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História Sindromya Poesia Desestruturada - Capítulo 2 Um funeral e duas visitas


Escrita por: Suellen_Dias

Notas do Autor


Oi, gentem
O capítulo 2 vai situar mais vcs sobre em torno de quê a história vai girar com relação a uma das protagonistas.
Venham ler logo, garanto que vale a pena!

Capítulo 2 - Capítulo 2 Um funeral e duas visitas


Seis anos depois...

Era o funeral do dono de uma das redes de hotéis mais ricas de Campos Claros. Membros da alta sociedade estavam presentes. Acionistas minoritários dos Hotéis Galvão de Sá e seus familiares prestavam as últimas homenagens, se despediam. Obviamente que até depois de morto era importante que Alfredo Galvão de Sá fosse adulado, as pessoas se preocupavam em manter a boa imagem e impressão diante de Alfredo. Neste caso, seu legado e sua herdeira.

Sua neta, Jessie, era a única integrante familiar presente em meio aquelas pessoas. Mas para ela essa ligação não era mais profunda que uma poça. Ela e Alfredo nunca chegaram a ser próximos, estabelecer vínculos profundos e significativos. Entretanto, como única herdeira dos bens e, agora, acionista majoritária da rede de hotéis, ela deveria estar ali. Em sua face não havia tristeza. Na verdade, não havia nada. Era pura expressão do nada.

Alguns, provavelmente, falariam mais tarde a respeito de sua frieza e indiferença. Era assim que ela era vista. Uma pessoa fria e esnobe. Mas nesse momento todos eram só condolências e pêsames para com a única herdeira da fortuna Galvão de Sá. Alfredo não tivera outros filhos além do pai de Jessie, agora já falecido há quase dez anos.

O cerimonialista dizia as últimas palavras antes de cobrirem o caixão, quando o clima nublado resolveu se manifestar através de uma chuva fina que ia aos poucos se intensificando.

Jessie sentiu as frias gotas de chuva tocarem sua face, mas o momento foi tão fugaz quanto uma paixão de verão. Rapidamente uma de suas acompanhantes abriu um guarda-chuva sobre sua cabeça.

— Deve ser bom... – murmurou ela fitando a chuva

— O que deve ser bom, Srta.? – questionou a mulher confusa

Poder sentir a chuva livremente. Ela pensava. Uma vez fora, há muitos anos. A rápida recordação fez Jessie se lembrar de sua infância com Anna, a saudade era nostálgica, mas logo foi substituída por mágoa e culpa. Ela fechou os olhos com força, empurrando tais memórias para a parte mais profunda de seu ser.

— Nada. – respondeu ela – Acho que já podemos ir.

O caixão não estava totalmente coberto quando Jessie decidira se retirar. Alguns olhares em sua direção, mas sem comentários. A verdade é que ninguém ali presente estava por amor ao falecido.

Alfredo Galvão de Sá era um homem amargo, nunca foi o tipo detentor de amizades genuínas e despretensiosas. Dono de uma personalidade fria, prática e calculista, ele possuía contatos. E muitos. Todo o seu círculo pessoal envolvia relações de influência e poder aquisitivo. Ele fora um homem poderoso e influente. Construíra um renomado nome para si e seu hotel. Uma reputação de dar inveja. Não era à toa tanta dedicação por parte dos presentes

Jessie tinha de estar ali, ela já estava sendo introduzida aos negócios da empresa ao longo do último ano, embora ela só tivesse um interesse quando se tratava desses hotéis.

 

— Como tem passado, Jessie?

— Tudo como normalmente sempre foi. — Ela deu de ombros. — Continuo com os medicamentos de sempre. — acrescentou

— Entendo. Mas não foi bem isso que perguntei. — Melinda Meltzer analisou a jovem. — Refiro-me à como você está emocionalmente. Como se sente sobre a morte de seu avô?

— Isso é uma consulta, Dra.? — brincou Jessie

Meltzer sorriu e retirou os óculos de grau. Após pousar sobre a mesa de chá a sua frente ela encarou a jovem mulher.

— Será que assim pareço menos médica?

— Se todos os médicos se parecessem com você, talvez eu estivesse mais próxima da sanidade... — pontuou Jessie

— Você não é insana, Jessie.

— Por uma linha tênue. — afirmou — Minha rotina de comprimidos para poder dormir uma noite inteira sem esses pesadelos horrorosos ou acordar a ponto de ter uma crise... — a recordação da noite passada latejou em sua mente — E... E toda vez que preciso fazer algo com pessoas desconhecidas sinto como se estivesse dentro de uma bolha que vai estourar com um mísero suspiro! E-eu — Ela pressionava uma mão contra a outra.

— Isso não faz de você insana. E nós podemos mudar essa abordagem que seus médicos daqui tiveram e retomar a psicoterapia. Exatamente como quando você morava em Cassiana — Meltzer analisou a postura de Jessie. — Há um grupo de jovens o qual coordeno lá. Eles dão um passo de cada vez. — falou com cuidado

Melinda observava o olhar perdido na face de Jessie encarando um ponto qualquer do grande jardim.

— Tenho a sensação de que este local cresceu. — comentou ela, com o intuito de dar leveza a conversa.

Jessie deu um meio sorriso.

— Eu sinto o oposto.

O jardim era realmente grande, vários metros de um gramado verde escuro. Tinha todo um toque formal, alguns adornos em mármore dispostos ao longo das extremidades, a fonte se destacava. Mas não havia flores, ou não tantas quanto se esperaria de um jardim daquelas dimensões. Para Jessie o jardim perdera o encanto não muito tempo depois de sua chegada a mansão de seu avô. Ela chegou a explorá-lo apenas uma única vez, porém não tivera a graça que ela gostaria. E o fato de não ter flores era só mais um agravante, ela adorava flores. E agora ela já não o via como tão grande.

— Quer me contar sobre o pesadelo? — perguntou Meltzer chamando sua atenção. Jessie se mexeu desconfortavelmente na cadeira.

— Era tarde da noite ou madrugada... E estava meio escuro e silencioso. Anna estava ao meu lado embaixo desse cobertor... — Ela olhou para a mesa e então para Meltzer. — Estava quente, mas acho que estávamos nos protegendo. Ela estava machucada, tinha esse hematoma grande e roxo cobrindo a área do olho até a maçã de seu rosto, eu beijei o local e ela me abraçou...

Jessie interrompeu a narrativa e tomou algumas respirações.

— Acho que ele tinha batido nela e nós ouvimos seus passos na escada, cada vez mais próximos. Eu fiquei com medo, pois ele estava cada vez mais perto. — Jessie sacudiu a cabeça lentamente. — E então comecei a hiperventilar e perder as forças. A última coisa que lembro era o desespero nos olhos da Anna.

Um flash de medo cruzou seus olhos azuis após o relato.

— Os sintomas, o medo, as sensações foram tão reais no sonho. Como uma memória recente... Se o sonho tivesse continuado, ele a teria machucado de novo. Eu acordei tão assustada que ultrapassei a dose do remédio pra dormir... — falou com a voz fraca — Eu tive tanto medo de ter uma crise, Dra. Meltzer. Tive tanto medo de morrer sozinha no escuro com nada além dos fantasmas do meu passado... — sua voz saía embargada

O coração de Meltzer doía com o que acabara de ouvir. Se as coisas tivessem sido diferentes, Jessie poderia se sentir diferente agora, poderia estar com as feridas mais cicatrizadas em vez de tão expostas.

— Jessie, nós podemos cuidar disso. Há mecanismos para que você saiba lidar com isso sem precisar se dopar. Você estava se saindo tão bem na psicoterapia. Se nós aliarmos ela aos medicamentos, será muito mais eficaz. — falou a terapeuta num tom gentil

— Eu só queria poder esquecer tudo... — disse a garota num fio de voz — Eu gostaria de não sentir mais essa dor toda vez que lembrasse...

— Então, Jessie, a psicoterapia vai te ajudar a entender e a enfrentar as consequências de seus traumas, sua ansiedade, trabalhar formas de você lidar com suas crises de ansiedade quando ocorrerem. Deixe-me ajudá-la, assim você vai aprender a conviver com suas memórias sem que te causem tanta dor. Poderá alcançar qualidade de vida. — insistiu

— Como, Dra. Meltzer? Eu não acho que isso seja possível... — replicou Jessie com a voz irregular – E-eu... Durante a leitura do testamento eu tive uma crise. Foi tão terrível! — Ela abraçava o abdômen de maneira protetora, enquanto falava.

Meltzer sentiu o peito pesar ao ver o quão abatida e despedaçada Jessie ainda estava. Quando ela partiu de Cassiana, elas estavam fazendo algum progresso, o contato, embora restrito, com Anna ajudava as duas. Agora olhar para ela era frustrante, mesmo depois de quase dez anos as marcas deixadas pelo pai ainda permaneciam abertas, e vez ou outra sangravam. Todo o avanço fora jogado fora pelo egoísmo do avô que a trouxera para outro local e a deixara cargo de profissionais que apenas a entupiam de medicamentos para mascarar a situação e não investigar as reais causas de seus problemas.

Tudo para me manter afastada dela... Pensava Melinda entristecida.

— Quer me contar o que sentiu, Jessie? – indagou suavemente

Jessie a encarou.

— Foi tão de repente. O advogado fazia a leitura e falou o óbvio, Sr. Alfredo deixou todos os seus bens em meu nome. Entretanto, estou condicionada a uma cláusula de proteção de patrimônio, que só me permite vender alguma coisa se... Se — Ela encarou a médica frustrada. — Se eu tomar a frente de um dos hotéis por um tempo...

A terapeuta já imaginava que havia a possibilidade de Alfredo deixar esse tipo de cláusula em seu testamento com o intuito de salvaguardar sua fortuna. A decisão de exigir que Jessie assumisse um dos hotéis de maneira tão precipitada é que a tinha surpreendido. Apesar de que nas vezes em que se comunicavam, Jessie a informara que estava tendo que aprender o ofício da família.

— E ele designou qual dos hotéis você deve administrar? — perguntou Meltzer não demonstrando o quanto isso a preocupava

Pela quantidade de hotéis que Alfredo detinha, Jessie poderia ter que ir para algum distante, no exterior. Era algo que preocupava a terapeuta.

— Eu não pude ouvir tudo... Quando ele citou essa maldita cláusula eu me senti fora de lugar. O ar se esvaindo, tentei regular minha respiração, mas parecia que eu iria sufocar se permanecesse ali. Então — Ela mastigou a boca nervosamente. —, eu fugi. Andei o mais rápido que pude. Eu precisava ficar longe daquelas palavras e daquelas pessoas. — Jessie enfiou o rosto nas mãos. — Eles não podiam presenciar minha crise, eu precisava ficar sozinha. Consegui me trancar em um dos banheiros e... E o resto você já sabe. Ela encarou Meltzer. — O mesmo tormento de sempre. Meu coração parecia que ia explodir de tão acelerado, o medo, a náusea, a impotência... É tão ridículo, sabe? — Ela riu sem humor. — Entrei em colapso por algo que eu já deveria saber que aconteceria.

— Não é ridículo, Jessie... — dizia Meltzer quando foi interrompida

— Essa cláusula afeta tudo! Atrapalha todos os meus planos... Eu pensei que finalmente teria paz. — admitiu por fim

— Que planos, Jessie? — indagou a mulher se sentindo intrigada

— Eu iria vender todas as ações dos hotéis que estão em meu nome, e quaisquer outras propriedades dessa família. Tudo que me liga a esse sangue de alguma forma e... — Ela refletiu antes de prosseguir. — E deixaria em uma conta tudo que pertence a Anna por direito. Embora Alfredo nunca a tenha reconhecido como neta, é o certo a fazer. E então eu viajaria por um tempo.

Meltzer ouvia atenta ao desabafo de Jessie. Ela não imaginava que a jovem estava planejando se desfazer de todo o seu patrimônio e viajar sem nem dizer para onde, isso a preocupou. Se ela fosse mesmo embora o que eu poderia fazer? Como poderia ajeitar as coisas? Preciso fazer algo. Seus pensamentos davam voltas pela confissão de Jessie, mas ela falara algo interessante, algo que serviu como gancho para puxar o assunto que a terapeuta estava querendo.

— E quanto a reencontrá-la? Você não cogita essa possibilidade?

Uma mistura de diferentes emoções cruzou os olhos de Jessie. Ela se levantou da cadeira e olhou para o alto. O tempo ainda permanecia com o mesmo aspecto do dia anterior, nublado e cinzento. Mas agora não chovia.

— Não. — respondeu em voz baixa — Não depois de tanto tempo

— Jessie, a Anna-

— Não, por favor. — pediu Jessie encarando-a — Você me disse que ela estava indo bem...

— Eu sei o que eu disse, mas Anna ainda te espera. Ela adoraria revê-la.

— Por quê? Por que ela continua esperando depois de todo esse tempo? Não faz nenhum sentido.

— Você já quis tanto isso, Jessie.

— Sim! E você não tem ideia do quanto doeu aceitar que eu deveria deixar de querer! Que eu nunca mais a veria! — Jessie passou a mão nervosamente pelos cabelos. — Muito tempo passou, temos nossos próprios caminhos. Por que trazer isso pra nossas vidas agora?! — exigiu impaciente

— Porque sei que ainda se importam uma com a outra. — falou Meltzer calmante — Vocês já se amaram tanto, foram amigas e irmãs num momento tão difícil de suas vidas. E eu sei que Anna ainda te ama.

— Eu nem mesmo a conheço mais, e nem ela a mim. — retrucou Jessie — E só porque, supostamente, compartilhamos a maldição de carregar o mesmo sangue daquele homem, devemos agir como se não tivesse um rasgo enorme em nós?

— Por que você está tão reticente em encontrá-la, Jessie? Mesmo que não tenham o mesmo sangue, por que não quer dar uma nova chance ao relacionamento de vocês? — indagou a terapeuta de forma gentil

— Porque... — Jessie apertou os lábios — Eu tenho medo. — admitiu

— Medo de quê? O que a deixa tão preocupada?

Jessie desabou na cadeira e sentiu um nó desconfortável aumentar em sua garganta, ela encarou a terapeuta que a observava pacientemente.

Os olhos de Jessie emanavam insegurança.

— Eu tenho medo de ter esperança... — respondeu num sussurro — Criar expectativas e acreditar que talvez um dia eu possa — ela vagou os olhos entre Meltzer e o jardim — possa superar essas feridas e talvez ser feliz de verdade...

— Oh, Jessie, mas isso é algo bom. Ter esperança é algo bom.

— E-e se der errado? E se em vez de ficarmos bem eu deixá-la mal? Muito arriscado...

— Você merece isso, Jessie. Vocês duas merecem.

— Anna foi a melhor coisa que aconteceu em minha infância miserável. Apesar de toda aquela situação doentia — Sua expressão facial se contorceu em dor e raiva. —, ela me fez muito feliz. É por isso — um pequeno soluço engatado escapou — que é melhor eu ficar longe dela. Por minha causa ele quase a matou...

As lágrimas, agora, escorriam livremente por sua face. Sem mais se conter, ela se permitiu chorar.

— Não foi sua culpa, Jessie. Nada do que você e Anna passaram foi culpa de vocês. O único culpado foi Augusto e sua obsessão por você.

Jessie pressionou as pálpebras com os dedos e quando os reabriu olhou Meltzer.

— Esse nome... — murmurou ela — Por favor, não o pronuncie novamente.

— Sinto muito, Jessie. Mas você precisa parar de se culpar e apontar o verdadeiro culpado de seu sofrimento. Este será um passo extremamente importante para que você aprenda a lidar com seus traumas de maneira mais satisfatória. Isso vai fazer bem a você e a Anna. Dê uma chance a si mesma. Alfredo era o único que impedia vocês de estarem juntas, não mantenha esse muro. Dê uma chance a vocês.

Jessie baixou os olhos para a mesa e traçou os dedos ao longo dos bordados na toalha que a cobria. Ela fungou um pouco e parecia querer dizer algo, mas hesitava.

— Como... — ela limpou a garganta — Como Anna está? Está tudo bem com ela? — perguntou sem levantar o olhar

— Anna está bem. Faz terapia em grupo e está concluindo um curso de pintura.

— Ela é pintora? – indagou Jessie olhando-a novamente

— Está se tornando uma. Ela sempre gostou de artes, você sabe.

Jessie sabia, se lembrava. Mas não falou nada, suspirou lentamente e observou Meltzer levar a xícara de chá até a boca e fazer uma careta logo após tomar um gole.

— Muito frio? — perguntou ela reprimindo uma risada

— Gelado! — confirmou a mulher pousando a xícara de volta a mesa

— Eu falei bastante mesmo.

— Chás podem sempre ser substituídos. Uma boa conversa não deve ser desperdiçada. — pontuou Meltzer

— Obrigada por ter vindo. — agradeceu Jessie sinceramente

— Estou feliz por ter vindo, só gostaria de ter chegado mais cedo para te acompanhar na leitura do testamento.

— Eles vão prosseguir nesta tarde e sei que você estará comigo, certo?

— Com toda certeza. — concordou a mulher com um balançar de cabeça — Mas tenha em mente que você é totalmente capaz de lidar com esta situação. Qualquer medo ou insegurança faz parte da vida de todos. Lembre-se disso.

Jessie balançou a cabeça positivamente e sorriu para o incentivo.

Elas permaneceram em silêncio por algum tempo. Tudo que se escutava era o farfalhar das folhas causado pela brisa da tarde. Meltzer analisava Jessie e pensava se algum dia teria coragem de contar tudo que tinha para contar. E se realmente chegar esse momento, como ela reagirá? A terapeuta se perguntava.

Enquanto tal momento não chegava, a mulher mais velha pensava numa forma de contar a novidade sobre Anna. A terapeuta sabia que Jessie estava reprimindo sua curiosidade sobre a outra jovem, sua vontade de fazer mais perguntas. Tudo com o intuito de se esconder atrás dos muros de medo, insegurança e desconfiança criados por si própria. Não queria demonstrar e admitir sua real vontade.

— Jessie — chamou Meltzer

Jessie a olhou, seu olhar parecia um pouco distante.

— Anna pretende estudar arte no exterior, talvez agora seja um bom momento para passarem algum tempo juntas.

 

 

Sindromya

 

Hoje pensei sobre a chuva. Foi uma sensação tão boa, poder sentir as suaves gotas no meu rosto. E, embora tenha sido breve, eu me senti bem. Qualquer pessoa diria que as circunstâncias não eram as ideais, eu estava num funeral.

Meu avô está sob alguns metros de terra e isso não me abalou em nada, não da forma como geralmente uma morte faz com as pessoas. Eu não estava triste.

E não para por aí...

Eu recebi duas visitas entre ontem e hoje. Lembranças ruins me visitaram em meu sonho, e vieram acompanhadas dela. Eu pude sentir uma crise iminente, mas acordei pouco antes dele - "meu pai" - nos alcançar e me levar consigo. A. estava machucada e provavelmente ele o faria de novo. O problema foi que ao acordar algo do meu pesadelo saiu comigo, minha crise decidiu ficar na espreita, apoiada em minha fraqueza como uma sombra sufocante. Acho que ter uma crise de ansiedade acordada é bem pior que em sonho. Acho?? Obviamente, é! Mas não... Eu não quero falar sobre ela agora. Tenho medo, pois sei que isso é uma forma de chamá-la até mim. Ela sempre me ouve.

A outra visita foi de M. Foi bom conversar com ela. Embora a maioria dos assuntos que discutamos seja envolta em espinhos, é sempre bom falar com ela. É claro que inicialmente a razão de eu deixá-la se aproximar foi por ela ter sido fonte de informações a respeito de A., e mesmo quando eu disse que não as queria mais, ela continuou, uma verdadeira teimosa. E, ainda que esporadicamente, me fazia bem. Depois eu percebi que M. era diferente. Um bom diferente. Ela é especial, posso sentir que se preocupa comigo de verdade, daí a deixei ficar.

Hoje conversamos sobre meus planos, meu pesadelo e minha crise de pânico. Hoje conversamos sobre A., e ela disse que eu deveria vê-la. Eu neguei, embora eu me pergunte se M. sabe que eu ainda quero, com todo o meu âmago. Apenas tenho medo... Não sei se estou pronta. Tenho medo de desapontá-la, tenho medo de não ser como ela imagina ou como eu quero. Tenho medo de acreditar. Acreditar que felicidade existe.

O tempo não está a meu favor, descobri que A. pretende partir em breve para seguir com sua vida e nossos caminhos podem nunca mais se cruzar. Lembro que seu sorriso era tão bonito... Por que não posso simplesmente esquecê-la?

Ainda não sei o que vou fazer, mas como de costume, antes de ir, lhes deixarei uma canção.

Ouçam comigo “Wings” da “Birdy”

 

Sonhos bons ou sonho nenhum.

 

Aisling

 



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