1. Spirit Fanfics >
  2. Snowman >
  3. Capítulo Único - Cenouras

História Snowman - Capítulo Único - Cenouras


Escrita por: nicmfs

Notas do Autor


Essa oneshot faz parte de um projeto/concurso da Akise(<3), além de ser minha primeira.
Boa leitura.

Capítulo 1 - Capítulo Único - Cenouras


- Cenouras -

O clima gélido coincidia com a estação da época. Era inverno, o que dividia opiniões entre amá-lo ou odiá-lo, entretanto, sempre com suas paisagens singulares e exuberantes.

As ruas desertas faziam os comércios e casas da vizinhança parecerem obras esculpidas em gelo, por conta da neve acumulada e as águas que se solidificavam em calhas e na umidade dos materiais que se consistiam as construções.

Os carros apareciam esporadicamente pelas ruas singelas, e as pessoas apenas saiam do conforto de suas casas para cumprir necessidades básicas; compras semanais, pagamento de contas atrasadas, coisas ligadas a problemas pessoais, ou quando suas crianças queriam aproveitar a candura, invernia, e principalmente os cristais de gelo.

Numa das vielas logo antes da praça central, em um estabelecimento mercantil, as mercadorias estavam em falta, o que fazia a lei de oferta e procura entrar em vigor, ocasionando custos dispendiosos. Lá se encontrava um garoto, olhando as prateleiras de madeira sujas com migalhas de alpiste, procurando o produto que queria comprar.

Ele fora obrigado a amadurecer precocemente por seus irresponsáveis pais, que o obrigavam a mendigar e pedir esmolas pela cidade.

Apesar disso, ele conseguia frequentar a escola, graças à insistência de sua avó. A única pela qual tinha motivo para tentar ser alguém na vida.

Motivo que morreu juntamente com ela, há duas semanas.

Todavia, não pararia de estudar. Via como uma desistência de sua parte. E isso não faria sua adorada avó se orgulhar.

Se desistisse, todas aquelas manhãs em que a mais velha acordava mais cedo, fazia um chá de hortelã e pães de queijo módicos, encantadores para o olfato e paladar, a fim de ensinar ao neto os princípios básicos de lecionar, seriam inúteis.

Graças aos livros de literatura infantil que ganhava de bibliotecas vizinhas, que só eram dados ao garoto porque seriam descartados, ele mostrou apreço a leitura. Logo, dizia a todos que seria um escritor famoso.

Entretanto, assim como toda criança, ele tinha dificuldades para decidir a profissão futura, e quando lhe perguntavam “o que você vai ser quando crescer”, ele apenas respondia “feliz”.

Com os trocados que recebia, ele comprava sua comida. Os pais o obrigavam a fazer isso, como uma forma de trabalho infantil, porém para a própria auto-subsistência do menino.

E ali estava ele. Negociando uma mercadoria. Coisa que já fazia parte de sua rotina semanal.

Na maioria dos casos, ele ganhava as discussões por insistência e por apelo ao humanismo, porém nem todos tinham o princípio da benevolência.

Apesar das atribulações, ele se considerava satisfeito com a vida. A inocência imberbe escondia a calamidade.

Erros são omitidos pela ingenuidade.

Com os sapatos gastos pelo tempo, ele apressou-se a sair daquele local, segurando uma sacola plástica em mãos. Mais cedo, a previsão do tempo anunciava uma forte geada na cidade, e o clima denunciava sinais para isso.

Por sorte, a residência em que o menino morava não era tão distante dali. Ele poderia fazer um cálculo mental medindo a distância aproximada, mas não se lembrava da diferença entre quarteirão e quadra.

Os passos na calçada coberta pela neve ficavam marcados, e era possível ver alguns ramos de um tipo de vegetação gramínea, revestidas pelos flocos brancos e gelados.

Gargalhadas se misturavam com o som da brisa do vento e com o canto de alguns pássaros invernais.

O garoto caminhava de cabeça baixa até sua casa, apreciando a beleza daquela estação, prestando o máximo de atenção possível na sacola, para que não fizesse movimentos muito bruscos, o que comprometeria a qualidade do produto.

Ele gostaria de se agachar e fazer uma bola de neve, assim como toda criança de sua idade, apenas por diversão, porém não haveria um alvo para acertar. Seu amigo imaginário não estava presente no momento.

De súbito, algo acertou-lhe no rosto, dando uma sensação álgida. A densidade da matéria que havia o acertado era macia, e um tanto maleável: uma bola de neve.

Olhou na direção em que aquilo lhe foi lançado e avistou um garotinho com um semblante espantado, provavelmente com medo de que fosse repreendido. Ele usava uma touca que combinava perfeitamente com o cachecol em seu pescoço, porém estava sem luvas. Ele provavelmente havia as tirado, já que o par estava ao lado de seus joelhos. Suas bochechas estavam coradas pelo frio, assim como a ponta do nariz. ­

– Desculpa... -ele disse, praticamente gaguejando- Foi sem querer.

Pelo tom de voz do garoto, parecia que ele estava com medo de que fosse apanhar, ou algo do tipo.

Calma, eu não vou te bater - o outro respondeu e sorriu aprazível, fazendo a respiração do garotinho ficar serena, e ele se acalmar-. 

Na fachada da casa a sua frente, flores de diversas cores estavam plantadas em vasos de barro, enfeitando a janela que dava visão a cozinha. A porta era feita de madeira, esculpida com formas circulares e quadradas. A cor com que as paredes foram pintadas eram em variantes de azul, e com algumas falhas, que davam vista aos tijolos que compunham sua estrutura. E claro, o branco tornava tudo mais formoso.

– O que é isso?

Ele apontava para a sacola, querendo saber o que era aquilo dentro dela. O pequeno garoto era curioso, e assim como toda criança, gostava de fazer várias perguntas.

– Cenouras...

Ao ouvir a resposta de sua pergunta, abriu um largo sorriso. Era como se estivesse esperando por aquilo.

– Cenouras? São mesmo cenouras? Você não está mentindo, está?

– Claro que não. Por que eu mentiria?

E num ímpeto, ele tomou a sacola das mãos do dono, correndo em direção a um amontoado de neve, parecido com dois círculos assimétricos.  Tal aglomerado não havia sido notado antes.

Antes que tomasse sua posse, a curiosidade o fez caminhar para poder melhor observar o que o outro fazia.

– Você trouxe... -o pequeno dizia- Você trouxe o nariz do meu boneco de neve.

Aquilo que antes era um monte de neve, agora fazia perfeito sentido. Era um boneco de neve. Não tinha culpa, ele nunca havia feito um antes, apesar de sempre viver em locais com neve. Seus pais nunca tomariam seus preciosos tempos para brincar, dar carinho ou afetividade ao filho.

Além da neve, havia botões pretos ou coloridos e gravetos, formando olhos, camisa e membros do autómato.

A cenoura fora colocada no rosto da figura, formando uma forma de nariz grande e laranja.

Logo que ajeitou a planta na face do boneco, o garoto levantou e abraçou o outro fortemente, que ficou sem reação.

– Obrigado... Muito, muito obrigado.

Com o amplexo, era possível sentir o aroma suave que emanavam uma doçura agradável vinda dos cabelos castanhos extremamente escuros do pequeno, cobertos pela touca de lã.

– Falta alguma coisa...

O maior encerrou o abraço e olhou para os lados, como se procurasse por alguma coisa.

– Ah, já sei - ele pegou a ponta desfiada do cachecol e desenrolou do pescoço do garotinho-.

Sem entender, o pequeno observava atentamente as ações do outro.

O cachecol fora posto no boneco de neve, combinando perfeitamente com tudo.

– Ele estava com frio... –encerrou-.

Gargalhadas foram ouvidas de ambos, que se divertiram pelo comentário contrastante.

A sacola ainda contava com algumas cenouras, que haviam escorregado para fora do plástico.

– Tive uma ideia -o pequeno exclamou- Você gosta de sopa?

Ele contava ansiosamente por um sim. Na verdade, não seria aceito um não como resposta.

– Sim, sim. Eu adoro sopa.

– Então você vai provar a melhor sopa de cenouras do mundo, feita pela minha mamãe.

E correu para dentro de sua casa, sem antes pegar as plantas laranja. Todavia, interrompeu seu trajeto já na porta de sua casa.

– Qual seu nome?

– Rafael. E o seu?

– Tarik –respondeu sorridente- Vou deixar a porta aberta, quando quiser é só entrar.

E assim o garoto desapareceu da porta, acenando pela janela da fachada.

Rafael sorria. Depois da mudança, aquele fora a única pessoa que o tratara com afeto.

A geada que antes era fraca começou a ficar mais forte, mas ele não se importava. Apenas pensava na gentileza e simpatia de Tarik.

Um barulho de buzina fora tocado repetidas vezes, mas ele estava distraído demais para notar o carro que se aproximava rapidamente.


Notas Finais


Eu levei muito tempo pra fazer, mas acredito que tenha valido a pena.
Twitter da Akise: https://twitter.com/dontbits
Meu twitter: https://twitter.com/lightskay


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...