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História Sob a constelação de virgem - JINKOOK (ABO) - Persona


Escrita por: meuoppa1

Notas do Autor


Olá pessoas lindas e maravilhosas. Aqui estou eu novamente com outra fic JINKOOK. E por que? Porque eu estou finalizando Withering Garden e porque eu amo meus bebes e também porque escrever uma ABO é um desafio e eu queria muito poder desenvolver uma fic desse genero à minha maneira.
E também foi uma promessa que eu precisava cumprir. Deixo aqui meu agradecimento a @LizieSmile pela ajuda, pelo apoio e incentivo de sempre. Muito Obrigada, tu sabe que eu te amo né?

Um outro pedido muito sincero, porque essa fic despertou em mim sentimentos profundos e eu mal comecei, mas já vou postar dois capitulos, porque se tornou uma necessidade, então peço, que se qualquer coisa aqui ofenda vocês ou qualquer pessoa, que vocês me falem, saibam que minha intenção nunca será ofender e estou sempre aberta a criticas, estou sempre aberta a ouvir todos.

E lembrando que isso aqui é uma fic, não tem nenhuma relação com a realidade.

Enfim, se alguém ler, espero que goste.

DESCULPEM OS ERROS!
BOA LEITURA!

Capítulo 1 - Persona


Existem muitas maneiras de começar uma história, o famoso “era uma vez” para um conto de fadas, ou como os mais velhos costumam fazer ao mencionar “na minha época”, de forma tão sonhadora, mas não importa exatamente como uma história começa a ser contada, mas sim como ela é construída, o que é contada, como é contada e principalmente, o que é omitido propositalmente, porque todos sabem que sempre existe algo encoberto, uma peça faltando no enorme e complicado quebra cabeça da vida.

Para Jungkook, contar sua história é como pedir que ele faça um teste de matemática sem nunca ter assistido uma única aula, sem nunca ter estudado as equações mais básicas. É impossível contar o que ele não sabe, ou as poucas informações que ele ouviu ao longo dos anos.

É por isso que ele está sentado diante do médico, com as mãos trêmulas e os olhos quase saltando do rosto enquanto sua boca abre e fecha em busca de uma resposta.

­ ­­― Senhor Jeon, o hospital em que nasceu? O médico insiste segurando uma prancheta na mão onde anota as informações do paciente. — Senhor Jeon? O senhor está bem?

— Oh, sim... claro me perdoe. E-eu... Jungkook respira fundo e tenta um sorriso para acalmar os próprios nervos. —E-eu nasci no hospital principal de Busan.

— Obrigado e me perdoe por tantas perguntas, é apenas para eu cumprir protocolo.

— Eu entendo. Jungkook levanta-se pensativo, se despede curvando-se e sai do consultório. Ele já deveria ter se acostumado a seguir esses protocolos, a responder as perguntas com as mesmas respostas incertas: Eu sou Jeon Jungkook, filho Jung HanJun, general aposentado do exército coreano e Jung Minsuk, médico aposentado do exército coreano, eu sou um beta, apresentado aos dezesseis anos, faço parte do exército como Capitão, tenho um irmão mais velho chamado Jung Hoseok que é capitão na aeronáutica.

Jungkook sorri para si mesmo ao lembrar de Hoseok, porque seu irmão mais velho decidiu ir para aeronáutica acreditando piamente que de alguma forma os soldados estudariam as estrelas e o espaço, mesmo que seus pais insistissem em lhe dizer que isso não acontecia. Foi triste ver a decepção dele ao ver que todos estavam certos, no entanto, Hoseok permaneceu aeronáutica e fez astronomia e astrologia paralelamente como um hobby.

Jungkook não mente sobre ser irmão de Hoseok, porque ele é, ser um filho adotivo não faz dele menos filho e ele percebeu isso há muito tempo, quando recebia o mesmo carinho que Hoseok recebia e os mesmos puxões de orelha.

Mas Jungkook não é um beta, ele não sabe em que hospital nasceu, ele não faz ideia se seu sobrenome é realmente Jeon e embora seus pais tenham explicado que mantiveram o sobrenome que estava na carta deixada com ele, para que se um dia seus pais biológicos decidissem procurá-lo encontrá-lo com mais facilidade, ele não entende. Ele é feliz com a família que tem e não se imagina tendo outra.

Jungkook não sente que precisa perdoar alguém, ele não sente ódio ou mágoa, ele sequer se pergunta por que foi abandonado. Não importa o motivo pelo qual ele foi deixado para trás, ele encontrou em sua família adotiva tudo que ele poderia sonhar e muito mais.

Ele sabe que as pessoas se questionam a diferença de sobrenomes, mas são muito educadas para externalizar e ele não se apressa em fechar essa lacuna que existe na sua história.

As pessoas não deveriam se importar com isso afinal, não é da conta delas.

— Bom dia. Ele sorri pequeno ao abrir a porta do carro. — De novo.

— Por que você parece triste?

— Bem... é cansativo ter medo, Hobi. Ele ergue os ombros, passa o cinto pelo peito e finalmente encara adequadamente o mais velho.

— Não tem como descobrirem que você é um ômega. Hoseok tenta confortá-lo, mas sua voz o trai com a forma trêmula que ele pronuncia as palavras e Jungkook ri para si mesmo. — Você teve que fazer exame de sangue? Ele pergunta um pouco hesitante.

— Não, apenas verifiquei meu ouvido, mas é assustador. Eu não posso sentir o cheiro, eu não tenho os sentimentos que eu deveria ter, eu nem sei que cheiro eu tenho. Jungkook se altera um pouco, a mão batendo com força na porta.

Hoseok gostaria de falar que está tudo bem, que ninguém nunca vai descobrir que Jungkook na verdade não é um beta. Ele não é o tipo que faz falsas promessas, embora ele acredite muito que pensamentos positivos possam mudar as situações futuras, ele mantém seus pés firmes no chão, principalmente com Jungkook.

Ele ainda era muito pequeno quando seus pais decidiram adotar Jeon, mas ele tem memórias de seus pais indo e vindo com a criança chorando sem parar em seus braços, a faixa enrolada em torno da cabeça cobrindo os ouvidos que foram operados.

Poderia ter sido difícil para o pequeno Hoseok entender o porquê seus pais estavam dando tanta atenção a uma criança que não era ele, mas ele já entendia que Jungkook poderia ter algum problema e quando ele perguntava calmamente por que a criança chorava tanto, apenas ouvia que tudo ia ficar bem, e ele pode dizer que seus pais não mentiram. Jungkook parou de chorar com tanta frequência, com o passar dos anos ele ainda era muito quieto comparado ao ânimo radiante de Hoseok, mas eles se deram bem, Hoseok gostava de cuidar do pequeno, de apreciar a sua evolução, de saber que ele fazia Jeon sorrir e rir. Uma risada muito gostosa se alguém perguntar ao Jung. Eles se tornaram os melhores amigos um do outro, dormindo enrolados como se fossem filhotes, mesmo depois de adultos.

Quando Hoseok se apresentou como um alfa aos dezesseis anos, ele teve medo de ser alguém autoritário, que de alguma forma a natureza primitiva de seu lobo, atrapalhasse o relacionamento deles, mas isso nunca aconteceu.

Já se sabia por muitos estudos realizados por longos anos que os lobos aos poucos estavam ficando adormecidos, como se a parte humana já não precisasse mais deles. A sociedade lenta e gradativamente estava se adaptando a nova realidade. As transformações de humanos para lobos se tornaram raras, o cheiro de ômegas não estava transformando alfas em seres totalmente irracionais, e ômegas e alfas não tinham mais cios malucos, ou sequer tinham cios.

Ainda existia a hierarquia dos subgêneros e a resistência de grande parte da sociedade em aceitar que tudo estava mudando. Segundo estudiosos, em três mil anos os subgêneros deixariam de existir completamente.

Jungkook não pode viver três mil anos para que a sociedade o aceite.

Ômegas poderiam ocupar grandes cargos na sociedade desde que jamais negassem seguir suas ‘obrigações’ com a natureza como gerar filhos: A principal responsabilidade dos ômegas e mulheres na sociedade.

Eles também não poderiam fazer parte da polícia ou do exército uma vez que alfas ainda possuíam voz de comando sobre eles, então esses postos que exigiam correr risco pela sociedade, foi designado apenas para Betas e Alfas.

Ômega... Jungkook sussurra para si mesmo e balança a cabeça em negativo, mordendo os lábios com força, ele tenta segurar o máximo que pode as lágrimas em seus olhos. — E-eu... eu nem posso me considerar um ômega.

— Jungkook... Hoseok respira, o que ele pode dizer? Ele não sabe. Ele mal soube processar o que tinha acontecido realmente com Jungkook.

— Vamos para casa, eu ganhei o dia de folga. Jungkook consegue dizer, a voz embargada e o rosto vermelho em sua tentativa de não chorar mais por isso.

Quando ele completou dezesseis anos ele estava eufórico para saber qual seria seu subgênero. Ele sempre foi muito curioso, sempre quis saber como era sentir o cheiro, como era saber se uma pessoa estava feliz ou triste apenas pelo cheiro que transmitia, ele queria saber seu próprio cheiro, sentir a parte lupina dele ganhar vida além das histórias que lhe contavam. Sentir os feromônios de seu futuro companheiro, ou liberar os seus para ele, mas isso se tornou um sonho impossível agora.

Ele imaginou que seria difícil, que teria febre e dor no corpo, ele imaginou que poderia entrar em um cio ou ficar muito revoltado com todo mundo. O que ele não imaginou é que um zumbido ensurdecedor o faria sentir tanta dor de cabeça aponto de ele cair no chão, que seu corpo ficaria tão quente como se ele estivesse pegando fogo e que ele desmaiaria e acordaria cinco dias depois em uma cama de hospital, sentindo apenas o cheiro éter no ar.

— Então, você tem cheiro de éter? Foi a primeira coisa que ele perguntou ao seu pai que é médico, que tristemente balançou a cabeça em negativo. — Meu cheiro é de éter? Ele fez careta, não querendo acreditar que ansiou tanto para simplesmente cheirar como um hospital. — O que eu sou?

— Você... você é um ômega. Minsuk sorriu, mas não havia brilho em seus olhos.

— Oh...um ômega. Jungkook disse surpreso. — Oh meu deus eu poderei ter filhotes como você teve? Ele diz pensativo e eufórico.

No momento ele pensou que a reação de seu pai fosse de alegria, que o choro era porque ele poderia dar netos gerados em si a eles, encher a casa de filhotes quando encontrasse um alfa ou beta como companheiro, mas o pensamento logo sumiu quando o homem a quem ele viu sempre ser tão forte se debruçar sobre ele e soluçar de tanto chorar. Chorar de tristeza, e ele não precisava sentir o cheiro azedo que seu pai estava transmitindo para saber disso.

Jungkook entrou em pânico sabendo que algo estava errado, ele enfiou o nariz nos cabelos do seu pai, mas só tinha o cheiro de xampu, o pescoço cheirava a sabonete e levemente a creme pós barba e até mesmo betas podem sentir cheiro dos lobos, mas ele não estava sentindo absolutamente nada além do que é humanamente possível. Estava tudo como antes.

— O- o que há de errado comigo? Ele perguntou o mais calmo possível e seu pai se recompôs como pode, sentando a beira da cama e segurando suas mãos.

— Nunca se esqueça que não importa nada disso, nós amamos você, nós somos uma família e cuidamos uns dos outros e...

— O que há de errado comigo? Ele repetiu pausadamente interrompendo o mais velho.

— Você... você... é um ômega, mas...

— P-pai?

—Seu corpo não se transformou como os corpos de um alfa e de um ômega fazem, e até betas, você... você não desenvolveu... nenhuma característica lupina. O homem respirou fundo controlando suas próprias emoções.

— Então como... como eu sou um ômega? Jungkook perguntou sentindo que sua vida não seria mais a mesma, mesmo que ele continuasse sendo o mesmo.

—Bem, você só apresentou os genes de ômega, os exames de sangue mostraram isso. Kookie... talvez quando você encontrar seu companheiro ou companheira, seu ômega se apresente, quero dizer, é uma possibilidade, ele pode trazê-lo para fora... ele pode...

— V-você sabe que não.  Jungkook disse chorando, um buraco parecia estar se abrindo em seu peito e o chão sendo tirado completamente debaixo dele. — Ninguém vai acreditar que eu sou um ômega e-e... quando eu disser que não posso gerar filhos e quando descobrirem que eu não posso sentir cheiro, ou... ninguém vai me aceitar... ninguém realmente... é impossível... Jungkook entrou em pânico repetindo palavras desconexas, mas muito bem compreendida por seu pai.

 A sociedade cobra que um ômega cumpra com suas obrigações de ômega, não importa se eles não podem, porque segundo eles se a própria natureza que os transforma em ômega os impede de gerar é porque não são dignos de serem aceitos, no caso de Jungkook, ele é praticamente o primeiro humano sem lobo, ele não quer ser o palco para isso, ele não quer ser estudado, ele não quer ser cobaia ou conhecido como o início do fim.

Ele pensa sobre isso durante todo o percurso a sua casa, ele sabe que Hoseok o verifica, mas não diz nada, o deixando com seus próprios pensamentos, não há nada que possa ser dito, nada que possa mudar o fato que ele é um humano. Apenas um humano.

Os anos lhe ensinaram a se adaptar, mas nunca foi fácil.  Por causa de seu pai médico ele pode colocar em sua identificação que é um Beta, por causa de seu pai general ele conseguiu burlar o sistema para que seu exame de sangue fosse alterado e ele conseguisse ingressar no exército, não é algo do qual ele se orgulha, mas foi necessário se ele quisesse ter uma vida normal e seus pais não negaram isso a ele. Eles também precisaram pagar e continuam pagando pelo silêncio dos médicos que atenderam Jeon naquela época e que ainda o atendem para exames mais detalhados que exigem a verificação direta em seu sangue.

—Ei... Hoseok o chama. — Quer que eu entre e te faça companhia? Ele tira Jeon de seus pensamentos mostrando que já chegaram.

— Não... Jungkook resmunga. — Não quero ouvir você falando do meu cubículo.

— Eu só falo porque você tem condições de pagar por um lugar maior.

— Não tem por que eu ter algo maior, sou apenas eu...

— E Sun. Hoseok revira os olhos.

— Sim e Sun, estamos confortáveis aqui, obrigado.

— Teimoso, mas vou discutir sobre isso novamente em outro momento.

— Eu sei... diga a Namjoon hyung que mandei um abraço. Jungkook remove o cinto de segurança e abre a porta.

— Diga a Sun que eu mandei um abraço. Hoseok diz em tom de deboche.

— Eu direi...

— Ele me odeia, Jungkook. O mais velho resmunga fazendo Jeon gargalhar.

— Em compensação seu namorado me ama. Ele mexe as sobrancelhas sugestivamente.

— Isso é tão injusto.

— Coisas da vida. Jungkook cantarola sorrindo e fecha a porta, deixando o Jung sozinho em sua falsa indignação.

— Ei, te vejo amanhã bem cedo? Hoseok grita, fazendo Jeon parar e encará-lo confuso. — O novo general se apresentará, lembra?

— Oh que merda! Jungkook fez careta.

— Sim, seis horas da manhã.

— O que esses velhos têm na cabeça em nos querer acordados tão cedo?

—Nosso pai é general também, Jungkook. Hoseok diz em tom de aviso.

— O que esses velhos têm na cabeça em nos querer acordados tão cedo? Jungkook repete arrancando uma risada escandalosa do irmão e rindo junto a ele.

— Que eles não te ouçam, mas eu não sei, alguns representantes da marinha e aeronáutica foram convidados, inclusive eu, ele deve ser algum figurão importante, já que eu sou convidado de honra...

— Cale a boca. Jungkook ri. — Eu vou embora.

— Eu te amo.

— Eu te amo mais. Jungkook diz já caminhando para dentro do prédio. — Não precisa me buscar.

— Ok. Hoseok grita de volta e sorrindo para si mesmo, orgulhoso de seu irmão estar superando dia após dia, durante dez anos, o fato de que ele é apenas um humano, nada além disso.

O caminho até seu pequeno apartamento é rápido, o porteiro apenas o cumprimenta com o mesmo olhar de medo de sempre, porque Jeon é um militar e grande parte das pessoas parecem temê-los irracionalmente.

Como Hoseok disse, Jungkook mora em um cubículo, não no sentido figurado. O lugar tem cerca de três metros quadrados e a sorte de Jungkook é que tem duas janelas e não uma como a maioria dos apartamentos pequenos costumam ter.

Ao abrir a porta ele logo é saudado por uma pequena bola de pelos pretos passeando manhosamente entre suas pernas.

— Ei Sun, Hobi te mandou um abraço. Ele sorri para o bichano, que se afasta imediatamente à menção do nome do mais velho. — Ele é legal, você sabe.

Sun simplesmente o ignora, deitando-se em sua cama e se enrolando em seu próprio corpo, Jungkook acredita que o gato tem ciúmes de seu irmão. Não que alguém acredite nele.

Literalmente tudo em seu pequeno apartamento está ao alcance de suas mãos, facilidade que ele usa como desculpa para nunca ir para um lugar maior.

Em seu apartamento ele se sente seguro e quente, como se estivesse envolvido pelos braços amáveis de seus pais sempre que ele tinha um sonho ruim, sempre que ele chorava quando lembrava a situação que a vida lhe colocou, sempre que ele estava tão feliz que queria compartilhar toda a sua felicidade através de um abraço, afinal, ele não poderia expressar isso através de cheiros como o mundo todo estava acostumado a fazer.

 Então em seu lugar ele sente como se estivesse sendo abraçado o tempo todo, a sensação é incrível.

Ele sequer comprou uma cama adequada usando um colchão no chão, onde Sun às vezes se aninha ao seu lado, ignorando a cama cheia de estampas de peixes que ele comprou.

Jungkook se joga em seu colchão e fica um bom tempo encarando o teto que está decorado com pequenas estrelas, presente de Hoseok, que fez questão de colocar a constelação de virgem ali, signo ao qual Jeon pertence, mesmo que ele não saiba com certeza se setembro é seu aniversário. Segundo seus pais, na carta que ele nunca fez questão de ler, contém essas informações sobre ele.

No dia em que ele e Hoseok se mudaram para Seul para fazer parte do CMS – Comando Militar de Seul, altamente recomendados pelo CMB – Comando Militar de Busan, depois de Jungkook ter gritado em alto bom som que não era um ser frágil e incapaz, como seu pai insinuou, ele e Hoseok se enrolaram um no outro como sempre costumam fazer, e ficaram observando no escuro as estrelas brilhantes coladas no teto. Hoseok contou ao mais novo as lendas que cercavam a história de Virgem, as constelações que as formavam, seus vizinhos no céu, em como ela representava a beleza e a fertilidade. O Jung já tinha contado a ele essa mesma história antes, mas Jeon não o interrompeu ouvindo atentamente mais uma vez, mesmo que ele ache tudo uma grande merda, uma piada de mal gosto que o destino fez com ele, se fosse tudo real. Ele nunca ousou falar a Hoseok absolutamente nada de como se sentia, como tudo isso o fazia pensar em quão insignificante ele era até para as estrelas, porque ele não se acha no direito de tirar o brilho nos olhos que seu irmão tem toda a vez que fala sobre isso.

Hoseok por sua vez, decidiu morar com seu namorado, que implorou que Jungkook se juntasse a eles em seu apartamento, mas o convite foi veementemente recusado. Jungkook realmente não queria atrapalhar a privacidade do casal e mesmo que não tenha ciúmes, ele também não quer ficar presenciando tão de perto novamente, algo que ele mesmo nunca vai experimentar.

Sun parece entender sua tristeza e se aninha em seu braço, ronronando baixinho, coisa que Jungkook ama e o gato está sempre disposto a oferecer.

—Obrigado por ser minha companhia. Ele respira fundo, se encolhendo, ignorando que ele não tirou a roupa que estava quando foi ao hospital, ignorado que ele está com fome, porque tudo que tem em sua cabeça toda vez que ele precisa ir ao hospital, é como ele nunca vai ter uma casa maior e com filhotes, é como ele nunca vai sentir o cheiro de seu companheiro, que não haverá ninguém esperando por ele para perguntar como foi o dia, como estão seus pais, se ele não se arrepende do que disse a eles antes de sair de Busan, se seu irmão e Namjoon já se casaram,  se Sun precisa de um companheiro também, se as compras do mês foram suficientes, quando eles vão ter férias. Não haverá ninguém para ele brigar, nenhuma criança para ele ensinar, ninguém que o veja como herói por fazer parte do exército.

Ele adormece assim e acorda na manhã seguinte com o habitual zumbido em seu ouvido, está mais forte que o normal, então ele sabe que é dia de ter que usar um aparelho auditivo, porque ele pode ter uma rápida perda de audição em algum momento do dia. Os médicos nunca deram um diagnóstico específico para o que ele tem, nunca afirmaram nada sobre uma perda total de audição, ele sabe que quando criança ele teve excesso de líquidos em ambos os ouvidos, algo que uma cirurgia corrigiu, talvez sejam sequelas que os médicos nunca quiseram assumir e apenas pedem regularmente exames a ele, e é por isso que embora seja um capitão do exército ele não faz trabalhos de campo e se tornou responsável pela preparação física e defesa pessoal dos novatos. Ter sido ensinado desde criança sobre artes marciais e boxe, mesmo sob os protestos de seu pai ômega, teve suas vantagens.

No exército, ninguém ousou questionar sua capacidade, uma vez que Jungkook é filho de um respeitado general e ele se mostrou extremamente apto para isso, além de que a situação de seu ouvido se agravou em uma competição de boxe, e a culpa é um cupim que come lentamente seus superiores por terem insistido que ele participasse.

Ninguém culpou Jungkook pelo que aconteceu e ele teve uma desculpa para usar sobre alguns problemas que a falta de seu lado lupino representa.

Há males que vem para o bem, afinal.

Sua rotina pela manhã é dar ração com leite para Sun, encher um recipiente de cereal e deixar de molho no leite em cima da mesinha ao lado de seu notebook, enquanto ele toma banho, brigando internamente por pelo menos não ter uma banheiro maior, depois de secar tudo, porque seu banheiro não tem box e nem um chuveiro comum, ele se veste com sua farda militar, arruma seu cabelo curto, mas que está um pouco mais cumprido do que deveria e  depois come seu cereal muito mais macio rapidamente, faz um carinho em Sun, sentindo-se culpado por não dar tanta atenção a ele, mas se lembrando que meio dia ele volta para casa almoçar e pode dar a atenção que o bichano merece, e então corre para o CMS e consegue um café da manhã mais adequado.

Quando Jungkook chega na entrada do primeiro prédio da base de comando, que é onde os militares se reúnem para reuniões, para jantares especiais e cafés da manhã, pois sua estrutura foi construída especialmente para eventos e melhor comodidade diária de todos, Hoseok já está parado lá o esperando.

― Você está atrasado. Hoseok avisa.

― O café já foi servido?

― Por que diabos você acha que eu viria até aqui tomar café com você? Hoseok tenta manter a discrição enquanto puxa Jungkook pela manga os fazendo entrar. ― O general, Jungkook, o general vai se apresentar em dois minutos.

― Merda, merda, merda. Jungkook choraminga arrumando sua postura logo em seguida e se soltando de Hoseok, reverenciando seus camaradas conforme manda a constituição. Por sorte eles percebem que não são os únicos atrasados.

― Você deveria atender seu celular, sabe, eu liguei mais de vinte vezes.

― Hyung...

― Jungkook.... Hoseok respira fundo e puxa Jeon para a parede quando eles chegam na entrada de onde será realizada a apresentação do novo general. ― Eu ouvi de alguns militares que o novo geral tem o olfato apurado demais, ele não é um alfa lúpus, mas alguns disseram que não importa quantos remédios para ocultar sua natureza alguém tome, ele é capaz de identificar um alfa, ômega ou um beta, quando chega perto, porque o sangue tem cheiro.

―Hyung, e-eu... Jungkook arregala seus olhos em pânico.

― Vamos nos sentar no fundo, você não está sangrando, não estamos no campo de batalha, mas achei melhor você saber, depois precisamos falar com o papai, ver se é algum conhecido dele, ok?

―  Eu não quero...

― Eu sei, mas não temos escolha. Hoseok o interrompe, não é momento de discutir isso.

 Jungkook tenta manter a calma. Um alfa que pode sentir o cheiro de sangue e identificar o subgênero é uma novidade, ele nunca ouviu falar sobre isso, nem mesmos dos Alfas Lúpus que são muito mais primitivos e tem o faro mais apurado. Jungkook mentaliza que tudo bem, o alfa pode até beber o sangue dele, porque ele nem é um ômega de fato apresentado. DNAs não costumaram ter cheiro, não é?

Eles se sentam no lugar mais longe do pequeno palco montado no salão, mas mal se acomodam adequadamente quando o atual general entra acompanhado por outras pessoas que parecem ser importantes, inclusive políticos, e todos eles precisam prestar as devidas continências, elevando a mão direita até cabeça com a palma virada para baixo.

A demonstração de respeito, não é apenas ao homem que está usando um óculos de aviador, como se estivesse tentando fazer um remake de “Top Gun”, seus ombros incrivelmente largos, que todos no lugar tem certeza que seriam derrubados muito facilmente só com um pouco de força, os lábios carnudos e atraentes se movendo religiosamente ao som do hino nacional.  Não, todo o devido respeito é à bandeira do país, com toda certeza e não ao novo general que é muito mais jovem do que todos pensaram que ele seria.

Assim que o hino termina, o atual general, pede também as devidas saudações ao seu substituto e em seguida dá descanso a todos.

― Senhores, foi com enorme prazer que fui General – Comandante do Comando Militar de Seul, aqui eu presenciei as maiores provas de lealdade à nossa pátria, aqui eu presenciei militares que se tornarem como irmãos, mas nunca deixando de lado o mais extremo respeito que nossas fardas representam. Hoje, estou aqui com uma mistura de alegria e tristeza, alegria porque eu sei que fiz o meu melhor, eu sei que durante minha estadia, durante todos esses anos, conquistamos muito, ajudamos não somente nossa bandeira, mas trabalhamos de pessoa para pessoa, de lobo para lobo, em todos continentes, ajudando quem precisou de nossa ajuda. Tristeza porque a idade chega para todos e é o momento de despedida. Agradeço a todos, tanto novatos, como veteranos, desde a nossa mais alta patente até nosso mais singelo servidor, que com esmero fizeram seu trabalho. Hoje, eu apresento a vocês, nosso novo General e agora também comandante, o alfa Kim Seokjin, que veio de Gwacheon, mas que já lutou muitas batalhas por nós, em muitos lugares, um excelente militar, mesmo em tenra idade, é um dos melhores, se não o melhor que eu tive o prazer de conhecer.

― Obrigado senhor. Seokjin se curva em noventa graus mostrando todo seu respeito e admiração ao homem mais velho.

― Com a palavra nosso novo General- Comandante.

― Obrigado mais uma vez, senhor. Seokjin olha para as dezenas de soldados à sua frente. Fardas bem passadas, cabelos devidamente cortados, posturas impecáveis e ele ousa dizer que até a respiração deles está sendo controlada. Ele tem vontade de rir, mas se contém. ― É com muita honra que assumo esse posto, sabendo da enorme responsabilidade que é substituir, alguém praticamente insubstituível. Ele sorri sem mostrar os dentes, para o agora, ex comandante. ― Aprendi com alguém a quem tenho grande admiração que você não pode dizer que vai tentar, você tem que ter certeza daquilo a que está se propondo a fazer, não controlamos alguns eventos da vida, mas quando você menciona tentar, você está se colocando numa posição em que se permite falhar, e quero deixar avisado, eu não aceito falhas. Seokjin diz com a voz firme e clara, seus ouvidos treinados conseguindo captar seus camaradas se engolindo, inclusive seu antecessor, o cheiro de alguns alfas sugerindo alguma competição, Seokjin gosta disso, ele acredita que dentro de determinados limites, as competições fazem as pessoas darem o seu melhor. ― Os senhores não vão tentar serem bons militares, os senhores terão que ser ótimos, excelentes, seu inimigo maior aqui é acreditar que você é bom, porque enquanto você for bom... Seokjin remove seus óculos escuros e deixa sobre o pequeno púlpito deixado ali com água para ele, caminhando lentamente em silêncio ensurdecedor e descendo do palco para ficar mais perto dos militares, mal sabendo que sua proximidade está deixando as mãos de Jungkook brancas de tanto apertar a cadeira. ― Enquanto você for bom, você está perdendo para o melhor, para o excelente, para ótimo. Vocês querem perder? Querem ser perdedores?

― Não senhor. Todos falam alto e firme e Seokjin sabe, eles só querem mostrar serviço.

― Ótimo... Militares da aeronáutica e marinha, por gentileza, se aproximem. Ele pede voltando a ficar mais próximo do palco.

Jungkook encara Hoseok, que pisca ambos os olhos avisando que está tudo bem, que ele está conseguindo controlar seus feromônios, fazendo seu cheiro permanecer normal.  O mais velho segue os demais militares ficando diante de todos, em suas devidas posições de respeito e reverência.

 ― Capitães com companheiros ou companheiras um passo à frente por gentiliza, seja namorado, namorada, noiva, noiva, esposo ou esposa, seja alguém com quem você está começando a se relacionar.

Hoseok dá hesitante um passo à frente, porque não importa o quanto a sociedade tenha evoluído, um alfa se relacionar com outro alfa ainda não é bem visto, ele e Namjoon já sofrem o bastante quando percebem que eles estão juntos. Hoseok é apenas um dos quatro em um relacionamento dentre os trinta que estão na frente. Ele acha que não é seu dia de sorte.

― Interessante... Seokjin diz pensativo e se aproxima dos militares, passando de um por um, olhando suas identificações na farda. ― Senhor Choi?

― Sim senhor!

― O que é necessário... Humm.. qual o principal pilar de um relacionamento?

― Fazer a outra pessoa feliz, senhor!

― Ok... Seokjin passa por ele indo até o próximo na fila. ― Senhor Kang?

― Sim senhor!

― Responda a mesma pergunta.

― Dar atenção ao companheiro, Senhor!

― Ok... Senhor Lee, a mesma pergunta, por gentileza.

― Sim senhor, o principal pilar de um relacionamento é o sexo, senhor!

― Céus... Seokjin resmunga para si mesmo e segue para Hoseok. ― Senhor Jung, não decepcione por gentileza, responda à pergunta.

― Lealdade, senhor!

― Gostaria de acrescentar mais alguma coisa? Seokjin arqueia uma sobrancelha, um tanto surpreso com a convicção que Hoseok pronúncia as palavras.

― Fidelidade, companheirismo, honestidade...

― Ok, capitão, me perdoe a indiscrição, qual o nome de seu companheiro ou companheira?  Seokjin parece ver um leve lampejo de dúvida nos olhos alheios, mas ele não consegue identificar que Hoseok quase entrou em pânico.

― Kim Namjoon, ele é um...

― Obrigado Capitão Jung, diga que eu enviei meus mais sinceros cumprimentos a ele.

― Sim senhor! Jung diz sentindo o alívio tomar conta de seus nervos.

― Retorne aos seus lugares. Por gentileza os capitães do Comando de Seul, se apresentem, aqui na frente.

Jungkook respira fundo e caminha lentamente até a frente, sua sorte é ele não ter cheiro, seu enorme azar, ele não poder sentir o cheiro dos outros como todo o mundo faz, Hoseok assente para ele mais uma vez o tranquilizando.

Já na frente, ele fica em posição de respeito, equilibrando sua respiração, seu coração e seu corpo.

― Pensei que existissem mais? Seokjin fala confuso ao ver os 8 homens parados na frente dele. Ele encara o ex comandante com curiosidade e aguardando a resposta.

― Decidi que era melhor concentrar os soldados em grandes grupos, facilita em muito o trabalho.

― Oh, certo, obrigado. Seokjin encara novamente os soldados, tentando manter a neutralidade em sua expressão. Ele fica parado os encarando. Para o exército de Seul, ele sinceramente esperava muito mais do que está vendo. São claramente homens fortes e aptos, mas são poucos capitães para muitos soldados, ele imagina que não seja fácil para eles acompanhar todos sob seus cuidados. ― Artilharia, um passo à frente... dois...   Seokjin respira fundo, escondendo sua indignação. ― Cavalaria... dois... Infantaria... três e...  Seokjin para na frente de Jungkook e respira fundo, então respira fundo mais uma vez. ― O senhor é...  Armas de apoio e combate?

― Não senhor!

Respirando fundo mais uma vez, Seokjin sabe que não deveria estar sentindo o cheiro de algo floral no ar, mas ele decide ignora por enquanto.

― O que o senhor é?

― Um beta, senhor.

― A capitão do que o senhor é?

― Sinto muito senhor, eu sou capitão de defesa pessoal e ...

― O que é isso?

― Senhor? Jungkook o encara confuso, o homem é lindo, mas causa medo e se ele não pode sentir o cheiro de sangue de Jungkook ele deve pelo menos estar ouvindo o seu coração lutando para sair do peito.

― O senhor está usando uma escuta?

― Não senhor, é um aparelho auditivo.

― Um aparelho auditivo, o senhor está usando um aparelho auditivo... Senhor Jeon... Seokjin observa com cuidado, ele normalmente sabe ler até o tipo mais difíceis de beta, mas Jungkook sabe muito bem manter sua expressão neutra, oscilando rapidamente apenas quando ficou confuso.

Seokjin é interrompido, quando o secretário cochicha algo rapidamente em seu ouvido e ele se vê obrigado a sorrir.

― Filho de um comandante, senhor Jeon?

― Sim senhor!

― Interessante... Ele se aproxima mais de Jungkook, como se estivesse observando de perto o aparelho auditivo, sua respiração quente batendo no rosto de Jeon quando ele sussurra. ― Porque isso não interfere em absolutamente nada na maneira que eu trabalho... espero sinceramente que o senhor seja ótimo naquilo que faz, ou algumas coisas terão que mudar por aqui... aliás seu cabelo está maior do que deveria estar, procure verificar isso.

― Sim senhor!

― E não use tanto amaciante floral em suas fardas, por gentileza.

― Sim senhor. Jungkook manteve a fachada que ele aprendeu a usar durante tantos anos, mas por dentro ele estava desesperado, implorando para as estrelas de Hoseok o tirarem dali o mais rápido possível.

― Ótimo, para finalizar, quero deixar uma lição de casa, quando eu reunir vocês novamente, vou me certificar de perguntar a cada um dos senhores. Seokjin se afasta de Jungkook, se demorando a desviar o olhar. O cheiro floral mexendo com seu olfato. ― Descubram o que é ser um camaleão.

 

•••

 

 

 

Quando Seokjin terminou, o que deveria ser sua breve apresentação, sentindo seus nervos à flor da pele, ele entrou como um raio em seu novo escritório, querendo fugir de tudo e de todos. Ele nunca imaginou que o Comando de Seul fosse tão desorganizado, que ele teria tanto trabalho burocrático para lidar, ele se acostumou a fazer o trabalho de campo, a elaborar estratégias, mas agora ele teria que lidar com documentos, teria que lidar com supostos casos de favorecimento, com coisas que ele não sabe se está pronto para lidar.

― Que cheiro horrível.

― Oh meu deus, Yoongi. Seokjin deu um pulo para fora da cadeira, a mão no peito como se fosse segurar o coração disparado.

― Não sentiu meu cheiro? Yoongi arqueou uma das sobrancelhas, ele estava sentado em uma das poltronas dispostas no escritório.

― Um capitão estava usando amaciante floral? Pensei que eu ia me engasgar com o cheiro, ficou impregnado no meu nariz. Seokjin coça o nariz tentando sentir o cheiro do amigo. ― O que você está fazendo aqui?

― Então, seu pequeno gafanhoto me incumbiu de te avisar que vocês farão as compras do mês.

― Quantas vezes eu já pedi para você não obedecer a ela assim cegamente?

― Hyung, eu já estaria vindo aqui de qualquer maneira, seu novo apartamento precisa de muitas coisas e Jimin parecia estressado com o trabalho, perdido no meio de caixas e mais caixas da mudança. Preciso saber por uma fonte segura o que vamos jantar, e eu sei que seu celular está fora de alcance.

― Não é nem meio dia. Seokjin se senta novamente, sentindo-se exausto no primeiro dia como comandante e ele nem começou efetivamente o trabalho. ― Mas você... fique à vontade para fazer o que quiser, eu vou buscar o pequeno gafanhoto na nova escola depois do meio dia, vamos ao mercado juntos? Kim pergunta e Yoongi assente percebendo o cansaço mental de seu amigo. ― Certo, depois arrumo o apartamento enquanto você faz a janta. Obrigado.

― Nada para agradecer, vocês sabem que são minha família.

― Não seja sentimental.

― Claro que não, Camaleão. Yoongi levanta da poltrona que estava sentado e faz continência com um sorriso nos lábios. ― Vá tomar café com seus novos camaradas.

― Não. Seokjin resmunga.

― Vá!

―Você deveria voltar.

― Me aposentei dessa vida, você sabe, sem chances de retorno. O Min suspira. ― Fique longe do cheiro de amaciante ou ele vai destruir seu olfato.

― Farei isso, há tantas coisas para fazer... O Kim suspira. ― Tome café comigo por favor e me livre das bajulações? Ele implora.

― Vamos, eu tomo, finja ser um bom comandante e arrume essa postura, pequeno Camaleão. Yoongi debocha fazendo Seokjin sorrir.

O Kim é extremamente grato pela pequena família que construiu, ainda que seja um pouco diferente, que nem sempre todos possam estar juntos, de alguma maneira eles estão sempre perto dele.

 

•••

 

― Cheire mais uma vez, eu acho que ele sentiu o cheiro do meu sangue? Jungkook fala inquieto para Hoseok que apenas revira os olhos pela décima vez, se é que ele contou.

― Eu já disse que eu não sinto nada, a não ser o cheiro desse seu amaciante.

― Hobi... Jungkook para no meio do caminho para o refeitório.

―Eu já cheirei seu pescoço no banheiro, aqui alguém pode ver.

―Por favor, a última vez e todos sabem que somos irmãos. Jungkook implora e Hoseok nunca nega nada ao mais novo quando ele usa aqueles olhos de cachorrinho.

Ele respira fundo e se aproxima mais de Jungkook, enfiando o nariz em seu pescoço e inspirando profundamente quando sente Jungkook dar um pulo para trás.

― Senhor! O mais novo bate continência e quando Hoseok segue seu olhar ele repete o gesto sentindo seu coração querer fugir mais uma vez.

Seokjin fica ali parado por longos segundos os encarando com incredulidade e Yoongi sabe que o amigo já está muito estressado, ele sabe que um Seokjin bravo é tudo que ninguém quer por perto, não porque ele age de forma primitiva, mas porque suas palavras ferem mais do que se ele tivesse agredido alguém, mais do que se ele estivesse gritando, então ele pigarreia, curvando-se para cumprimentar os dois homens a sua frente e mostrar ao Kim que está ao seu lado.

― Senhor Jung... pensei que tivesse ouvido o senhor falar que seu companheiro se chamava... Kim Namjoon?

― Sim senhor, Kim Namjoon é meu companheiro. Hoseok fala confuso.

― Lealdade, fidelidade, e tudo que mantém um relacionamento e...

― Somos irmãos, Senhor. Jungkook interrompe o mais velho.

― Oh...Senhor, sim, somos irmãos, Jungkook é meu irmão caçula.  O Jung fala rapidamente quando percebe o que está acontecendo.

― Jung e Jeon...

―Bem... Hoseok se engole, hesitando falar.

― Eu sou filho adotivo, meus pais decidiram manter meu sobrenome biológico.

― Certo, senhores, me perdoem o engano, de qualquer forma aqui não é o lugar para esse tipo de comportamento, nem mesmo entre irmãos. Seokjin ainda os encara com certa desconfiança.

― Sim senhor. Os irmãos respondem juntos e Seokjin quer bufar alto, ele respira fundo e se arrepende no mesmo segundo. ―Não se esqueça de trocar o amaciante por favor, capitão.

― Sim senhor.

― Descansar. Seokjin passa por eles e Jungkook quer muito chorar quando o vê entrando no refeitório.

― Ele me odeia, vai transformar minha vida num inferno por causa de um amaciante, eu estou sentindo isso, por favor me leve para aeronáutica, me coloque no avião e me envie para o espaço. Jungkook choraminga.

― Não sou da Nasa, não trabalho com foguetes, mas estou cogitando entrar em contato se você não parar de drama.

― Hyung...

― Nem venha, eu quase passei por traidor, aah meu deus, imagina me relacionar com você... Hoseok se encolhe fazendo careta.

― O que tem errado em se relacionar comigo?

― Eu sou seu irmão, idiota!

― Bem, sim você tem um ponto.

― Vamos ao café? Hoseok bufa.

― Perdi a fome.

― Mentiroso, vamos na cafeteria do outro lado da rua, depois eu preciso voltar para minha base né, vim aqui só para passar vergonha. Hoseok resmunga liderando o caminho para a cafeteria.

 

•••

 

 

 

Depois de cumprir com todas as suas obrigações no exército e de choramingar para que Hoseok o leve com ele para a aeronáutica, porque segundo ele:

“Kim Seokjin-nim vai comer meu rim, ele vai beber meu sangue, vai me colocar em praça pública e deixar os corvos me devorarem, por favor hyung, não me deixe aqui com esse ser terrível, que me odeia, que despreza meu amaciante, ele vai me expulsar só por causa disso.”

Ele finalmente chega em casa, encara seu amaciante e sabe que realmente precisa comprar um novo ou ele vai ser perseguido pelo novo comandante, que em sua opinião deveria ser um alfa velho, como olfato falhando, e não um jovem adulto bonito terrivelmente assustador.

― Sun, o que eu vou fazer com todos esses amaciantes? Jungkook encara os quatro frascos de amaciantes florais que ele comprou. Ele sempre gostou do cheiro, era um dos poucos que não irritava seu olfato sensível.

Ele não obtém resposta do bichano, então decide que trocar de roupa e comprar novos seja o melhor a se fazer, ele vai precisar lavar suas fardas e implorar que o novo amaciante que ele comprar seja bom tanto para ele como para o comandante. No fundo ele deseja não ter que cruzar o caminho de Seokjin tão cedo, mas as palavras sussurradas ameaçadoramente em seu ouvido, são um prenuncio de que ele o verá muitas vezes, mais do que ele via o antigo comandante.

Depois de pegar todas as suas fardas e enfiar na máquina de lavar roupa que fica bem ao lado de seu fogão, ele se deita em seu colchão, recebendo com muito carinho o gato preto que se aninha em sua barriga.

― Você quer ir comigo ao super mercado? Hum? Não quero ir sozinho. Sabe de uma coisa? Você tem toda a razão, Hobi é um mau irmão, ele nem me defendeu, aposto que ele deve ter pensando no Nam hyung, eu também fiquei parecendo um traidor, sabe? Sun... Jungkook sorri com carinho. ― Ele ainda acha que falar que sou adotado vai me magoar... Eu sei, eu sei, mas eu já disse a ele que tudo bem, eu não sou mais aquela criança que ele tentava fazer parar de chorar. Ele é um idiota. Jungkook respira fundo e segura o bichano em suas mãos, sentando-se no colchão.  ― Quanto mais cedo eu for comprar, as chances de tudo ficar seco até amanhã é maior, você não acha? Ele une seu nariz ao do gato. ― Você tem razão, não vamos dar motivos para o senhor Kim implicar comigo, eu já tenho problemas não preciso de outro. Vou trazer mais ração para você e um brinquedo, você é um ótimo conselheiro.

Às vezes Jungkook tem vontade de esmagar Sun em seus braços, tal qual Felícia fazia com Pink e Cérebro, mas ele tem medo de machucar seu fofo e fiel companheiro. Ele afunda seu nariz nos pelos do gato, acariciando com cuidado, deixando Sun saber que é amado.

Jungkook encara como sua missão do dia encontrar um novo amaciante, um que tenha um bom cheiro, que não irrite narizes alfas, ele acredita que já deve existir algo assim no mercado, principalmente para quem tem rinite, o que faz Jungkook rir para si mesmo no corredor do produtos para roupas do supermercado. O lado lupino de todos já é naturalmente sensível a cheiros, com rinite eles devem ser insuportáveis, ele acreditaria que essa fosse a situação do comandante se não fosse por ele ter um olfato apurado além do normal, conforme Hoseok disse.

― Suas tatuagens são legais.

Jungkook segue o caminho da voz, para baixo, é uma criança adorável com olhos enormes e curiosos olhando para seus braços expostos. Ele olha tudo ao redor, mas aparentemente eles são os únicos no corredor de produtos para roupas.

― Fico feliz que você goste. Ele diz sorrindo, mas com o olhar atento ao redor, à procura dos responsáveis dela.

―Meus papais também têm tatuagens, elas também são muitos legais. A do meu papai Urso, são bem pequenas, as do meu papai Águia, são mais escondidas e a dos meu papai Camaleão, são as mais bonitas, até mais que as suas... desculpa. A criança inclina a cabeça para lado, ainda olhando as tatuagens dos braços de Jungkook como se observasse cada detalhe.

― Oh... Jungkook se abaixa em frente a criança. ― Não tem por que se desculpar, veja... Jungkook estende o braço mostrando todas as suas tatuagens a pequena garotinha. ― Essa aqui em cima é uma nuvem e uma estrela, em homenagem ao meu irmão mais velho, ele não tem tatuagens porque tem medo de agulhas, mas ele adora o céu e estrelasse eu de alguma forma aprendi a gostar também. Jungkook sorri e fica encantado com o sorriso que a criança lhe oferece, parecendo animada em ouvi-lo, então ele continua. ― Esse aqui é para meu papai que é médico, é uma serpente, representa o trabalho dele, essa outra é para meu papai comandante, é uma estrela, um ancora e uma asa. Aqui é um lótus, esse olho é homenagem ao meu gato Sun...

― Você tem um gato? Eu gostaria de ter um gato. A criança faz beicinho.

― Seus papais não deixam?

― Temos um cachorro, o Tannie, ele não mora comigo, porque meu papai Urso não mora comigo e eu nunca pedi um gato porque eu vi que gatos e cachorros brigam, você sabia?

― Oh... Jungkook pigarreia um pouco atordoado com as informações. ― E-eu sabia, meu irmão tem um cachorro, mas Sun não gosta de nenhum deles, nem do meu irmão. Jungkook ri alto e fica levemente constrangido quando a criança fica apenas o encarando como se estivesse em algum tipo de transe. Ele seria capaz de dizer que ela parecia fascinada com alguma coisa, mas é só ele ali e em sua opinião não há nada fascinante nele.

― Já que eu não posso ter um gato e um cachorro ao mesmo tempo, você pode se meu amigo gato? Eu sou o pequeno gafanhoto.

― Oh... um gafanhoto... claro, eu posso ser seu amigo gato. Prazer senhorita pequeno gafanhoto. Jungkook segura as pequenas e fofas mãos da garotinha, o sorriso nunca deixando seus lábios.

― O que esse significa? Ela aponta para os dedos de Jeon.

―ARMY, é Exército em inglês, mas para mim elas também significam Always Remember My Youth, sempre lembrar da minha juventude. Como sou do exército, quero sempre lembrar que meu amor de juventude foi ajudar as pessoas, ainda que indiretamente.

―Meu papai Camaleão também é...

Pequeno gafanhoto? Uma voz os interrompe e Jungkook reconhece o dono da voz imediatamente antes que ele precise se virar para trás. É estranho como ele consegue reconhecer vozes tão facilmente, ainda que tenha escutado apenas uma vez antes, talvez seja um dom, ele não sabe, mas ele pensa em como estava certo ao pensar que cruzaria o caminho de seu novo comandante mais vezes do que ele jamais cruzou com o antigo.


Notas Finais


Gente que nervoso.
Espero que tenham gostado.
Como eu disse dois capitulos de uma vez ...


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