História Sinners - .Nora.

Narrado por Phoebe Thunderman

 Era como se todo meu bom senso e minha capacidade de pensar em todas as possibilidades para algo dar errado tivessem simplesmente evaporado.

Quando deixei o quarto do Max, ajeitando meu pijama e meus cabelos estava certa de que tinha enlouquecido de vez.

Eu havia proposto a ele que tivéssemos um caso! Nem podia acreditar que tive a cara de pau de propor isso ao meu irmão. E pior ainda não podia acreditar que ele havia aceitado!

Pois foi exatamente o que fiz, não foi? 

O "dar uma chance de descobrir o que é isso entre nós" era basicamente um "vamos ter um caso amoroso as escondidas". 

Quando disse aquilo não pensei no que poderia causar. A que aquilo poderia levar. O que faria conosco, como atingiria nossa família. Só disse.

E foi uma das melhores decisões da minha vida.

Passei ela toda, presa ao que os outros queriam de mim, o que achariam e como me tornaria alguém que orgulhasse tudo e todos. Jamais tinha feito nada imprudente. Jamais tinha mexido com o que era proibido.

Nada pelo simples fato de eu desejar. De querer. E agora, pela primeira vez, eu estava experimentando algo extremamente proibido, e estava amando aquilo.

– Phoebe, como está se sentindo? – papai perguntou assim que me sentei no meu lugar a mesa. Meu sorriso era perfeitamente idiota e não saía da cara. Olhei cada um deles e percebi o olhar desconfiado e afiado de Nora sobre mim o tempo todo.

– Bem. Ótima, pra falar a verdade – disse puxando um biscoito e levando a boca.

– Seus cabelos estão uma bagunça, Max deve ter te empurrado pra fora da cama a noite toda – disse a mamãe. Por breves segundos me desesperei. Não estava ainda completamente familiarizada com a mentira e levava certo tempo pra aceitar ela.

– Eu acho que não tiveram problemas com isso, estavam rolando na cama bem juntinhos  e felizes – disse Nora me fazendo engasgar com o biscoito. Mamãe franziu a testa e eu tossi várias vezes na tentativa de me livrar da migalha presa na garganta, o que consegui somente depois de um gole de café.

– Como assim, Nora? – perguntou a mamãe.

– Eu aposto que estavam fingindo que eram baldes em uma ladeira – disse Billy sorrindo – Eu faço isso as vezes.

Todos chacoalharam a cabeça ignorando o comentário dele.

– Não estávamos...rolando na cama – falei mordendo uma torrada já que havia acabado com o biscoito.

– Quando cheguei vocês mesmos disseram que estavam "brincando de lutinha"– acusou Nora – A menos que fosse mentira.

– E o que mais estaríamos fazendo, Nora? – falei ríspida demais. Mamãe e papai nos olharam com os olhos estreitos, e trocaram olhares cheios de suspeita. Precisava me livrar das insinuações da Nora.

– Não sei, me diga você, Phoebe – disse ela com um sorrisinho. Ah eu ia matar minha irmã mais nova.

– Ficou tenso, baby – disse Chloe.

– Phoebe Thuderman – disse mamãe de uma forma fria e ameaçadora que me fez estremecer e engolir seco. Olhei em seus olhos que me diziam que ela já sabia. Que havia descoberto ali mesmo e que me expulsaria de casa – Vocês não estavam brigando de novo, não é?

Deixei meu suspiro de alivio passar despercebido. Para todos, com exceção de Nora. Ela parecia atenta até mesmo a minha forma de passar a manteiga na torrada.

– Não, mamãe – eu disse – Só estava ensinando uma nova...tática de ataque pra ele.

Nora levantou uma sobrancelha.

– Ah, que tipo? – perguntou papai. Pigarreei tentando disfarçar meu desespero. Onde estava Max, agora que eu precisava dele?!

– Uma forma de...deixar o inimigo rendido e...

– Prender ele pelos braços debaixo de você – disse Nora sorrindo – Precisa me ensinar isso, por favor!

– Claro, quando quiser – falei num fio de voz, louca para me livrar de vez daquela maldita espiãzinha. Nora sorriu com malicia.

– Bom dia família – disse Max se aproximando da mesa. Soltei o ar com muita calma e pude finalmente descansar sabendo que o mentiroso profissional estava do meu lado.

– Graças a Deus – falei em um sussurro.

Max se sentou ao meu lado e evitei ao máximo contato visual com ele. Pareceu que ele não notou o olhar constante de Nora sobre nós, e se ele piscasse, desse um sorriso torto ou mandasse um beijinho que fosse, seria o fim.

– O que disse, querida? – mamãe perguntou.

– Ahn...eu disse pra mim já deu – me levantei – Vou me arrumar pra escola.

Precisava sair dali. Max, Nora e eu no mesmo ambiente tinha se tornado a receita para um desastre que eu preferia evitar.

– Tem certeza que não quer ficar, Phoebe – Max disse sem nem me olhar, mais focado na fatia de bolo – Tivemos uma noite e tanto ontem. 

– Max tem razão, vocês dois precisam descansar, você deve estar resfriada – disse mamãe.

– Ah, não – eu disse – Estou ótima, nunca me senti melhor! 

– Você poderia aproveitar pra me ensinar as táticas de rendição do inimigo – disse Nora. Formei uma linha com os lábios, ela estava me encurralando. Tudo por que estava curiosa! Ela não fazia ideia de quão terrível era aquilo.

– Também quero aprender! – disse Chloe.

– Ah, me ensina também Phoebe – disse Billy.

– Táticas de... – Max iniciou com um enorme ponto de interrogação na testa.

– É Max, o que eu estava te ensinando hoje. Como derrubar um vilão e manter ele preso – interrompi Max e seu olhar confuso. Ele finalmente entendeu e fez um "ah" antes de assentir.

– Olhem, se Phoebe se sente bem, deixem ela ir pra escola – disse papai. Oh como eu amava ele.

Suspirei e sorri.

– Beleza, vou me arrumar – falei – Até mais.

E corri antes que alguém protestasse ou que Nora lançasse mais uma perguntinha comprometedora. Ela desconfiava. E não sabia quanto tempo levaria para confirmar a suspeita.

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Estava mais que tranquila estudando para um teste de química que teria no quinto período, no pátio da escola sob a sombra de uma árvore. Era fresco e distante do tumulto, por isso se tornou meu cantinho favorito quando eu precisava pensar.

Precisava encontrar Allison e dizer a ela que Max e eu aceitamos a proposta dela e de Link. Mesmo que fosse contra a vontade.

Quando estava decidida a levantar e ir atrás dela, Cherry pareceu surgir do nada e se jogou sentada ao meu lado.

– Eu passei na sua casa, mas você já tinha saído – anunciou ela.

– Eu resolvi vir mais cedo pra poder estudar – disse para ela. Cherry assentiu e então me encarou como se soubesse cada um dos meus pecados. De fato sabia da maioria.

– Sua mãe disse que você e Max aprontaram ontem e por isso ele ia ficar em casa – disse ela pausadamente – O que exatamente vocês fizeram?

– Não é nada do que você está pensando, se nossos pais pegassem Max e eu em uma...situação comprometedora – falei – Provavelmente nem eu e nem ele estaríamos na cidade a essa altura. Eu estaria em uma espécie de convento e o Max preso em algum reformatório fora do país.

– Então o que aconteceu? – perguntou ela curiosa.

Suspirei. Olhei em volta e chequei que a alma vivente mais próxima estava a uma distância segura. Então me inclinei na direção dela.

– Você não foi a única a pegar Max e eu na saída de incêndio – disse. Cherry imediatamente abriu a boca e arregalou os olhos. Ela ficou naquela expressa surpresa por um bom tempo.

– Ah meu...Quem mais sabe sobre vocês? – perguntou completamente curiosa e temerosa.

–Allison – falei entredentes. Cherry deixou os braços caírem desanimada e decepcionada. Ela tocou meu ombro – Ela nos viu ontem. Tirou uma foto e mandou pro Link.

Cherry levou a mão a boca.

– Ah meu Deus, Phoebe! E agora? O que vocês fizeram? – perguntou afoita apertando meu ombro.

– Eles propuseram um acordo em troca de sumir com a foto – falei – Se voltarmos com eles, podemos sumir com ela. Max acha que eles querem alguma coisa de nós, e por isso ele disse que devemos aceitar.

Cherry fez uma careta.

– Mas os dois traíram vocês e estão juntos ao que tudo indica – disse ela.

– Eu sei, mas precisamos saber o que eles querem – disse para ela – Max não confia nos dois.

– Nem eu confio, jamais confiei – declarou ela empinando o nariz – E você e o Max precisam tomar mais cuidado! Na verdade, na minha opinião, deviam deixar de lado essa loucura.

Suspirei pronta para argumentar com ela, mas Cherry me impediu antes mesmo que começasse a falar.

– Mas, se não pretendem parar com isso tão cedo, pelo menos façam em um lugar menos perigoso! – instruiu ela – Sério, a saída de incêndio? Mais da metade da escola usa aquele lugar pra ficar de pegação. Sejam espertos, Srta. Thunderman.

Eu sorri.

– Vamos ser, eu prometo – disse.

– Mas você ainda não contou o que aconteceu ontem pro Max não vir na escola – disse ela.

– Ah. Fomos encontrar Link e Allison pra falar sobre a foto e depois a gente meio que brigou – falei rápido – E eu meio que derrubei o Max do segundo andar de um prédio em construção. 

Ela levantou uma sobrancelha.

– Se tem uma coisa que eu jamais, em hipótese alguma vou entender nesse mundo – disse Cherry – É essa relação de vocês.

Suspirei com um sorriso.

– Nem eu, Cherry. Nem eu.

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Durante o resto da aula, acabei me esquecendo de falar com Allison, e na saída acabei não esbarrando com ela. Decidi ir pra casa direto, e falar com Max para mandarmos uma mensagem para ela e uma para o Link.

Me despedi de Cherry e tomei meu caminho de casa apressada, portanto não demorei a chegar em casa. Meu dia havia sido ótimo, mas foi estragado por completo no instante que girei a maçaneta e entrei em casa.

Não tive palavras para explicar o soco no estômago que foi avistar Allison sentada no nosso sofá, abraçada a Max assistindo televisão. Mamãe estava na cozinha e Chloe desenhava em uma cartolina sobre o balcão, e nenhuma das duas pareceu notar que eu tinha chegado.

Max mantinha o braço em volta do ombro de Allison e ela estava basicamente deitada no peito dele, o que me causou uma repulsa que jamais pensei que sentiria.

Afinal, tínhamos concordado com aquilo, porque estava tão irritada?

Ela foi a primeira a me notar e abriu um de seus falsos e irritantes sorrisos.

– Phoebe! – disse com uma animação completamente enjoativa. Max me olhou no mesmo instante. Ele entreabriu os lábios como se fosse pego no flagra cometendo algum crime – Você demorou!

Eu precisava dizer alguma coisa, mas nada saiu por um longo tempo.

– E-eu... Decidi tomar um banho depois da aula de educação física – falei olhando diretamente para Max.

– Querida, vai largar suas coisas que o almoço está quase pronto – disse mamãe com um sorriso enquanto transportava a salada para a mesa.

– Vou...subir – falei ainda sem saber ao certo como reagir àquela coisa estranha dentro de mim. No mesmo instante Nora apareceu nas escadas, parou e me olhou diretamente seguindo meu olhar para o sofá. Ela então me olhou, e naquele instante eu soube que Nora sabia. Mas ao invés de me acusar ou olhar com repulsa, ela apenas suspirou e chacoalhou a cabeça levemente.

– Phoebe, eu preciso falar com você – disse Max se colocando de pé.

– Nem vem, Max – disse Nora me surpreendendo – Phoebe prometeu que ia pintar as minhas unhas. 

Olhei para Nora com uma explícita expressão de agradecimento e ela apenas sorriu.

Max franziu a testa e me olhou. Eu sabia que meu rosto dizia que eu não estava pronta pra conversar sobre o fato de ele realmente ter reatado com Allison tão de repente.

– Vamos – disse para Nora enquanto a puxava pela mão escadaria acima.

Ela não disse nada, o que me deixava ainda mais apreensiva. A puxei para dentro e fechei a porta me encostando nela, soltando a mochila no chão e respirando fundo várias vezes.

Quando me virei, Nora estava sentada na minha cama, com as pernas cruzadas, revirando minha caixa de esmaltes com a maior tranquilidade.

– Eu realmente quero que pinte as minhas unhas – disse ela sem me olhar. Ergueu um esmalte rosa claro – Com essa cor.

Assenti, mesmo que ainda raciocinando sobre o que ela estava fazendo. Me aproximei da cama e sentei na frente dela. Nora sorriu e estendeu a mão. Segui olhando bem nos olhos dela ainda provavelmente sem expressão. 

– Eu não vou mencionar o que quer que esteja acontecendo com você e o Max – falou ela com tranquilidade – Eu não entendo, mas não vou ficar perguntando "porque". E eu prometo que não conto ao papai e a mamãe.

– Nora...

– Adolescentes são tão estranhos – disse ela com uma careta. Eu suspirei abrindo esmalte e pincelando a unha dela.

– Você não tem ideia – disse.

– Eu também não gosto dela – falou Nora encarando nossas mãos – Se tiver algum plano pra se livrar da namorada lunática do Max conte comigo.

Eu sorri.

– Como eu te amo, maninha – não resisti em dizer.