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História Sob a constelação de virgem - JINKOOK (ABO) - The Most Beautiful Moment in Life


Escrita por: meuoppa1

Notas do Autor


Título: O momento mais lindo da vida

Olá pessoas lindas e maravilhosas.
Obrigada por todo o carinho, vocês são incríveis! 💜💜💜

Desculpem os erros!
Boa leitura!

Capítulo 9 - The Most Beautiful Moment in Life


Encontre um caminho que o leve até seus sonhos, aprenda a vencer os obstáculos, seja forte mesmo que o mundo esteja desmoronando ao seu redor, permaneça seguindo em frente ignorando tudo que é deixado para trás. A cada passo que é dado, algo é perdido e algo é conquistado. São as regras da vida que não podem ser mudadas. E embora o passado, não possa ser revivido ou reconquistado, ele permanece vivo nas lembranças que jamais poderão ser tocadas novamente. É uma cortina de fumaça quase palpável, mas impossível de se prender nas mãos quando se tenta. Siga em frente com as memorias cravadas em cada pedaço de pele, em cada pesadelo que o acorda no meio da noite, em cada lágrima derramada às escondidas, porque a sociedade não quer saber dos seus problemas, ela só quer que você pareça forte, que  mantenha intacto aquilo que esperam de você, não importa o quanto você se perca no processo.

Seokjin se agradece por não ter se perdido tanto de si mesmo. Ele é o que sociedade espera que ele seja, um alfa forte, com um posição de destaque, exigente em relação a ter um companheiro, porque não é qualquer um que pode ocupar o lugar vago ao seu lado, ele é discreto e soube lidar muito bem, quando Areum, inocentemente, o colocou em apuros por causa de seus três pais; Seokjin também é doce, gentil, sabe ser compreensivo na maioria das vezes, procura aprender um pouco sobre tudo e ajudar quem precisa. Ele não se perdeu, mesmo que tudo ao redor dele parecesse querer que isso acontecesse.

Jungkook se move manhosamente no colchão sob o olhar atento do comandante, que suspira sentado na cadeira, apenas o observando.

― Você está bem? Seokjin pergunta com a voz baixa, quase um sussurro.

Jungkook se move mais um pouco, ele sente seu corpo doer, como quando ele exagera nos exercícios físicos. Ele abre os olhos lentamente para ver Seokjin e se convencer que sim, o Kim estava ali o tempo todo, não foi um sonho.

― Estou bem... e-eu dormi muito? Jeon pergunta com a voz um pouco rouca e ainda sonolenta.

― Não... você dormiu o suficiente e... sua febre baixou, isso é bom. Ele fica sem jeito, porque tocar em Jungkook enquanto ele estava dormindo não foi confortavel.

Jeon assente e senta-se no colchão, seu olhar cai sobre Sun, que está milagrosamente adormecido em sua própria cama.

― Ele é muito manhoso. Seokjin sorri. ― Demorei a entender que você mistura a ração com leite. 

― Oh... e como você descobriu?

― Ele começou a colocar cada pedacinho da ração no potinho de leite. Foi um momento... um momento peculiar, sempre tive a impressão que gatos eram preguiçosos para tudo. Seokjin fala pensativo, ele sorri ainda mais para a expressão surpresa de Jeon: As sobrancelhas erguidas e os lábios um pouco curvados para baixo, não percebendo que ele se referiu a Seokjin como você e não por senhor como de costume.

― E ele é preguiçoso, na verdade ele é muito preguiçoso. Jeon sorri sem jeito. ― Se a febre baixou, porque você não me acordou?

Seokjin poderia ser extremamente sincero e falar que não teve coragem de acorda-lo, porque ele estava dormindo tão suave, tão bonito e tranquilo, mas ainda não é o momento, ele já assustou Jungkook o suficiente.

― Como eu disse a febre baixou, mas você ainda continua febril. Seokjin pigarreia limpando a garganta, de repente ele fica muito ciente de que seu olhar está sendo carinhoso demais, que sua voz está suave demais. ― Vou pedir o almoço. Ele pega seu celular que estava na mesinha e seus dedos agilmente deslizam pelo tela, fazendo Jeon lembrar em como seu comandante o enviou um SMS com número privado.

Jungkook não percebe que está fazendo careta até que Seokjin o encare novamente.

― O que há de errado? Você é alérgico a alguma coisa?

― Não. Jungkook se apressa. ― Não sou alérgico a nada, e-eu, o que senhor pedir está bom.

― Eu já havia solicitado algo para alguém com febre mais cedo, não sei se isso faz sentido... enfim, se você quiser pedir outra coisa, tudo bem.

― Não, eu como o que o senhor pediu, obrigado, e-eu não queria incomoda-lo, eu sinto muito.

― Não é um incomodo. É tudo o que Seokjin diz, seu olhar se demorando na imagem suave de Jeon, antes de voltar a atenção em seu celular novamente.

Jungkook permanece olhando para o mais velho, seu olhar minuciosamente atento a cada detalhe dele. Não que antes, ele não tivesse prestado atenção, é que agora, com mais calma, sem estar muito tenso, coisa que ele está atribuindo a febre, ele consegue ver mais.

Ele consegue ver como as linhas dos lábios de Seokjin o tornam ainda mais lindo, como seus olhos são amendoados, suas sobrancelhas grossas perfeitamente desenhadas naturalmente, como se fosse para deixa-lo justamente com um alfa dominante. A pele de Seokjin é perfeita, lisa, parece macia, o pescoço de Seokjin é um espetáculo à parte com o pomo de adão proeminente sem ser exagerado. As clavículas do Kim são especialmente uma das partes favorita de Jungkook, seguido pelos ombros largos, marcados com parte da tatuagem de uma lua e um lobo que descem em seus braços definidos, e céus, a cintura do general Kim é minúscula, fazendo um contraste com os ombros.

Seu olhar sobe lentamente percorrendo todo o caminho de volta, se demorando em cada parte.

― Gosta do que vê?

Jungkook encara rapidamente o rosto do Kim, para ver um sorrisinho brincalhão em seus lábios. Ele fica em silencio apenas o olhando com olhos enormes e assustado, porque, o que ele vai dizer, ele foi pego.

― Eu até diria que o gato comeu sua língua... Seokjin se vira um pouco para ver o gato ainda dormindo. ― Mas duvido que Sun faria isso.

Jungkook pela primeira vez em dias finalmente agradece as estrelas de Hoseok, quando o interfone toca e ele levanta rápido para atender, quase fazendo Seokjin rir alto, no entanto o mais velho se contém.

― O senhor pode deixar ele subir. Obrigado. Jeon diz para o porteiro e então ele lembra: ― Como o senhor subiu? Ontem a noite... ou hoje? Como...? Jungkook sabe que não mora no melhor lugar do mundo, mas o prédio nunca teve problema com a segurança dos moradores e o porteiro sempre fez questão de avisar se alguém aparecesse, inclusive, Hoseok e Namjoon.

― Bem... Seokjin sente suas bochechas ficarem vermelhas.

― O porteiro estava dormindo? Mas como o senhor abriria o primeiro portão? Ele fica pensativo, parado ao lado do interfone e esperando o entregador chegar.

― Ele me atendeu, abriu o portão e bom, o senhor sabe, somos do exército, ele me viu fardado da outra vez e... eu posso ter dito que era uma emergência.

― Ah... Jungkook abre a boca, ele nunca imaginaria isso, não do General Kim. Ele não sabe o que dizer e de qualquer maneira, alguém bate em sua porta e ele imediatamente atende, seu olhar se demorando em Seokjin antes de encarar o homem parado em sua frente.

― Kim Seokjin-nim?

― Boa tarde. Seokjin cumprimenta o homem, parando atrás de Jeon, fazendo seu sangue congelar com a proximidade. Ele estende um braço pegando as sacolas.

― Obrigado pela preferência. O homem se curva.

― O-o pagamento? Jungkook tenta falar, sua voz saindo falha.

― Eu já paguei. Obrigado. Seokjin curva brevemente a cabeça para o entregador, que se apressa em sair do local. O Kim se afasta colocando as sacolas sobre a mesa. ― Você vai ficar parado na porta?

― E-eu... Jungkook fecha a porta. ― Eu poderia ter ajudado com o pagamento, o senhor já fez tanto por mim.

― Não se preocupe com isso, pegue suas louças eu não sei aonde ficam.

― Certo... o senhor pediu o que exatamente? Jungkook se apressa até seu armário, ele não tem muitas louças.

― Samgyetang.

― Sopa? Jungkook faz careta. ― Só?

― Sim, você estava com febre alta, não sabemos a causa, achei que uma sopa seria bom pra você, e eu perguntei se você queria mudar. O Kim resmunga e Jungkook o acha fofo pela primeira vez desde que o viu pela primeira vez.

― Não, está tudo bem... o senhor está certo. Jungkook se engole. ― E para o senhor?

― A mesma coisa, seria maldoso eu comer algo mais apetitoso enquanto você toma sopa.

Jungkook pisca algumas vezes e assente lentamente, antes de pegar as louças para eles.

Depois que eles se servem, ele fica surpreso por Seokjin não preferir ficar sentado à mesa e sentar no chão ao lado do colchão. Ao seu lado.

Eles ficam em silêncio apreciando a sopa, não é ruim, mas Jungkook sempre prefere algo com mais tempero, mesmo que seu rosto fique inchado às vezes.

― Tem algum significado? Jungkook pergunta, apontando com a cabeça para a tatuagem de Seokjin.

― É um lobo solitário.

Jungkook sabe o que é, ele está vendo, mas se o Kim não quer falar, ele vai respeitar obviamente, então ele volta sua atenção para a tigela em suas mãos. Ele quer falar que Seokjin não parece solitário, ele tem uma filha adorável, e embora não sejam companheiros como ele pensou incialmente, Seokjin tem amigos incríveis, pelo que ele percebeu.

― Minha vida, capitão... Seokjin faz uma pausa pensando nas palavras que vai usar. ― Não é um mar de rosas só porque eu sou um alfa, ou só porque eu sou general do exército, eu tive que trilhar um longo caminho para chegar aonde cheguei e me tornar a pessoa que eu sou. Ele olha para Jungkook que já está olhando para ele com aqueles olhos enormes e brilhantes. Apaixonante. ―Demorei muito para entender que ser uma boa pessoa era o mais importante. Ele lembra a Jeon das próprias palavras que o mais novo usou com Areum. Uma lição de vida que ele deseja que sua pequena nunca se esqueça.

― Eu entendo. Jungkook fala assentindo quase que furiosamente. Há muito tempo ele já entendeu que ele não é único no mundo com problemas, que infelizmente, essa é a realidade da humanidade, em sua maioria, fingir estar bem quando o mundo delas está desmoronando. Agora olhando para Seokjin, muitas perguntas surgem em seus pensamentos: Por que Seokjin não é casado? Por que ele vive com seus amigos, como deu a entender? Por que de todas as pessoas no mundo, ele disse para Jungkook que gostava dele e o beijou?  Jungkook sabe que para a posição que Seokjin ocupa na sociedade, espera-se que ele case com uma ômega ou um ômega, alguém que seja da alta sociedade. Alguém que obviamente não é Jungkook. ― Senhor Kim... Jungkook franze o cenho e deixa sua tigela quase vazia no chão. Seokjin o olha com certa expectativa, curioso do motivo da súbita mudança de expressão do capitão.

― Sim? Você está bem? O mais velho se preocupa, tentando procurar os olhos de Jeon.

― Por que o senhor me beijou? Por que está tão preocupado em... em cuidar de mim? Jungkook volta a encara-lo.

― Eu já disse, gosto de você. Seokjin não hesita.

― Senhor Kim... Jeon lhe dá um sorriso amargo. ― O senhor é o comandante- general do exército de Seul, um dos mais importantes de todo o país, se não, o mais importante.

―  Não entendo o que isso tem a ver?

― Eu sou... eu sou um beta. Jungkook fala como se fosse óbvio.

― Eu continuo sem entender.  Seokjin fala confuso.

Jungkook ri pelas narinas, um sorriso forçado, incrédulo. Ele pega sua tigela do chão e se levanta para deixar na pia, não há como fugir de Seokjin nesse pequeno espaço e ele se lembra disso quando o Kim para ao seu lado colocando sua tigela também sobre a pia.

― Jeon, eu não estou entendendo do que você está falando. Se você puder me explicar.

― E-eu sei que disse que podíamos ser amigos, mas... Jungkook respira, seus pensamentos estão confusos, muitas possibilidades sendo criadas e nenhuma delas é boa. Ele se sente um pouco idiota por ainda ter cogitado uma amizade com Seokjin.

― Jeon, olha pra mim. O Kim usa sua voz mais suave, tentando tirar Jungkook do que quer que ele esteja pensando.

― O senhor disse que gosta de mim, mas se eu tivesse aceitado seu beijo, se eu tivesse aceitado o que quer que o senhor queria, o que eu seria? Alguém que passou pela sua cama?

― O que? Não, é claro que não! Seokjin se apressa, ele não faz ideia de onde surgiu tudo isso de repente.

― O senhor assumiria um beta para a sociedade? Um beta que não sente cheiro e tem problemas no ouvido? Porque sinceramente não faz sentido pra mim. Como o senhor disse, o senhor é um alfa, um general do exército, precisaria de um ômega. Um ômega que possa lhe dar filhotes, um ômega que saiba cuidar da casa, um ômega que sirva...

― Para! Seokjin pede atordoado. ― Apenas pare! De onde você tirou tudo isso? Seokjin jamais pensou sobre nada disso, ele apenas cogitou ficar com alguém que gostasse dele e da filha e dos amigos. Alguém que os amasse, isso era o mais importante.

― É apenas a verdade, senhor Kim. Jungkook respira fundo, ele nem percebeu que sua mão está segurando firme a borda da pia e só percebe quando o comandante, gentilmente segura sua mão. Um pouco hesitante, pronto para soltar se essa for a vontade de Jungkook.

Jungkook não solta e se deixa ser guiado para sentar novamente no colchão.

― Você ainda está febril. O Kim fala colocando as mãos do mais novo entre as suas. Jungkook percebe o quanto as mãos de Seokjin são bonitas e macias, seus dedos longos são curvilíneos. Um charme a mais que o Kim possui. Seokjin suspira, organiza seus pensamentos. ―Nunca me importei com nada disso e apenas para seu conhecimento, eu quase me casei com um beta.

― O que? Jungkook fica surpreso e Seokjin sorri sem graça.

― Há muitas coisas que não sabemos um sobre o outro, você estava certo quando mencionou que mal nos conhecíamos, então, deixe eu contar algumas coisas sobre mim, posso? Ele pergunta e Jungkook apenas assente.

É difícil para Seokjin voltar ao passado, mas é infinitamente pior presenciar Jungkook estrando em um espiral de pensamentos ruins sobre si mesmo a ponto de seu peito subir e descer ofegante como se ele estivesse desesperado. Ele aperta carinhosamente as mãos de Jeon nas suas, uma tentativa de mantê-lo calmo.

Voltar ao passado. Voltar a Gwacheon, sua terra natal, voltar a sua família. Uma família que o renega até hoje.

A mãe de Seokjin sempre foi uma mulher muito bonita, uma ômega que chamava a atenção por onde passava, seu cheiro de ervas doces, era algo mágico, mas que infelizmente se tornou sua queda, Na busca de querer sempre mais, ela se envolveu com seu chefe, mesmo já sendo casada. Ela acreditou que um dia o homem pediria o divórcio, e então ela também sairia de seu casamento para ficar com ele. Isso nunca aconteceu. Quando ela ficou grávida, ele simplesmente a ignorou, disse que o filho não era dele e que ela deveria se contentar em ainda ter o marido.

Ela poderia ter ficado bem com o marido, se os humanos não fossem metade lobos e então não pudessem reconhecer seus filhotes. Em uma época em que o lado lupino era mais primitivo, todos souberam da traição, do filho fora do casamento. Um escândalo no bando dos Kim, até então uma família tradicional que vinha passando por sérios problemas financeiros.

Seokjin não é fruto de um amor, ele é fruto de um interesse financeiro, que não deu certo.

― O marido dela aceitou ficar em ela, aceitou criar o filho, porque era um menino.

― Ela deve ter sofrido muito. Jungkook tenta conter as lágrimas.

― Apenas colheu tudo o que ela plantou... Seokjin fala pensativo. ― Pelo que eu soube o marido dela era um ótimo marido, dava a ela tudo que ela queria, cuidava dela, mas quando a empresa começou a ter problemas, ela decidiu que ter um amante rico era melhor. Infelizmente, eu tive que arcar com as consequencias de ter nascido. Ele encolhe os ombros.

Ser fruto de um caso extraconjugal fez de Seokjin um filho indesejado, um lobo que o bando não queria por perto, porque ele representava a vergonha que eles tinham passado perante a sociedade.

Ele cresceu sabendo que não era bem vindo, que não era amado pela família, que ele representava o fracasso deles. Ele cresceu sabendo que era um lobo que foi abandonado pela família, mesmo que ainda o mantivessem por perto.

Aos cinco anos, em um a viagem a Busan, Seokjin sentiu de fato, o que nenhuma criança deveria sentir.: a rejeição.

Ele vagou por horas sozinho pelas ruas da cidade até que o marido da sua mãe finalmente o encontrou. As lembranças são um borrão na memória de Seokjin, mas o homem mais velho nunca o deixou esquecer que naquele dia, eles tinham de fato o abandonado, e que Seokjin deveria sua vida a ele.

Ele cresceu em um lar sem amor, cresceu desejando ter idade o suficiente para ir embora, e ele foi assim que se apresentou como alfa, ele entrou no exército, uma vez que alfas não precisam esperar os até os dezoito anos como os betas. Ele se dedicou muito, sempre almejando ser o melhor em tudo que se propunha a fazer e então aos vinte e dois anos, seus superiores o permitiram ir para faculdade, algo que o Kim sempre teve vontade de fazer na esperança de conseguir o amor de sua família, mas quando ele finalmente entrou, foi por ele mesmo, para sentir que poderia fazer tudo por si. Ele não precisava de ninguém. Na faculdade ele conheceu Jimin, eles se tornaram inseparáveis, até que Jimin começou a namorar, ficou noivo e casou, e dois anos depois de ter chegado a Busan, Seokjin estava ajudando a criar uma linda garotinha, que se tornou o centro do seu universo e Seokjin prometeu, que nunca permitiria que Areum sentisse um por cento do que ele sentiu.

― Ei... Seokjin se interrompe quando Jungkook se curva, apoiando a testa em suas mãos entrelaçadas as do Kim. Não demora para que o mais velho sinta suas mãos molhadas por lagrimas. ― Por que você está chorando? Hum? O que foi?

― E-eu sinto muito. Jungkook funga, tentando a todo custo não entrar em desespero ao pensar em uma criança que cresce em um lar que não a quer, que a faz se sentir indesejada. Deus, ele não consegue acreditar que as pessoas sejam tão cruéis. ― Eu sinto muito. Ele repete com a voz abafada e quebrada.

Seokjin não sabe exatamente o que fazer, então ele se inclina para frente fazendo com que o capitão apoie a cabeça em seu peito, ele solta as mãos alheias, e envolve seus braços em torno de Jeon, acariciando hesitante, seus cabelos enquanto o espera se recuperar.

Após um longo período em silêncio, Jungkook lentamente se afasta, envergonhado por estar tão perto, por ter chorado novamente em frente ao comandante. Ele não gosta de parecer frágil, não gosta de ficar tão vulnerável, mas pensar em uma criança desamparada causa isso nele. Ele teve tudo, o melhor que seus pais puderam lhe dar e ele nunca ousaria reclamar de absolutamente nada que recebeu.

― Você está bem? O Kim pergunta suavemente, as mãos pousando nas bochechas alheias com cuidado, limpando os rastros das lagrimas. Seu coração se parte ao ver os olhos vermelhos e inchados do mais novo. ― Você sentiu alguma dor de repente? Acho que precisamos ir ao médico, hum?

― Obrigado, mas... mas eu estou bem... Jungkook pigarreia e em seguida suspira profundamente como uma criança que chorou muito. ― Sinto muito que o senhor... que o senhor teve que passar por tanta coisa, por tanta pressão enquanto ainda era uma criança... o senhor carregou um fardo que não era seu... muito pesado para ser dado a uma criança.

Seokjin assente lentamente, seus olhos fixos nos de Jungkook, no brilho que eles possuem mesmo depois de um choro, mesmo com febre. Seokjin contou sua triste história a seus amigos e nenhum deles teve uma reação próxima a essa, nenhum deles realmente pensou na criança Seokjin, mas sim no adulto forte que ele se tornou. Nem mesmo Jaebeom pensou na criança Seokjin sofrendo com tudo.

Se o comandante pudesse ver seu lobo, ele diria que ele está se sentindo seguro como nunca se sentiu, está se sentindo compreendido como nunca foi. É um sentimento novo, uma sensação que faz seus dedos formigarem. Ele quer abraçar Jungkook em seus braços e aperta-lo. Ele sente como se estivesse reencontrando alguém que foi muito especial em sua vida.

― Já faz muito tempo. Seokjin consegue dizer depois de todo o silêncio. ― Não contei para que ficasse com pena de mim, mas para que entenda, que pra alguém já sofreu muito com a pressão da sociedade, eu aprendi a não me importar mais com eles. Eu faço o melhor no meu trabalho, conquistei o respeito de todos e vivo com dignidade, mas da porta pra dentro da minha casa, com quem eu moro, com quem eu vivo ou me relaciono, são escolhas únicas e exclusivamente minhas.

― Não é pena... eu só não suporto a ideia de uma criança sofrer tanto... e seu noivo, o senhor disse... tudo bem, não precisa falar...

― Decidimos que não tínhamos o mesmo objetivo na vida, e eu sou praticamente um estrategista, sendo enviado de um lado para o outro, ele queria viver em um lugar só... não deu certo... ele era um beta, assim como você.

― Um beta... um beta como eu... Jungkook repete pensativo. ― Senhor Kim...

― Sim?

― Não, nada... essa febre... Jungkook se afasta ainda mais, ele senta com as costas escoradas na parede e encara o teto. As estrelas de Hoseok, sua constelação. Nada mudou. Nada vai mudar. Ele não é um beta, não é um alfa e nem um projeto de ômega ele pode se considerar. ― Obrigado por me ajudar e por me contar algo tão particular.

Seokjin assente pensativo, seu olhar se demorando em Jungkook. Jungkook tem algo de especial nele, não há dúvidas, mas Seokjin não pode e nunca tentaria obriga-lo a retribuir qualquer tipo de sentimento, então só lhe resta respirar fundo, levantar, pegar a parte de cima da sua farda e vesti-la para ir embora. Ele fez o que pode para ajudar, obviamente não desejando nada em troca, só de saber que Jeon está melhor ele já se sente aliviado. Saber que Jungkook se importa tanto com crianças faz seu coração ficar aquecido, é impossivel ele não pensar em Areum e em como ela finalmente teve sorte ao encontrar um amigo.

― Talvez o senhor devesse ligar para seu irmão ou cunhado, não seria bom ficar sozinho, você ainda está febril. Seokjin fala verificando a hora em seu celular, ele o coloca no bolso e então olha para Jungkook, que já está olhando para ele.

― Não há necessidade...

― Por favor, vou ficar mais tranquilo sabendo que o senhor está com alguém.

Jungkook concorda, há uma tensão entre eles que ele não consegue decifrar, mas decide ignorar. Ele olha tudo ao redor tentando lembrar aonde deixou seu celular e então lembra que ele saiu direto da enfermaria para o carro do Kim. Ele deixou todos seus pertences no centro de treinamento.

― O senhor... o senhor poderia me emprestar seu celular? E-eu deixei o meu no CMS. Jungkook morde o lábio, ele se sente envergonhado.

Seokjin segura a vontade de rir, porque ele lembra perfeitamente de ter usado seu número privado para enviar mensagem a Jeon.

― Claro. Aqui. Ele pega o celular e o entrega a Jeon.

― Obrigado. Jungkook desvia o olhar. ― Serei rápido.

― Não se preocupe. O Kim se senta na cadeira para esperar.

Jungkook quase quer gritar com a fofura que é o papel de parede do comandante, uma foto de Areum, com Yeontan no colo e ao fundo é possível ver seus amigos sorrindo, mas ele se apressa em ligar para Hoseok e deixa no viva voz, mesmo que Seokjin negue com a cabeça, mostrando que ele não precisaria fazer isso.

― Hobi, é Jungkook. Ele avisa assim que a chamada é atendida e antes que Hoseok diga qualquer coisa.

Oh... cachorrinho que número é esse?

― Hyung! Jungkook resmunga sentindo suas bochechas esquentarem e ele se nega a encarar Seokjin, que está segurando o sorriso.

― Desculpa. Hoseok ri. ― Mas não respondeu minha pergunta. Por que está me ligando de um número diferente?

― Eu esqueci meu celular do CMS, tive que vir pra casa mais cedo porque estou com febre, você... você pode vir?

― Cachorrinho, o que você tem? Você precisou ir para o hospital?  Você passou pela enfermaria? Examinaram você? O Jung pergunta preocupado e Jungkook quer se esconder em um buraco. Um, porque ele pode sentir o sorriso de Seokjin e dois porque ele não gosta de preocupar Hoseok.

Hyung, calma, passei pela enfermaria, não me examinaram, estou bem, estou em casa. Jungkook é rápido em falar, seu coração quase despenca do peito, qualquer informação a mais e Seokjin o descobre.

― Meu amor, eu vou ir direto para seu apartamento, Ok? Você quer alguma coisa? Sopa? Espetinho de cordeiro? Você tem leite de banana? Você...

― Hobi. Jungkook o interrompe. ― Talvez o espetinho de cordeiro.

― Eu sabia. Hoseok ri. ― Você já tomou banho? Aposto que está em um pijama enorme quadriculado, é a sua cara.

― Hoseok!

― Certo, certo, me desculpe... Jungkook-ah...

― Sim?

― Não brigue comigo, mas eu falei com papai e...

― Hobi? Jungkook engole a seco, ele encara rapidamente Seokjin que está atento a ele, obviamente tentando não sorrir.

― Não, não, eu juro que não me intrometi na sua vida, ele sente sua falta, os dois sentem, você poderia ligar, sabe, nem que seja pra brigar com eles.

― E-eu...

― Eu sei que você faz isso, você liga apenas para brigar, quero dizer, você também sente falta deles, mas nem isso você fez mais e... Kook-ah?

― hum?

― Hyung vai fazer de tudo pra ver você feliz de novo, eu prometo.

― Hobi, não... Jungkook tenta disfarçar sua expressão e verificar Seokjin, que já não está mais tentando segurar o riso, ele está sério. Preocupado.

― Desculpa não ter dito isso pessoalmente, vou compensar quando eu chegar aí.

 ― Eu preciso devolver o celular...

― Oh sim, sinto muito, agradeça seu porteiro, ele foi muito gentil em emprestar, Oh deus, que visão horrorosa ele te vendo nesse pijama feio...enfim, até daqui a pouco, cachorrinho.

― Até... Jungkook encerra a ligação e hesitante entrega o celular a Seokjin. ― Obrigado e eu sinto muito pela demora, Hobi costuma ficar divagando muito...

― Tudo bem... porteiro, hum? Seokjin tenta dissipar o clima pesado que ficou no ar.

― Ele deduziu errado...

― Eu ouvi. O mais velho pigarreia. ― Se cuida, Ok? E só vá trabalhar amanhã se realmente estiver bem. Ele levanta e caminha até a porta. O Kim tem tanta coisa para perguntar: Por que Jungkook tem medo de hospitais? O que realmente aconteceu com ele e seus pais? Ele não é feliz? Por que não?

― Senhor Kim? Está tudo bem? Jungkook pergunta quando Seokjin fica tempo demais parado na porta.

― Seu pijama não é feio. Até mais, capitão. Seokjin diz antes de sair e deixar Jungkook sozinho.

Jungkook olha para o próprio corpo, ele não pensou muito quando pegou o pijama e o vestiu mais cedo. Ele só queria estar confortável e definitivamente não levou em consideração que estava na companhia do general. Quando Jungkook pensa melhor sobre esta tarde, na verdade ele não levou muitas coisas em consideração.

Ele beijou Seokjin.

Ele chorou no peito de Seokjin.

Seokjin o abraçou.

Seokjin enxugou suas lágrimas.

― Ei, Sun... Ele sorri para o bichano que manhosamente se aproxima de sua cama. ― General deu calmante pra você? Hum? Dorminhoco. Ele o pega no colo, acariciando seus pelos. ― E se... e se ele me aceitar, Sun? E se ele realmente não se importar que eu não seja como outros? Jungkook suspira, ele não tem respostas ainda, mas uma pequena chama de esperança se acendeu dentro dele.

 

•••

Para o comandante, ele sente que seu mundo simplesmente está se modificando. Não foi fácil para ele deixar o apartamento de Jeon, não foi fácil ouvir que Jungkook precisa ser feliz de novo. Jungkook não é feliz? Ele saiu do apartamento do mais novo, mas sente que seu coração ficou lá.

― Papai camaleão? Areum o chama pela terceira vez.

― Pequena, me desculpa. Sobre o que você estava falando?

― Você acha que eu poderei ser médica quando crescer? Ou deveria ser advogada? Eu gosto muito da ideia de ser professora também? Às vezes eu também quero ser como você, mas eu preciso esperar pra saber meu subgênero. Eu gosto de cozinhar também, não que eu saiba, porque vocês não deixam em mexer em nada no fogão... Areum respira fundo e Seokjin ri. ― Papai? Ela resmunga.

― Gafanhoto, você pode ser o que quiser, hum? Você é tão esperta que eu não duvido que você seja capaz de ser tudo isso ao mesmo tempo. O Kim gentilmente coloca alguns fios de cabelo atrás da orelha dela. ― Papai sempre terá orgulho de você, hum?

― E se eu não quiser nada? Hum? Ela provoca. ― Tipo, não querer trabalhar?

― Hum... então eu terei que cuidar de você pra sempre?

― Sim.

― Eu gosto dessa ideia. Ele brinca cutucando as pequenas costelas dela, que se retorce em sua cama, rindo e pedindo para que ele pare. Areum boceja e se encolhe agarrada em seu travesseiro. São pequenos momentos como esses, momentos que Seokjin nunca teve com sua família, que ele quer eternizar em sua memória. O sorriso largo de Areum e seus olhos fechados, sua risada alta, seus olhos sempre fascinados, brilhantes, sua curiosidade sempre presente, sua inocência, seu jeito fofo, seus abraços e beijos demorados como se fossem arrancar a bochecha de Seokjin em algum momento.

― Boa noite, papai.

― Boa noite, pequena gafanhoto. Ele sussurra deixando um beijo em sua testa e depois se afastando.

Quando ele chega na sala, seus amigos estão lá e ele pode sentir o cheiro de puro nervosismo que Taehyung está emanando. Ele senta em um dos sofás e apenas aguarda, se preparando para ser compreensivo, para acalmar Jimin, para não ficar irritado e pressionar sem querer Yoongi. São detalhes importantes como esses, que fizeram a amizade deles durar, ou Seokjin não saberia o que teria acontecido se seu lado mais primitivo viesse à tona.

― Primeiro, quero dizer que nunca, em momento algum eu pensei que isso pudesse acontecer. Taehyung fala esfregando uma mão na outra e encarando o chão.

― Se você puder ir direto ao ponto. Jimin fala com certa frieza, fazendo Yoongi o cutucar.

― Sim, certo... O Kim mais novo respira fundo. ― Eu fui notificado inúmeras vezes de que eu deveria deixar os Estados Unidos e voltar para a Coreia, a emissora tentou me alertar e disse que eu continuaria a serviço deles, mas eu insisti em continuar minhas investigações, então eu fui demitido e a emissora se isentou de qualquer responsabilidade referente ao meu trabalho e a minha permanecia nos Estados Unidos... por isso, eu demorei mais para vir dessa vez, eu fiquei ilegalmente lá, eu precisava terminar minha investigação...

― Por quê? Jimin pergunta incrédulo.

― Eu precisava... eu tinha que terminar.

― Taehyung? Seokjin o chama e o jornalista o encara apreensivo. ― Por que você tinha que terminar? Você terminou?

― Não... Ele responde e Jimin ri soprado.

― Continue, Tae. Yoongi pede calmo, mas apreensivo.

― Eu fui deportado. Taehyung se recusa a ver o choque nos rostos de seus companheiros e de seu amigo. Ele decide que encarar o chão é melhor, o cheiro de Jimin e Seokjin estão no ar com uma mistura de irritação e preocupação. ― Como eu não posso retornar, acredito que eu fui expulso, não é? Ele ri amargo.

― Você pretendia retornar?

― Eu precisava, Jimin.

― O que era tão importante que você decidiu que colocar em risco sua carreira valia a pena?

― Meu trabalho sempre esteve em risco, vocês sabem, mas dessa vez... eles têm um laboratório, é de uma grande farmacêutica, eles fazem testes em pessoas como Yoongi... eles são estudados como ratinhos de laboratório, é uma tentativa pra descobrir porque estamos aos poucos perdendo o lado lupino. Taehyung suspira trêmulo e pensativo. ― Coletei todos dos dados possíveis, mas fui descoberto... o pior é que eles enganam essas pessoas afirmando uma cura, e como sabemos, pessoas como Yoongi nunca se revelam porque tem medo, então na primeira oportunidade de ser “normal”, elas correm esperançosas. Elas se tornam cobaias e eu só queria que isso terminasse antes de se espalhar para outros países... se é que já não se espalhou.

Há um silencio na sala depois que Taehyung termina de falar, os outros três sentem que uma pedra enorme foi posta sobre seus corações. Yoongi sente seu estomago embrulhar só de pensar na possibilidade e Seokjin o encara rapidamente ao sentir seu cheiro angustiado.

― Taehyung você entregou tudo a eles? Você está limpo? Yoongi pergunta atordoado e Taehyung engole a seco balançando a cabeça em negativo. ― Taehyung?

― E-eu entreguei tudo que eu tinha fisicamente, documentos, pendrives e até algumas contas na nuvem...

― Mas? Seokjin pergunta.

― Mas eu fiz muitas contas, então eles não têm tudo e eu ainda tenho algumas provas... o problema é que eu sei que posso estar sendo vigiado. A embaixada americana e coreana me deram avisos sobre o quanto eu posso transformar minha “maluquice” em um problema entre países. Uma guerra talvez... e-eu sinto muito eu deveria ter ido pra Daegu...

― Você veio para casa, para que outro lugar você iria? Seokjin esfrega o rosto com força. ― Não acesse nenhum desses arquivos, não entre em lugares muito fechado, procure sempre fazer a mesma rota e nunca demonstre medo, não importa se você achar que está sendo seguido.

― Fazer a mesma rota não é mais perigoso? Jimin pergunta, ele não sabe nem como reagir a tudo isso.

― Não nesse caso. Se ele ficar mudando as rotas, vão achar que ele está fugindo, ou seja, que está escondendo algo.

― E-eu sinto muito, e-eu... eu posso ir pra Daegu, eu posso ficar lá com meus pais...

― Não. Jimin respira fundo. ― Se alguém está te vigiando apenas fique, siga os conselhos de Jin hyung, aja como se não tivesse mais nada com você e nunca acesse esses arquivos, entendeu?

― Sim...

Mais um período de silencio permanece na sala, apenas os cheiros de ansiedade, medo e nervosismo se espalhando pelo ar.

Seokjin esfrega suas têmporas, o dia foi muito agitado para ele, muitas emoções para serem processadas. Ele só espera que fique tudo bem.

― Jin hyung? Yoongi o chama com a voz tremula. Seokjin o encara, seu lobo se agita imediatamente, algo pesado se instala em seu estomago, um gosto amargo surge em sua boca. ― Você perguntou a Jungkook porque ele não sente cheiro?

 

“eles inventaram porque não tiveram a capacidade de descobrir o problema”

“não tem uma vida para mim fora do Comando”

“só não posso ser mais do que isso e por favor não me pergunte o porquê.”

“Hyung vai fazer de tudo pra ver você feliz de novo, eu prometo.”

 

Seokjin olha para o teto apenas para se deparar com o penduricalho que Jungkook deu a Areum, segundo ela, todos deveriam apreciar as estrelas.

Por favor, seja um beta. Seokjin implora em pensamentos, porque ao contrario de Yoongi que pode sentir cheiro e saber quando está em perigo, Jungkook vive alheio a tudo em sua volta.

 

•••

Assim que Hoseok entrou no apartamento de Jungkook, ele soube que um alfa esteve ali, ele soube que Seokjin esteve ali, mas ele optou pelo silencio, por não se intrometer na vida de Jungkook, como havia prometido fazer.

Ele aperta o mais novo em seus braços e por deus, o cheiro de Seokjin está impregnado nele. Ele cheira Jungkook como se estivesse cheirando um filhote.

― Hyung. Jungkook resmunga se afastando e sorrindo. ― Quando eu pedi pra você me cheirar fez um escândalo. Ele reclama pegando as sacolas de Hoseok e colocando na mesa para comer os espetinhos de cordeiro.

Hoseok apenas o observa devorar os espetinhos de cordeiro rapidamente.

― Você não vai comer?

― Nah... e-eu estou sem fome. Hoseok olha tudo ao redor e Sun, como sempre, foi para o banheiro. ― Você não parece tão mal, quando disse que estava com febre, pensei que era grave.

― Hum... agora estou bem melhor, mas eu mal conseguia me mexer, se não fosse o soldado Choi eu nem conseguiria ir na enfermaria. O mais novo fala com voz abafada em torno do espetinho.

― Ele é um alfa? Hoseok se joga no colchão, gemendo quando se espreguiça. Ele ainda está usando sua farda da aeronáutica e Jungkook arqueia uma sobrancelha para ele.

― E-eu não sei... Ele solta o espetinho sobre a mesa e fica pensativo. ― Não faço ideia, hyung.

― Merda! Eu sinto muito, Kookie.

― Tudo bem... Jungkook encolhe os ombros.

― Jungkook... Hoseok hesita. ― Você só teve febre hoje?

― Sim, acordei como se um caminhão tivesse me atropelado... nunca fui atropelado, mas acho que é mesma sensação. Ele ri, conseguindo um sorriso gigante do mais velho.

― Você parece bem... quero dizer, está quente, mas isso não é mais febre, é?

― Não, eu cheguei cedo e dormi, eu estava dormindo...

― D-dormindo? Hoseok senta, seu coração dispara no peito. ― Literalmente?

― Sim, literalmente... por quê?

― Nada, dormir te fez bem...

― Hyung, você quer me falar alguma coisa? Eu sinto que você quer. Jungkook sai da cadeira e senta ao lado do mais velho no colchão.

―Impressão sua... você... hum... você me contaria se conhecesse alguém? Certo?

― Sim. Jungkook engole a seco. ― Mas você sabe que isso nunca vai acontecer.

― Jungkook... se.... se sempre pensarem que você é apenas um beta, por que não tentar? Você tem medo que seu corpo reaja e te descubram? Mas se seu corpo reagir significa que você tem sim um lobo, que seu corpo ainda pode passar pela transformação... Hoseok para mordendo os lábios e tentando se concentrar, mas o cheiro de Seokjin impregnado em Jungkook e em todo o apartamento não está ajudando e de todas as pessoas do mundo, por que tinha que ser Seokjin? ― E se...

― Hobi. Jungkook comprime os lábios e balança a cabeça em negativo. ― Significa que eu vou ter que começar um relacionamento mentindo. Significa que eu posso correr o risco de ser rejeitado... na minha primeira vez, se realmente existir um lobo e ele decidir que só vai aparecer assim... significa que eu vou ter depositado parte de quem eu sou em alguém que não vai ficar e eu ainda tenho o exército... eu quebrei as regras, como você mesmo disse uma vez... é um pouco tarde pra eu tentar qualquer coisa...

― Eu soube que estão fazendo estudos, que... Kook-ah, você não tem muitos amigos, podemos nos mudar, podemos fazer qualquer outra coisa e você não vai mais precisar mentir e.... Hoseok é interrompido pelo abraço do mais novo. Ele demora um pouco a devolver, hesitando em retribuir por causa do cheiro forte de outro alfa. ― Kookie...

― Obrigado, hyung, mas não me sinto pronto pra isso, talvez no futuro, hoje não.

Hoseok quer perguntar porque ele está com o cheiro de Seokjin nele, ele quer perguntar se o comandante tentou alguma coisa, mas tudo o que ele faz é apertar Jeon em seus braços e deixar beijos em seu ombro.

― O que quer que você decida, estarei sempre aqui por você. É o que Hoseok consegue dizer, escondendo nas entrelinhas que se Seokjin fizer qualquer coisa que machuque Jungkook, a pessoa mais importante da sua vida, ele vai deixar seu lado primitivo assumir qualquer parte racional de seu cérebro e esquecer que Seokjin é alguém importante.

― Eu sei, hyung. Eu sei, obrigado. Jungkook respira fundo. É como se a cada momento ele estivesse em algum tipo de dança, alguns passos para frente, alguns passos para trás. Jungkook não sabe como essa dança estranha termina. Ele está confuso, as vezes pensa que talvez Seokjin possa aceita-lo, as vezes que é muito arriscado tentar.

 

•••

 

No dia seguinte, Jungkook se sente estranhamente ótimo, então ele acorda cedo como de costume, mesmo que Hoseok tenha saído tarde de seu apartamento quando Namjoon foi busca-lo, fazendo Jeon prometer que avisaria se a febre voltasse. Jungkook é extremamente grato por tê-los em sua vida. No caminho para o trabalho ele pensa sobre isso, ele pensa que talvez tenha sido um pouco injusto ao dizer que não era feliz, porque ele é. Ele é feliz quando está na companhia deles, quando passa horas e horas falando de qualquer assunto, quando eles preparam refeições juntos e fazem maratonas de series nos fins de semana, é claro que ele sabe o quanto tudo isso diminuiu quando ele acreditou que deveria deixar Namjoon e Hoseok terem uma vida mais deles e menos em torno dele. Jungkook também sabe que mesmo estando brigado com um de seus pais, eles o amam e ele os ama e é grato por tudo o que fizeram e ainda fazem por ele, como manter a boca de médicos que ao atenderam fechadas até hoje. Ele chega a conclusão que ninguém é feliz o tempo todo e nem por isso são pessoas infelizes.

Assim que ele entra no CMS, ele não precisa sentir o cheiro dos alfas para saber que tem algo muito errado acontecendo. Alguns militares estão com a expressão de pura raiva e ele tem certeza que ouviu alguém gritar em algum lugar distante.

No centro de treinamento, os soldados estão devidamente posicionados em fila e prestam as devidas continências em alto e bom som assim que o veem.

― Bom dia! Já fizeram a primeira refeição? Ele pergunta um pouco desconfiado com a recepção calorosa demais.

― Sim, senhor!

― Ótimo, então eu farei a minha e Hyunjin-ssi fará o aquecimento com vocês...

― Senhor? Hyunjin se aproxima, os olhos saltando do rosto.

― Descansar. O que aconteceu? Você está bem?

― Sim, obrigado por perguntar, senhor. Se me permite, aconselho o senhor a não ir no refeitório hoje.

― E por qual motivo?

― O General solicitou ao governo uma auditoria nos relatórios dos últimos cinco anos, e pediu com detalhes aos militares de alta patente os horários que trabalham e suas funções.... o senhor não recebeu o e-mail?

― Eu não averiguei... mas o que tudo isso tem a ver com minha ida ao refeitório? Jungkook pergunta confuso e Hyunjin fica em silencio apenas piscando. ― E então?

― Bem... até outro dia os alfas queriam seu pescoço, hoje eles estão furiosos, podem descontar no senhor, mesmo que não tenha relação uma coisa com a outra... só... só estou avisando, o CMS está um pouco perigoso hoje. Hyunjin engole a seco, se Seokjin não contou nada a Jungkook não vai ser ele a contar.

―  Entendi... obrigado por me avisar... então você poderia, por gentileza...

― Senhor! Soldado Choi Yeonjun!

Jungkook quase dá um pulo no lugar por causa da chegada repentina do soldado. Ele coloca a mão sobre o peito e encara Hyunjin, que está tentando não rir, assim como os demais soldados.

― Soldado Choi... céus, você quer me matar garoto? Jeon resmunga.

― Não, senhor, jamais, eu nunca... O soldado gagueja nervoso.

― Eu sei, eu acho... enfim... no que posso ajudar?

― Oh... sim. O soldado estende as mãos entregando a Jeon uma sacola de papel pardo. ― É para o senhor.

― E o que é isso?

― Seu café da manhã, senhor.

― Oh... Jungkook pega a sacola e verifica rapidamente o conteúdo. Ele encara Hyunjin que escolhe os ombros. ― Obrigado, por sua gentileza, mas não precisava gastar seu dinheiro comigo, essas comidas não são do nosso refeitório.

― Não fui eu, senhor, o Comandante – general Kim Seokjin-nim que enviou para o senhor.

Jungkook rapidamente olha para cima, para a janela de Seokjin, ele não pode vê-lo por causa do vidro escuro e então volta a olhar para Yeonjun.

― De qualquer forma, muito obrigado... seu treinamento esta manhã não é comigo, então se apresse para se não atrasar. Jungkook sente suas bochechas corarem e ele espera que não seja febre, mas também não quer admitir que está envergonhado.

― O comandante pediu que eu ficasse aqui hoje, então eu serei assistente do seu assistente, igual a ontem. O soldado fala animado e Jungkook assente sem jeito, ele não pode passar por cima da ordem do general.

― Então faça o aquecimento dos outros soldados junto com Hyunjin... eu vou comer... Jungkook se curva brevemente e se afasta. Ele fica próximo ao seu painel de troféus e medalhas, usando alguns colchonetes como assento.

Jungkook percebe que os capitães dos outros dois lados do centro de treinamento não estão ali, ele também recebe alguns olhares estranhos, mas nada que perturbe sua paz. Ele está se sentindo tão bem esta manhã como há muito tempo não se sentia. Talvez sua recente percepção sobre felicidade o tenha ajudado muito, ele pensa enquanto come.

O restante do dia também passa tranquilamente, ele treina os soldados com a ajuda de Hyunjin e Yeonjun, ele observa como o soldado mais novo tenta o máximo o impressionar, como ele se dedica além do que realmente é necessário. Yeonjun o lembra muito de si mesmo há alguns anos.

Anos em que Jungkook temia a própria sombra e então se esforçava para ser o melhor, para nunca deixar margem para qualquer desconfiança, anos em que tentava não chorar, que ser forte era sua única opção, que desistir não estava nos planos, nunca esteve. Ele espera do mais profundo do seu coração que Choi não esteja em uma ssituação semelhante a dele.

No fim dia, ele sente um frio na barriga, a ansiedade tomando conta dos seus nervos e ele segura com todas as forças que tem, o sorriso que quer surgir em seus lábios quando ele vê Seokjin pela primeira vez naquele dia.

― Senhor!

― Descansar. Seokjin diz suavemente. ― O senhor está bem?

― Sim, senhor. Obrigado pelo café da manhã, o senhor foi muito gentil.

― Os alfas desse comando estavam um pouco fora de si, seria perigoso para o senhor... Seokjin se interrompe, ele está escorado na entrada do centro de treinamento, os braços cruzados, estão apenas ele e Jungkook, que estava terminado de arrumar tudo como sempre faz.

Depois de ouvir Taehyung e a pergunta de Yoongi, Seokjin tem estado com o coração angustiado. ele sente vontade de proteger Jungkook mesmo que seus mesmos não tenham de fato algum fundamento.

― Vamos, eu vou levar você pra casa... Ele consegue dizer, não há muito mais o que fazer em relação a ter jeon como companheiro, ele não quer pressionar, não quer assusta-lo ou faze-lo se fechar.

Todos os dias ele envia o café da manhã para Jungkook através de Yeonjun e no fim do dia, faz questão de leva-lo para a casa. Todos os dias ele percebe Jungkook se soltar mais um pouco, ele consegue ter o vislumbre do que é a risada alta de Jungkook e é fascinante. Ele aprende um pouco mais dele, que foi seu pai militar que lhe ensinou artes marciais e seu pai médico o ensinou os primeiros socorros, descobre manias, como mordiscar os lábios quando fica muito envergonhado, ou colocar as mãos no ouvido quando fica envergonhado por receber algum elogio, ou como ele guagueja se está nervoso demais, e Seokjin descobre que Jungkook usa o dialeto de Busan quando está resmungando, e Seokjin não se segura, ele ri alto.

Jungkook se sente mais confortável perto do Kim. Ele fica radiante quando Seokjin simplesmente ri dele, quando o Kim conta algo engraçado de Areum, quando resmunga por causa do trânsito parado, quando cantarola qualquer coisa batendo os polegares no volante, quando o silencio é bom e o Kim o encara lhe oferecendo um sorriso gentil, ou quando fica com as orelhas vermelhas quando Jungkook simplesmente não consegue desviar o olhar.

― Pronto? Seokjin pergunta, a mesma pose de todos dias. É sexta feira e ele recebeu tantos e-mails repetidos durante a semana que tem certeza que os militares fizeram de propósito apenas para irrita-lo.

― Sim, senhor. Oh....

― Descansar. O Kim sorri e Jungkook fica com a mão no ar, hesitante até finalmente baixa-la.

― Certo... sim... eu vou pegar minha mochila. Ele avisa se apressando em busca-la e quando ele retorna, como regra ele deve esperar Seokjin liderar o caminho para segui-lo, mas Seokjin fica parado ali o encarando. ― Senhor?

― Estou sentindo isso sozinho? Quero dizer, seus olhos me dizem que não, a maneira que você sorri pra mim, ou quando me vê chegar todos os dias aqui, o jeito que você está mais confortável comigo... e-eu sei amigos são confortáveis uns com os outros, mas nós...

― Sentindo o que? Jungkook se engole.

― Isso... Seokjin puxa sua mão colocando em seu peito. ― Ansiedade para que estejamos juntos todos os dias, para que nossas risadas se misturam no carro, para que possamos conversar sobre família, sobre o que gostamos, ou simplesmente para ficarmos em silêncio...

― Não é assim que amigos são? Jungkook pergunta e Seokjin ri soprado baixando a cabeça. Talvez ele esteja indo rápido demais, talvez ele esteja fantasiando, talvez ele esteja intensificando tudo. Ele não deu nem uma semana para Jeon digerir tudo.  Em pensar que até outro dia ele não queria nada disso, em pensar que até outro dia ele estava convicto que nunca mais se deixaria envolver por alguém do exército. ― Senhor Kim... Jungkook afasta sua mão do peito do comandante e delicadamente segura seu rosto, o fazendo o olhar. São... lagrimas? ― Se-senhor Kim?

― Será que ser chorão contagia? Você é chorão e eu não quero ser assim.

― Eu não sou chorão. Jungkook resmunga formando um bico nos lábios e leva tudo de Seokjin para que ele não o beije.

― Não... você não é... vamos embora antes que fique tarde, hum?

Jungkook assente, mas não solta o rosto do Kim. Um lado seu diz que é melhor deixar ir, que arriscar é perigoso demais, outro lado diz que vale a pena, que se ele não arriscar ele nunca vai saber como é pelo menos ter o vislumbre do que é viver um romance como de seus pais ou de Hoseok e Namjoon.

― Capitão Jeon?

― Sim... Jungkook traz o rosto de Seokjin para perto e une seus lábios aos dele, sentindo seu coração quase fugindo do peito. Ele pode se acostumar com isso, pode se acostumar a sentir os lábios macios de Seokjin, pode se acostumar a sentir as mãos rodeando sua cintura, ele pode se acostumar a sentir seu corpo ser puxado contra o do Kim, ele pode se acostumar com Seokjin abrindo lentamente os lábios como se estivesse hesitando.

Seokjin o beija, desliza seus lábios entre os dele, segura sua cintura com mais força, seu coração parece suspenso no ar, mas ele não se importa, não se importa que sua respiração falhe, os lábios de Jungkook são quentes, são suaves. Ele o beija com mais profundidade, desliza sua língua pela do mais novo, sente o sabor doce que ele tem, o aperta ainda mais, como se estivesse tão desesperado para prendê-lo a si. Ele percebe que é difícil Jungkook acampá-lo e ofega contra seus lábios. Lentamente ele afasta suas mãos da cintura alheia e se afasta completamente. Jungkook parece extasiado, perdido em outro mundo.

― J-Jeon... não se sinta obrigado a isso... e-eu sou seu comandante... céus, você já disse que era amizade e eu venho com o mesmo assunto, eu não quis te pressionar, eu não quis te pressionar, e-eu... Seokjin é interrompido quando Jungkook simplesmente o empurra contra a parede e se ele vai receber algum tapa, ele não vai se defender.

Jungkook fica apenas o encarando com os olhos marejados e os punhos cerrados ao lado do corpo.

― Você não será punido por isso, apenas faça. Seokjin respira fundo.

― N-não serei? Promessa?

― Promessa, você tem minha palavra. Seokjin vira um pouco o rosto, estranhamente seu lobo esta quieto. ― Vá em frente.

E Jungkook acredita nas palavras do Kim, ele vai em frente, segura novamente o rosto do mais velho e o beija, o surpreendendo. Para Seokjin, leva alguns segundos até que ele retribua, até que ele entenda um pouco o medo do mais novo, é a ponta do iceberg, ele sabe, mas ao contrário dos últimos dias, ele tentará levar tudo com calma.

Para Jungkook, enquanto sente mais uma vez os lábios de Seokjin nos seus, as mãos em sua cintura, é como se ele estivesse vivendo um sonho que até um pouco mais de mês atrás era impossível. É como os muitos momentos lindos que ele teve na vida, sua formatura do ensino médio com seu pais e irmão o aplaudindo, é como em seu primeiro dia no exército, Hoseok quase gritando da área de cima para que ele olhasse para a câmera, mesmo que Jungkook estivesse morrendo de medo, é como quando ele disse a Namjoon quem era e Namjoon o disse para doma-lo com um sorriso enorme no rosto mostrando as covinhas fofas em suas bochechas.

Para Jungkook, estar assim nos braços de Seokjin, sentindo o beijo suave e ao mesmo tempo intenso dele, é diferente de qualquer sentimento que ele já tenha tido, ele sabe que está chorando mais uma vez, sendo um chorão como Seokjin disse, o que faz ele sorrir contra os lábios do Kim, porque esse é com certeza, um dos melhores e mais felizes momentos de sua vida.


Notas Finais


esperam que tenham gostado 👉👈

Aceito críticas construtivas, sempre 💜

JIN OST IS COMING !!!!! Deem muito amor quando for lançada eu estou muito ansiosa! Sigam o perfil do Jinnie no spotify!

Beijos 😘

Pra quem não sabe, eu tenho um perfil no twitter, basicamente de surto e rt kkkk é @ myjingcf fiquem a vontade pra me chamar lá se quiserem 💜


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