História Am i the only one with butterflies? - Único; Se for com você

A noite estava especialmente fria naquele dia, e o relógio de Richie tinha acabo de marcar às 23:00 em ponto.

Não era nada de muito novo para ele estar acordado nesse horário. Para ele era bastante corriqueiro passar noites em claro, afinal, sua insônia não permitiria que adormecesse. Além de que Richie realmente não tinha planos de dormir aquela noite.

Naquela noite, iria visitar Eddie, mesmo sem ter convite. 

Tinha em mente que precisava finalmente declarar-se para o garoto. Toda aquela demora e enrolação já estava passando um pouco dos limites.

Só penteou seus cabelos de qualquer jeito e pôs sua camiseta florida habitual. Calçou o primeiro par de chinelos que achou e pulou de sua janela, arrastando-se pelo telhado de casa com cuidado para não fazer muito barulho.

Olhou para os lados, tendo a certeza de que sua mãe não estava o observando sorrateiramente por sua janela, ou até mesmo Abigail, aquela vizinha fofoqueira e intrometida. Tozier a odiava. Ela vivia cuidando de coisas que não lhe diziam respeito.

Quando assegurou-se de que tudo estava limpo, pegou impulso e subiu em sua bicicleta, indo caminho a casa de seu amigo.

Era certo de que estava ansioso com aquela situação, e não era pra menos, afinal, confessaria seus sentimentos, e esse tipo de coisa não é assim tão fácil de se fazer, pelo menos não para o tipo de pessoa que Richie era. Tinha todo um discurso elaborado em sua cabeça, mas até a metade do caminho não se lembrava nem mais de seu nome.

Ao longe avistou a casa do Kaspbrak. E era óbvio que todas as luzes da casa estavam todas apagadas. Eddie dormia cedo todos os dias, já que a Sra K nunca permitiria que o garoto ficasse acordado num horário daqueles, o que Richie achava um exagero. Na cabeça dele, onze horas da noite ainda era extremamente cedo.

Jogou sua bicicleta em qualquer canto da grama, e respirou fundo, sentindo seu coração quase saltar pra fora de tanto nervosismo que sentia. Suas mãos tremiam e seu ar parecia ter simplismente sumido num passe de mágica. Os únicos momentos em que sentia aflito assim era quando estava perto de Eddie, e agora se sentia desse mesmo jeito pois seria esse o dia que diria em voz alta sobre tudo que sentia. Tinha medo da reação de Eddie, o garoto nunca havia demonstrado devolver os sentimentos de Tozier, e por isso estava tão apreensivo.

Na verdade, ele não fazia ideia do porque de toda essa pressa em se confessar. Não era como se achasse que fosse ser retribuído, afinal.

"Respire fundo Richie!", ele pensou consigo mesmo, apertando seus punhos. "Vai dar certo."

Tentando ter coragem, ele suspirou com o estômago bagunçado e pegou a primeira pedra que achou pelo chão. Sem pensar duas vezes, atirou a pedra na janela fechada, causando um estrondo pouco alto. Eddie apareceu na mesma janela logo depois. Sua feição sonolenta e o cabelo apontando para todos os lados entregava que estava dormindo há poucos segundos atrás.

Quando o garoto notou o de óculos ali, suas maçãs esquentaram com irritação. O que Richie estava fazendo parado na frente da sua janela em um horário daqueles? Por Deus, ele tinha mais o que fazer.

— Vai me deixar entrar não? — Richie questionou com um sorriso torto, se aproximando da janela que era alta demais para pular. — Sua mamãezinha não te ensinou bons modos hein, Eds? Tem que ser gentil com as visitas.

Richie até tentava ser legal, às vezes, mas tudo que saía de sua boca suja eram insultos e palavrões. Agora entendia porque a mãe de Eddie o odiava tanto e não gostava de sua amizade com Eds. Fazia sentido.

— Que que você tá fazendo aqui Richie?! –Kaspbrak questionou meio alterado num sussurro exasperado. — São quase meia noite, vai embora!

— Me deixa entrar que eu te falo o que vim fazer. — Tozier sorriu divertido e Eddie revirou os olhos, irritado.

Finalmente, ele suspirou num resmungo baixo, xingando, e se deu por vencido, ajudando o boca suja a subir pela janela.

Com os dois dentro do quarto, e a janela devidamente trancada, Richie se sentiu ainda mais nervoso. Parecia que estava hiperventilando.

Agora era a hora! Mas como começar a dizer a seu melhor amigo que estava apaixonado por ele desde que se descobriu gay? 

— E então..? — Eddie perguntou, curioso, olhando a todo instante o rosto contraído pelo nervosismo de Richie. Sabia que tinha algo de errado, mas não fazia ideia do que poderia ser.

— Então... — Remexeu suas mãos nervosamente, tentando encontrar palavras para expressar o que sentia. Ele não fazia ideia de como começar.

Foram mais que 5 minutos naquela mesma coisa. Gaguejos e resmungos inaudíveis. Richie realmente não sabia como dizer aquilo. Devia ter anotado num papel... Agora era tarde demais para se reprimir por isso. Era agora ou nunca.

— Eu meio que gosto... — Tozier encarou seu próprio colo, sentindo seu rosto quase derreter de tanto que suava. Ele não estava nada preparado.

— Gosta da Beverly? — Eddie tentou adivinhar. Chutou na primeira garota que veio a sua mente, ele nem sonhava que, na verdade, Tozier gostava de garotos. De um em específico.

— Puta que pariu Eddie, e eu achei que você não pudesse ser mais estúpido! — Praguejou em voz alta, sentindo se mais e mais nervoso. Eddie não estava ajudando insinuando que Richie gostava de Beverly. 

— Mas o que que eu—

De repente sua fala foi cortada por um gosto de menta, misturado com cigarro adentrando sua boca, e ele ficou imóvel por alguns instantes, tentando assimilar o que estava acontecendo e porque ele se sentia tão estranho. Eram aqueles os lábios de Richie? Por quê ele estava o beijando? E por quê Eddie não o afastou no primeiro instante?

Ele não sabia como reagir.

Finalmente, Eddie o empurrou com força, respirando com dificuldade e se sentindo muito quente. Quando Richie o encarou, ele estava muito tenso e calado. Parecia arrependido. Era uma situação muito constrangedora.

— Você gosta... de mim? — Eddie sussurrou sob sua respiração, parecendo finalmente perceber. Era tudo tão estranho para ele. Um garoto gostando de outro garoto? Não pareceu assim tão errado quando Richie o beijou, honestamente. Se ele fosse ser sincero consigo mesmo, aquele beijo o deixou extasiado e o fez sentir bem, bem de um jeito que nunca havia se sentido na vida, nem quando beijou Penny. Mas ainda sentia-se tão estúpido por nunca ter notado nada antes. Como pôde ser tão cego?

Richie não se atreveu a mexer um músculo sequer. Ainda estava tentando processar o acontecido para conseguir pensar em reformular alguma frase coerente para responder o garoto a sua frente. Ele simplesmente surtou e beijou Eddie sem ao menos pensar nas consequências. Foi uma estupidez completa.

— Richie? — Eddie chamou com a voz falha.

— Ah, hm? — Ele pareceu voltar a si, dando-se conta de que ainda estava junto a Eddie.

— Gosta mesmo de mim...? — Eddie olhou em seus olhos, com o rosto rubro e a garganta prestes a fechar. — Tipo... De verdade mesmo?

— Ah, Eds... Eu amo você — revelou com uma coragem que não sabia de onde tinha vindo. — Você... por acaso... gosta de mim também? – questionou, inseguro. Tinha essa sensação sufocante em seus ossos de que seria rejeitado.

— Eu... — Encarou suas meias com imenso interesse, gaguejando devido a tanto nervosismo. Ele amava Richie? Amar era uma palavra muito forte em sua cabeça. Sabia que amava sua mãe, mas... Richie? Não fazia ideia. — Não sei.

Essa, com certeza, não era a resposta que Tozier esperava receber. Achou que levaria um não, mas um "não sei" talvez fosse algo. Era quase como um mais ou menos, certo?

— Não sabe? — Richie franziu o cenho, confuso.

— Eu gosto de você. Muito. — Conseguiu sorrir pequeno, tomando liberdade de juntar suas mãos com as do moreno alto, entrelaçando-as. Richie piscou aturdido com o movimento inesperado. — Mas, eu não sei. Eu nunca estive em um relacionamento de verdade, Richie. Só sei que eu tenho sentimentos a mais por você. Sentimentos que eu não tenho por qualquer amigo, entende?

O garoto de óculos se sentiu emocionado. Nunca em toda sua vida imaginaria que Eddie devolveria seus sentimentos. Mesmo que não fossem na mesma intensidade, saber que ele tinha sentimentos a mais por si, confortava seu coração de um jeito maravilhoso. Então aquela era a sensação de se sentir amado.

Ele nunca achou que fosse tão bom.

— Nós... podemos tentar algo se você quiser, Eds. — O moreno sorriu de canto, sentindo seu coração quentinho dentro do próprio peito.

— Eu quero... — Quebrou a distância que tinha entre eles e o beijou de um modo carinhoso, segurando seu rosto entre suas duas mãos, sentindo seu batimento cardíaco acelerado. — Quero tentar se for com você, Richie.

Richie sorriu.