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História Sobre Dever e Honra - O Poder


Escrita por: DunnyAmador

Capítulo 17 - O Poder


Harry

Quando cheguei em casa já eram 7h da manhã. Depois de passar a madrugada no escritório atendendo chamadas de emergência falsas, só queria dormir o dia todo, mas sabia que teria que voltar a tarde. O Mundo Bruxo estava um verdadeiro caos, todos assustados com as possibilidades, apontando o dedo um para os outros. A desconfiança se alastrava como uma praga e eu já podia sentir o clima mudar.

Mesmo sendo um dos locais mais protegidos junto a Hogwarts e o Gringots, muitos se sentiam inseguros com a localização do Ministério da Magia, deixando os funcionários do prédio subterrâneo agitados. Eu sabia que isso tendia piorar.

Antes que eu pudesse me jogar no sofá e dormir ali mesmo, ouvi passos nas escadas, ficando surpreso quando vi minha mãe com suas vestes de medibruxa.

- Por Merlin, filho. Você está horrível! - ela falou e eu fiz uma careta. Vi a mulher se aproximar para sentar ao meu lado, relaxando quando senti sua mão afastar meus cabelos e pousar na testa. Não entendia esse costume, mas nunca reclamei. - Vou falar com seu pai sobre isso, é inadmissível te deixar trabalhando por tanto tempo...

- Você já fez plantões maiores, mãe. - ri, sabendo que era só o protecionismo dela falando. - Todos os aurores estão dobrando o turno. - expliquei, abrindo os olhos e recolhendo sua mão antes de encarar os olhos verdes. - Tome cuidado, ok? As pessoas estão um pouco...

- Eu sei. - ela me cortou, beijando minha testa com carinho. - Não se preocupe comigo, querido. - ela disse, o sorriso não fazendo nada para aliviar o aperto no meu peito. Não levei a sério a ameaça de Riddle, imaginando ser um blefe. Mas ao pensar na possibilidade dele estar envolvido na morte de Burbage, me senti cauteloso por ter um homem capaz daquilo de olho em mim e na minha família.

- Você ainda tem o galeão? - perguntei, vendo ela confirmar com um aceno.

- Coma e durma um pouco. - ela disse, recolhendo sua bolsa. - Trouxe um café para Draco ontem, sobrou alguns bolos na geladeira.

- Ele ainda não tentou incendia-la? - brinquei, fazendo a mulher rir.

- Aos poucos Draco se acostuma. Ontem, conheceu as maravilhas que é Brad Pitt e o Tom Cruise, se eu fosse você ficava de olho para ele não fugir para a América... - ela falou, e eu não pude evitar torcer os lábios.

- Eles nem são tão bonitos... - resmunguei, tirando minhas botas com um movimento cansado. - Obrigado, mãe. Está sendo difícil conciliar isso tudo. - agradeci pelo cuidado com Draco e ela deu de ombros.

- Não é um favor! Eu gosto dele e é o futuro pai do meu neto, isso basta para me convencer.

Quando ela saiu, não tive forças o suficiente para levantar e comer, preferindo puxar uma almofada e me deixar levar para um sono profundo.

Não sei quanto tempo passou até eu acordar, coçando os olhos e tentando focar minha visão embaçada em algum ponto específico, tateando o sofá atrás dos meus óculos.

- Aqui, Potter, você dormiu em cima e quebrou. Lancei um reparo, mas infelizmente sou péssimo em transfiguração e não pude fazer nada para melhorar esse acessório ridículo. - ouvi a voz de Draco, o tom condescendente fazendo um sorriso surgir em meu rosto. Estava lentamente se acostumando as provocações ácidas do ômega, sabendo que ele fazia para irritar.

- Obrigado, princesa... - provoquei, ouvindo um bufo irritado, finalmente focando na figura de braços cruzados a minha frente. - Para sua informação, nenhuma outra armação ficou tão boa quanto essa. Pelo menos troquei por uma mais elegante, não acha?

- Continua ridículo, Potter! E não me chame por apelidos. - ele resmungou, me olhando com certa irritação. O que raios eu fiz dessa vez?

- Vou comer um pouco e depois ficamos próximos para bem... o bebê- falei um pouco sem jeito, notando que ele parecia cansado. - Desculpa por não vir ontem, estava ocupado.

- Não quero saber da sua vida sexual, Potter. - ele me olhou de cima a baixo com nojo, estreitando os olhos para minha expressão surpresa. - E tome um banho, você está fedendo. Não chegue perto de mim assim. - o ômega disse, antes de se virar para sair e me deixar na sala.

Indignado, cherei minhas roupas, um pouco ofendido por ser dispensado. Ao sentir o cheiro de amêndoas e mel característico de Hermione, rapidamente entendi o motivo da confusão, me levantando para correr atrás do loiro, que já estava com a mão na maçaneta do sótão.

- Espera, não é o que você está pensando! - falei, não sabendo porque estava tão desesperado para explicar. - O cheiro é de Hermione, eu estava com ela.

- Você está dormindo com a noiva do seu melhor amigo? - ele sussurrou, seus olhos arregalados de surpresa e indignação. Me sentindo enojado com a idéia, o cortei rapidamente.

- O quê? Porra, Draco! De onde você tira isso? Nós só nos abraçamos, você nunca abraçou seus amigos? - perguntei, o vendo estreitar os olhos

- Você não me deve explicações, Potter! Continue com suas orgias grifinorias. - e assim a porta do sótão foi batida na minha cara.

- Sabe, não é tão ruim admitir o erro as vezes. - gritei para a porta fechada.

- Vá tomar banho, Potter! - foi a única coisa que recebi. Rindo, balancei a cabeça com diversão. Mordendo os lábios, fiquei sério de repente, hesitando antes de falar novamente.

- Eu quero conversar com você... sobre aquele dia. - comecei, não ouvindo nada além do silêncio. - Preciso te falar que...

- Estou ocupado, Potter! Não quero ouvir desculpas, já disse para deixar esse assunto morrer.

- Mas... - insisti, me assustando quando a porta abriu e o rosto severo do ômega apareceu na entrada.

- Não quero saber. - ele me interrompeu, o olhar vacilando quando se focou em um ponto em meu ombro antes de voltar aos meus olhos. - Está tudo bem não me corresponder. Não precisa falar isso, só vamos deixar as coisas assim e voltar ao normal.

- Não consigo voltar ao normal! Inferno, desde aquela noite não consigo me sentir atraído o suficiente por nenhum outro ômega - falei, vendo a expressão do outro relaxar em surpresa. - Draco, eu acho que estou...

- Está me acusando de te deixar impotente? - o outro me interrompeu, seus olhos brilhando em raiva sob meu olhar surpreso. - Escute aqui, Potter. Eu não seria tão baixo em te amaldiçoar, então procure um medibruxo antes de vir me acusar. Com licença! - a porta foi batida de novo em meu rosto, me fazendo encarar o local onde o ômega estava em choque.

Vi a porta ficar levemente azulada, sinal de um feitiço de silêncio. Suspirando em derrota, marchei com raiva até o quarto, tirando meu uniforme de forma irritada, xingando baixinho minha idiotisse. Ótimo, talvez o cenário de um beijo contra a parede e sexo no sofá fosse um pouco irreal, mas ninguém podia julgar minha mente hiperativa. Contudo, esperava ao menos uma consideração por me abrir, dando tudo espetacularmente errado pela confusão do outro. Afinal, que tipo de pessoa levaria aquilo como uma ofensa? A pior parte é que vindo de Draco Malfoy, eu não estava exatamente surpreso.

Não importa, eu iria tentar de novo. Talvez tivesse que ser mais claro, ou pelo menos o suficiente para expressar o que eu sentia. A conversa com Hermione me ajudou, ter coragem de falar em voz alta já era um desafio. Estava decidido a me colocar a disposição para tentar, esperando que isso fosse o suficiente. Eu queria aquele ômega como nunca quis nada na vida e agora sabia que estava longe de ser um sentimento recente.

Ouviria o conselho da mãe, me aproximaria e o conheçeria melhor, ai saberei o que fazer.

XxX

2 semanas depois

Já era final de outubro e eu sentia o estresse acumulado em meus ossos. A Investigação estava dando em becos sem saída, a comunidade ainda não tinha se acalmado e mesmo com declarações mornas, demonstrando pesar por Burgage, Riddle ganhava poder eleitoral. Em todos os cantos, se comentava sobre suas medidas e o que antes era considerado radical, diante da ameaça, se tornou algo a se considerar. Lentamente, os bruxos começavam a se polarizar e o que antes era um simples debate de escolhas de representantes, se voltou para o pessoal. Os bruxos brigavam entre si e a corrida para o posto do Ministro se tornava cada vez mais acirrada.

A falta de respostas também afetava a posição do meu pai. Diariamente, milhares de cartas voavam pela central, cobrando a resolução do caso. O Profeta noticiava o aparecimento de grupos suspeitos em diversos cantos das fronteiras mágicas e mesmo quando confirmado o alarme falso, o boato já tinha se espalhado e ninguém mais queria saber da verdade. Junto a isso, estava se tornando comum ataques a nascidos trouxas, os confrontos físicos levando cada vez mais bruxos ao St.Mungus. A tensão de uma possível guerra civil deixando todos em alerta.

Agora, eu sentava na frente da mesa do meu pai, vendo seus olhos correrem pelo resultado da autópsia pela décima vez.

- Sabe que não podemos manter o corpo, não é? - perguntei suavemente, sabendo que ele tinha pedido um segundo exame. - Não vamos encontrar nenhuma assinatura mágica, pai.

- Esse é o segundo exame. - ele respondeu, pedi para liberar o corpo hoje. Vai ser mandado para Hogwarts a tarde... - ele respondeu, coçando os olhos com cansaço. - Olhe isso. - ele me entregou a pasta e eu li rapidamente as informações, franzindo o cenho.

- Traumatismo craniano? Então ela não morreu queimada. - falei, continuando a correr meus olhos pelo arquivo.

- Não ache que isso é bom... - James suspirou. - Foi difícil indentificar, mas parece que ela teve várias lacerações pelo corpo.

- Tortura?

- Não se pode dizer. Um dos cortes nas costas, o legista descreveu como semelhante a um arranhão de garras. - meu pai falou e eu arregalei os olhos. - Também pensei em lobisomens, mas não foi encontrado veneno no sangue.

- Ela pode não ter sido mordida. - considerei, mesmo sabendo da improbabilidade. Meu pai parecia pensar o mesmo.

-  Nenhum lobisomen ataca só com arranhões, Harry. Mas tem outra coisa estranha que corrobora com a teoria de ataque animal, ela tinha terra nos sapatos. Estou esperando a análise para definir uma área de busca.

- Um lobisomen na lua cheia não, mas alguns podem se controlar o suficiente para coordenar seus ataques. Ainda não pegamos Greyback. - insisti.

- Sei que isso pode se ligar aos ataques de lobisomen recentes, mas oficialmente Greyback está escondido na Floresta Proibida, na Escócia. Sabemos que existe uma matilha por aqui, mas provar isso vai ser difícil. E até agora todos os atacados estão vivos e não assim... - James apontou para a ficha na minha mão.

- Então qual é a explicação? A sequestraram, a torturam em uma floresta e depois fizeram todo esse show? Parece muito trabalho pra quem queria mandar uma mensagem. Qual a razão para se torturar alguém, pai?

- Informações... - James murmurou, seus olhos correndo pela mesa até achar o diário de Burbage. - Notei uma coisa enquanto estava vendo isso, não desconfiei porque é normal arrancar páginas quando se escreve um diário, mas não nessa quantidade. - ele abriu numa página  específica onde Burbage fazia uma introdução sobre o artigo que iria escrever sobre Riddle e eu notei o local onde foi destacado algumas páginas antes de passar para outro assunto, que se desconectava do que estava escrito anteriormente.

- Não é possível, isso estava em Hogwarts. - falei, pegando o diário e me perguntando como não tinha visto antes. - Se não foi ela, foi alguém com acesso ao quarto.

- Acho que preciso fazer outra visitinha a Dumbledore... - o homem murmurou irritado e antes que eu pudesse me oferecer para acompanhá-lo, ele me interrompeu. - Vá no jantar na casa do Arthur, avise sua mãe que tive trabalho.

- Ela não vai ficar feliz... - falei, vendo meu pai suspirar enquanto vestia a capa.

- Lily vai entender. Vou voltar pra casa hoje, não se preocupe. Se eu ficar mais uma noite aqui, Fudge não vai ter o trabalho de me demitir porque eu mesmo vou fazer. - ele zombou, batendo nas minhas costas antes de sair. - Obrigado, filho. Estou orgulhoso de você, tem feito um ótimo trabalho.

O homem não esperou resposta. Com um pequeno sorriso, reuni as pastas e as guardei nas gavetas.

XxX

Draco

- Mais poções? - fiz uma careta para a pequena caixa nas mãos de Lily, a fazendo rir.

- É necessário. - ela respondeu simplesmente. - A pior fase nem começou e você vai me agradecer quando eu aparecer com as pomadas para câimbras e cremes para estrias.

- Desculpa? - perguntei assustado. - Além do corte na barriga eu também vou ficar com mais cicatrizes?

- Não se ouvir sua medibruxa aqui. - ela deu de ombros e eu suspirei  em derrota, aceitando as poções. 

- Você está  linda. - elogiei depois de um tempo. Mesmo com a aparência cansada, a mulher ainda tinha aquele brilho jovial vestida em seu sobretudo vermelho. 

- Obrigada, querido. - ela falou, me beijando brevemente na bochecha. - Tem certeza que não quer vir? Não queria te deixar sozinho.

- Me sinto mais seguro aqui. E não adianta, Potter tentou me convencer por 3 dias. - falei, lembrando do conselho da minha mãe.  - Tenho a DV para me fazer companhia.

- É TV, Draco. - ela riu. Potter resolveu chegar bem na hora, correndo para abraçar sua mãe e se virando para me sorrir bobo. Seus cabelos estavam molhados, provavelmente tomou banho e se trocou no trabalho.

- Olá, está pronta? - ele perguntou a Lily, que acenou e o segurou pelo braço. - Não consegui te convecer, então trouxe isso. Prometo não demorar. - ele falou, me entregando uma sacola de papel antes de se despedir e partir com sua mãe.

Deixando minha expressão relaxar, olhei dentro da sacola, irritado por ver a logo do meu restaurante favorito e mesmo não querendo dar o braço a torcer, não podia simplesmente jogar fora, então me sentei para comer, o cheiro da tarte tatin me fazendo salivar.

Mesmo após a conversa, o idiota insistia em tentar me agradar, se aproximando sem eu perceber e me fazendo perguntas sobre minha vida pessoal. Mesmo eu estando desconfiado e ainda irritado pela acusação daquele dia, Potter continuou agindo normalmente, mesmo quando ignorado. Por fim, não pude fazer isso por muito tempo. Não se eu quisesse continuar em pé devido a transferência de magia que o bebê precisava. Então aceitei a aproximação, negando para mim mesmo que estava me aproveitando para deixar me envolver naquele aroma forte, quase machucando meu lábio inferior em alguns momentos. Quando perguntei inocentemente se ele tinha ido ao médico resolver o "problema", só recebi um revirar de olhos e uma resposta que me fez afastar com irritação.

"- Oh sim, voltou tudo ao normal, acredita? Finalmente vou poder participar das orgias grifinórias."

Só fui perceber que ele estava zombando de mim no outro dia e com um acordo de paz, tivemos um café da manhã em trégua. Eu definitivamente não estava inspirando muito forte quando ele voltava do trabalho para identificar qualquer aroma de outro ômega. Definitivamente não.

Quando terminei, olhei o relógio e vi que ainda tinha a noite inteira pela frente. Estando longe do sono chegar, subi para tomar um banho, vestindo meus pijamas mais quentes e por precaução, arrastando uma coberta comigo. Passando meus olhos em consideração pelo dragão, resolvi levá-lo também, pousando tudo no sofá e revirando as caixinhas atrás de algo interessante. Me decidi por Matrix, lembrando de Potter falando que era seu filme favorito. Operando o aparelho trouxa, sorri satisfeito quando ele funcionou, correndo para as cobertas para escapar do ar frio da noite.

- Hoje é só eu e você, Bean... - murmurei, me enrolando na pelúcia e grudando meus olhos na tela. Com o tempo, as preocupações do dia fugiram da minha mente.

XxX

Harry

O jantar nos Weasleys foi exatamente o que eu esperava. Todos agindo com falsa educação antes de não aguentarem e explodirem em perguntas e indignações. E a primeira foi obviamente Ginny.

- Chega disso, queremos saber tudo. - Ron repreendeu a irmã, mas o resto me olhou com expectativa.

Suspirando em derrota, me rendi e resolvi falar, acalmando Hermione com um gesto. Molly parecia estranhamente emocionada para quem estava me ouvindo falar sobre um erro e o resto, mantinham diversas expressões de choque.

- Uau - o gêmeos falaram ao mesmo tempo, olhando um para o outro e depois pra mim. - Você realmente conseguiu o Malfoy? Juro que estava duvidando até agora... - Fred riu, seguido pelo irmão.

- Essa é a parte que vocês focam? - Ron perguntou indignado.

- Claro, é o Malfoy. Nunca vi ele olhar pra ninguém sem parecer que tinha algo cheirando mau abaixo do nariz. - George explicou.

- Quieto, George - Molly repreendeu, antes de correr para me abraçar. - Oh, parabéns, meu querido. Posso preparar o enxoval? Qual a cor favorita de Draco? 

- Pelo amor de Merlin, mãe. Se acalme - Ginny falou, ainda com os olhos estreitos para mim. - Ainda não entendi como...

- Harry vai responder tudo, mas será que podemos fazer isso depois do jantar? Dê um tempo ao homem. - Ron interrompeu e eu agradeci, tinha conversado com o amigo na semana passada, me encontrando para almoçar com ele e explicando o motivo de eu estar evitando-os. Felizmente, a personalidade explosiva do ruivo foi abrandada por Hermione e ele entendeu meu lado.

Ginny concordou a contragosto e o resto se acalmou. Por fim, jantamos com certa quantidade de paz, os assuntos atuais naturalmente voltando a mesa e deixando o clima tenso. Fred logo tratou de distrair a família e o assunto voltou a ser ameno.

Quando nos sentamos com um copo de vinho na sala, respondi as perguntas com mais calma, ficando envergonhando quando Arthur me perguntou o status do meu relacionamento com Draco. Falei que não estávamos juntos, escondendo a parte que eu estava fazendo de tudo para isso mudar.

Depois de certo tempo, todos pareceram satisfeitos e para minha felicidade, fui tirado de foco. Molly tinha sumido com minha mãe para o andar de cima e distraído, vi Hermione mover os troncos de madeira para dentro da lareira, alimentando o fogo. Seu pingente brilhava a luz das chamas e mesmo inconscientemente, me senti estremecer.

- Como ela tem coragem de andar com isso aqui? - Ginny murmurou, seu rosto vermelho pela quantidade de vinho e seu olhar vago em Hermione.

- É um presente da mãe dela. - Ron defendeu a noiva, recebendo um olhar zombador da irmã.

- Não justifica. - Ginny resmungou, antes de se levantar e subir para o quarto.

- Deixa ela. - acalmei o ruivo, vendo Hermione se aproximar, alheia a troca. Apontei com o olhar para seu pingente de crucifixo e ela rapidamente escondeu, olhando em volta como se alguém tivesse notado. - Não precisa...

- Precisa sim! Estamos em um momento difícil, não quero que isso soe como uma provocação. - ela falou com um suspiro. - E não significa nada pra mim além de um presente afetivo, está tudo bem. Mas já que tocamos no assunto, tenho novidades... - ela falou e concordando, a segui para fora da sala barulhenta, saindo para o ar frio do jardim da casa.

- Descobriu algo na Biblioteca?

- Não! Mas entrei em contato com alguns colecionadores, um pareceu conhecer a peça, disse que a viu em uma exposição em Londres. Ele me deu o endereço da galeria, talvez eles ainda tenham o contato do vendedor. - ela falou. - Por enquanto é o melhor que eu tenho.

- É perfeito, Hermione! Obrigado. - eu agradeci, sorrindo para a amiga. - Acho que vou assumir daqui, não quero que se envolva mais nisso. Todo cuidado é pouco.

- Só não vou insistir pois estou lotada de trabalho... - ela suspirou e eu notei seus olhos cansados. - Estou evitando sair, só indo do trabalho pra casa. Por favor, me atualizem se chegarem a algum lugar.

- Eu prometi, não é? Não vou desistir até que se tenham esgotado todas as minhas fontes. - falei, segurando sua mão em um gesto de apoio. - Foque em seu casamento. - sorri, vendo ela se retesar.

- Eu e Ron estamos pensando em adiar... - ela murmurou, olhando para os seus sapatos com tristeza. - Não estou me sentindo bem para pensar nisso e ele também não. E agora, eu nem sei se minha posição no Ministério está segura. Vamos esperar um pouco e ver o que acontece... eu não contei pra ele, mas o Ministério Francês estava me sondando. Nunca pensei em sair da Inglaterra até agora...

- Hermione. - chamei, vendo seus olhos focarem em mim. - Se Riddle for eleito, não podemos fugir, vamos lutar. Essa é a nossa casa, foda-se ele.

- Não sou mais uma jovem idealista que achava que podia mudar o mundo escrevendo cartazes, Harry. - ela falou. - As maiores revoluções foram através da violência e não estou preparada para arriscar tanto. E nem você deveria.

- E o que podemos fazer? - perguntei frustrado, vendo ela desviar o olhar.

- Temos 2 meses para descobrir.

XxX

Depois de deixar minha mãe em casa, me vi a frente dos portões da minha, um arrepio passando pelo meu corpo, me fazendo olhar em volta. Ouvindo o barulho de cascalho sob meus pés, passei meus olhos sobre as árvores, avistando as moradias mais próximas a muitos metros de distância. Xingando minha paranóia, lembrei que ninguém podia me ver aqui e corri para entrar, tirando meu casaco na entrada.

Tranquei a porta com um segundo pensamento, caminhando até a sala e congelando com a visão que me recebeu. Sentindo um sorriso involuntário se formar em meu rosto, tirei meus sapatos, andando devagar até a televisão e a desligando. Me aproximei da figura encolhida no sofá, mas não pude apreciar a expressão suave por muito tempo, pois Draco pareceu sentir minha presença. O vi soltar um dos braços que estavam em volta do dragão, coçando os olhos sonolentos antes de focar em mim.

- O que está fazendo aqui? - ele prrguntou, a voz ainda rouca pelo sono.

- Na minha casa? - brinquei, o vendo franzir os lábios contrariado. - Que bom que gostou do presente.

- O quê? - ele ergueu o tronco, reparando que ainda estava abraçado a pelúcia. Tive que morder o lábio para não sorrir quando seu rosto ruborizou. - É um bom travesseiro, Potter.

- Posso testar? - me aproximei do dragão e Draco arregalou os olhos antes de bater na minha mão.

- Não toque em Tiamat! - ele resmungou, antes de parecer constrangido pela explosão.

- Uau, ele tem nome? - zombei e rapidamente a pelúcia foi jogada em meu rosto. Rindo, peguei a criatura pelos chifres, a pousando no sofá em um gesto de paz. - Tiamat? Está vendo muito Caverna do Dragão?

- Não sei do que está falando, Potter. Tiamat é uma deusa da mitologia suméria. Pretende se sentar ou só vai ficar me irritando? - ele cruzou os braços e eu me acomodei ao seu lado, recebendo um estreitar de olhos pela proximidade. - O quê é isso, Potter? Vai me abraçar também?

- Eu posso? - sorri e o ômega desviou o olhar.

- Claro que não! Sem graçinhas, Potter. - ele murmurou, seu corpo rígido ao meu lado. Suspirando, acomodei minha cabeça no enconsto do sofá. - Como foi com os Weasleys?

- Tudo bem, eu acho. Eles ficaram mais surpresos com o fato de ser você do que com o fato de eu ser pai. - falei,  sorrindo suavemente para o ômega.

- Eu também me surpreendo com isso todos os dias...

- Ei! - falei com falsa ofensa, vendo os lábios do outro torcer em diversão. - Estou curioso, quem mais além de mim conseguiu?

- Desculpa? - ele pareceu ofendido pela pergunta.

- Não assim, merda. Tipo, com quem foi seu primeiro beijo e essas coisas... - falei, tentando parecer casual mesmo que estivesse me mordendo de curiosidade.

- Que tipo de pergunta é essa, Potter? 

- Relaxa, eu só quero passar o tempo. Eu começo então, meu primeiro beijo foi com Cho Chang.

- Uau, Potter, que grande surpresa. - ele zombou. - Absolutamente toda Hogwarts sabe disso.

- Sim, mas ninguém sabe que ela estava chorando. - eu disse, vendo que capturei seu interesse. 

- Você beijava tão ruim assim?

- Gosto de pensar que não, mas ela estava chorando porque tinha terminado com Diggory aquele ano. Foi bizarro, pensei em nunca mais beijar ninguém depois daquilo... - murmurei e Draco riu.

- Mas vocês namoraram...

- Por pouco tempo, não estava tão apaixonada como pensei. - falei. - Agora é sua vez...

- Não concordei em contar nada. 

- Draco, vamos lá... Aposto que foi Zabini.

- Qual o seu problema com Blaise? - engolindo uma resposta malcriada, fiquei quieto. - Tudo bem, idiota, não foi Blaise. Eu estava no banheiro dos monitores no sexto ano, ele pareceu, a gente brigou e quando ele me desarmou e eu bem... comecei a chorar.

- Chorar? - perguntei confuso, vendo que ele não tinha revelado um nome.

- Eu tinha brigado com meu pai aquele dia. - ele se defendeu, cruzando os braços. - Eu nem sei o que estava pensando, não esperava que ele tentasse me consolar depois. Então o vi lá sendo idiota e achei que era uma ótima idéia beija-lo em um ato de rebeldia. 

- Ele correspondeu?

- Sim. - Draco sorriu. - Mas depois nos separamos e prometemos  esquecer aquilo. Eu o ameaçei se contasse pra alguém, ele parecia feliz em obedecer e foi isso. - Draco parecia querer dispensar o assunto e eu estreitei os olhos. - O segundo foi melhor, uma garoto francês quando viajei de férias no sétimo ano com minha  mãe e Orion. E depois veio você. Acho que vou voltar para a  França.

- Quem foi o cara de Hogwarts? - ignorei a provocação, vendo o ômega arregalar os olhos. - Qualquer um que te beijasse iria sair espalhando por toda a escola.

- O estranho é que eu pensei que você soubesse.

- Por quê eu saberia? 

- Vocês são melhores amigos, nenhum segredo e etc. Sabia que Weasley tinha ficado com vergonha, mas não pra tanto.

- Ron? - praticamente gritei, me levantando com rapidez e encarando o ômega em choque. - Que tipo de brincadeira é essa, Draco?

A expressão inocente durou poucos segundos, pois logo um sorriso malicioso surgiu no rosto angelical.

- A idéia de eu dar uns amassos no seu amigo te incomoda, Potter? - ele riu, começando a gargalhar logo depois. - Merlin, você precisava ver sua cara. Claro que não foi Weasley, seu idiota!

- Você é ridículo... - falei lentamente, o cutucando em retaliação e o fazendo rir ainda mais pelas cócegas. 

- Não faça isso, eu estou grávido e indefeso. - ele fez beicinho, seus olhos ainda brilhando de diversão.

- Você inventou a história do banheiro? - perguntei curioso, voltando ao sofá e encarando o ômega com incredulidade.

- Mais ou menos, eu realmente estava chorando, mas ninguém apareceu. Eu não era idiota de ariscar beijar alguém em Hogwarts, meu primeiro foi o garoto francês. - ele deu de ombros. - Não estou interessado em Ron, mas se quiser me apresentar ao irmão domador de dragões...

- Oh, cale a boca. - retruquei divertido, meu coração ainda acelerado pela piada anterior. 

- Você é o culpado por insistir. - ele falou sem culpa. - Da próxima vez coloque um filme e fique quieto.

Ficamos em um silêncio confortável por um momento e eu observei com diversão o ômega puxar a pelúcia de volta para o colo. Quando a coberta se afastou do seu corpo, não resisti em encarar a barriga escondida pelo pijama.

- Não vai crescer? - perguntei sem tato e Draco revirou os olhos.

- Só depois de 3 meses. - ele falou. - Lily vai fazer outro exame semana que vem, vai dar pra ouvir o coração.

- Eu posso ficar? - Draco pareceu surpreso pela pergunta e seus olhos suavizaram.

- Claro. - respondeu vago.

- Ja pensou no gênero e no nome? - perguntei curioso.

- Provavelmente um menino, estou torcendo para o gênero secundário não ser ômega.

- Por quê?

- Não quero que ele sofra as mesmas pressões que eu. É mais fácil assim.

- Gosto de pensar que serei um pai melhor que Lucius Malfoy... - brinquei, fazendo o outro sorrir suavemente. Ele não parecia mais amendrontado quando o nome do pai era citado.

- É melhor que seja mesmo, Potter. - Draco retrucou. - Se for menina quero seguir a tradição de nomear com nomes de flores, Dahlia ou Violet. E menino com nomes de constelações, como Scorpius.

- Que seja menina então... - falei com uma careta, recebendo um olhar ofendido.

- Qual o problema com Scorpius? É um nome imponente, diferente de Harry.

- Que tal Leo? Também é uma constelação. - insisti, ignorando o insulto.

- Quão óbvio é você, Potter. Se eu deixar vai querer colocar James em homenagem ao seu pai.

- Eu não faria isso. - argumentei fraco, recebendo um olhar incrédulo. - Ok, talvez eu tenha pensado. - admiti e o outro riu.

- Está muito longe para discutir isso, mas saiba que não estou desistindo de Scorpius. - ele falou com finalidade.

Com um bocejo, Draco declarou que iria subir pra dormir e pegando meus sapatos, o acompanhei até o corredor do andar de cima. Observando ele subir na minha frente, não pude evitar rir com a figura arrastando a pelúcia pelas escadas.

- Nenhuma palavra, Potter. - ele resmungou. Quando cheguei a porta do quarto, o ômega se virou pra mim, sua expressão preocupada.

- Vocês estão perto de resolver o caso?

- Ainda não. - suspirei derrotado, vendo o outro acenar em reconhecimento.

- Tome cuidado, Harry. - com um último olhar, o outro seguiu pelo corredor. Sentindo um sorriso bobo se formar em meu rosto, entrei no quarto.

XxX



Notas Finais


Acho que já repararam que uso bastante referência política nessa fic.
Não vou me desculpar por isso, quem não concorda que lute e assim seguimos a vida kkkkk
Mas também tem religiosas, então se acharem que em algum momento passei dos limites, sempre estou aberta a ouvir. Eu sou bem tranquila, não tenham medo.
Se assustaram com Draco e Ron? 🤭
A alma do Harry foi e voltou ali 😂
Até o próximo.


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