Capítulo 4
Abro os olhos. Um teto branco toma forma, as luzes quase cegando-me. Olho para os lados ainda deitada. Um homem me observa sentado em uma cadeira do outro lado da sala. Não vejo nenhuma porta. A ausência de janelas não me permite concluir por quanto tempo dormi. Encaro o homem que está com as pálpebras pesadas, provavelmente lutando contra o sono. Decido ficar imóvel e rezar para que que ele adormeça.
Seus olhos se fecham, seus ombros caem. Levanto meu corpo e percebo que minhas roupas normais foram retiradas. Estava vestida em um uma blusa azul, decorada com traços verdes, ambas as cores iguais às dos meus olhos. Uma calça cáqui justa, que harmonizava com a blusa, vestia minhas pernas.
Caminhei para longe da cama enquanto observava cada tênue respiração do homem. Seus cabelos negros caiam sob seus olhos fechados. Sua boca levemente aberta indicava um sono profundo. Estava vestido com uma blusa verde com detalhes castanhos e uma calça caqui igual à minha, apenas na modelagem masculina.
Algo encaixou-se em minha mente. Seria aquele o homem que havia me capturado e carregado? Se sim, eu tinha que fugir.
Olhei novamente ao redor, tentando encontrar alguma alavanca ou botão que abrisse uma saída, mas minha busca não obteve sucesso. Tateei as paredes, mas ainda assim, não encontrei nada. Foquei então no homem. Lembrei-me dos momentos em que estive em seus braços. Estava algemada, mas agora não mais. Seria minha escapatória? Busquei as algemas pelo corpo do homem, mas sem tocá-lo, só observando-o. Percebi algo brilhando e prateado em seu bolso direito.
O chão de porcelanato branco refletia o teto de mesma cor. Aproximei-me do homem e tentei pegar o objeto. No exato momento, sua respiração ficou irregular e seus olhos lentamente se abriram. Um sorriso irônico refletiu em meus olhos. Ele focou em mim, levantando-se.
Recuei, tentando buscar algo que pudesse servir de arma, inútil, a sala provavelmente fora vasculhada a fim de que não houvessem possibilidades de nenhuma arma ser encontrada ou improvisada. A altura dele era estarrecedora, alto com os ombros largos, impondo medo em minhas veias. Percebendo isso, ele recuou e falou baixo:
-Ei, calma. Não vou machucar você, Siat.- falou meu nome com um toque de cuidado, querendo parecer mais íntimo de mim.
Ele olhava diretamente em meus olhos, mas eu , involuntariamente, desviava o olhar. Não sabia o porquê, mas quando olhava em seus olhos ficava sempre sonolenta. Sua fala deixou-me ainda mais insegura. Desde quando você acredita quando um suposto agressor afirma que não te machucará? Tentei algo desesperado. Cheguei perto dele, ignorando toda a minha vontade de ficar do outro lado do cômodo, o mais longe dele possível e disse, com firmeza fingida:
-Se não vai me machucar, deixe-me sair.
Seus olhos se estreitaram:
-Deixe que eu reformule minha frase, Siat- falou com ênfase no meu nome- Não te machucarei, desde que você obedeça.
Um sorriso se abriu em seus olhos. Eu entendi. Ele enfatizava meu nome a fim de afirmar que sabia mais de mim do que eu dele. Minha mente girava enquanto tentava pensar em como sair daquela situação. Afastei-me dele, o que não o fez muito feliz.
-Não, não- murmurou- fique perto de mim, você é muito ágil para escapar- caminhou, em pequenos paços até mim.
O medo consumia-me, enquanto ponderava sobre os golpes que já havia visto terem sido praticados nas aulas de luta de meu irmão. Lembrei-me dos chutes e ponderei que o na genitália seria o mais provável que acertasse e que ele caísse. Desisti da ideia quando ele chegou tão perto que minha perna não se mexeria. Dessa posição, sua altura se desatacava ainda mais.
Olhei-o nos olhos, ignorando a preocupação de ficar novamente sonolenta. Tentei concentrar-me em seus olhos coloridos, enquanto ele fazia o mesmo. Dessa fez, no entanto, quando a sensação de sonolência vinha, eu tentava esquecê-la, encarando-o de forma mais intensa que ele o fazia. Seu olhos fraquejaram, seus músculos relaxaram. Ele caiu em seus joelhos, com os olhos fechados. Ao chegar no chão, como estávamos muito perto, ele caiu com o rosto em minhas coxas.
Suspirei. Não sabia como, mais a ele havia caído em um sono profundo. Talvez ele só estivesse cansado e isso se manifestou mais agora. Isso, no entanto, não fazia muito sentido, pois ele parecia muito acordado quando se aproximou de mim. Como estava apoiada na parede, deslizei para o lado. Sua cabeça, que antes estava apoiada em minhas coxas, foi em direção à parede, bateu nela e caiu, deslizando até o chão.
Torci para que ele não acordasse, enquanto sentava na cadeira que antes ele se sentava. Assim que sentei nela, percebi que do ângulo dela, uma maçaneta era visível. Levantei do móvel e tentei olhar na mesma direção. A maçaneta sumiu. Tentei caminhar a direção que a havia visto da primeira vez. Cheguei à parede em que, segundo minha memória fotográfica. a maçaneta deveria estar. Tateei-a e senti uma leve nuança. Concentrei meus dedos nessa nova descoberta e tentei girá-la. Nada. Tentei apertar a área. Um clique ressoou.
Um painel cinza apareceu, iluminando meu rosto com uma luz azul, que saia da pequena tela. No meio desta, havia um círculo que se projetava para frente, como um holograma. Só poderia ser um leitor de digitais, pensei. Tentei arrastar o homem e, com muito esforço, consegui trazê-lo até o painel. Por sorte, ele estava tão adormecido que não sentiu nenhuma movimentação. Peguei sua mão e coloquei-a na área que era projetada. O leitor não sofreu nenhuma alteração, pareceu nem perceber que algo fora colocado ali.
Deixei sua mão cair. Encarei o painel e pensei: que partes do corpo são da mesma forma circular que projetava-se a minha frente? Olhos. Puxei o homem pelo braço, tentando levantar sua cabeça até a altura da projeção azul. Quando consegui, tentei apoiá-lo em uma de minhas pernas, a fim de conseguir abrir um de seus olhos. Consegui. Empurrei seu corpo até conseguir que o olho chegasse ao meu o alvo. Quando chegou, o painel pareceu reconhecer algo. Ele, no entanto, depois de alguns segundo, ficou vermelho.
Meu coração parou, o leitor não aceitou sua íris. Um alarme disparou. Soltei seu corpo e tentei jogar-me contra a parede em que o painel estava instalado, nada. Meus ouvidos estavam sofrendo com o alto ruído. Ouço um barulho que distingue-se do alarme. Passos. Uma mulher entra na sala, junto a um grupo de homens, vestiam roupas parecidas com as minhas. A mulher usava uma roupa quase igual à minha, só que os tons de verde de sua blusa eram mais escuros.
Ela olha diretamente para mim e a abre um sorriso. Meus olhos arregalam, permaneço imóvel.
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