Bêbado. Era assim que o rapaz se encontrava na maior parte do tempo. As tatuagens, metade do cabelo com vestígios de tinta vermelha e as músicas que cantarolava quando estava naquele estado, eram vestígios de seus dias de glória, quando ele tinha tudo e mais um pouco, quando ela estava ao lado dele pra apoiar no que fosse preciso. Ah, aquelas memórias pareciam mais sonhos.
— Bêbado de merda.
Disse a pessoa na qual Castiel havia por acidente esbarrado. Estava bêbado de mais pra formular uma desculpa descente, então decidiu dizer a primeira coisa que lhe veio a cabeça.
— Vai se foder arrombado.
Dando mais um gole em sua cachaça barata, ele continuou cambaleando e ignorando os xingamentos que o cara lá atrás dirigia a ele.
O que poderia ele fazer? A vida era assim, não havia como mudar nada. Se sentia quase no fundo do poço. Quase. Sabia que haviam muitas coisas que poderiam piorar, poderia por exemplo ficar sem dinheiro até para sua bebida, ou ser espancado até morrer por um grupo de maconheiros.
"Até que não é má idéia..."
Ele sorriu cantando um trecho de uma de suas músicas mais conhecidas, levantando os braços e girando na calçada como se estivesse dançando.
O que aconteceu depois dali era curioso. Quase no mesmo instante que ele parou, começou a vomitar no chão, ao lado de um carro bem luxuoso. O dono do carro saiu do estabelecimento que estava quase fumaçando de ódio.
— Seu gordo desgraçado! Esses pneus são novos! Puta merda cara, olha a merda que você fez.
O cara de cabelos loiros e olhos amendoados se lamentava ao lado de seu veículo novinho. Castiel apenas se levantou e saiu de fininho, sem pedir desculpas nem nada.
Ele levantou sua blusa e encarou a barriga, começando a rir baixinho.
"Caralho até meu tanquinho eu perdi."
Estar fora do peso era algo que ele ainda não havia reparado em si mesmo. Afinal, quanto tempo já havia passado? Acredito que ele não havia reparado nos anos passando por conta das memórias do acidente. Argh, aquelas lembranças horrendas.
A luz do caminhão, a moto caindo do morro e batendo numa cerca e mesmo assim não parando, os gritos da garota se segurando forte nele, a dor aguda na cabeça, aquela cena dela desacordada com o rosto coberto de sangue. Ele ainda se lembrava do desespero, se lembrava de como implorou para ir na mesma ambulância que ela. Ele se lembrava do olhar de reprovação da tia dela e também se lembrava perfeitamente do movimento dos lábios da mulher e do tom triste em sua voz enquanto dizia: "Por favor, suma."
Aquele acidente tirou dele mais do que sua garota, depois daquilo ele deixou de produzir música, foi expulso da banda, sem dinheiro para pagar o aluguel de seu apartamento, ele foi despejado. Com várias tentativas de arranjar empregos fracassadas, ele nunca mais havia conseguido se estabilizar.
"Todas as decisões que tomei na minha vida me trouxeram aqui."
Castiel se sentou no chão, observando a paisagem daquele ponto da montanha, onde haviam sofrido o acidente. Aquele ponto era deserto, haviam apenas pedras e algumas coisas que as pessoas deixavam ali, como litros de álcool, camisinhas usadas e vestígios de drogas.
— Eu te disse que ele estaria aqui.
— Eu realmente tenho que parar de duvidar de você.
— Caralho aquele é realmente o Castiel? Ele tá grávido?
— Own que lindo? Será um casal de gêmeos?
— Parem de zoar o coitado!
O moreno abriu levemente os olhos, querendo garantir que não estava imaginando nada. Talvez ele estivesse implorando aos céus para que aquelas quatro pessoas realmente não fossem só uma ilusão, deus que não fossem só um delírio de sua mente afogada em álcool.
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