-VOCÊ É UMA VAGABUNDA! SERÁ QUE NÃO CONSEGUE FAZER NADA DIREITO??- a minha mãe me batia e me xingava.
A razão?? Só porquê eu deixei um copo sujo na pia.
-ME PERDOA!! EU NÃO PEDÍ PRA NASCER TÁ?? PRECISA MESMO DE TUDO ISSO SÓ POR CAUSA DE UM COPO SUJO?-eu rebati.
-ME ARREPENDO DO DIA EM QUE NÃO OPTEI POR UM ABORTO!! SOME DAQUI!-ela gritou.
Subi correndo para o meu quarto e bati a porta do mesmo com força. Peguei uma mochila que eu tinha guardado e comecei à arrumar minhas coisas nela. Peguei calças,roupas de frio, cobertores, as coisas do meu celular e um dinheiro que eu tinha guardado, não era muito, só uns quinhentos reais, peguei uma faca e saí do meu quarto, descendo as escadas.
Ela estava na sala, vendo TV.
-Onde pensa que vai??- me perguntou com ódio nos olhos.
-Pra terra do nunca! O que acha???- eu respondi irônica.
Ela gargalhou.
-POIS VÁ E NÃO VOLTE MAIS!- gritou e eu abri a porta.
-PODE APOSTAR NISSO!!- eu gritei em resposta e Fechei a porta.
A noite estava fria, mais eu não iria parar, não iria voltar para casa nunca mais na minha vida. Continuei caminhando pelas ruas cheias de carros, abaixei a cabeça e deixei algumas lágrimas, que teimavam em cair, molharem o meu rosto.
Fui andando até a rodoviária, que era muito longe da minha casa, e olhei nos horários. Eu só poderia estar ficando louca, eu vi que tinha um ônibus para "neverland", que sairia em meia hora.
Cheguei no caixa e perguntei para a mulher de azul que trabalhava lá.
-Quanto fica essa passagem para neverland?? - eu perguntei.
Ela me olhou raivosa.
-Garota, eu já estou cansada do dia cheio que tive que passar nesse lugar ridículo e você ainda me vem com brincadeiras?? Sinceramente...-ela falou.
-M-mas está bem alí- eu falei , apontando para o quadro de horários.
-Saia daqui, ou irei chamar os seguranças. Próximo!!- ela gritou e eu saí da fila.
Olhei novamente no quadro e vi que o ônibus para "neverland", que sairia em 20 minutos, estaria no portão 6. Fui até lá e encontrei um ônibus meio velho. Entrei no mesmo e vi que haviam vários meninos nele, só meninos!.
Me sentei ao lado de um garoto ruivo, como eu, e decidi falar com ele.
-Oi-eu falei.
-Oi- O menino respondeu e me encarou.
-Para onde estamos indo??-eu perguntei.
-Gostaria que você pudesse me responder isso- ele falou - eu fugi de casa e achei o nome do destino desse ônibus engraçado, então entrei!- ele falou, dando de ombros.
-Também fugi de casa, prazer, meu nome é Kyle - eu digo e estendo a minha mão à ele.
-Eu sou o Leo- ele diz e pega a minha mão. -Você é bonita- ele fala.
-E você é ruivo, ou seja, bonito também- eu falo e ele sorri.
Um garoto alto, com cabelos loiros e um capuz apareceu e riu malicioso.
-Se segurem- ele falou em um tom sombrio.
Neste momento, o ônibus começou à voar. Todos se agarraram à seus assentos e arregalaram os olhos.
-As regras são: obedeçam Pan, independente do que ele ordene, e, acima de tudo...- ele esperou um pouco para falar. -Tenham pena das garotas presentes- o garoto loiro completa sua fala.
Leo olha para mim, assustado. Nós estávamos nas últimas cadeiras do ônibus.
-E agora?? O que será que fazem com as garotas??-leo perguntou- me.
- Eu não sei, e nem quero saber-eu respondi.
Leo me olhou como se tivesse acabado de ter uma ideia.
-Eles não precisam saber que você é uma garota- ele falou e sorriu.
Lembrei-me de uma vez que eu me vesti de homem para um trabalho escolar, eu era boa nisso. Lembrei-me, também, que meu cabelo era muito grande para ser masculino.
-Hey! Você tem uma tesoura?- eu perguntei à Leo e, quase que imediatamente, me lembrei da faca que trouxe de casa.
-Deixa pra lá- eu falei, pegando a faca em minha mochila. Leo arregalou os olhos.
-Você anda armada??- ele me perguntou.
-Nunca se sabe- eu disse dando de ombros.
Peguei uma mecha do meu tão amado e longo cabelo e cortei, fiz isso até o meu cabelo ficar bem pequeno.
Peguei na minha mochila um casaco de moletom, que tinha um capuz, preto e vesti.
-Kyle- leo chamou e eu o encarei.
-Acho que você, ehh...você....tem corpo demais para ser um menino- ele falou e eu lembrei que minha calça era apertada.
-Me empresta uma calça?- eu pedi e ele me entregou. Tirei a calça ali mesmo e coloquei a outra.
-Como estou??- eu perguntei para Leo.
-Um gato-ele falou e eu sorri.- você tem que forçar a voz num tom mais grosso- ele falou e eu assenti.
-Melhor assim??- eu perguntei fazendo voz grossa.
-Melhor- ele falou e sorriu-e o seu nome??- ele perguntou.
-Não sei, me dê um nome- eu falei.
-Não há nenhum nome que se chamarem você vai olhar automaticamente?- ele me perguntou.
Eu pensei, pensei muito, até que me lembrei do meu primeiro cantor favorito.
-Michael- eu respondi.
-Bom, Michael- leo sorri.
Sentimos o ônibus bater no chão e todos começaram à sair, eu e leo fomos atrás.
Saímos do ônibus e eu observei o lugar. Estávamos na praia de um Tipo de ilha. A nossa única saída de lá seria, ou o mar ou a floresta escura e sombria à nossa frente.
-Me sigam, os que se perderem morrerão- o garoto loiro falou e andou em direção à floresta, os garotos que estavam alí o seguiram.
Leo me olhou e deu de ombros, seguindo o garoto loiro.
Paramos em um acampamento grande. Haviam várias barracas grandes ao redor de uma fogueira, e uma maior que todas que era verde escuro.
Fomos designados cada um para uma barraca, eu fiquei com uma amarela. Entrei na mesma e sentei na cama que havia lá.
Olhei ao redor da barraca e lembrei da minha mãe, quando eu tinha 4 anos eu tinha uma obsessão pela cor amarela, lembro que minha mãe também amava essa cor e tudo o que compravamos era amarelo. Lágrimas teimosas desciam de meus olhos, molhando meu rosto.
Abri a mochila e a remexi até encontrar uma foto minha e da minha mãe. Na foto, eu era uma garotinha, com um vestido rosa e branco, e a minha mãe era linda. Estávamos sentados na grama de um parque e eu sorria para a câmera, ela me olhava sorrindo.
Levei aquela foto ao peito e chorei mais.
Ouvi uma flauta ser tocada, ao lado de fora da tenda, senti uma vontade enorme de dançar. Guardei a foto , limpei minhas lágrimas e levantei da cama, saindo da barraca.
Os garotos dançavam em volta de uma fogueira enorme, tinha um menino com roupas verdes tocando uma flauta , sentado em baixo de uma árvore.
Me bateu uma vontade enorme de dançar, então acompanhei os meninos na dança em volta da fogueira.
Quando o garoto parou de tocar a flauta, eu parei de dançar, a vontade tinha ido embora. Me sentei ao lado do menino de verde, que estava tocando antes.
Ele me encarou.
-Qual é o seu nome?- ele me pergunta.
-Michael- eu respondo, forçando a minha voz.
-Não vai perguntar quem sou?- ele me pergunta.
-O tocador de flauta?-eu falo, irônica. Ele ri.
-Peter, Peter Pan. O líder deste lugar. O seu líder- ele falou, com um sorriso no rosto.
Arregalei os olhos.
-Não vai me bater, ou me prender, ou me estuprar, certo?- eu perguntei, desesperada.
Ele arqueou uma sombrancelha. Ele era impressionantemente lindo: tinha cabelos castanhos e olhos que variavam de verde pra um castanho escuro.
-Te estuprar?? Eu tenho cara de gay?- ele me perguntou.
-Não! Claro que não! Eu falei por impulso, senhor, vossa excelência, majestade- eu falei rápido, com uma cara assustada.
Ele deu risada.
-Não precisa ficar nervoso. Então, costumavam te estuprar lá onde você vivia?- ele pergunta.
-Não! Não, só falei por impulso mesmo- eu respondi.
Ele concordou com a cabeça.
-Veio de onde?- Peter me pergunta.
-Brasil- eu falei.
Ele demorou um tempinho para continuar à falar comigo.
-Sabe, as pessoas só conseguem escutar o som da minha flauta se precisarem ser amadas, ou foram desprezadas. Quem te desprezou??- ele me perguntou.
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