História Singular - Um

Paciente com múltiplas lesões nas costas. Sinais vitais em colapso. Tivemos que ressucitá-lo duas vezes no caminho para cá. Sem documentos.

As vozes apressadas iam e voltavam, aumentando seu volume conforme se tornavam mais nítidas. Neji estava morrendo, ele sabia disso. A dor em suas costas já não incomodava mais, mas ele sentia o sangue vertendo pelos machucados abertos.

Ele estava morrendo e estava preparado pra isso.

Salvar Naruto ia além de sua obrigação como ninja de Konoha. Ele tinha salvado Naruto porque sabia que essa era a coisa certa a ser feita. Neji foi criado para isso, para ser a espada e o escudo. Os Hyuugas tinham o criado pra isso. O pai tinha morrido por isso. Era sua função aparar a vida e a morte.

Morrer, nesse caso, não era tão ruim. Sua morte salvava o mundo, disso ele tinha certeza. E, caso se permitisse ser minimamente arrogante nesse último suspiro de vida, diria que morria de forma grandiosa. Se em vida ele sempre estaria em segundo lugar, pelo menos na morte sentiu que era o personagem principal, por pelo menos uma parte da história.

Isso fez com que um sorriso manso se instalasse em seu rosto.

- Vamos lá, meu amigo. Resista mais um pouquinho. Só precisamos chegar até a sala de cirurgia.

Neji sentia uma pressão em seu peito, bem como um peso que subia e descia. Os olhos não se abriam mais que alguns milímetros e a claridade impressionante o impedia de mantê-los abertos completamente. Só o que via eram borrões, quando se notava consciente. Vez ou outra pensava reconhecer algumas vozes, mas não deu atenção.

Aliás, demorou a entender como ainda estava vivo e, mais, como estava recebendo atendimento médico no meio da guerra.

O olho direito foi inundado por um feixe de luz direto e rápido. Depois, o esquerdo. Sua pálpebra ardeu pelo puxão pouco delicado e, em um milésimo de segundo ele sentiu a pele do braço sendo picada. Por hábito, tentou se virar pra entender o que acontecia, mas se sentiu letárgico demais. A perda de sangue tinha o enfraquecido imensamente, sem contar a imobilidade que os ferimentos nas costas causavam.

Até que tudo se tornou estranhamente calmo. Os movimentos alheios à ele, antes tão frenéticos, perderam o ritmo. Os sons foram se tornando cada vez mais longínquos e os olhos perderam a sensibilidade à luz forte sob sua cabeça.

E foi aí que ele conseguiu enxergar a primeira coisa mais nítida, desde que tinha sofrido o ataque na guerra, evitando a morte de Naruto.

- S-Saku... Sakura...

Ela sorriu. Sakura parecia diferente.