Não havia nada que irritasse mais o delegado Jim Hopper do que ser acordado. Ele estava sonhando com um hambúrguer com fritas que tinha um gosto muito bom quando o telefone tocou. O ruído ressoou seis vezes antes que ele pudesse se levantar da poltrona, atender e resmungar um “delegacia de polícia de Rock Springs”, seguido de um cuspe na lata de lixo pra se livrar de uma bola de catarro. Alguém parecia tentar abafar ruídos de fundo, então ele não ouviu nada além de sussurros nos primeiros quinze segundos.
— Alô? — tornou a repetir. Hopper queria muito mandar quem quer que tivesse ligado pra ele tomar bem no meio da região anal, mas se conteve.
— Fala logo! — ordenou alguém do outro lado da linha.
— Delegado Hopper? — A voz era incrivelmente feminina. Por um momento, Jim pensou ser uma das mulheres com quem havia dormido nas últimas semanas e ficou estático. A última coisa que gostaria era que descobrissem que ele se envolveu com uma mulher casada. — M-meu nome… Calma! — Uma explosão de gargalhadas e ofensas estourou do outro lado. A garota tornou a falar. — Meu n-nome é Dickinson Moore. E-eu, bem… Queria saber se o senhor já se vendeu.
O homem ficou sem palavras novamente, tentando compreender o que a menina disse.
— Como é?
Mais risadas.
— O senhor já se vendeu? — Dickinson perguntou com mais firmeza. Alguém deu um grito no meio da frase e o delegado finalmente resolveu levar na brincadeira.
— Digamos que em dias difíceis eu precise fazer isso. Eu até deixei que usassem o meu nome naquela série nova. Qual que é o nome mesmo…?
Alguém no fundo gritou “Stranger Things” e ele deu uma gargalhada.
— Essa mesma! O delegado foi todo baseado em mim. — e acrescentou antes de desligar: — Agora vão dormir ou vou rastrear o endereço do dono do telefone e prender você, mocinha.
Dicky respirou fundo quando desligou. Não sabia se sentia pior por ter sido obrigado a passar o trote ou por ter sido confundido pela centésima vez com uma garota. Ele costumava ter dificuldade em falar com os adultos, mas fuzilou o líder do grupo que estava sentado com Kit-Kat no colo.
— Pelo amor de Deus, Simon. Tenta me deixar de fora desse tipo de desafio. Minha sexualidade já virou assunto no condado inteiro.
Simon sorriu enquanto admirava as pernas do amigo.
— Vou ter que te enfiar em uma saia enquanto penso nisso, Dicky. Você é uma gracinha. E deve ser uma delícia gemendo.
Kit-Kat apertou as bolas de Simon. Instintivamente, o rapaz a empurrou direto para o chão enquanto xingava alto e massageava a área dolorida.
— Sua cadela nojenta.
— Não fala assim de quem te chupa com tanto carinho. — retrucou a menina enquanto se levantava e se acomodava no colo de Paul.
— Ah, cara, de novo não. — O melhor amigo de Simon se levantou da escada e ficou em pé ao lado de Dicky. — Você sempre vem procurar o colo amigo quando o Simon pisa em você. Eu não sou sua segunda opção.
Biggs deixou uma risada escapar enquanto limpava os óculos. Katherine deu um meio sorriso.
— Ainda não entendo quem é que deixou o elefante entrar no grupo.
— Cala a boca, Kit-Kat. — pediu Dicky.
— Uau… Eu não sabia que as duas mocinhas tiram virado amigas. Que eu saiba, a lésbica aqui é a sua irmã.
Dawson avançou para cima de Katherine. Nicholas, que até então vinha assistindo tudo em silêncio, colocou-se no meio das duas e segurou o punho da gêmea de Dicky. A morena cuspiu no decote apertado de Katherine antes que o garoto pudesse intervir.
— RETARDADA! VADIA IMUNDA!
— A ÚNICA VADIA É VOCÊ!
Richard, que havia pegado no sono na velha rede de Simon, acordou confuso e desnorteado com a gritaria. Em uma tentativa de se sentar, acabou ficando preso a centímetros do chão. Os sete do grupo, que até então brigavam feito gato e rato, pararam a discussão para observar enquanto as pernas do garoto ficavam presas no meio de uma confusão de pano e fios. Quando a rede finalmente derrubou o seu adversário, o garoto caiu de bunda e eles responderam com palmas e gritos de urra.
— E a rede vence novamente. — ele comentou meio sem jeito enquanto tirava a poeira da calça.
Dawn sorriu por breves segundos antes de o irmão encará-la de soslaio. Ele apontou para o relógio do Ben 10 que estava sendo obrigado a usar desde que Simon o desafiou e indicou a porta.
— Nós temos que ir. — avisou a gêmea mais velha.
— Precisam mesmo? — perguntou Simon.
Katherine conferiu as horas no celular e soltou um gritinho.
— Meu padrasto vai me matar.
— Não se preocupe. Eu te levo. — Ofereceu Abigail.
Eles combinaram quem ia dar carona pra quem e acabaram indo embora entre abraços e beijinhos no rosto. No final, sobraram apenas Paul e Simon. Ele ficou mais um pouco porque sabia que Simon, apesar de toda a pinta de macho alfa, ainda não estava acostumado a morar sozinho em uma casa grande demais para uma pessoa só.
— Eu posso dormir aqui, se você quiser. Mas vai ter que lidar comigo só de cueca.
— Que tentação. — Brincou o garoto. Novamente em silêncio, ele mexeu em um cacho do cabelo e tentava reunir coragem para falar sobre um assunto pertinente. — A Katherine te procurou de novo?
Paul deu de ombros.
— Eu vou terminar com ela. — disse Simon.
— Enlouqueceu? Vai deixar uma gostosa escapar?
Simon riu desanimado.
— Eu preciso ir, cara. — Paul avisou. — Acho que seria legal se você cancelasse esse desafio. As meninas estão quase se matando.
O telefone de Jim Hopper tocou pela segunda vez naquela noite. Quando ele foi à casa de Simon Petersburg, não teve que lidar apenas com um trote.
Estava diante de um homicídio.
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