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História Sindromya Poesia Desestruturada - Um abraço às vezes é a melhor coisa


Escrita por: Suellen_Dias

Capítulo 5 - Um abraço às vezes é a melhor coisa


 

Demorou apenas alguns segundos para que Anna registrasse o ocorrido. Em um momento ela tinha compreendido que a Jessie ali presente, era a mesma de seu passado, e então, de repente, a garota estava fugindo. A resposta de seu corpo foi mais rápida que a de seus pensamentos. Anna ficou de pé o mais rápido que conseguira e foi atrás da fugitiva.

A sala de terapia em grupo ficava no fim do corredor que levava até a recepção. Jessie não prestou muita atenção em nada enquanto andava. Eram passos largos, apressados, passos de quem fugia de algo. Jessie não fugia de Anna ou de seu inevitável reencontro, Jessie fugia de si mesma. Ou assim ela tentava. Em sua cabeça havia a ideia fixa de que se ela não conseguisse controlar sua ansiedade e tivesse uma crise, ela precisaria estar sozinha. E assim fazia toda vez que pressentia uma crise iminente e estava próxima de outras pessoas. Ela se isolava, dentre outros motivos, por achar vergonhoso passar mal, às vezes sem um real motivo aparente.

Jessie já podia enxergar a porta que a deixaria longe de tudo ali, sua mão direita tocou a maçaneta, mas antes que ela pudesse girá-la, um toque suave, mas firme, segurou sua mão esquerda e ela sentiu seu corpo paralisar.

— Jessie! — chamou Anna — Jessie, é você de verdade?

Anna perguntou algo que já sabia e se sentiu um pouco idiota. Ela deu um sorriso e fungou.

— Esqueça que te perguntei isso... Eu sei que é você. — Ela traçou o polegar na mão de Jessie. — Olha pra mim, por favor. — pediu numa voz chorosa

Jessie tomou algumas respirações e engoliu difícil, era tão novo e esquisito ouvir seu nome ser pronunciado por Anna, ela virou-se e retirou sua mão a distância. 

— Eu senti sua falta... — falou em voz embargada

Jessie olhou em seus olhos cor avelã, agora afundados em lágrimas, e sentiu o peso dos anos de distância. Ela não conhecia Anna. Doía tal realização.

Embora conseguisse enxergar o mesmo brilho vivaz nos olhos de Anna, Jessie se sentiu de frente com uma desconhecida. Anna era agora uma mulher, dez anos haviam se passado e trazido consigo todas as mudanças que o tempo acarreta. Suas feições mudaram e, assim como seu corpo, tomaram características maduras. E aqueles mesmos olhos, de uma cor que Jessie sempre achara tão bonita, carregavam agora uma sombra de tristeza. Os pensamentos de Jessie, por um instante, foram um pouco mais longe e ela se perguntou se era por causa daquele momento ou se aquele pedaço de tristeza agora era parte do olhar de Anna.

— E-eu — gaguejou Jessie — Eu preciso ficar sozinha agora... — Virou-se de costas e abriu a porta.

— Espera! Pra onde você vai? — inquiriu Anna enquanto a seguia

— Por favor, me deixe sozinha...

— Por quê? Eu acabei de te encontrar! Eu...

— Anna! — interrompeu Jessie — Você não entende! Eu não posso fazer isso agora...

Anna encarou aqueles olhos azuis aflitos e amedrontados. Tudo que ela queria era abraçá-la e dizer o quanto havia sentido saudades, mas parecia haver uma parede íngreme entre elas. Ela baixou os olhos para os braços de Jessie cruzados de maneira tensa, como se estivesse se protegendo.

— Jessie... — Se aproximou lentamente da outra. — Me deixa ficar com você como quando éramos pequenas e você se sentia assim. Eu sei que você tá se sentindo mal, então me deixa ficar, por favor?

Jessie ampliou os olhos e seus lábios se separaram como se para dizer algo. Sua garganta estava seca e seus batimentos acelerados, mas ela não sentia que perderia o controle. Seus olhos se fecharam e ela tentou imaginar uma situação diferente. Uma situação em que seu sistema nervoso não entraria em colapso impedindo-a de agir naturalmente. Uma brisa suave tocou seus cabelos ao mesmo tempo em que um toque macio traçou sua bochecha, secando uma lágrima solitária que escorria.

Ao abrir os olhos, ela deparou-se com Anna mais perto, que chorava, mas estava sorrindo. Foi estranho de início, desajeitado, tímido e suave. Um abraço às vezes é a melhor coisa quando se está confuso e com medo. Neste momento foi um pouco de cada. Talvez um pouco precipitado, talvez não.

O corpo de Jessie ainda não tinha relaxado nos braços de Anna, mas ela sentia sua vontade de fugir diminuir gradativamente. Jessie sentia o abraço de Anna bem suave em volta de sua cintura. Sensação nova e esquisita. Ninguém a tocava assim com tanta intimidade. Ela está sendo amável, como sempre foi... Pensou levando uma mão hesitante até suas costas, porém sem tocá-la.

Meltzer se aproximava cuidadosamente das duas. E após algum tempo de observação sugeriu.

— Por que vocês não entram e conversam a sós na outra sala?

Anna observava Jessie encarar as próprias mãos. Elas estavam sentadas na sala individual há poucos minutos.

— Eu esperei tanto por isso que... — começou Anna atraindo a atenção da outra — Que eu nem sei o que dizer agora...

Jessie passou a mão nos cabelos.

— Você tá linda. — falou Anna — Tá um pouco diferente, mas te reconheceria em qualquer lugar!

— Obrigada. — agradeceu Jessie timidamente.

O clima era esquisito. Fora de lugar. Não se aproximava do que ambas tinham esperado. Mas o que realmente se deve esperar de uma situação como esta?

Jessie ficou de pé e efetuou uma ligação solicitando que fossem buscá-la. Sua atitude confundiu e desapontou Anna.

— Você já vai?

— Sim. — respondeu em tom meio seco

Anna não sabia o que era mais decepcionante. Jessie não fazer esforço algum para conversarem, ou sua repentina postura indiferente. Ela não fazia ideia, mas Jessie se amaldiçoava internamente por não ser capaz de agir como gostaria, então ela fez o que achava ser o melhor, o que sempre fazia, isolava o que sentia de verdade, utilizando essa máscara de falsa proteção.

— Mas... Mas por quê? — indagou Anna, ao se aproximar — Você não quer estar comigo, é isso?

Jessie limpou a garganta.

— Anna, eu tenho seu contato. Nós podemos remarcar...

— Por que você tá falando assim comigo, Jessie? — interrompeu — Como se não me conhecesse?

— Porque eu não conheço, Anna! E nem você a mim. O que você esperava?

Anna franziu as sobrancelhas e a encarou com uma expressão magoada.

— Esperava que ver você me deixasse feliz, que você ficasse feliz... E quando eu dissesse o quanto senti sua falta, você dissesse o mesmo! Foi o que você escreveu na sua última carta, não foi? Que nunca me esqueceria, não importa o quê! — dizia ela com a voz tremida — Você... — balbuciou — Aposto que nem ao menos se lembra!

— Eu... Eu sinto muito! — murmurou Jessie lhe dando as costas — Entrarei em contato.

A última coisa que Jessie viu foram os lábios trêmulos de Anna e o olhar de decepção estampado em sua face.

 

 

Sindromya

 

Fraca! Fraca! Fraca! Covarde! Impotente! Medrosa! Eu me odeio por não ser capaz de fazer as coisas direito! Odeio o jeito como permito que meus medos tenham domínio sobre meus atos! Eu sabia que não estava preparada. A. não mereceu o que fiz. Eu acabei de encontrá-la e já a deixei magoada! Isso deve ser um tipo de recorde...

Eu não queria deixá-la daquele jeito! Não queria ter sido a responsável por aquele olhar tão triste. Por que não pude apenas conversar naturalmente?! Por que foi tão difícil retribuir seu abraço? Ela foi tão gentil com minha incapacidade emocional! E, acima de tudo, ela se lembra das minhas crises?

Estou com uma dor de cabeça perturbadora! Não consigo me concentrar direito porque minha memória fica voltando para o que aconteceu ainda pouco. E eu continuo sendo uma derrota! Eu fugi de lá, mas nem cheguei a ter uma crise realmente. Foi o medo. Medo de ter uma crise na frente dela, seria tão constrangedor...

Não posso mais escrever agora. Preciso de um tempo pra pensar. Eu não tenho certeza em quê, mas tem muita coisa dentro de mim agora e é assustador quando escrever não me ajuda...

 

Aisling

 

  Anna não se movia, passou os minutos seguintes encarando a porta entreaberta por onde Jessie acabara de sair, mais uma vez fugindo. Mais uma vez deixando-a para trás. Era essa a sensação que Anna tinha neste exato momento. As lágrimas já tinham secado em sua face, e seu rosto era uma confusão de tristeza e frustração.

Anna não tinha certeza de quanto tempo havia passado, ela só queria ir embora e ficar sozinha por um tempo. Mas como tinha deixado seus pertences na sala de terapia, teve que esperar pelo término para reavê-los.

Quando Meltzer entrou na sala, encontrou Anna sozinha sentada com rosto apoiado contra a mão direita.

— Anna? Tudo bem?

Anna levantou o rosto e balançou a cabeça negativamente.

— Onde está a Jessie? — perguntou já imaginando qual era a resposta

A jovem abaixou a cabeça e após um lento suspiro deu de ombros fracamente.

— Foi embora. Ela... — a voz de Anna morreu em sua garganta com a lembrança das últimas palavras que Jessie lhe dirigiu

Meltzer se aproximou dela e abaixou-se a seu nível.

— Quer me contar como foi a conversa entre vocês, Anna? — perguntou suavemente

Anna tomou algumas respirações e refletiu por alguns instantes.

— Ela não quis conversar comigo. Ela foi tão fria comigo, sabe? — sua face estava com semblante carregado — Eu não acho que ela queira estar perto de mim...

— Anna, Jessie quer estar com você...

— Você não estava aqui, não ouviu o que ela disse! — retrucou ela

— Ela disse que não quer estar com você?

— Ela disse que não nos conhecemos... — falou em tom resignado — Eu vou pra casa, Dra. Mel. Preciso de um tempo. — Levantou-se e seguiu em direção à porta. — Ela disse que entraria em contato para remarcar... — Riu secamente. — Aparentemente dez anos foi tempo suficiente pra Jessie esquecer tudo que passamos...

— Anna, isso não é verdade. Sei que você está irritada e chateada agora, mas não pode esquecer tudo que conversamos sobre como Jessie está atualmente e o quanto ela tem se esforçado para melhorar.

— Não! É claro que não esqueci! Mas ela nem mesmo me deu o celular dela, não me deu chance alguma de me aproximar! Aposto que ela nem mesmo sabia que me veria hoje, não é?!

— Na verdade ela sabia. Jessie tem tido sessões individuais duas vezes na semana comigo desde que chegou e eu sugeri a ela terapia em grupo. Achei que seria benéfico para ela interagir com outras pessoas de sua idade, principalmente porque você faz parte do grupo. Vi como um incentivo extra. E ela tem se preparado muito para te ver, Anna. — Meltzer a observou atenta as suas palavras — Jessie quer ver você há muito tempo. Ela só se sente insegura de si.

— E eu não posso fazer nada para ajudar... — murmurou Anna — Eu não sou nada além de uma desconhecida, não é?

Meltzer se aproximou e ofereceu um sorriso reconfortante.

— Desconhecida é tudo que você não é, Anna. Você ficaria surpresa com as boas lembranças que Jessie tem sobre a infância de vocês. Vocês só precisam reconstruir a relação, dará trabalho, mas sei que conseguirão.

A terapeuta se dirigiu até uma mesa e fez algumas anotações em uma folha. Após dobrá-la ofereceu a Anna.

Anna abriu o papel e franziu o cenho.

— Apenas me prometa que você não ligará e nem mandará mensagem hoje. Dê um tempo a ela, quem sabe ela até não te procure antes?

Anna sorria quando abraçou desajeitadamente a terapeuta.

— Devagar, Anna. Ainda sou sua terapeuta. Há um protocolo que devo seguir diante de meus pacientes.

— Você é mais que isso, Dra. Mel! É minha amiga, amiga de todos nós! Por isso que te amamos tanto.

— Todos vocês são pessoas maravilhosas e merecem encontrar seus caminhos e serem felizes. Faço o que estiver ao meu alcance para ajudá-los com isso.

— Inclusive quebrar alguns protocolos. — brincou Anna balançando a folha de papel

— Às vezes fazer apenas o que está nos manuais não é suficiente, Anna.

Anna havia dobrado o papel e colocado no bolso do casaco e mantinha uma das mãos dentro como se o estivesse protegendo, o receio de perdê-lo a preocupava.

Ao chegar à recepção encontrou Sky sentada remexendo no celular.

— Minha bolsa rápido, Sky!

Sky atendeu ao pedido sem perguntar nada e observou a amiga retirar o celular e anotar um número. Como Anna não parava de encarar a tela do aparelho, decidiu quebrar o silêncio.

— O que foi aquilo naquela hora? O que aconteceu? Era a sua irmã, não era?

— Vamos indo. Eu te conto no caminho.

Durante o percurso da clínica para casa, Anna explicou para Sky o que tinha acontecido após ter ido atrás de Jessie. Contou ainda da conversa com Meltzer.

— Você vai ligar pra ela? — perguntou Sky curiosa

Anna encarava a tela de seu celular.

— Estou quase não me aguentando de vontade de ligar ou escrever, mas queria mesmo era ligar!

Sky estacionou em frente à casa de Anna e desligou o carro.

— Mas a Meltzer não pediu pra você esperar? Ela não te fez prometer?

— E quem foi que disse que eu prometi?!

— Anna...

— Nada disso, Sky! — interrompeu ela — Eu entendo as intenções da Dra. Mel, mas, cara, eu já esperei tempo demais!

— Por isso mesmo, Anna. O que é um dia pra quem já esperou dez anos?

Anna suspirou impaciente.

— Ela tá sozinha agora, você não viu o olhar dela. — Anna refletiu um momento antes de prosseguir — Ela estava tão nervosa, assustada. Jessie ainda tem aquelas crises, Sky. Ela estava com medo, eu vi nos olhos dela! E então de repente ela ficou estranha, parecia estar mais calma e aí disse que ia embora! Porra! Doeu a frieza na voz dela, doeu pra cacete! Mas agora eu tenho uma chance de dar o próximo passo em vez de ficar só esperando. Tô cansada de ficar só esperando!

Sky coçava lentamente sua nuca e encarava a amiga.

— E se ela não atender? É uma possibilidade, já que ela tem seu número.

— É por isso que não vou ligar, vou escrever. Assim ela vai ter que ler de qualquer jeito. — respondeu obstinada — Seria perfeito poder ouvir a voz dela, ou ela me escrever de volta, mas... — Deu de ombros. — Uma coisa de cada vez.

— E já sabe o que vai escrever?

— Nem ideia! Mas vou mostrar que estou aqui, que ela não está mais sozinha. —havia a sugestão de um sorriso nos lábios de Anna. — E que ainda estou esperando, mesmo que ela tenha me magoado hoje.

— Por Deus, guarda essa parte pra você, Anna!

Anna deu uma risada e seu olhar ficou perdido.

— Você viu como ela é linda? — falou em voz baixa

Sky deu um aperto amigável no ombro da amiga.

— Quando for mandar mensagem, tente não ser você mesma totalmente, Anna. — provocou

— Ei! — resmungou Anna socando a perna da amiga

— Estou brincando, mas vai com calma e tenta ser paciente. Afinal, vocês têm muito pra colocar em dia.

Anna concordou com um balançar de cabeça.

— Vai entrar hoje?

— Hoje não. Tenho umas coisas pra resolver e tal... — falou em tom misterioso

— Coisas secretas, é? — sugeriu Anna em tom de brincadeira

Elas riram e após um abraço, Anna saía do carro quando Sky avisou.

— Ah, Mini, quase esqueci! Estela pediu que você ligasse assim que pudesse. Cara, essa mulher não desiste, não?!

— Valeu, Sky, mas não tô com cabeça pra isso hoje. Falo com ela depois.

Sky ligou o carro, mas antes de seguir acrescentou.

— O recado tá dado. Ela disse que ligaria se você não ligasse. Não sei o que essas doidas veem em você.

— Some da minha rua, palhaça! — retrucou Anna em falsa indignação

Anna ainda viu quando a amiga gargalhou ruidosamente antes do carro dobrar a esquina.

Após um longo suspiro, Anna seguiu para o interior de sua casa e pelo silêncio que pairava no ambiente, imaginou que não havia ninguém. Subiu as escadas e foi direto para seu quarto. Ainda tinham algumas roupas espalhadas pela cama, resultado da tentativa de arrumar o closet.

— Que desgraça! — resmungou encarando a cama

A jovem iniciou uma música no computador, apanhou algumas roupas e levou ao closet. Quando abriu a porta, seus olhos bateram na pequena caixa de madeira no cantinho de uma das prateleiras. Ela deixou as roupas de lado e pegou a caixa.

Já sentada na cama, Anna abriu a caixinha e sentiu seu coração pesar ao ter contato com o que havia dentro. Após abrir uma das cartas, ela leu.

 

Querida Anna,

Eu estou com muito medo. O senhor Alfredo disse que vamos viajar. Eu perguntei quando ele buscaria você, mas ele disse que você não pode ir. Que você já tem uma família, que nem é minha irmã de verdade. Por que, Anna? A gente fez uma promessa de ficar juntas para sempre, então por que você não pode ir? Eu não quero ir sem você!

 

Anna mordia o lábio inferior e sentia lágrimas quentes escorrerem por sua face. Uma impulsividade preencheu seu interior e ela remexeu em sua bolsa em busca de seu celular. Estava decidida a escrever para Jessie neste exato momento. Porém, antes que pudesse escrever qualquer coisa, uma batida à porta lhe chamou a atenção.

— Anna? — chamou a voz do lado de fora

Anna tomou uma longa respiração e reduziu o volume da música.

— O que é, João?

— Só vim pegar uma coisa e já tô saindo pra comer com uns amigos. Quer que eu te traga algo? A mãe tá de plantão hoje.

— Eu sei. Eu não vou querer nada não.  

— Então, até mais tarde!

Mais uma vez sozinha, Anna aumentou o som e separou uma muda de roupas para tomar banho.

Quase uma hora depois ela voltou ao quarto e se jogou sobre a cama. Ainda enrolada em uma toalha úmida, Anna se encolheu junto aos travesseiros e permaneceu de olhos fechados. Ela refletia sobre o que deveria escrever para Jessie quando um ruído característico lhe chamou atenção. Rapidamente ela sentou-se na cama e checou o celular. Uma nova mensagem.

 

“Ei, Anna! Te liguei duas vezes e só chamou. Ainda tá ocupada com aquela garota estranha? Aliás, quem é ela? Sky não quis me contar nada. Me liga. Bjs”

 

Frustração era o que Anna sentia no momento. Por um instante ela imaginou que a mensagem teria vindo de sua irmã, e como não era, decidiu responder depois.

Vestiu-se e foi até a janela de seu quarto observar o final do crepúsculo abrindo as portas para a escuridão da noite. E assim ela permaneceu por quase uma hora, quando se deu conta de que o quarto estava escuro demais.

Anna organizou algumas coisas, e sentia um certo cansaço físico pesando em seus ombros. O dia de hoje fora intenso, seu emocional havia sido abalado pelo reencontro com Jessie, e tudo que ela queria era saber o que escrever ou receber uma mensagem sua. Ela se sentia estranhamente sem fome, então decidiu se deitar para talvez se livrar um pouco da tristeza do dia.

A canção que iniciava em seu computador era de uma melodia tranquila e Anna sempre ouvia quando queria relaxar. Mas no dia de hoje as palavras cantaroladas pelo vocalista ganharam um significado mais profundo, era como se ele estivesse falando sobre o que ela passara mais cedo com Jessie.

— É isso! — falou de repente como se tivesse acabado de perceber algo — Ela precisa saber que está tudo bem. Tudo vai ficar bem pra gente.

Encarando a tela do celular, Anna engoliu nervosamente e escreveu.

 

“Eu pensei muito no que escrever e ainda não consigo ter certeza. Jessie, não sei o que você tá fazendo agora, e eu espero que você leia isto. Eu não paro de pensar em você desde que você foi embora da clínica. Não sei se significa algo, mas saiba que não estou com raiva. Estou chateada, não com você, e sim com a maneira que as coisas aconteceram hoje. Doeu quando você disse que não nos conhecemos. Porém, eu fiquei pensando... E você tem razão, tem uns bons anos entre nós mesmo. Só que você precisa saber que nós podemos mudar isso juntas. Podemos começar de novo, Jessie. Eu amei te ver hoje! E vou ficar muito feliz quando você me procurar. Você prometeu que entraria em contato, lembra? Eu sou perseguidora quando alguém me promete algo, fique logo ciente! (risos) Eu vou estar aqui te esperando. Não esqueça disso, tá? Estou esperando por você, Jessie. Sempre estive. Boa noite.”

 

Anna soltou a respiração que segurava. Seus batimentos estavam um pouco acelerados e havia aquele sentimento de euforia no peito. Com um sorriso nos lábios, ela se jogou de costas na cama e sentiu cada pedaço de seu corpo e mente relaxarem gradativamente. Suas pálpebras estavam cada vez mais pesadas. O som do smartphone vibrando chamou sua atenção e ela resmungou.

— Droga, Estela...

Em vez de ligação, era uma mensagem.

 

“Olá, Anna. Desculpe por minha atitude indelicada mais cedo. Só que naquele momento eu precisava me retirar. Irei entrar em contato sim. Procurarei você em outro momento. Boa noite.”

 

A tranquilidade que se instalava no interior de Anna deu lugar a animação.

“Não precisa se desculpar, Jessie! Nossa, não esperava que você fosse responder. Tô nervosa e sorrindo feito uma idiota! Espere, desconsidera isso daí! Puxa, você me responde e eu fico escrevendo bobagens. Onde você tá? Estou falando com você da minha casa. Tô sozinha. Te chamaria pra vir aqui, mas você provavelmente não aceitaria. Aliás, quando é que você pretende me encontrar? Sei que eu disse que esperaria, e até estou, mas não demora muito. Tô ansiosa pra te encontrar direito. E você me deve um abraço, viu?”

 

Anna enviou e já sentia a fome dar sinais de vida em seu estômago. Desceu animadamente e já na cozinha inventou um sanduíche qualquer.

Anna dividia seus olhares entre o sanduíche e o celular na esperança de Jessie responder outra vez. Dez, vinte, quarenta minutos depois e nem sinal de uma nova mensagem. Resignada, Anna retornou para seu quarto decidida a tentar dormir após enviar uma última mensagem. Um boa noite atencioso, nada muito exagerado, ela pensava.

Porém, Jessie fora mais rápida.

“Não tenho certeza de quando remarcaremos, mas nos próximos dias irei avisá-la. Boa noite, Anna.”

 

Anna não esperava para responder.

“Tá bem. Jessie, será que enquanto você decide o dia, podemos conversar por mensagem? Quero dizer, não agora, pois você pode estar ocupada ou já querendo ir dormir, mas amanhã... Tudo bem se eu voltar a escrever? Ou talvez te ligar. Você atenderia?”

 

“Não há problemas em você voltar a me escrever, Anna. Mas por enquanto vamos ficar nas mensagens, por favor? Obrigada por estar sendo compreensiva. Irei dormir. Bons sonhos.”

 

Anna lia a última mensagem de Jessie com um sorriso nos lábios. Ainda que fossem mensagens curtas e com certa formalidade, seriedade, Anna estava contente em não estar sendo ignorada. E com um misto de alegria e esperança, ela enviava a última mensagem da noite.

“Não precisa me agradecer, Jessie! Eu que deveria te agradecer por não me deixar num vácuo sem resposta, espera, ignora essa parte! Ainda tá tão cedo, mas eu tô meio sonolenta, e como falei com você e já comi, acho que vou acabar dormindo também. Espero que você também já tenha comido algo. Volto a escrever amanhã. Bons sonhos pra vc também, Jessie. Bjs”

 

 

 

 

 

 

 

 



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