História Sobrevivência Sobrenatural - Conseguiremos dar um jeito.

Kate POV

Já estava á noite, eu e Rafael achamos um sobrado abandonado, sem nenhum zumbi por perto, onde podiamos passar a noite.  O sobrado parecia ter sido deixado fazia pouco tempo pois, havia comidas frescas nos armários da cozinha, algum grupo deve ter se hospedado aqui por um tempo e depois, se foram na expectativa de encontrar um lugar melhor, ou apenas morreram por uma horda de zumbis que passava por perto. 

Eu estava na cozinha, vendo se havia suprimentos ou se teriamos que ir vasculhar as casas da vizinhança a procura de suprimentos suficientes para sustentar nós dois. Rafael estava verificando o andar de cima, procurando armas, zumbis, camas ou colchões e até objetos que ajudariam muito na nossa sobrevivência nesse apocalipse que considero infernal.

- Há colchões nos dois dormitórios existentes aqui nesse sobrado. Eu deitei em um deles. São bem confortaveis, tem a possibilidade de passarmos noites tranquilas sem nenhuma dor nas costas pela manhã. - Avisou-me Rafael, descendo as escadas que davam para o 2º andar.

- Há também demasiados suprimentos aqui nessa cozinha. Podemos sobreviver nesse sobrado, sem sair vasculhando casas por ai, por 1 ou 2 semanas, dependendo da quantidade de fome que vamos ter daqui em diante. - Avisei-lhe de volta, abrindo o último armário que faltava ser verificado.

- Kate, não podemos ficar mais de 1 semana por aqui, parados, sem fazer nada, enquanto nossos amigos estão em perigo! Lilly é muito perigosa e, agora que sei de tudo, eu reconheço isso! - Falou ele em um tom um pouco mais evelado que o habitual.

Seu semblante revelada uma demasiada preocupação. Isso logo percebi de cara. Não sabia o que lhe responder diante de todas as ameaças que recebi de Lilly. Eu não duvido que ela faça algum mal a algum dos meus amigos mais próximos como o Luba, a Kéfera, o Alan e a Maethe. Eu dei um longo suspiro e olhei para o assoalho de cor pardo que, não existia apenas naquela cozinha empoeirada e sim, em todos os comodos existentes ali. Minha vontade era de chorar por várias horas, sem ter alguma pessoa tentando me consolar dizendo frases como "Tudo vai se resolver, é só preciso ter esperança". Não! Eu já tive demasiadas esperanças esses dias! Meu estoque de esperanças havia acabado faz pouco tempo e não sei se iria voltar á abastecer-se novamente. Mas, mesmo acabada por dentro e por fora, precisava ser forte diante da situação que nos encontravamos então, respirei fundo e ergui minha cabeça, olhando diretamente para Rafael que estava parado em minha frente com seus braços cruzados sobre o peito, esperando uma resposta minha. 

- Nós não podemos sair daqui, sem antes saber onde estamos. Lily poderia muito bem, ter me mandado pro Japão enquanto nossos amigos estão no Brasil, lá do outro lado desse mundo apocaliptico. Antes de sair daqui, preciso recuperar meus poderes e tenho certeza que só conseguirei isso, se tirarmos esse bracelete maldito. - Repliquei em um tom ameno, tentando não demonstrar o que sentia internamente. 

Cellbit deu um longo suspiro antes de dar uma resposta á mim. Estava muito impaciente esses dias. Parecia que demorou horas para abrir a boca e começar a falar mas, demorou apenas segundos. 

OK, se é assim, podemos tentar tira-lo amanhã e vemos se seus poderes voltam ao normal rapidamente ou não. - Sugeriu, olhando fixamente o bracelete de cor metálica e de um aspecto frio.

- Bom isso. Agora, podemos ir dormir? Estou com muito sono!  - Disse, esfregando os olhos, demonstrando que estava demasiada sonolenta.

- OK, sinceramente, também estou com um sono excessivo. Parece que não durmo á dias. - Comentou ele, dando uma espreguiçada de leve.

Fomos no primeiro quarto do corredor do segundo andar. Percebi que aquele quarto era diferente dos outros que vimos. Sua parede era lilás e, no teto, havia aquelas esculturas que brilham no escuro. Parecia mais de uma criança do que de um adulto. 

Eu e Rafael nos deitamos nos dois únicos colchões existentes ali e acabamos adormecendo rapidamente, pelo menos, eu adormeci.

Daniela POV

Eu e o resto do pessoal - que agora era um grupo excessivamente grande - estávamos comendo juntos na mesma mesa, até que tínhamos feito amizade mais rápido que o normal mas, também, com um dos nossos amigos em um grave perigo desconhecido por nós. Estávamos tentando descobrir de qualquer forma possivel mas, até agora, nada que nos ajudaram intensamente. Não estavamos tendo um grande progresso.

- E ai, Cellbit? Cadê a sua nova namoradinha? - Perguntou Felps em um tom brincalhão mas, percebi um ódio formado em seu semblante. 

Os outros amigos de Kate - que, como disseram á nos, antes do apocalipse, eram youtubers - contaram-nos tudo sobre Lilly. Todas ficamos chocadas com a história. Kate poderia muito bem ter contado para nós mas, ela guardou o segredo para nos proteger. Não tinha mais nenhuma duvida de que era uma pessoa para ter amizade verdadeira. Nunca vi alguém se importar tanto assim pelos amigos. Normalmente, é "Que se dane você" mas, ela era diferente. Ela era de uma espécie rara com o lema "Nós protegemos aqueles que não podem se proteger", ou seja, os amigos humanos e também com poderes mas, inexperientes no assunto.

- Ah, a Lilly? Ela está dormindo. - Respondeu Cellbit. Percebi um pouco de falsidade e mentira em sua voz mas, deixei pra lá pensando que era só impressão minha.

- Ótimo! Podemos contar á você toda a verdade sobre ela e vamos ver se a enxerga verdadeiramente - Começou Alan, aliviado.

Quando Alan abriu a boca para começar a falar, Janis gritou um "Não!" interrompendo o mesmo que, logo, fechou a boca e a olhou franzindo o cenho, como todos ali.

- O que foi, Janis? - Perguntou Milena em um tom curioso e com seu semblante demasiado preocupado. 

- Não podemos confiar nele! Sei que é dificil de acreditar mas, ele... não é quem vocês pensam! - Advertiu. Janis estava muito distante do mundo real enquanto falava. Seu olhar estava fixado em um ponto fixo da mesa, não parecia estar falando com nenhum de nós mas, estava.

Todos olharam fixamente para Rafael, alguns arquearam a sobrancelha, outros estavam com seu semblante curioso, outros franziram o cenho, a maioria o olhou como se dissesse "É verdade isso?".

- AEIOU! - Gritou Felps mas, não alto o suficiente para todos do refeitório ouvir. 

Eu, as meninas e Cellbit franzimos a têmpora. Nenhum dos youtubers fizeram isso, como se fosse alguma piada interna deles. Depois de verem a expressão de Cellbit, alguns reoctaram-se na cadeira, bufando de raiva ou alivio, alguns cruzavam o braço sobre a mesa, outros o olhavam com raiva. Por todas as expressões feitas pelos youtubers, deduzimos que o que Janis disse era realmente verdade.

- Não é ele. - Murmurou Alan, dando um suspiro leve logo em seguida.

Cellbit saiu do banco apressadamente e correu o mais rapido que pôde. 

- Ah, você vai vir com a gente por bem ou por mal. - Bradou Maethe em um assustador.

Alan, Luba, Felps, Lukas, Felipe e Margo se levantaram e o seguiram. O resto foi ao dormitório de Kate esperar eles voltarem. 

Rafael POV

Eu havia acordado primeiro que Kate. Estava a observar as casas da rua. Todas eram monótonas mas, tinham, pelo menos, algum aspecto diferente, nem que fosse pequenino mas, tinha.

Senti uma mão encostar de leve no meu ombro esquerdo então, me virei e vi Kate com seus olhos semicerrados. Pelo jeito, tinha acabado de acordar e ainda estava se acostumando com a claridade do sol matinal.

- Desculpe-me se te assustei. - Começou ela. - Não foi minha intenção.

Eu neguei com a cabeça levemente, indicando que estava tudo bem. Ela veio ao meu lado e começou a observar todas as casas da rua, que agora, estavam abandonadas. Não se ouvia mais um latido ou um miado de um gato em uma das casas, não havia mais churrascos todo domingo que, a cada domingo que passava, a música ficava mais alta, não havia mais varais cheios de roupas que estavam secando ao sol, não havia mais gritarias. O mundo não era mais o mesmo. Tudo estava silencioso, não se ouvia nada, apenas grunhidos em unissono de zumbis vindo de longe ou de perto, dependendo do volume. Eu estava
começando a sentir saudades de gravar videos, falar "Fala ae, galera, beleza? Eu sou o Cellbit"  todo inicio de vídeo, de ir á eventos conhecer meus fãs que eu mais considerava amigos do que apenas fãs, eu tinha um amor intenso por eles, eles me ajudaram com o canal, estava com muitas saudades de todos eles. Provavelmente, a maioria está morta pois, não me lembro de ensina-los a sobreviver a um apocalipse apenas, os deixava com uma dor de ouvido logo após de assistir meus videos ou apenas de ouvir um grito ou uma risada minha. Estava sentindo saudades da minha vida tranquila de antes. Agora, estávamos em um purgatório, onde temos que sobreviver se não quisermos nos transformar em algo infernal. 

- Que droga de mundo estamos vivendo? - Indagou Kate, pensativa e com o lado direito de sua cabeça torta fazendo suas covinhas aparecerem.

Sua voz saiu um pouco roufenha então, deu uma pigarreada logo depois. Eu a olhei fixamente. Seus cabelos loiros acastanhados estavam bagunçados e oleosos mas, continuavam lindos do mesmo jeito. Seus olhos azuis estavam caídos, indicando cansaço. Seus ombros também estavam caídos de um jeito displicente. Mesmo tentando demonstrar que estava forte, segura de si diante disso tudo, eu percebi que era totalmente o oposto disso. Seu semblante mostrava que estava acabada, triste e se sentindo totalmente inútil. Eu dou razão á ela. Se fosse eu, ficaria muito pior mas, ela está tentando ser forte, está tentando ter esperança, está tentando confiar em si mesma, está tentando ultrapassar esses obstáculos que todos estamos enfrentando. Ela quer resolver tudo isso o mais rápido possível, vejo nitidamente isso. Ela está demasiada preocupada com nossos amigos, como eu. É isso que gosto nela. 

Sua coragem, o jeito que se preocupa com todo mundo e quer salvar á todos nem que tenha que arriscar a sua vida sendo levada á morte, uma esperança com um estoque ilimitado, sua beleza, seu sorriso, entre muitos outros motivos mas, o que mais me chamava atenção era esses. 

- Pergunte isso á outra pessoa pois, eu não tenho idéia. - Respondi, dando de ombros. - Talvez seja um castigo por termos sido pecadores, arrogantes, inúteis, ambiciosos. Merecemos isso mas, ao mesmo tempo, não merecemos. Ver tudo que o ser humano deu duro para construir, não é agradavel. Ver quase todas as pessoas que conhecíamos e amávamos mortos, principalmente. Sinto muita saudade de minha mãe assim como você deve sentir de seu pai. Todos nós perdemos familiares e amigos e temos que nos contentar com isso até o nosso castigo acabar de vez. 

Ela suspirou profundamente e um silêncio profundo reinou novamente naquela casa. Apenas a aragem do lado de fora era possivel ser ouvida. 

- É, talvez. Quando tudo isso acabar, nós, humanos, podemos consertar tudo isso, juntos. Sermos pessoas melhores. Sermos pessoas boas. - Comentou ela.

Eu concordei com a cabeça e, em seguida, Kate ajeitou a sua franja e foi em direção á cozinha. Ouvi u barulho de algo ser aberto, então deduzi que estaria procurando comida para consumirmos nos armários.

- O que quer comer? Tem barras de cereais e bolachas de água e sal. - Ela fechou o armário e abriu a porta da geladeira, desligada por falta de energia. - Já na geladeira tem ketchup e leite. - Avisou-me ela.

- Eu não estou com fome. - Respondi, continuando a olhar a vista daquela rua.

- OK, tudo bem, sobra mais pra mim. - Brincou ela, dando um riso fraco, em seguida.

Depois de um belo silêncio apenas, com um barulhinho um pouco irritante de Kate mastigando a bolacha de água e sal que era muito crocante para meu gosto, eu chamei a sua atenção, lembrando-a:

- Temos que tirar esse bracelete de seu braço. Tem alguma idéia do que podemos usar?

Kate fez uma expressão pensativa e logo, balançou a cabeça positivamente.

- Podemos usar algum graveto, facas grandes e afiadas ou passar manteiga e tentar a sorte. - Respondeu-me em um tom mais animado que antes.

- É, podemos. - Concordei, absorto em meus pensamentos.

Eu estava pensando no que aconteceu lá no reino que me localizava até ontem de manhã. Como eu havia conseguido fazer aquilo? Me teletransportar para outra dimensão, outro mundo, outro universo apenas, pensando em como eu queria intensamente estar ali para conseguir salvar Kate daqueles Zumbis malditos?. Será que isso é algum poder do Anel ou coisa do gênero?

Kate apareceu em meu lado com uma faca grande e afiada, tipica das que usavamos em churrasco para cortar carne e linguiça, em sua mão direita e deu um sorrisinho de canto.

- Quer que eu tente ou você tenta? - Perguntou-me com a faca levantada na altura de seu ombro.

- Eu tento. - Respondi em um tom desanimado.

Ela me entregou a faca e estendeu seu pulso onde localizava aquele bracelete de cor metálica e de um aspecto frio, e eu passei a parte cinza da faca por debaixo dele, onde continha um espacinho separando o pulso e a pulseira, e logo forcei a faca para cima tentando tirar aquilo abruptamente. Meus olhos já estavam lacrimejando de tanto tentar tirar aquele metal gélido do pulso dela mas, não havia conseguido nem um pouquinho sequer.

- Pare, Rafael. Não está dando certo. - Pediu ele em um tom reconfortante.

Eu hesitei por um tempo e continuei tentando mas, ela encostou a mão livre no meu ombro e eu a olhei profundamente.

- Me desculpe, eu estou preocupado com nossos amigos. - Murmurei, demonstrando tristeza em minha voz.

- Tudo bem, eu também estou. Mas, sabe o que me anima? - Eu balancei a cabeça negativamente. - Que sempre existe mais de um jeito. Não importa se o obstaculo é maior que todos que já enfrentamos, sempre existe mais de um jeito. 

Eu assenti e dei um sorriso fraco e a abraçei fortemente. O que estava acontecendo comigo? Eu estava me sentindo fraco como se os últimos dias preso naquela dimensão, tivesse me destruido totalmente. 

Luba POV

Eu e mais alguns de meus amigos estávamos correndo atrás do Rafael, ou melhor Will, não sei como chama-lo agora que todos descobrimos a verdade. Will entrou num quarto qualquer e irrompemos ali, sem se preocupar com o que encontraremos. O quarto estava totalmente na escuridão, estávamos procurando o interruptor para, pelo menos, alguma luz aparecer naquele cômodo. 

- Achei! - Gritou uma voz que deduzi ser de Alan.

Logo depois de ouvirmos um barulhinho, as luzes ligaram e tivemos a visão de vários computadores ligados com imagens de cada canto da base que todos nós frequentamos, havia várias mesas, com várias poçoes e armas, algumas eram de fogos, outras eram apenas arcos e flechas e lanças. 

- Pelo jeito, descobriram tudo. 

Ouvimos uma voz e olhamos para onde deduzimos o lado que veio e observamos duas silhuetas na penumbra. Várias gaiolas saíram rapidamente do chão e prenderam todos nós, cada um em uma gaiola. Todos nós entramos em desespero e começamos á balançar as grades frias agressivamente, tentando arranjar um jeito de sair dali. Os dois logo saíram da penumbra e tivemos a oportunidade de vê-los. Era Rafael - ou Will - e Lilly. Will estava com uma expressão séria e preocupada e Lilly estava sorrindo cinicamente como se amasse o que estava vendo.

- Soltem-nos! - Gritou Lukas em um tom raivoso. 

- Nunca! Apodreçam ai na gaiola! Ninguém mandou serem enxeridos! - Bradou Lilly.

Uma sacola pequenina apareceu em sua mão esquerda e logo, ela abriu e jogou todo o pó nas gaiolas onde estávamos com semblantes desesperados, aclamando por socorro. A maioria tinha Claustrofobia ali, eu tenho apenas, um pouquinho mas, o suficiente para me deixar nervosamente desesperado.

- Tchau, tchau, pequenos idiotas. 

A última coisa que ouvi foi isso antes de nos apagar completamente e sermos colocado em um sono profundo temporário, ou não.