História Singular - A garota do parque

Foi através de Yixing, seu amigo que dava aulas de dança na escola, que Chanyeol descobriu um pouco mais sobre Byun Baekhee — para alguns bobinhos da escola, Byun Baekhyun vestido de saia —. Não havia um na instituição de ensino que não a conhecesse, afinal de contas, não era todos os dias que viam uma garota trans.

Entretanto não fora aquilo que lhe chamou atenção em Baekhee, mas sim algo que não saía de sua cabeça desde o primeiro encontro.

— Hey Yixing, por que a Baek usa o banheiro masculino?

— Hã? — Yixing perguntou meio lerdo, estava entretido demais com o celular para ter um raciocínio rápido. — Ah, é porque quando a Baek entrou para a escola tivemos uma reunião e os pais das alunas não concordaram com ‘um homem usando o mesmo banheiro que as meninas’ e então foi uma confusão. Os pais da Baek queriam abrir um processo, mas ela mesmo disse que não tinha problema em usar o banheiro masculino.

Pensou que talvez eles devessem mesmo ter aberto um processo, mas também entendia que a garota não queria trazer dores de cabeça a ninguém.

— Ela é boa aluna? — Chanyeol perguntou, não conseguindo conter sua curiosidade.

— Eu não dou aulas ‘pra ela, sou só um professor de dança, sabe? Ao que me parece ela faz aulas da Hapkido* ou algo assim. — Yixing se levantou do sofá onde estava todo esparramado e coçou a bunda, fazendo Chanyeol rir. Intimidade era mesmo uma droga. — Hey, vou tomar banho para irmos ao parque, ok?

— Ao parque? Desde quando vamos ao parque? — Chanyeol arqueou uma sobrancelha, pegando o controle da televisão e zapeando os canais para ver se encontrava algo interessante.

— Desde quando a Nini me mandou mensagem dizendo para nos encontrarmos no parque.

— Cara, você é o maior escravoceta da face da Terra — Chanyeol implicou, tendo como resposta um dedo do meio bem em frente ao seu rosto.

— Vou usar sua toalha e passar ela bem no meio da bunda — Yixing disse como se estivesse apoiando algum protesto, fazendo Chanyeol rir ainda mais da infantilidade do seu amigo.

— Cara, ela ainda vai demorar? Sério, é chato demais ficar esperando aqui na entrada — Chanyeol escorou-se na grade de ferro, cruzando os braços apenas para parecer intimidador e mal-humorado, coisa que certamente não era.

— Você precisa de uma namorada. Seu humor é uma porcaria — Yixing reclamou, olhando para os lados para ver se sua namorada estava em algum canto. — Lá está ela, veja.

Ele apontou para frente, onde no meio da multidão Nini se destacava com seus cabelos roxos desbotados.

Ao ver o amigo e o namorado ela sorriu, feliz por revê-los, principalmente por fazer um certo tempo que não saiam os três juntos.

Nini primeiro cumprimentou o namorado com um abraço carinhoso, selinho na boca e uns chamegos do tipo ‘que saudades’ ‘você está muito bonito’, e depois dirigiu-se ao amigo, trocando um sofrido high five, já que Chanyeol levantava a mão o mais alto que conseguia, apenas para ver a garota dando pulinhos devido sua baixa estatura.

— Esperaram muito tempo? — Nini perguntou após cumprimentar ambos, indo para o lado de Yixing e passando o braço pela cintura do namorado, apoiando a cabeça em seu braço.

Jongin ou Nini para os mais íntimos, estava noiva de Yixing desde o início do ano, e vendo os dois juntos Chanyeol começava a acreditar naquela baboseira de alma gêmea.

Apesar do noivado, eles tinham alguns planos para antes do casamento — e Chanyeol mal podia esperar para comer docinhos —, que consistiam em: abrirem uma academia de dança, já que ambos eram dançarinos, depois comprarem um apartamentozinho perto da academia e aí então começarem a planejar o casório.

Enquanto isso eles apenas levavam suas vidas, morando separados — já que Nini morava com os pais e Yixing morava em um dormitório oferecido pela escola em que dava aula —, namorando por uns bons quatro anos e juntando dinheiro para realizarem os planos futuros.

— Demais. Não vê as minhas raízes fincadas na terra? — Chanyeol implicou. Era divertido estar com Nini devido as implicâncias de um para com o outro, e o pobre Yixing é quem tinha que aturar.

— Impressão minha ou o limpador de lua cresceu mais dois metros durante esse tempo que eu não o vi, Xing? — Nini comentou com o namorado em um tom propositalmente alto, fazendo com que Yixing risse nasalado.

— O que foi que você disse, Playmobil? Fica muito difícil te escutar com você aí em baixo — Chanyeol colocou a mão em concha ao redor da orelha, se inclinando exageradamente para frente.

— Falou a Torre de Ba-

— Já chega! — Yixing interrompeu a suposta ‘briga’. — Nem comecem com essa discussão de novo. — o chinês dirigiu-se à namorada. — Você vai chama-lo de Torre de Babel, aí ele vai te chamar de mecânica de hot weels, depois você vai chamá-lo de inspetor de atmosfera, ele vai te chamar de salário mínimo, vocês vão rir e aí já vamos ter perdido um tempo que poderíamos ter gastado brincando no kamikaze.

Os amigos riram.

— Tudo bem, Xing, vamos logo então. — Nini disse animada puxando-os para entrar e foram comprar seus tickets para brincarem.

Porém meia hora depois Chanyeol já se sentia exausto, não aguentava mais ir em brinquedos que andavam rápido, ficavam de ponta cabeça, giravam e caiam.

Sentia seu estômago afundar cada vez mais, enquanto os noivos tinham energia sem fim, querendo experimentarem todos os brinquedos que pudessem, correndo de um lado para o outro e tirando várias fotos. ‘É ‘pra passar no vídeo do nosso casamento’, eles diziam.

— Galera, vou comprar um cachorro-quente, ok? Não aguento mais — Chanyeol reclamou e os amigos riram.

— Olha só, o chorão é arregão — Nini provocou.

— Eu não chorei, ok? Eu apenas fiquei desconfortável com a casa mal-assombrada — Chanyeol cruzou os braços e inflou as bochechas, o que fez com que os amigos gargalhassem ainda mais.

— Ok, nós vamos continuar nossa jornada. Se não nos encontrar, dê um toque no meu celular — Yixing instruiu e sem esperar por resposta, saiu de mãos dadas com a noiva, procurando por mais brinquedos mortíferos.

Chanyeol apenas deu de ombros e seguiu para a casinha de cachorro-quente.

Fez seu pedido sem pressa e escorou-se na bancada, de modo que pudesse observar as pessoas no parque, e então, enquanto seus olhos corriam pela multidão, ele a viu.

Byun Baekhee estava sentada sozinha na escadinha que dava para o barco viking enquanto olhava as gangorras girando no brinquedo a sua frente.

Fora da escola ela parecia mais bonita, usando um boné preto na cabeça, os cabelos soltos salpicando a blusa branca, uma calça jeans rasgada nos joelhos, um tênis preto e as luzes do parque iluminando seu rosto sereno.

Então, enquanto a observava, decidiu tomar uma decisão em relação àquela garota que tanto lhe instigava.

— Moça, prepara mais um caprichado pra mim, por favor.

Talvez fosse o momento propício para fazer uma nova amizade.

— Você é a menina do banheiro, certo? — Chanyeol perguntou e estendeu o cachorro quente para a garota a sua frente.

BaekHee sobressaltou-se no lugar por aquele pequeno susto. Não tinha entendido muito bem aquilo até perceber ser o mesmo homem que havia encontrado quando tinha ido ao banheiro na escola, corando de vergonha ao se lembrar daquele episódio vergonhoso.

— Digamos que sim — ela murmurou, e contrariando todos os achismos de Chanyeol pegou o cachorro-quente com as duas mãos, o aceitando.

Vendo aquilo como um sinal positivo, se sentou na escadinha ao lado dela, esticando suas pernas para não parecer tão patético pelo seu tamanho exagerado. Pessoas grandes sentadas em lugares pequenos normalmente se sentiam assim.

— Então... está sozinha?

— Ah não, meus amigos estão no barco viking. Inventaram de que hoje iriam em todos os brinquedos, estamos aqui faz uma hora e eu não aguento mais — a garota sorriu, e Chanyeol achou engraçado porque seu aparelho estava sujo de milho.

— Te entendo! Os meus amigos fizeram a mesma coisa e eu estou na mesma situação, não consigo acompanha-los, parece que eles estão sempre ligados no 220 — Chanyeol se empolgou, contagiando BaekHee.

— Sim! — ela falou meio gritado, dando um pequeno pulinho ainda sentada. — O pior é que eu fico sem jeito de dizer não, sabe? Eles namoram, e as vezes eu sinto que eles também querem um momento sozinhos, por isso decidi vir pra cá enquanto eles brincam.

— Ah, eu te entendo. Ás vezes tenho esse mesmo sentimento com meus amigos — Chanyeol suspirou, como se perdesse a animação, mas logo em seguida seu rosto iluminou-se em um largo sorriso novamente. —, mas você não está sozinha agora. Estou aqui te fazendo companhia.

— Bom, pelo ao menos isso — ela murmurou e deu uma mordida na comida que se a mãe de Chanyeol tivesse visto, teria ficado orgulhosa. — E você me trouxe cachorro-quente, cara! Isso é a melhor coisa do mundo.

BaekHee falou de boca cheia mesmo, sem se importar de parecer grossa, e de fato não havia sido. Chanyeol riu, achando engraçado a suposta falta de modos, mas que para si significava que a garota estava confortável o suficiente consigo, o que era um bom começo.

— Eu te vi sozinha e pensei ‘por que não a convidar para lanchar comigo? ’, foi uma boa ideia, não foi?

— Foi uma ideia maravilhosa. Eu ia mesmo chamar os meninos para comer, mas agora até desisti, vou só ficar aqui com você enquanto eles brincam até a hora de irmos embora.

Ela realmente ficou, e Chanyeol não podia impedir de perceber que suas expectativas em nada se comparavam com a realidade. BaekHee era alguém que havia valido a pena conhecer.

Conversaram de tudo um pouco, sobre seus brinquedos favoritos no parque, pessoas que jogavam lixo no chão e sobre a tia do cachorro-quente que havia sido muito simpática quando foram lá comprar outro lanche e refrigerante.

Não tinha toda aquela baboseira de ‘eu não te conheço ainda’, ou algo do tipo.  Pareciam muito mais como dois amigos de longa data em um passeio bastante agradável, o que fez com que o tempo voasse.

Chanyeol gostava de pessoas assim. Pessoas das quais você pode conversar de tudo um pouco mesmo sendo conhecidos de pouco tempo.

Quanto mais conversavam, mais queriam conversar. Era até engraçado a forma como entravam em algum assunto bobo e ficavam tempos debatendo sobre aquilo.

Entretanto o tempo passou e os amigos de BaekHee vieram busca-la para irem embora.

— ... você sabe, quando o brinquedo vira e então ficamos de cabeça para baixo, eu imagino alguém passando mal, vomitando lá de cima e caindo na cabeça de alguém lá em baixo. — BaekHee contou e ambos riram.

Estavam em uma conversa sobre diversas situações que poderiam acontecer em um parque de diversões quando um garoto alto e magro parou na frente de ambos, segurando a mão de uma garota baixinha e de bochechas gordinhas.

Chanyeol supôs que fossem os amigos de BaekHee, e vendo ambos juntos ele confirmava que faziam um casal muito bonitinho — exatamente como a descrição da Byun.

— Baek? Vamos embora? — e foi só quando o garoto a chamou que BaekHee pareceu ter se dado conta da presença de ambos ali.

— Ah, já terminaram? Vamos sim! — BaekHee se levantou e olhou para Chanyeol, finalmente parecendo sem jeito perto dele — Hey, eu tenho que ir agora. Obrigada pelo lanche.

Chanyeol sorriu e fez um gesto com a mão como se aquilo não tivesse importância, e de fato não tinha mesmo.

Não sabiam como se despedirem, então apenas murmuram alguns ‘tchau, nos vemos por aí’ e acenaram as mãos, mas quando BaekHee já estava de costas, caminhando com seus amigos para fora, Chanyeol se lembrou de algo.

— Baek, você não me passou seu número! — ele gritou, chamando a atenção dela, dos amigos e algumas pessoas que estavam ao redor.

E ao invés de voltar, ela apenas riu, deu de ombros e seguiu caminho.