sorrindo - Eu notei que você não tem amigas. Posso ser sua amiga? Sabe, nem todas são como essas que andam atrás de você feito cadelas - Deu de ombros - E muito menos te perturbam gratuitamente. No fim, acho que ela só queria chamar a sua atenção. Deve ser uma idiota apaixonada infantil demais para agir como uma moça deve agir - Riu fazendo pouco.

Como as coisas não estavam mais interessantes e Sasuke apenas ouvia aquela garota falar enquanto Sakura sumia, os outros que não ouviam o que ela dizia começaram a seguir seus próprios caminhos cochichando sobre o motivo da discussão dos dois.

- E então? - Agarrou-se ao braço dele sorrindo doce - Quer tomar sorvete? Pelo o que vejo você não conseguiu tomar o seu em paz.

Sasuke virou a cabeça para olhar a garota mais baixa que ele - Me solte.

- Hum?

Sasuke puxou o braço sem se importar se estava sendo grosso - Você sorri muito doce.

A garota estava com uma cara de espanto pelo puxão do braço de Sasuke, mas ao ouvir aquilo sorriu novamente satisfeita.

- Eu odeio doces.

Saiu andando em linha reta calmamente, sabia que ela ainda fitava suas costas provavelmente com uma cara de imbecil de surpresa pelo que acabara de ouvir, mas ele precisava se afastar mesmo que estivesse indo na direção contrária de sua casa.

Ela era ainda pior do que as garotas que andavam por aí lhe seguindo, pelo menos elas não escondiam o que eram, não tapavam o interesse delas e nem construíam uma capa para fazer ele pensar que elas eram algo que ele poderia gostar. Acontece que ele não gostava do tipo delas, mas depois disso pensava que não eram garotas más, apenas… Não. Aquele sorriso doce dela lhe enojou, o pior era que sabia que não era falso, ela estava mesmo sorrindo e isso poderia significar que por dentro ela poderia ser pior do que exteriorizava.

Que tipo de garota preferia? Já tinha tido casos com poucas garotas quando estava em Tokyo e por isso mesmo tinha nojo de garotas como a que ele acabara de deixar para trás. Praticamente todas eram assim, estava vacinado, se não, eram garotas inteligentes, estudiosas e que faziam tudo como deve ser. Aquilo lhe chamava a atenção, mas logo perdia o interesse por elas. Tudo era previsível demais.

Sakura veio a sua mente e ele suspirou cansado, aquele dia tinha sido um grande fiasco. De certo modo estava decepcionado com como as coisas andaram. Tinha sido confiante demais? Não podia ter o ego como o daquelas garotas, talvez esse pudesse ter sido seu erro. Sakura não era previsível, não era como as outras. Talvez devesse tentar só mais uma vez? Parou na esquina da rua, virou para trás e checou que aquela menina tinha ido embora. Ótimo. Agora poderia voltar e ir para casa…

Sakura estava parada, com as costas na parede onde a esquina virava e anteriormente ele seria incapaz de lhe ver até chegar lá. Os olhos dela estavam arregalados denunciando o quanto ela não queria que ele tivesse lhe visto ali, mas logo franziu o cenho e fez bico olhando para o chão - Eu só queria que você fosse logo embora para eu voltar e terminar meu sorvete.

- O que? - Sasuke olhou ao redor confuso, caramba, Deus existia mesmo ou algo assim? Estava ouvindo seus pensamentos?

- A moça pode não ter levado ainda - Suspirou vacilante - Quem sabe eu poderia até tomar aquele que você deixou no balcão. O que é? - Ela logo assumiu aquela postura ao vê-lo entortar as sobrancelhas - Você que é o esquisito que odeia doces! Eu estou precisando entendeu? - Apontou para si mesma - Isso não foi nada fácil! Eu apenas irei tomar todo aquele sorvete até explodir e ficar novinha em folha! - Apontou para a rua onde poderia voltar  - Garoto para de me olhar com essa cara franzida!

E aquela atitude? Ela não estava mesmo nem um pouco abalada pela cena anterior? Uma garota comum realmente teria sumido e tentado virar um fantasma.

- Você não está nem um pouco…

- Um pouco? - Ela cruzou os braços ainda em desafio.

- Envergonhada?

- Envergonhada?! Com o que? - Ela ergueu as sobrancelhas - Me poupe, foi um mal entendido! Não se preocupe com isso! Aqueles idiotas falarão um pouco, mas eu darei um jeito neles - Disse dando de ombros.

- Você tem solução para tudo? Sabe de tudo? Suas conclusões sempre estão corretas?

- Quase tudo, às vezes tenho que perguntar para ter certeza.

- Eu não respondi nada.

- Mas eu já tinha entendido ok?! - Ela se inflamou novamente, nunca tinha trocado tantas palavras com aquela garota, em um momento parecia confortável e calorosa, em outro já parecia que iria incendiar qualquer um que se aproximasse demais. - Agora você está fazendo meu sorvete derreter!

- Já devem ter retirado.

- Eu pedi que deixassem lá! Avisei que só ia fazer uma cena para me livrar dos idiotas! - Ela disse corando ao confessar - É sério, eu preciso daqueles sorvetes.

- Eu também estou falando sério. - Pela expressão que ela assumiu presumiu que ela tinha entendido o que ele queria dizer com aquilo mesmo que fora de contexto, mas ela apenas desfez sua feição e pôs uma mecha de cabelo atrás da orelha. Ela estava se fazendo de burra? Era a primeira vez que uma garota agia assim quando ele dizia ter interesse por ela, era a primeira vez que uma falava alto com ele, que lhe xingava, que fazia cena e lhe roubava um sorvete. Essa garota desde as coisas mais simples conseguia ser imprevisível - Não se faça de desentendida. - Apenas os olhos dela foram até ele.

- Eu entendi… Melhor agora - Olhou para um lado, depois novamente para ele - Então, estamos juntos agora? - Perguntou receosa, agora ela parecia uma chama pequena. Mas provocou um incêndio completo dentro dele, não era como se não soubesse que o que ele faria hoje poderia dar nisso, mas agora ele já nem esperava que ela fosse aceitá-lo e muito menos daquele jeito. Ele esperava algo mais… - O-olha aqui eu… - Ergueu o dedo, mas ao notar que a mão tremia recuou o braço para trás de si.

- Estamos - Sasuke disse aquilo e não aguentou, começou a rir, olhou para o lado pondo o pulso sobre sua boca, mas ainda ria mexendo a cabeça negativamente. Olhava para ela com a cara curiosa e ria ainda mais. - V-você é tudo o que me irrita! - Os dentes brancos dele ainda eram exibidos como se tivesse ouvido a piada do ano - Eu estou muito ferrado! - Seus ombros e peito tremiam enquanto ainda tentava controlar a crise de riso. A cara dela ficou triste, mas logo já estava com raiva novamente.

- Então está querendo fazer piada comigo? É vingança por causa das minhas brincadeiras?! - Bateu no peito dele - Quer morrer?! Não se brinca com o coração de uma garota! - Ele deu um passo para trás gargalhando mais alto com uma mão onde ela havia batido - Para de rir! Baka! - E agora um novo tipo de reação surgia em seu rosto, ela observava a risada dele enquanto as linhas de sua face mudavam, as suas sobrancelhas se juntavam e sua boca entortava-se para baixo, seus olhos se enchiam de lágrimas e ela estava lá parada diante dele.

- Não é uma piada! - Ele ainda conseguiu diminuir a risada depois de ver aquela cara - Eu estou rindo porque você é tudo que eu odeio.

- E isso é coisa que se diga?! - Ela fungou.

Riu um pouco - É que é incrível como… - Bagunçou os cabelos atrás da cabeça - É por isso mesmo que eu gosto de você. - A boca dela fez um “O” e seu choro parou mesmo que seu rosto ainda estivesse molhado. - Eu estava muito nervoso hoje de manhã, pra te entregar aquela caixa que você largou, eu nunca tinha falado com você e já que não tinha recebido chocolates seus, achava que poderia ter tido a má sorte de gostar justo da garota que só queria rir de mim, mas eu não acreditava que estava lendo os sinais errado. Eu resolvi arriscar e… Bem… - Corou - Eu posso te beijar?

Por incrível que pareça aquela pergunta sempre partiu das garotas que ele tinha namorado, ele aceitava por achar elas certas, mas as coisas não evoluíam para um relacionamento a partir do momento em que sabia que estava namorando. Gostava da companhia delas e tudo mais e nunca negou beijo quando elas lhe pediam pelo primeiro, a partir daí beijava-as quando sentia vontade, mas não era do tipo que segurava as mãos delas ou dividia guarda-chuvas. Mas, pela primeira vez estava gostando de alguém aquilo era tão absurdo! Queria mesmo beijar aquela maldita garota irritante!

- Tá louco? Estamos na rua! - Disse olhando para os lados completamente vermelha.

As garotas de Mito não eram como as de Tokyo.

- Já beijou alguma vez?

- C-claro!

- Nunca beijou.

- Nunca beijei.

Ele riu.

- Eu juro que vou te bater com força de verdade se rir de mim de novo.

Ignorou a fala dela e pegou em seu pulso, saiu andando apressado puxando-a ignorando os protestos dela sobre o sorvete que deveria estar irreconhecível naquele momento. Lamentava sobre ser do tipo caro que tinha tudo o que tinha direito e ela não poderia comprar outro até a semana que vem! Ela não calava a boca nunca? Como poderia gostar de uma garota assim?

Logo estavam em uma rua estreita sem movimento nenhum além de um estudante que andava de costas longe provavelmente indo para sua casa balançando a maleta sem imaginar o que acontecia atrás dele. Sasuke encurralou Sakura contra o muro de uma casa pondo os braços ao redor dela sem permitir que ela fugisse a não ser que se abaixasse e fosse para o lado, mas ela estava estática demais para pensar nisso.

- Vamos resolver isso?

- Quem você pensa que é? - Ela disse baixinho da cor de uma cereja. - E desde quando você é assim?

- Você nunca me conheceu de fato, nunca me viu perto das pessoas com quem me sinto a vontade e… Acho que agora sou seu namorado.

As mãos dela que estavam na frente de seu corpo como forma de autoproteção abraçando sua maleta apertaram o couro ao ouvir aquilo.

- Está falando sério? - Ela dizia olhando para baixo.

- Eu posso te beijar?

Dava para ver o nervosismo dela, todo aquele incêndio raivoso havia passado e ela apenas inspirava e expirava com força demais olhando para os botões de seu terno, após piscar seguidas vezes fechou os olhos apertados. Sasuke entendeu o sinal e devagar suavizou a posição de intimidação em que estava, colocou a mão livre no rosto dela para fazê-la levantar um pouco o rosto para cima e inclinou-se devagar, deixou ela tomar o breve susto de sentir o calor de sua respiração em seu rosto e só depois aproximou-se um pouco mais. Seu próprio coração batia rápido demais ansioso por aquilo, podia ouvir o martelar em seus ouvidos tocando o nariz no dela provocando um calafrio. Ela estava o oposto do que costumava ser, corada, sem saber o que fazer, sem resposta e insegura. Sasuke sentia um calor estranho dentro de si, era nervosismo? Era assim que se sentia quando estava prestes a beijar alguém que você gosta? Não tinha motivos para pensar se faria direito, se ela iria gostar e se gostaria de repetir! Ele sabia muito bem como fazer, mas de repente tudo aquilo se tornou um monte de inseguranças. Seu coração batia rápido, seu estômago queimava e sua vontade de ver no que ia dar aumentava.

Fechou os olhos e foi devagar em direção a ela, seus lábios se desencostaram um do outro e sua língua lambeu eles preparando-se para finalmente tocar os dela. Sentiu a pele dela na sua receosa, os lábios dela também se abriram cerca de um centímetro, era possível notar a tensão dela. Estava dura encostada na parede e não movia um músculo sequer. Sasuke abriu os olhos. Ela estava com os dela ainda bem apertados, selou a boca dela delicadamente sentindo ela tensionar ainda mais. Aquilo mal era um beijo, mas era tão terrivelmente melhor desde já do que qualquer outro que tenha experimentada, aquele frio na barriga era inexplicável. Fechou os olhos novamente ajeitando-se em seus pés tirando a mão que ainda estava na parede para pousar na cintura dela, entrelaçou um pouco mais os fios de cabelo que estavam na nuca dela com seus dedos trazendo-a um pouco para mais perto de sua boca e envolveu o lábio superior dela de leve. Deu passo para a frente aproximando seu corpo ao dela quando aquela sensação começou a inundar seu corpo lhe deixando inebriado, trocou para o lábio inferior sugando-o levemente quando sentiu a primeira reação dela ao tocar seu superior. O fogo dentro de si aumentou, era tão simples e gostoso!

Aos poucos foi ritmando o beijo, ela tentava corresponder e do jeito simples estava fazendo aquilo ser muito bom. O corpo dela foi relaxando e suas mãos tímidas seguraram em suas roupas aproximando-o mais alguns centímetros de si, mas ainda assim receosa de trazê-lo para perto demais. As vezes ele parava um segundo recuando e encostava em sua boca novamente dando um selinho para envolvê-la naquele beijo mais uma vez. Não era um beijo cinematográfico, mas era daquele que só de tocar todos os seus sentidos se desordenavam e reordenavam para focar somente naquilo. Era uma carícia, uma sequência de toques simples que causavam arrepios.

Quando Sasuke parou e olhou para o rosto dela, ela não conseguia erguer a vista. Seu rosto estava totalmente vermelho, seu peito subia e descia nervoso e sua mãos ainda seguravam sua roupa. Ela lambeu os lábios sem se dar conta do quanto aquilo era atraente.

- Sakura… - Ele chamou, mas ela não o olhava mesmo assim.

- Agora sim… eu estou envergonhada - Soltou o terno dele se dando conta disso e levou as mãos ao rosto sem tirar os olhos do chão - Isso foi rápido demais, não é assim que…

- Está tudo bem, namorados fazem isso.

- As coisas não são assim aqui em Mito…

- Então, eu cheguei para te deixar mais moderna.

Ela ficou em silêncio pensativa.

- Então… Estamos namorando?

- Sim.

- Faremos isso mais vezes?:

- Com certeza.

Ela ficou ainda mais vermelha arregalando os olhos com a constatação.

- E-eu fiz bem? - Apesar de envergonhada ela estava agindo muito bem.

- Hum rum - Deu outro selinho pegando-a de surpresa. Ela finalmente encarou seus olhos e sorriu sem graça. - Eu… - Não acreditava que estava dizendo isso, mas sentia vontade de ser um namorado com ela - Te levo até em casa. - Deu um passo atrás indicando que deveriam ir.

- Mas sua casa fica em outro distrito.

- Como sabe? - Perguntou de cenho franzido - Esquece…

Ela não sabia que ele não fazia isso, que não era o cara que beijava, que não levava em casa e muito menos sabia que ele não andava de mãos dadas, mas imaginando que seriam assim que as coisas funcionavam segurou a mão dele um pouco tímida.

- Você não vai me evitar na escola e nem fazer de mim sua namorada secreta não é? O Neji anda fazendo isso com uma amiga minha e estou quase para conversar com ele sobre isso! - Mesmo muito vermelha ela já tentava estufar o peito para mostrar que estava no controle de tudo. Essa garota era uma figura.

- Não farei isso - Disse após bufar um sorriso enquanto andava com ela - Estou até mesmo segurando a sua mão.

- Vai segurar na escola?

- Você quer se amostrar?

- Na verdade quero. - Ele riu da sinceridade da garota sem acreditar que ela poderia ser assim. - Isso é inacreditável. Eu vou mostrar pra elas a caixinha que você me deu… - Ficou branca. - Ficou lá! E o sorvete! Nós precisamos voltar! - Ela começou a se alvoroçar elétrica demais ele deu um jeito de abraçá-la prendendo seus braços juntos em frente ao seu corpo.

- Garota… - Riu e parou olhando para ela encarando seus olhos verdes e nada disse.

Desde quando havia deixado de ser o cara indiferente que curte ficar sozinho para de repente querer estar com alguém e ainda por cima ter tido uma explosão de vontades tão suaves de causar arrepios a partir do momento que falou com ela tudo em único dia? Ela tinha razão… Desde quando era assim? Mas que coisa tão gostosamente incômoda! Ela tinha feito ele ser um cara diferente em algumas horas de contato.

- Você é realmente irritante.


Notas Finais


Ain que amorzinho 💙


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